Pois bem, nos ultimos dias deu-me para ir reler um texto que escrevi, apresentei e publiquei em 1993, em Lisboa, e que aqui hoje ‘posto’ (infelizmente sem os acentos…).
O CIDADAO EM ANGOLA

(…) Chegamos entao a conclusao de que a “tradicao africana” como “factor impeditivo” do exercicio pleno de uma Democracia no nosso pais, nao e’ mais do que um debil subterfugio para a legitimacao do nepotismo e de todas as tentacoes totalitarias. Por outro lado, apesar de seculos de abusos contra a pessoa humana sob o regime colonial-fascista, os angolanos, enquanto cidadaos, souberam forjar uma tradicao de afirmacao e reivindicacao que confere o maximo fundamento a estruturacao da sociedade civil na Angola dos dias de hoje.
(…) Para tal contribuiram significativamente, desde o inicio deste seculo, varias associacoes de caracter civico, umas nascidas na entao metropole (como a Liga Ultramarina, a Liga Colonial, a Junta de Defesa dos Direitos de Africa e o Partido Africano, criados em Lisboa entre 1910 e 1912) e outras em Angola (como a Liga Angolana e o Gremio Africano de 1912 ou a Associacao dos Naturais de Angola – ANANGOLA – e a Liga Nacional Africana, nascidas em Luanda em 1930.

(…) A imposicao da chamada “ditadura do proletariado” fez com que os cidadaos se vissem privados, durante quase duas decadas, quer do direito fundamental ao voto, quer do direito de emitirem livremente as suas opinioes, num pais onde a imprensa era, ate’ ha’ bem pouco tempo, inteiramente controlada pelo partido-estado; de professarem, sem constrangimentos, as suas confissoes religiosas; ou ainda de educarem os seus filhos de acordo com os valores eticos e morais, herdados quer da cultura tradicional angolana, quer do contacto com os europeus, que noutros tempos fizeram com que Angola pudesse ser considerada um "pais civilizado".

(…) Porque ja’ vai longa esta nossa intervencao, gostariamos, Caros concidadaos, de rogar a vossa atencao para alguns extractos de um discurso produzido, em 1754, por um dos protagonistas do nascimento do Estado moderno e um dos fundadores do conceito de cidadania, Jean-Jacques Rousseau: “Magnificos, Muito Honrados e Soberanos Senhores: (…) Se eu tivesse de escolher o lugar do meu nascimento, teria escolhido uma sociedade de uma grandeza limitada pelo alcance das faculdades humanas, ou seja, pela possibilidade de ser bem governada. (…)Teria querido viver e morrer livre, ou seja, de tal modo submetido as leis, que nem eu nem ninguem pudesse subverter o seu honroso jugo, esse jugo salutar e benigno que as cabecas mais nobres suportam com tanta mais docilidade quanto elas nao sao feitas para suportar qualquer outro.

(…) No discurso acima citado, Rousseau tambem nao se esqueceu das mulheres, tendo-se a elas assim dirigido: “Poderia eu esquecer essa preciosa metade da Republica que faz a felicidade da outra e cuja docura e sabedoria manteem a paz e os bons costumes? Amaveis e virtuosas cidadas, pertence-vos a vos manter sempre atraves do vosso poder amavel, o amor das leis no Estado e a concordia entre os cidadaos…”
(…) Convido-vos, pois, minhas Senhoras e meus Senhores, porque os cidadaos tambem teem deveres, a que contribuamos todos para que Angola possa ser a feliz Patria com que, tal como Rousseau ha’ mais de dois seculos atras, os nossos antepassados sempre sonharam.
*Texto de alocucao apresentada pela autora a um Encontro de Angolanos e Amigos de Angola, realizado em Lisboa em 1993. Publicado em “O Cidadao” – Revista da Associacao Portuguesa dos Direitos dos Cidadaos (Ano 1, No. 2, Segundo trimestre de 1993)
Ler texto integral aqui.
Ora aqui está um bom exemplo de um benévolo “sindicato luso-angolano”. Mais uma vez, com a devida vênia, PARABÉNS!
ReplyDeleteObrigada, amigo Kaluanda.
ReplyDeleteEfectivamente, aquele era um tempo em que, nao so' o reacender da guerra depois das eleicoes de 1992 facilitava a mobilizacao de espiritos benevolos para o bem de Angola, como tambem ainda estavam longe os tempos de "vertiginosas taxas de crescimento" que, aparentemente, teem acirrado de tal forma a cobica e os sentimentos mesquinhos de muitos, que o "portugal dos pequeninos" parece estar a eclipsar o "Portugal dos Grandes" que, entre outras causas nobres, fazia essa Revista e que tive a honra e o previlegio de conhecer naquela altura. Pena.
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