Friday 31 October 2008

SEU JORGE NA ROUNDHOUSE

A primeira vez que ouvi falar de Seu Jorge e da sua musica foi num documentario da BBC filmado no Brasil, ja’ aqui ha’ uns tempos. Dele fiquei com a imagem de um musico revolucionario, interventor e activista social completamente fora da mainstream brasileira. Mas nao voltei desde entao a ver ou ouvir nada dele. Foi, portanto, com aquela imagem em mente e uma enorme curiosidade de conhecer melhor a sua musica que ontem fui a Roundhouse para o ver e ouvir.

Infelizmente, sai de la’ decepcionada. Na verdade, creio que foi a primeira vez que, tendo eu entrado para um espectaculo cheia de expectativas, a dada altura me aconteceu sentir-me alheada e momentaneamente assaltada por uma vontade de sair antes de ele ter terminado. Mas se me perguntarem se foi mau, ou “assim tao mau”, eu direi que nao, nao foi. De facto nao foi nada mau. Foi apenas aquem das minhas expectativas – de facto, estava mais do que expectante, estava convencida de que sairia de la’ satisfeita, a tal ponto que ate’ dispensei o ‘introito’ de Gilles Peterson que, quem sabe, talvez pudesse ter sido mais satisfatorio.
Como nao conhecia bem a musica dele, nao consegui reconhecer as cancoes, nem perceber muito bem as letras – pareceu-me que o som era “grande demais” para o espaco e para uma assistencia particularmente barulhenta.

Refiro-me as cancoes que fazem parte do seu reportorio, porque reconheci, e de que maneira(!), as cancoes de uma mais que conhecida suite de musica carnavalesca (incluindo o "Mas Que Nada", "Mama Eu Quero", "Me Da’ Um Dinheiro Ai" e outras afins) com que ocupou o longo segmento final do show e que acabou por ser, pela participacao da audiencia, o seu momento mais alto. Ora, isso nao era exactamente o que eu esperava de um artista original e fora da mainstream, particularmente quando a audiencia, mesmo se largamente constituida por brasileiros residentes em Londres (que se reconheciam pela forma como dancavam, cantavam e gritavam durante todo o show), era em principio composta maioritariamente por pessoas que, como eu, mal o conheciam ou a sua musica. Enfim, em vespera de noite de Halloween foi como se tivesse sido presenteada com um misto de treat and trick, quando tudo o que esperava era o treat... Mas, adiante.

Entretanto comprei o CD dele que la’ tinham a venda - "America, Brasil, O Disco" - e fui para casa esperando ressarcir-me de algum modo ouvindo-o. Gostei, achei-o musicalmente inovador e politicamente provocador, embora nao tenha encontrado nele algumas das cancoes que me lembro de ter ouvido durante o show, particularmente uma das poucas de que pude entender pelo menos uma frase que dizia “a carne mais barata do mercado e’ a carne negra”. Mas encontrei outras que ele tambem cantou e que achei interessantes, como “Trabalhador”, “Burguesinha” e “Mina do Condominio”.

Nao me lembro de ele ter cantado esta “So’ No Chat”, mas deixo-a aqui pelo muito que nos diz sobre as vidas virtuais que, mesmo sem disso muitas vezes nos apercebermos, cada vez mais vamos vivendo e, em muitos casos, com consequencias, se nem sempre desastrosas, pelo menos frequentemente pouco agradaveis e sempre caricatas ou, como tambem gosto de lhes chamar, irracionais


Free file hosting by Ripway.com
A primeira vez que ouvi falar de Seu Jorge e da sua musica foi num documentario da BBC filmado no Brasil, ja’ aqui ha’ uns tempos. Dele fiquei com a imagem de um musico revolucionario, interventor e activista social completamente fora da mainstream brasileira. Mas nao voltei desde entao a ver ou ouvir nada dele. Foi, portanto, com aquela imagem em mente e uma enorme curiosidade de conhecer melhor a sua musica que ontem fui a Roundhouse para o ver e ouvir.

Infelizmente, sai de la’ decepcionada. Na verdade, creio que foi a primeira vez que, tendo eu entrado para um espectaculo cheia de expectativas, a dada altura me aconteceu sentir-me alheada e momentaneamente assaltada por uma vontade de sair antes de ele ter terminado. Mas se me perguntarem se foi mau, ou “assim tao mau”, eu direi que nao, nao foi. De facto nao foi nada mau. Foi apenas aquem das minhas expectativas – de facto, estava mais do que expectante, estava convencida de que sairia de la’ satisfeita, a tal ponto que ate’ dispensei o ‘introito’ de Gilles Peterson que, quem sabe, talvez pudesse ter sido mais satisfatorio.
Como nao conhecia bem a musica dele, nao consegui reconhecer as cancoes, nem perceber muito bem as letras – pareceu-me que o som era “grande demais” para o espaco e para uma assistencia particularmente barulhenta.

Refiro-me as cancoes que fazem parte do seu reportorio, porque reconheci, e de que maneira(!), as cancoes de uma mais que conhecida suite de musica carnavalesca (incluindo o "Mas Que Nada", "Mama Eu Quero", "Me Da’ Um Dinheiro Ai" e outras afins) com que ocupou o longo segmento final do show e que acabou por ser, pela participacao da audiencia, o seu momento mais alto. Ora, isso nao era exactamente o que eu esperava de um artista original e fora da mainstream, particularmente quando a audiencia, mesmo se largamente constituida por brasileiros residentes em Londres (que se reconheciam pela forma como dancavam, cantavam e gritavam durante todo o show), era em principio composta maioritariamente por pessoas que, como eu, mal o conheciam ou a sua musica. Enfim, em vespera de noite de Halloween foi como se tivesse sido presenteada com um misto de treat and trick, quando tudo o que esperava era o treat... Mas, adiante.

Entretanto comprei o CD dele que la’ tinham a venda - "America, Brasil, O Disco" - e fui para casa esperando ressarcir-me de algum modo ouvindo-o. Gostei, achei-o musicalmente inovador e politicamente provocador, embora nao tenha encontrado nele algumas das cancoes que me lembro de ter ouvido durante o show, particularmente uma das poucas de que pude entender pelo menos uma frase que dizia “a carne mais barata do mercado e’ a carne negra”. Mas encontrei outras que ele tambem cantou e que achei interessantes, como “Trabalhador”, “Burguesinha” e “Mina do Condominio”.

Nao me lembro de ele ter cantado esta “So’ No Chat”, mas deixo-a aqui pelo muito que nos diz sobre as vidas virtuais que, mesmo sem disso muitas vezes nos apercebermos, cada vez mais vamos vivendo e, em muitos casos, com consequencias, se nem sempre desastrosas, pelo menos frequentemente pouco agradaveis e sempre caricatas ou, como tambem gosto de lhes chamar, irracionais


Free file hosting by Ripway.com

THIS MONTH LAST YEAR (10)

Outubro de 2007 foi particularmente marcado aqui por questoes relativas a politica e a cidadania em Angola:

- Sobre o 27 de Maio, duas referencias, uma sobre a chamada ‘comissao das lagrimas’ e outra protagonizada por uma entrevista de Jose’ Carrasquinha, a quem apelidei o ‘comissario do riso’;
- A prisao do jornalista Graca Campos foi um tema forte durante o mes, com sete posts, um dos quais repescando o meu artigo de 1993 “O Cidadao em Angola” e outros dois publicados no Africanpath: “A Sentence Without Trial or The Painful Reversal of a Nation-Building Process” e “The Rise of Civil Society”;
- Questoes relativas a cidadania dos membros da Diaspora Angolana foram abordadas sob duas perspectivas, diferentes mas fortemente interligados, num post sobre a eleicao de Ricardo Lumengo para o Parlamento Suico e noutro que entitulei “In a Statelessness State of Mind”.

No campo economico, alguns posts sobre Africa no mundo, vista a partir de angulos diferentes: “The Economic Cost of Conflict”, uma entrevista de Carlos Moore sobre “As Relacoes Brasil-Africa” e um artigo meu sobre a Cimeira de Johannesburg sobre Desenvolvimento Sustentavel, “Ambiente versus Pobreza?”

O mes tambem marcou o inicio da serie “Sunday Covers & Poetry”, usando capas e conteudos de magazines que achei particularmente interessantes e que decidi assim aproveitar antes de dispor completamente deles, e poemas lidos pelos seus autores numa colectanea publicada pela Oxfam, “Life Lines 2 – Poets for Oxfam”, destinada a angariar fundos para o seu trabalho em mais de 60 paises.

Outros temas: a triste e prematura morte do artista Sul-Africano Lucky Dube; uma mencao, a pedido de um leitor, a musica e a trajectoria artistica, com passagens por Angola, Mocambique e Portugal, da cantora, tambem Sul-Africana, Busi Mhlongo; uma ‘memoria induzida’ do “Meu Liceu”; uma mensagem sobre alguns dos desafios a que as Mulheres Negras sao sujeitas um pouco por todo o mundo, em “Representations”; os Premios Nobel do ano, com destaque para Doris Lessing em Literatura; um artigo do New York Times sobre Angola; uma ‘revista’ do musical Chicago na passagem de mais um aniversario de ‘yours truly’ e, finalmente, o anuncio da publicacao de uma nova biografia de Amilcar Cabral.

Highlights: A prisao de Graca Campos e o inicio da serie “Sunday Covers & Poetry”

Outubro de 2007 foi particularmente marcado aqui por questoes relativas a politica e a cidadania em Angola:

- Sobre o 27 de Maio, duas referencias, uma sobre a chamada ‘comissao das lagrimas’ e outra protagonizada por uma entrevista de Jose’ Carrasquinha, a quem apelidei o ‘comissario do riso’;
- A prisao do jornalista Graca Campos foi um tema forte durante o mes, com sete posts, um dos quais repescando o meu artigo de 1993 “O Cidadao em Angola” e outros dois publicados no Africanpath: “A Sentence Without Trial or The Painful Reversal of a Nation-Building Process” e “The Rise of Civil Society”;
- Questoes relativas a cidadania dos membros da Diaspora Angolana foram abordadas sob duas perspectivas, diferentes mas fortemente interligados, num post sobre a eleicao de Ricardo Lumengo para o Parlamento Suico e noutro que entitulei “In a Statelessness State of Mind”.

No campo economico, alguns posts sobre Africa no mundo, vista a partir de angulos diferentes: “The Economic Cost of Conflict”, uma entrevista de Carlos Moore sobre “As Relacoes Brasil-Africa” e um artigo meu sobre a Cimeira de Johannesburg sobre Desenvolvimento Sustentavel, “Ambiente versus Pobreza?”

O mes tambem marcou o inicio da serie “Sunday Covers & Poetry”, usando capas e conteudos de magazines que achei particularmente interessantes e que decidi assim aproveitar antes de dispor completamente deles, e poemas lidos pelos seus autores numa colectanea publicada pela Oxfam, “Life Lines 2 – Poets for Oxfam”, destinada a angariar fundos para o seu trabalho em mais de 60 paises.

Outros temas: a triste e prematura morte do artista Sul-Africano Lucky Dube; uma mencao, a pedido de um leitor, a musica e a trajectoria artistica, com passagens por Angola, Mocambique e Portugal, da cantora, tambem Sul-Africana, Busi Mhlongo; uma ‘memoria induzida’ do “Meu Liceu”; uma mensagem sobre alguns dos desafios a que as Mulheres Negras sao sujeitas um pouco por todo o mundo, em “Representations”; os Premios Nobel do ano, com destaque para Doris Lessing em Literatura; um artigo do New York Times sobre Angola; uma ‘revista’ do musical Chicago na passagem de mais um aniversario de ‘yours truly’ e, finalmente, o anuncio da publicacao de uma nova biografia de Amilcar Cabral.

Highlights: A prisao de Graca Campos e o inicio da serie “Sunday Covers & Poetry”

Wednesday 29 October 2008

ANGOLA: 2008 "NATIONAL PRIZE FOR CULTURE & THE ARTS"

This year's winners:


Literature: Luandino Vieira
Music: Paulo Flores
Filmmaking: Carlos Henriques (a posthumous award)
Dance: Grupo Kamatemba
Human & Social Sciences: Carlos Lopes
Plastic Arts: Van
Theater: Grupo Elinga Teatro

[See prize background here]
This year's winners:


Literature: Luandino Vieira
Music: Paulo Flores
Filmmaking: Carlos Henriques (a posthumous award)
Dance: Grupo Kamatemba
Human & Social Sciences: Carlos Lopes
Plastic Arts: Van
Theater: Grupo Elinga Teatro

[See prize background here]

Tuesday 28 October 2008

PAULO FLORES, PREMIO NACIONAL DE CULTURA & ARTES




Confesso que nao sou exactamente uma fa incondicional da musica de Paulo Flores.
Nao deixo, no entanto, de lhe reconhecer o talento e a tenacidade que lhe permitiram evoluir artisticamente, diria que de forma dramatica, desde o inicio da sua carreira ate’ a posicao que o colocou este ano como um meritorio galardoado com o Premio Nacional de Cultura na categoria de musica.
Mais meritorio que outros possiveis? Nao sei.
Sei apenas, honestamente, o que a musica de Paulo Flores me sugere: que talvez ainda lhe falte alcancar um maior equilibrio entre o que e’ genuinamente sua criacao, aquilo que ‘toma de emprestimo’ a outros e as muitas influencias a que se mostra particularmente permeavel, nomeadamente a brasileira.
Dito isso, a ocasiao serve-me de pretexto para dedicar um post a alguma da sua musica, com destaque para alguns duetos que acho particularmente bem conseguidos, tendo os tres ultimos ja' por aqui passado noutras ocasioes.


E’ so Ma Bo
(c/ Lura)


N’Zambi N’Zambi
(c/ Sara Tavares)


Poema do Semba
(c/ Carlos Burity)


E’ Doce Morrer no Mar
(c/ Wyza)


Falso Testemunho
(c/ Tito Paris)


Clarice
(c/ Tito Paris)


Xe’ Povo
(c/ Dog Murras)




Confesso que nao sou exactamente uma fa incondicional da musica de Paulo Flores.
Nao deixo, no entanto, de lhe reconhecer o talento e a tenacidade que lhe permitiram evoluir artisticamente, diria que de forma dramatica, desde o inicio da sua carreira ate’ a posicao que o colocou este ano como um meritorio galardoado com o Premio Nacional de Cultura na categoria de musica.
Mais meritorio que outros possiveis? Nao sei.
Sei apenas, honestamente, o que a musica de Paulo Flores me sugere: que talvez ainda lhe falte alcancar um maior equilibrio entre o que e’ genuinamente sua criacao, aquilo que ‘toma de emprestimo’ a outros e as muitas influencias a que se mostra particularmente permeavel, nomeadamente a brasileira.
Dito isso, a ocasiao serve-me de pretexto para dedicar um post a alguma da sua musica, com destaque para alguns duetos que acho particularmente bem conseguidos, tendo os tres ultimos ja' por aqui passado noutras ocasioes.


E’ so Ma Bo
(c/ Lura)


N’Zambi N’Zambi
(c/ Sara Tavares)


Poema do Semba
(c/ Carlos Burity)


E’ Doce Morrer no Mar
(c/ Wyza)


Falso Testemunho
(c/ Tito Paris)


Clarice
(c/ Tito Paris)


Xe’ Povo
(c/ Dog Murras)

APONTAMENTO

Ainda nos primordios deste blog registei aqui o seguinte comentario:

(...) tenho que lhe dizer que, da minha propria experiencia e de outras que tenho observado, a melhor forma de no nosso pais "enterrar" uma pessoa e as suas ideias e' propor que ela assuma posicoes de destaque, seja a que nivel de responsabilidade for... e' como inadvertidamente empurrarmos alguem para o cadafalso, quando tinhamos a melhor das intencoes de a elevarmos a um qualquer "pedestal do bem"...
Vou-lhe so' falar brevemente de um episodio ocorrido aqui ha uns anos: o Semanario Angolense (jornal tido como maldito e proscrito por alguns sectores "bem pensantes" da nossa sociedade)
teve a ousadia de fazer uma especie de sondagem entre algumas dezenas de pessoas no pais sobre qual deveria ser a constituicao de um hipotetico "governo ideal", ou, como eles tambem lhe chamaram, "the dream team"... acontece que do elenco resultante desse exercicio meramente especulativo constava o meu nome, entre outros que nao fazem parte do actual status quo. Pois nao imagina a "maka de sanzala" que aquilo deu! Comecou-se a falar de uma conjura golpista em curso, no contexto da qual ja se estaria a criar um "governo sombra", etc, etc, etc... E eu que estava muito bem descansadinha e totalmente inocente no meu cantinho acabei por ver renascer o tipo de problemas e agressoes pessoais e profissionais que ha muito julgava afastadas da minha vida!
Foi por acaso o sociologo Paulo de Carvalho, de quem tenho um artigo ai no 'Armario' sobre a "Exclusao Social em Angola", que tentou botar agua na fervura, com um artigo argumentando que com aquela sondagem o SA apenas tinha pretendido fazer "um exercicio de cidadania", mas... ja' era tarde demais! Algumas das pessoas incluidas no tal "dream team", em particular as que se encontram fora do pais como e' o meu caso, ja tinham sido "marcadas"...
Depois dessa experiencia, se eu tivesse juizo, devia talvez ter deixado de escrever este tipo de artigos, porque penso ter sido com base em alguns deles que algumas das pessoas que participaram na sondagem se lembraram do meu nome... Mas, feliz ou infelizmente, este e' um vicio de oficio contra o qual nada posso ou devo fazer. Apenas posso, embora ciente de que para certas pessoas em determinados circulos que se alimentam permanentemente de "teorias da conspiracao" isso de pouco ou nada adiantara', reiterar que
NAO TENHO QUAISQUER PRETENSOES POLITICAS!


Agora leio isto na ultima edicao do SA:

Nao sei em que ‘barra’ bateram… nem se deva lamentar caso tenham ‘visto estrelas’ em tal batida, uma vez que ate’ se assumem como ‘lunaticos’…
De qualquer modo, os meus parabens a Mila’ pela progressao na sua carreira profissional.

Ainda nos primordios deste blog registei aqui o seguinte comentario:

(...) tenho que lhe dizer que, da minha propria experiencia e de outras que tenho observado, a melhor forma de no nosso pais "enterrar" uma pessoa e as suas ideias e' propor que ela assuma posicoes de destaque, seja a que nivel de responsabilidade for... e' como inadvertidamente empurrarmos alguem para o cadafalso, quando tinhamos a melhor das intencoes de a elevarmos a um qualquer "pedestal do bem"...
Vou-lhe so' falar brevemente de um episodio ocorrido aqui ha uns anos: o Semanario Angolense (jornal tido como maldito e proscrito por alguns sectores "bem pensantes" da nossa sociedade)
teve a ousadia de fazer uma especie de sondagem entre algumas dezenas de pessoas no pais sobre qual deveria ser a constituicao de um hipotetico "governo ideal", ou, como eles tambem lhe chamaram, "the dream team"... acontece que do elenco resultante desse exercicio meramente especulativo constava o meu nome, entre outros que nao fazem parte do actual status quo. Pois nao imagina a "maka de sanzala" que aquilo deu! Comecou-se a falar de uma conjura golpista em curso, no contexto da qual ja se estaria a criar um "governo sombra", etc, etc, etc... E eu que estava muito bem descansadinha e totalmente inocente no meu cantinho acabei por ver renascer o tipo de problemas e agressoes pessoais e profissionais que ha muito julgava afastadas da minha vida!
Foi por acaso o sociologo Paulo de Carvalho, de quem tenho um artigo ai no 'Armario' sobre a "Exclusao Social em Angola", que tentou botar agua na fervura, com um artigo argumentando que com aquela sondagem o SA apenas tinha pretendido fazer "um exercicio de cidadania", mas... ja' era tarde demais! Algumas das pessoas incluidas no tal "dream team", em particular as que se encontram fora do pais como e' o meu caso, ja tinham sido "marcadas"...
Depois dessa experiencia, se eu tivesse juizo, devia talvez ter deixado de escrever este tipo de artigos, porque penso ter sido com base em alguns deles que algumas das pessoas que participaram na sondagem se lembraram do meu nome... Mas, feliz ou infelizmente, este e' um vicio de oficio contra o qual nada posso ou devo fazer. Apenas posso, embora ciente de que para certas pessoas em determinados circulos que se alimentam permanentemente de "teorias da conspiracao" isso de pouco ou nada adiantara', reiterar que
NAO TENHO QUAISQUER PRETENSOES POLITICAS!


Agora leio isto na ultima edicao do SA:

Nao sei em que ‘barra’ bateram… nem se deva lamentar caso tenham ‘visto estrelas’ em tal batida, uma vez que ate’ se assumem como ‘lunaticos’…
De qualquer modo, os meus parabens a Mila’ pela progressao na sua carreira profissional.

Friday 24 October 2008

SARKOZY VOODOO DOLL

E pensar que a dita “magia negra” e’ invariavelmente atribuida a Africa e aos Africanos e o chamado voodoo particularmente ao Haiti…
Bom, uma companhia francesa teve a “brilhante ideia” de criar e comercializar um “boneco de feitico” representando Nicolas Sarkozy e algumas das suas mais famosas boutades. O boneco vem acompanhado de um kit contendo alfinetes e um manual de instrucoes de voodoo. Uma brincadeira (de mau gosto?) para permitir aos mais insatisfeitos descarregarem as suas frustracoes atribuiveis ao Sarko espetando-lhe alfinetadas e rogando-lhe pragas sempre que lhes der na gana. Mas o visado e’ que nao acha piada nenhuma a brincadeira e ameaca processar a companhia…
Mas talvez fosse interessante observar os efeitos de uma brincadeira destas usando alguns presidentes Africanos… Talvez eles tratassem rapidamente de fazer o feitico voltar-se a serio contra os (aprendizes de) feiticeiros?

[Pode ver um video sobre a “brincadeira” aqui]
E pensar que a dita “magia negra” e’ invariavelmente atribuida a Africa e aos Africanos e o chamado voodoo particularmente ao Haiti…
Bom, uma companhia francesa teve a “brilhante ideia” de criar e comercializar um “boneco de feitico” representando Nicolas Sarkozy e algumas das suas mais famosas boutades. O boneco vem acompanhado de um kit contendo alfinetes e um manual de instrucoes de voodoo. Uma brincadeira (de mau gosto?) para permitir aos mais insatisfeitos descarregarem as suas frustracoes atribuiveis ao Sarko espetando-lhe alfinetadas e rogando-lhe pragas sempre que lhes der na gana. Mas o visado e’ que nao acha piada nenhuma a brincadeira e ameaca processar a companhia…
Mas talvez fosse interessante observar os efeitos de uma brincadeira destas usando alguns presidentes Africanos… Talvez eles tratassem rapidamente de fazer o feitico voltar-se a serio contra os (aprendizes de) feiticeiros?

[Pode ver um video sobre a “brincadeira” aqui]

Thursday 23 October 2008

KUNDERA E O INSUSTENTAVEL PESO DA DENUNCIA

"Estou completamente estupefacto perante algo que eu nao esperava, sobre o qual nada sabia ate’ ontem e que nao aconteceu." Assim reagiu Milan Kundera a recentes alegacoes de que ele teria sido um colaborador da policia secreta do regime comunista Tcheco.
Segundo tais alegacoes, em 1950 Kundera tera’ denunciado um compatriota seu, Miroslav Dvoracek , como “espiao ao servico do ocidente”, vindo este a escapar a pena de morte por um triz, tendo no entanto sido condenado a 22 anos de prisao, dos quais cumpriu 14 num campo de trabalhos forcados.

Miroslav Dvoracek era na altura um jovem aviador que havia desertado do exercito Tcheco e, depois do golpe comunista de 1948, fugido para a Alemanha, onde tera’ sido recrutado pelos servicos de inteligencia sobre a Tchecoslovaquia patrocinados pelos EUA. A 14 de Marco de 1950, enquanto efectuava, sob camuflagem, uma visita a Praga, Dvoracek tera’ sido denunciado a policia por Kundera. No entanto, Kundera afirma que “nao conhecia o homem de todo” e que tais alegacoes constituem “o assassinato de um autor.”

Kundera foi um entusiasta do regime comunista nos seus primeiros anos, mas cedo esfriou tal entusiasmo, vindo a ser expulso do Partido Comunista Tcheco por “actividades anti-comunistas” no mesmo ano em que aconteceu a alegada traicao de Dvoracek . Tornou-se entao uma “figura de odio” do partido ate’ que, em 1975, fugiu da sua Tchecoslovaquia natal para a Franca, de onde viria a ganhar fama internacional como escritor de obras com um forte pendor anti-comunista.

[Mais detalhes aqui]
"Estou completamente estupefacto perante algo que eu nao esperava, sobre o qual nada sabia ate’ ontem e que nao aconteceu." Assim reagiu Milan Kundera a recentes alegacoes de que ele teria sido um colaborador da policia secreta do regime comunista Tcheco.
Segundo tais alegacoes, em 1950 Kundera tera’ denunciado um compatriota seu, Miroslav Dvoracek , como “espiao ao servico do ocidente”, vindo este a escapar a pena de morte por um triz, tendo no entanto sido condenado a 22 anos de prisao, dos quais cumpriu 14 num campo de trabalhos forcados.

Miroslav Dvoracek era na altura um jovem aviador que havia desertado do exercito Tcheco e, depois do golpe comunista de 1948, fugido para a Alemanha, onde tera’ sido recrutado pelos servicos de inteligencia sobre a Tchecoslovaquia patrocinados pelos EUA. A 14 de Marco de 1950, enquanto efectuava, sob camuflagem, uma visita a Praga, Dvoracek tera’ sido denunciado a policia por Kundera. No entanto, Kundera afirma que “nao conhecia o homem de todo” e que tais alegacoes constituem “o assassinato de um autor.”

Kundera foi um entusiasta do regime comunista nos seus primeiros anos, mas cedo esfriou tal entusiasmo, vindo a ser expulso do Partido Comunista Tcheco por “actividades anti-comunistas” no mesmo ano em que aconteceu a alegada traicao de Dvoracek . Tornou-se entao uma “figura de odio” do partido ate’ que, em 1975, fugiu da sua Tchecoslovaquia natal para a Franca, de onde viria a ganhar fama internacional como escritor de obras com um forte pendor anti-comunista.

[Mais detalhes aqui]

MY 'NORMA JEANE MOMENT', MY 'STRAIGHT STORY', OR ‘I AS A PIECE OF ART’


This was a ‘performance’ I took part in at the Frieze Art Fair the other day.
What was it all about?
Well, I signed a form that said:

Norma Jeane
The Straight Story
Frieze Projects 2008

The artist Norma Jeane has produced a performance, The Straight Story, for Frieze Projects.
This performance takes place inside the three transparent booths located in square P13. The piece will be performed by visitors to Frieze Art Fair who agree to take part by smoking one cigarette inside one of the booths.
The artist will be performing in the piece but to conceal his/her identity, also requires that members of the public impersonate him/her and give the performance on his/her behalf.

By signing this form you agree that:

- You will take part in the performance entitled ‘The Straight Story’ on behalf of the artist Norma Jeane.
- Your performance will consist of you entering one of the booths, smoking a cigarette in full view of the public, extinguishing your cigarette in the receptacle provided and exiting the booth.
- You understand the health risks associated with smoking and take part in the performance at your own risk.

[Find out more here]

This was a ‘performance’ I took part in at the Frieze Art Fair the other day.
What was it all about?
Well, I signed a form that said:

Norma Jeane
The Straight Story
Frieze Projects 2008

The artist Norma Jeane has produced a performance, The Straight Story, for Frieze Projects.
This performance takes place inside the three transparent booths located in square P13. The piece will be performed by visitors to Frieze Art Fair who agree to take part by smoking one cigarette inside one of the booths.
The artist will be performing in the piece but to conceal his/her identity, also requires that members of the public impersonate him/her and give the performance on his/her behalf.

By signing this form you agree that:

- You will take part in the performance entitled ‘The Straight Story’ on behalf of the artist Norma Jeane.
- Your performance will consist of you entering one of the booths, smoking a cigarette in full view of the public, extinguishing your cigarette in the receptacle provided and exiting the booth.
- You understand the health risks associated with smoking and take part in the performance at your own risk.

[Find out more here]

Tuesday 21 October 2008

IS THE US A FRIEND OR A FOE OF AFRICA?

That was the title of today's Cyber Seminar held by the Norwegian Council for Africa.
Professor Paul Zeleza, of Illinois University, USA and Cape University, South Africa, introduced it:

Senator Obama's victory would be symbolically important for Africa in so far as it would represent the ascendancy to America's most important political office of a Diaspora African. However, it is unlikely that this would be followed by substantive changes in U.S. policy towards Africa. Senator Obama's campaign largely sees Africa in humanitarian, not geostrategic, terms, as a global pawn rather than as a global player, notwithstanding the polite rhetoric about Africa's great potential...

[Full details here]
That was the title of today's Cyber Seminar held by the Norwegian Council for Africa.
Professor Paul Zeleza, of Illinois University, USA and Cape University, South Africa, introduced it:

Senator Obama's victory would be symbolically important for Africa in so far as it would represent the ascendancy to America's most important political office of a Diaspora African. However, it is unlikely that this would be followed by substantive changes in U.S. policy towards Africa. Senator Obama's campaign largely sees Africa in humanitarian, not geostrategic, terms, as a global pawn rather than as a global player, notwithstanding the polite rhetoric about Africa's great potential...

[Full details here]

MO IBRAHIM'S LEADERSHIP PRIZE TO FESTUS MOGAE

As a former "honorary citizen" of Botswana, I say: good choice.

[You can listen to Kofi Annan's awarding speech here]
As a former "honorary citizen" of Botswana, I say: good choice.

[You can listen to Kofi Annan's awarding speech here]

Monday 20 October 2008

MY BIRTHDAY PRESENTS THIS YEAR

I. Uma visita a Frieze Art Fair, no Regent's Park

Prenda de aniversario que vos convido a partilhar (a feira encerrou ontem, caso esteja em Londres e a pensar ir...) aqui, onde poderao encontrar a lista das galerias e artistas representados, bem como fotos das suas obras.

II. The Audacity of Hope

Ja' o tinha, mas...

I. Uma visita a Frieze Art Fair, no Regent's Park

Prenda de aniversario que vos convido a partilhar (a feira encerrou ontem, caso esteja em Londres e a pensar ir...) aqui, onde poderao encontrar a lista das galerias e artistas representados, bem como fotos das suas obras.

II. The Audacity of Hope

Ja' o tinha, mas...

POWELL, THE REPUBLICAN, ENDORSES OBAMA, THE DEMOCRAT

Friday 17 October 2008

ECHOES FROM THE ANGOLAN PRESS (26 AND LAST)






Com um artigo meu que acaba de sair no ultimo numero do Semanario Angolense e ao qual dedicarei o proximo post, termino esta serie.

Deu-me muito prazer partilhar aqui as noticias da banda a medida que as ia lendo. Decidi faze-lo pelo prazer, mas tambem porque, vivendo como vivo ha' varios anos fora do pais, uma coisa que sempre me preocupa e' a forma como a informacao sobre Angola, e sobre Africa em geral, e' (mal)tratada em alguma (quase toda?) imprensa estrangeira (nao so' a ocidental).

Por isso tenho para mim que, apesar das insuficiencias de que a imprensa local possa sofrer neste ou naquele aspecto, ela deve ser, sempre que possivel, a primeira escolha para nos mantermos actualizados sobre o que realmente, mesmo que apenas atraves da leitura nas entrelinhas, se passa no terreno dos acontecimentos. Ela nao e', nem deve ser quanto a mim, a unica fonte de informacao sobre o pais, mas e' certamente uma fonte indispensavel.

Assim, espero ter contribuido com esta serie de alguma maneira para esse desiderato e tambem para demonstrar ao mundo (a dada altura pareceu-me que isso se tornara absolutamente necessario) que a imprensa Angolana, em particular a privada e/ou independente, is alive and kicking! O meu muito obrigada aos amigos que me facultaram essa possibilidade e espero que cada vez mais jornais e jornalistas Angolanos baseados em Angola passem a publicar online e a participar da blogosfera.

Blogosfera onde, by the way, ao contrario do que alguns parecem ter entendido, nunca me pretendi fazer passar por 'jornalista' - que de facto nao sou, nem pretendo ser, apesar da minha breve passagem pela profissao ha' ja' largos anos - e onde tambem ha' um debate muito interessante sobre as fronteiras entre o bloguismo e o jornalismo. Ja' agora gostaria de dizer que nao concordo inteiramente que se transporte completamente a pratica do jornalismo profissional dos jornais e de outros meios de informacao tradicionais para os blogs, a menos que tais meios de informacao tradicionais, como acontece com praticamente todos os jornais no ocidente, tenham os seus proprios sites online e a eles associem os seus blogs, continuando no entanto a pautar-se online pelos codigos e praticas do jornalismo tradicional e, sobretudo, mantendo-se sujeitos as normas deontologicas, eticas, morais e de responsabilizacao que devem reger a profissao, sob pena de incorrerem em penalizacao pelas igualmente tradicionais vias legais. Por isso julgo que a blogosfera, enquanto espaco de informacao e comunicacao atraves de um veiculo ainda quase completamente desregulado como e' a internet, se presta melhor a "fazer eco" do jornalismo do que propriamente a protagoniza-lo ou a emula-lo.

Continuarei, naturalmente, a ler a imprensa Angolana regularmente e disso darei aqui conta como sempre, mas penso que esta serie cumpriu o seu objectivo.

So, that's all folks, as far as the Echoes from the Angolan Press/Ecos da Imprensa Angolana are concerned. Hope you've enjoyed it!





Com um artigo meu que acaba de sair no ultimo numero do Semanario Angolense e ao qual dedicarei o proximo post, termino esta serie.

Deu-me muito prazer partilhar aqui as noticias da banda a medida que as ia lendo. Decidi faze-lo pelo prazer, mas tambem porque, vivendo como vivo ha' varios anos fora do pais, uma coisa que sempre me preocupa e' a forma como a informacao sobre Angola, e sobre Africa em geral, e' (mal)tratada em alguma (quase toda?) imprensa estrangeira (nao so' a ocidental).

Por isso tenho para mim que, apesar das insuficiencias de que a imprensa local possa sofrer neste ou naquele aspecto, ela deve ser, sempre que possivel, a primeira escolha para nos mantermos actualizados sobre o que realmente, mesmo que apenas atraves da leitura nas entrelinhas, se passa no terreno dos acontecimentos. Ela nao e', nem deve ser quanto a mim, a unica fonte de informacao sobre o pais, mas e' certamente uma fonte indispensavel.

Assim, espero ter contribuido com esta serie de alguma maneira para esse desiderato e tambem para demonstrar ao mundo (a dada altura pareceu-me que isso se tornara absolutamente necessario) que a imprensa Angolana, em particular a privada e/ou independente, is alive and kicking! O meu muito obrigada aos amigos que me facultaram essa possibilidade e espero que cada vez mais jornais e jornalistas Angolanos baseados em Angola passem a publicar online e a participar da blogosfera.

Blogosfera onde, by the way, ao contrario do que alguns parecem ter entendido, nunca me pretendi fazer passar por 'jornalista' - que de facto nao sou, nem pretendo ser, apesar da minha breve passagem pela profissao ha' ja' largos anos - e onde tambem ha' um debate muito interessante sobre as fronteiras entre o bloguismo e o jornalismo. Ja' agora gostaria de dizer que nao concordo inteiramente que se transporte completamente a pratica do jornalismo profissional dos jornais e de outros meios de informacao tradicionais para os blogs, a menos que tais meios de informacao tradicionais, como acontece com praticamente todos os jornais no ocidente, tenham os seus proprios sites online e a eles associem os seus blogs, continuando no entanto a pautar-se online pelos codigos e praticas do jornalismo tradicional e, sobretudo, mantendo-se sujeitos as normas deontologicas, eticas, morais e de responsabilizacao que devem reger a profissao, sob pena de incorrerem em penalizacao pelas igualmente tradicionais vias legais. Por isso julgo que a blogosfera, enquanto espaco de informacao e comunicacao atraves de um veiculo ainda quase completamente desregulado como e' a internet, se presta melhor a "fazer eco" do jornalismo do que propriamente a protagoniza-lo ou a emula-lo.

Continuarei, naturalmente, a ler a imprensa Angolana regularmente e disso darei aqui conta como sempre, mas penso que esta serie cumpriu o seu objectivo.

So, that's all folks, as far as the Echoes from the Angolan Press/Ecos da Imprensa Angolana are concerned. Hope you've enjoyed it!

JOE, THE TUMBLER


Thursday 16 October 2008

DEPOIS DO ULTIMO DEBATE...

... Pouco ha' a dizer, senao que Obama o ganhou com uma margem ainda maior do que os anteriores e que, embora a campanha nao tenha ainda terminado, parece que ela ja' esta' ganha.
O que da' espaco e tempo para um pouco de 'trivia': i. descobri durante o debate de ontem que os dois sao canhotos; ii. por qualquer razao que nao exactamente essa, fiquei com a sensacao de que esses dois ate' davam um bom par trabalhando juntos...
... Pouco ha' a dizer, senao que Obama o ganhou com uma margem ainda maior do que os anteriores e que, embora a campanha nao tenha ainda terminado, parece que ela ja' esta' ganha.
O que da' espaco e tempo para um pouco de 'trivia': i. descobri durante o debate de ontem que os dois sao canhotos; ii. por qualquer razao que nao exactamente essa, fiquei com a sensacao de que esses dois ate' davam um bom par trabalhando juntos...

Friday 10 October 2008

'DESEMBRULHANDO A CRISE' (I)

Sub-entitulei este blog “deitando contas a vida” porque, sendo economista de formacao e exercendo a minha actividade profissional geralmente em ambientes, ou com responsabilidades, que nao me conferem facilmente o tempo necessario ou um espaco que me permita dedicar-me a outros interesses que sempre tive ao longo da vida e que durante varios anos tive que deixar completamente negligenciados, sentia necessidade de arranjar esse tempo e espaco.

Por isso a criacao deste blog, como um lugar onde pudesse fazer, dizer e discutir o que me desse ‘na real gana’, sem grandes formalidades ou preocupacoes de rigor profissional, academico ou diplomatico, mantendo embora a seriedade e honestidade que julgo serem devidas a qualquer espaco de publicacao. Portanto, como economista, se viesse a “deitar contas” a alguma coisa neste espaco seria apenas, e muito informalmente, “a vida” tomada na sua forma mais geral, despreocupada e descomprometida possivel.

Por essa razao, tenho evitado, tanto quanto possivel, trazer para aqui questoes que sejam, directa ou indirectamente, do meu ambito profissional. Assim, alguns dos artigos ou outros materiais de minha autoria sobre questoes relativas a economia ou a historia economica que aqui postei, ou ja’ tinham sido publicados noutros espacos, ou, se escritos durante a existencia deste blog, preferi publica-los noutros espacos online, como o Africanpath ou o Atlantic Community.

Vem isto em geito de introducao a esta nova serie, que entitulo ‘desembrulhando a crise’, porque pretendo com ela fazer isso mesmo: tentar desembrulhar os varios aspectos da actual crise economica global, quanto mais nao seja porque, como nenhuma outra na memoria recente, ela tem tido e vai continuar a ter por tempo ainda dificil de predizer os mais diversos impactos na vida de todos nos de forma geral, tornando-a menos despreocupada e descomprometida do que muito provavelmente todos gostariamos. Tentarei faze-lo malembe malembe, como convem a natureza das questoes envolvidas e ao tempo de que disponho, evitando, no entanto, o mais possivel, torna-la demasiado academica ou profissional, ate’ porque isso apenas “embrulharia” ainda mais as questoes em causa.

I. De ‘gigantes com pes de barro’, ‘tigres de papel’ e ‘baloes de ar rarefeito’

Como todos ja’ sabemos, os sinais mais preocupantes desta crise comecaram a anunciar-se ha’ pouco mais de um ano nos EUA, com o que ficou conhecido como a crise do “sub-prime”. O credito "sub-prime" (ou sub-prime lending) no mercado imobiliario e’ geralmente entendido como emprestimos habitacionais concedidos a individuos com um baixo credit rating (ou seja, que por varias razoes, desde relativamente baixos salarios e/ou inseguras fontes de rendimento a falta de pagamento de creditos anteriores, normalmente nao teriam acesso ao credito bancario para tais, ou mesmo outros, efeitos). O termo tambem se aplica a transaccoes financeiras sobre propriedades com um valor real, ou potencial, inferior aquele pelo qual tenham sido incialmente quotadas. A circunstancia de tao grande numero de propriedades ter caido nessa categoria nos EUA deveu-se fundamentalmente a duas ordens de factores:

1. Os bancos, de forma alarmantemente generalizada, vinham concedendo credito para a compra de habitacoes a segmentos populacionais que nao tinham condicoes reais de as pagar, isto e’, que caiam na categoria do sub-prime lending. Essa pratica tornou-se ainda mais danosa quando, como se verificou em muitos casos, se estendeu a habitacoes de baixo valor patrimonial, quer intrinseco, quer em termos da sua localizacao, as quais, caso os bancos credores tivessem – como foram tendo num relativamente curto espaco de tempo, a medida que os niveis de desemprego se iam tornando cada vez mais elevados –, necessidade de as retomar (atraves das chamadas foreclosures, ou execucao contenciosa de hipotecas) para as revenderem no mercado, nao lhes renderiam o suficiente, isto se lhes rendessem alguma coisa, para cobrirem as perdas devidas ao mau credito inicial que sobre elas tinham feito.
A piorar a situacao, a recessao que se vinha instalando noutros sectores da economia, fez com que grande numero de propriedades, mesmo com relativamente maior valor patrimonial, tambem se tornassem ‘pesos mortos’ nos seus inventarios e balancos, porque se colocadas ou recolocadas no mercado, quer primario (as casas propriamente ditas a novos compradores), quer secundario (as hipotecas, ou mortgages, das casas a outros agentes do sistema financeiro) dificilmente viriam a encontrar oportunidades de transaccao viaveis ou suficientemente lucrativas.

2. Paralelamente a divida contraida para a compra de habitacoes, os consumidores, no mercado sub-prime e nao so, foram tambem adquirindo do sistema financeiro outros creditos para consumo, ou para investimento pessoal (e.g. seguros de vida, ou para cuidados de saude e tratamento hospitalar – de notar que os EUA nao teem um servico publico de saude), em certos casos com base nas hipotecas de tais habitacoes, mesmo quando ainda nao as tivessem pago completamente, o que veio “embrulhar” ainda mais a crise. A este ponto voltarei mais tarde.

Esta crise remete-nos para a pedra basilar do funcionamento do sistema bancario ou, dito de outro modo, para a regra de ouro da concessao de credito: o emprestimo de qualquer valor monetario por qualquer credor, banco ou outro agente financeiro, tem que ter por base um valor real, que sirva de garantia para o reembolso de tal emprestimo, por parte do devedor. Isto e’, nao deve haver credito sem ‘colateral’ (ou seja, um bem tangivel que, no caso da actual crise, sao ou seriam as habitacoes sobre as quais os emprestimos privados, quer em termos de quantias monetarias, quer sob a forma de cartoes de credito, foram concedidos).

Ora, essa regra de ouro foi violada seria e serialmente pelo sistema bancario Americano que, ao faze-lo e perante uma recessao generalizada da economia, ficou exposto como um ‘gigante com pes de barro’, ‘tigre de papel’ ou ‘balao de ar rarefeito’: isto e’, perante a contraccao da economia real (devido ao que se poderia classificar como a ‘rarefaccao do oxigenio’ criado pelo emprego, a produtividade, o investimento e, em consequencia destes, pelo crescimento economico), o sistema financeiro – incluindo todos os seus sectores: o primario, constituido essencialmente pelos bancos comerciais e de credito (os que sustentam a chamada main street, ou seja, qualquer 'rua principal' onde se fazem os negocios particulares do dia a dia); o secundario, constituido essencialmente pelas companhias de seguros e resseguros (como a American International Group, AIG, operando sobretudo no seguro de bancos) e instituicoes operando na concessao de garantias a emprestimos (como a Federal Home Loan Mortgage Corporation, mais conhecida como Freddie Mac, e a Federal National Mortgage Association, mais conhecida como Fannie Mae); o terciario, constituido pelas bolsas de valores (proeminentemente a de Wall Street, ‘reinado’ de investidores como Lehman Brothers e Merril Lynch) e, ultimamente, com a aprovacao da ‘boia de salvacao’ de 700 bilioes de dolares pelo governo, ate’ o ‘emprestador de ultimo recurso’ do sistema, isto e’, o Banco Central (Federal Reserve, Fed) –, deixou de ter terra firme (os bens tangiveis, as casas) em que assentar os pes, transaccionando apenas com base em ‘papeis’ (notas de credito) sem qualquer valor real. Dai as falencias em catadupa de todos os operadores financeiros acima citados, uns completamente, outros temporariamente salvos pelo FED.

Essa, do meu ponto de vista, a essencia da crise que se vem desenrolando aos nossos olhos.
Se ha’ uma licao basica a retirar dela, e’ que nenhuma economia se pode dar ao luxo de perder o equilibrio essencial entre o sector de bens (e servicos) e o sector das financas, ou seja, entre a economia real e a economia monetaria. Este ‘lembrete’ torna-se particularmente relevante para algumas das questoes que levantei, bastante antes desta crise, no meu artigo “Politica Futebol e Algumas Consideracoes sobre a Actual Conjuntura Economica Angolana”.
A elas voltarei.
Sub-entitulei este blog “deitando contas a vida” porque, sendo economista de formacao e exercendo a minha actividade profissional geralmente em ambientes, ou com responsabilidades, que nao me conferem facilmente o tempo necessario ou um espaco que me permita dedicar-me a outros interesses que sempre tive ao longo da vida e que durante varios anos tive que deixar completamente negligenciados, sentia necessidade de arranjar esse tempo e espaco.

Por isso a criacao deste blog, como um lugar onde pudesse fazer, dizer e discutir o que me desse ‘na real gana’, sem grandes formalidades ou preocupacoes de rigor profissional, academico ou diplomatico, mantendo embora a seriedade e honestidade que julgo serem devidas a qualquer espaco de publicacao. Portanto, como economista, se viesse a “deitar contas” a alguma coisa neste espaco seria apenas, e muito informalmente, “a vida” tomada na sua forma mais geral, despreocupada e descomprometida possivel.

Por essa razao, tenho evitado, tanto quanto possivel, trazer para aqui questoes que sejam, directa ou indirectamente, do meu ambito profissional. Assim, alguns dos artigos ou outros materiais de minha autoria sobre questoes relativas a economia ou a historia economica que aqui postei, ou ja’ tinham sido publicados noutros espacos, ou, se escritos durante a existencia deste blog, preferi publica-los noutros espacos online, como o Africanpath ou o Atlantic Community.

Vem isto em geito de introducao a esta nova serie, que entitulo ‘desembrulhando a crise’, porque pretendo com ela fazer isso mesmo: tentar desembrulhar os varios aspectos da actual crise economica global, quanto mais nao seja porque, como nenhuma outra na memoria recente, ela tem tido e vai continuar a ter por tempo ainda dificil de predizer os mais diversos impactos na vida de todos nos de forma geral, tornando-a menos despreocupada e descomprometida do que muito provavelmente todos gostariamos. Tentarei faze-lo malembe malembe, como convem a natureza das questoes envolvidas e ao tempo de que disponho, evitando, no entanto, o mais possivel, torna-la demasiado academica ou profissional, ate’ porque isso apenas “embrulharia” ainda mais as questoes em causa.

I. De ‘gigantes com pes de barro’, ‘tigres de papel’ e ‘baloes de ar rarefeito’

Como todos ja’ sabemos, os sinais mais preocupantes desta crise comecaram a anunciar-se ha’ pouco mais de um ano nos EUA, com o que ficou conhecido como a crise do “sub-prime”. O credito "sub-prime" (ou sub-prime lending) no mercado imobiliario e’ geralmente entendido como emprestimos habitacionais concedidos a individuos com um baixo credit rating (ou seja, que por varias razoes, desde relativamente baixos salarios e/ou inseguras fontes de rendimento a falta de pagamento de creditos anteriores, normalmente nao teriam acesso ao credito bancario para tais, ou mesmo outros, efeitos). O termo tambem se aplica a transaccoes financeiras sobre propriedades com um valor real, ou potencial, inferior aquele pelo qual tenham sido incialmente quotadas. A circunstancia de tao grande numero de propriedades ter caido nessa categoria nos EUA deveu-se fundamentalmente a duas ordens de factores:

1. Os bancos, de forma alarmantemente generalizada, vinham concedendo credito para a compra de habitacoes a segmentos populacionais que nao tinham condicoes reais de as pagar, isto e’, que caiam na categoria do sub-prime lending. Essa pratica tornou-se ainda mais danosa quando, como se verificou em muitos casos, se estendeu a habitacoes de baixo valor patrimonial, quer intrinseco, quer em termos da sua localizacao, as quais, caso os bancos credores tivessem – como foram tendo num relativamente curto espaco de tempo, a medida que os niveis de desemprego se iam tornando cada vez mais elevados –, necessidade de as retomar (atraves das chamadas foreclosures, ou execucao contenciosa de hipotecas) para as revenderem no mercado, nao lhes renderiam o suficiente, isto se lhes rendessem alguma coisa, para cobrirem as perdas devidas ao mau credito inicial que sobre elas tinham feito.
A piorar a situacao, a recessao que se vinha instalando noutros sectores da economia, fez com que grande numero de propriedades, mesmo com relativamente maior valor patrimonial, tambem se tornassem ‘pesos mortos’ nos seus inventarios e balancos, porque se colocadas ou recolocadas no mercado, quer primario (as casas propriamente ditas a novos compradores), quer secundario (as hipotecas, ou mortgages, das casas a outros agentes do sistema financeiro) dificilmente viriam a encontrar oportunidades de transaccao viaveis ou suficientemente lucrativas.

2. Paralelamente a divida contraida para a compra de habitacoes, os consumidores, no mercado sub-prime e nao so, foram tambem adquirindo do sistema financeiro outros creditos para consumo, ou para investimento pessoal (e.g. seguros de vida, ou para cuidados de saude e tratamento hospitalar – de notar que os EUA nao teem um servico publico de saude), em certos casos com base nas hipotecas de tais habitacoes, mesmo quando ainda nao as tivessem pago completamente, o que veio “embrulhar” ainda mais a crise. A este ponto voltarei mais tarde.

Esta crise remete-nos para a pedra basilar do funcionamento do sistema bancario ou, dito de outro modo, para a regra de ouro da concessao de credito: o emprestimo de qualquer valor monetario por qualquer credor, banco ou outro agente financeiro, tem que ter por base um valor real, que sirva de garantia para o reembolso de tal emprestimo, por parte do devedor. Isto e’, nao deve haver credito sem ‘colateral’ (ou seja, um bem tangivel que, no caso da actual crise, sao ou seriam as habitacoes sobre as quais os emprestimos privados, quer em termos de quantias monetarias, quer sob a forma de cartoes de credito, foram concedidos).

Ora, essa regra de ouro foi violada seria e serialmente pelo sistema bancario Americano que, ao faze-lo e perante uma recessao generalizada da economia, ficou exposto como um ‘gigante com pes de barro’, ‘tigre de papel’ ou ‘balao de ar rarefeito’: isto e’, perante a contraccao da economia real (devido ao que se poderia classificar como a ‘rarefaccao do oxigenio’ criado pelo emprego, a produtividade, o investimento e, em consequencia destes, pelo crescimento economico), o sistema financeiro – incluindo todos os seus sectores: o primario, constituido essencialmente pelos bancos comerciais e de credito (os que sustentam a chamada main street, ou seja, qualquer 'rua principal' onde se fazem os negocios particulares do dia a dia); o secundario, constituido essencialmente pelas companhias de seguros e resseguros (como a American International Group, AIG, operando sobretudo no seguro de bancos) e instituicoes operando na concessao de garantias a emprestimos (como a Federal Home Loan Mortgage Corporation, mais conhecida como Freddie Mac, e a Federal National Mortgage Association, mais conhecida como Fannie Mae); o terciario, constituido pelas bolsas de valores (proeminentemente a de Wall Street, ‘reinado’ de investidores como Lehman Brothers e Merril Lynch) e, ultimamente, com a aprovacao da ‘boia de salvacao’ de 700 bilioes de dolares pelo governo, ate’ o ‘emprestador de ultimo recurso’ do sistema, isto e’, o Banco Central (Federal Reserve, Fed) –, deixou de ter terra firme (os bens tangiveis, as casas) em que assentar os pes, transaccionando apenas com base em ‘papeis’ (notas de credito) sem qualquer valor real. Dai as falencias em catadupa de todos os operadores financeiros acima citados, uns completamente, outros temporariamente salvos pelo FED.

Essa, do meu ponto de vista, a essencia da crise que se vem desenrolando aos nossos olhos.
Se ha’ uma licao basica a retirar dela, e’ que nenhuma economia se pode dar ao luxo de perder o equilibrio essencial entre o sector de bens (e servicos) e o sector das financas, ou seja, entre a economia real e a economia monetaria. Este ‘lembrete’ torna-se particularmente relevante para algumas das questoes que levantei, bastante antes desta crise, no meu artigo “Politica Futebol e Algumas Consideracoes sobre a Actual Conjuntura Economica Angolana”.
A elas voltarei.

'DAY SPA'




Ha’ quem tenha a felicidade de poder ser chamada/o ‘desenraizada/o’, porque pelo menos isso significa que ja’ foi ‘enraizada/o’, ja’ teve raizes, a partir das quais cresceu e se afirmou como individuo num mundo diversificado, sem necessitar de ‘tomar de emprestimo’ as raizes de quem quer que seja. Quanto muito, tera’ partilhado as suas proprias raizes com as de outros, assim enriquecendo-se e ao universo.


Outra/os ha’, porem, que jamais terao essa felicidade, porque nunca tiveram raizes, pelo menos nos espacos que reclamam ‘sua propriedade’, seja porque as suas raizes, se alguma vez as tiveram, ficaram noutras latitudes, das quais se terao aparentemente ‘desenraizado’, pelo menos quando tal aparencia convem as circunstancias, seja porque entendem/defendem que “quem tem raizes sao apenas as arvores e ele/as arvores nao sao, nem nunca foram”…


Mas do que aquela Mumuila ali desfrutando da sua spa natural serenamente se ri mesmo, e’ daquela orgulhosa descendente de uma longa linhagem de “colonos de raca” habituados a coleccionar trofeus pelos seus meritorios servicos pela nobre causa do “desenraizamento de pretos” – desde o ‘colar de cabacos de pretas’ de um parente 'kafrealizado', a palmatoria com que a avo batia nos ‘pretitos’ que nao havia meio de aprenderem a soletrar os Herois do Mar como deve ser, ao lapis de carvao com que a mae assinara o despacho decretando o Portugues lingua nacional daquele 'pais de pretos', ao seu proprio premio por ter ensinado alguns ‘pretitos’ a dancar o fandango em bicos de pes – que, aterrorizada com a possibilidade de ter que tirar a sua ‘mascara nacional’ para entrar na spa, ou que as aguas lhe fossem lavar a 'tinta preta' com que cobre a pele, grita, que nem Quincas Berro d'Agua: “spa num pais de pretos!?! Po**a!!!!! Eu gosto deles mesmo e' a cheirar catinga!!!”





Ha’ quem tenha a felicidade de poder ser chamada/o ‘desenraizada/o’, porque pelo menos isso significa que ja’ foi ‘enraizada/o’, ja’ teve raizes, a partir das quais cresceu e se afirmou como individuo num mundo diversificado, sem necessitar de ‘tomar de emprestimo’ as raizes de quem quer que seja. Quanto muito, tera’ partilhado as suas proprias raizes com as de outros, assim enriquecendo-se e ao universo.


Outra/os ha’, porem, que jamais terao essa felicidade, porque nunca tiveram raizes, pelo menos nos espacos que reclamam ‘sua propriedade’, seja porque as suas raizes, se alguma vez as tiveram, ficaram noutras latitudes, das quais se terao aparentemente ‘desenraizado’, pelo menos quando tal aparencia convem as circunstancias, seja porque entendem/defendem que “quem tem raizes sao apenas as arvores e ele/as arvores nao sao, nem nunca foram”…


Mas do que aquela Mumuila ali desfrutando da sua spa natural serenamente se ri mesmo, e’ daquela orgulhosa descendente de uma longa linhagem de “colonos de raca” habituados a coleccionar trofeus pelos seus meritorios servicos pela nobre causa do “desenraizamento de pretos” – desde o ‘colar de cabacos de pretas’ de um parente 'kafrealizado', a palmatoria com que a avo batia nos ‘pretitos’ que nao havia meio de aprenderem a soletrar os Herois do Mar como deve ser, ao lapis de carvao com que a mae assinara o despacho decretando o Portugues lingua nacional daquele 'pais de pretos', ao seu proprio premio por ter ensinado alguns ‘pretitos’ a dancar o fandango em bicos de pes – que, aterrorizada com a possibilidade de ter que tirar a sua ‘mascara nacional’ para entrar na spa, ou que as aguas lhe fossem lavar a 'tinta preta' com que cobre a pele, grita, que nem Quincas Berro d'Agua: “spa num pais de pretos!?! Po**a!!!!! Eu gosto deles mesmo e' a cheirar catinga!!!”


Thursday 9 October 2008

LET'S POLL?

WHO WOULD YOU LIKE TO WIN THE US PRESIDENTIAL ELECTION?

QUEM ESPERA/DESEJA QUE GANHE A ELEICAO PRESIDENCIAL AMERICANA?

You can place your vote at this blog's 'polling station'.

Podera' depositar o seu voto na 'polling station' deste blog.

WHO WOULD YOU LIKE TO WIN THE US PRESIDENTIAL ELECTION?

QUEM ESPERA/DESEJA QUE GANHE A ELEICAO PRESIDENCIAL AMERICANA?

You can place your vote at this blog's 'polling station'.

Podera' depositar o seu voto na 'polling station' deste blog.

Wednesday 8 October 2008

WALTER SALLES ON BRAZIL, LIFE & LINHA DE PASSE

Did you know that at least 30% of Brazilian families are fatherless?
I didn’t until I heard it from Walter Salles yesterday, on a ‘Hardtalk’ interview he gave about Brazil, film, life and Linha de Passe.

You can access it here.

Did you know that at least 30% of Brazilian families are fatherless?
I didn’t until I heard it from Walter Salles yesterday, on a ‘Hardtalk’ interview he gave about Brazil, film, life and Linha de Passe.

You can access it here.

"IT'S THE ECONOMY, STUPID!"

O leitor menos familiarizado com essa frase podera’ encontrar a sua explicacao aqui.
Quanto a mim, ela incorpora tudo o que tornou Obama, de acordo com varias sondagens logo apos o debate de ontem, no mais provavel vencedor da actual corrida a Casa Branca.

Num momento em que a economia esta’ como esta’ (i.e., muito pior do que estava em 1992, quando Bill Clinton celebrizou aquele "it's the economy, stupid", vindo a ganhar a campanha presidencial naquele ano), tudo indica que, quaisquer que sejam as vantagens relativas de McCain (e.g., experiencia militar e em politica externa, o élan de Sarah Palin e as recentes “revelacoes” que esta tem feito sobre o passado de Obama…), os pontos feitos ontem por Obama no debate sobre a actual crise financeira e como resolve-la, consolidaram a tendencial vantagem comparativa que o estado da economia vem ultimamente facultando a campanha democrata. Tal vantagem traduz-se, depois do debate de ontem, numa diferenca de 11 pontos percentuais a seu favor nas percepcoes publicas sobre qual dos candidatos pareceu ser “o lider mais forte”.

Ou seja, pela primeira vez nesta campanha, Obama aparece clara e firmemente na lideranca. Isto e’, nao sera’ a experiencia militar ou legislativa (nas quais, questoes ideologicas a parte, McCain tende a ganhar sobre Obama aos pontos) que ira’ ditar o desfecho desta campanha, tao pouco o “atirar lama para o adversario” em que Palin se parece vir especializando ultimamente, ou o tratamento paternalista com que McCain invariavelmente trata Obama (“that one”, como a ele se referiu ontem…):
it’s the economy, stupid!

Entretanto, Obama pergunta: “what did you think?”. Bom, creio ter acabado de responder…

What did you think?

Wednesday, 8 October, 2008 9:45 AM
From:
"Barack Obama"
To:
"Ana Santana"
Ana --

I thought the differences between John McCain and me were pretty clear tonight.
I will fight for the middle class every day, and -- once again -- Senator McCain didn't mention the middle class a single time during the debate.
If you agree that we need to cut taxes for 95% of working families, reduce health care costs, and end the war in Iraq responsibly, then I need your help right now.
And if you heard John McCain push more of the same discredited policies, including tax cuts for the wealthy and giant corporations, tax increases on health care, and continuing to spend $10 billion a month in Iraq, then now is the time to act.
Four weeks from tonight, we'll know which of us will be the next president.

Thank you,

Barack
O leitor menos familiarizado com essa frase podera’ encontrar a sua explicacao aqui.
Quanto a mim, ela incorpora tudo o que tornou Obama, de acordo com varias sondagens logo apos o debate de ontem, no mais provavel vencedor da actual corrida a Casa Branca.

Num momento em que a economia esta’ como esta’ (i.e., muito pior do que estava em 1992, quando Bill Clinton celebrizou aquele "it's the economy, stupid", vindo a ganhar a campanha presidencial naquele ano), tudo indica que, quaisquer que sejam as vantagens relativas de McCain (e.g., experiencia militar e em politica externa, o élan de Sarah Palin e as recentes “revelacoes” que esta tem feito sobre o passado de Obama…), os pontos feitos ontem por Obama no debate sobre a actual crise financeira e como resolve-la, consolidaram a tendencial vantagem comparativa que o estado da economia vem ultimamente facultando a campanha democrata. Tal vantagem traduz-se, depois do debate de ontem, numa diferenca de 11 pontos percentuais a seu favor nas percepcoes publicas sobre qual dos candidatos pareceu ser “o lider mais forte”.

Ou seja, pela primeira vez nesta campanha, Obama aparece clara e firmemente na lideranca. Isto e’, nao sera’ a experiencia militar ou legislativa (nas quais, questoes ideologicas a parte, McCain tende a ganhar sobre Obama aos pontos) que ira’ ditar o desfecho desta campanha, tao pouco o “atirar lama para o adversario” em que Palin se parece vir especializando ultimamente, ou o tratamento paternalista com que McCain invariavelmente trata Obama (“that one”, como a ele se referiu ontem…):
it’s the economy, stupid!

Entretanto, Obama pergunta: “what did you think?”. Bom, creio ter acabado de responder…

What did you think?

Wednesday, 8 October, 2008 9:45 AM
From:
"Barack Obama"
To:
"Ana Santana"
Ana --

I thought the differences between John McCain and me were pretty clear tonight.
I will fight for the middle class every day, and -- once again -- Senator McCain didn't mention the middle class a single time during the debate.
If you agree that we need to cut taxes for 95% of working families, reduce health care costs, and end the war in Iraq responsibly, then I need your help right now.
And if you heard John McCain push more of the same discredited policies, including tax cuts for the wealthy and giant corporations, tax increases on health care, and continuing to spend $10 billion a month in Iraq, then now is the time to act.
Four weeks from tonight, we'll know which of us will be the next president.

Thank you,

Barack

Tuesday 7 October 2008

JEUNE AFRIQUE: DOSSIER ANGOLA

Dès quelques mois, celui qu'on disait, au mieux, effacé et, au pire, sans charisme, a réussi à surprendre tous les observateurs politiques, faisant taire au passage les spéculations sur sa santé. En mai, après la 3e conférence nationale du Mouvement populaire pour la libération de l'Angola (MPLA), José Eduardo dos Santos a en effet lancé une véritable offensive de charme envers la jeunesse, dont le vote est toujours incertain, et envers les femmes, qui composent désormais plus de 60 % de l'électorat angolais. Ce qui a le plus surpris, y compris dans l'opposition, c'est la rapidité et la radicalité de la transfiguration présidentielle.
«Je suis le joueur d'une équipe qui gagne!» s'est-il exclamé le 29 août, devant des milliers de militants à Lubango. Entre l'homme taciturne, introverti, peu coutumier des grands gestes théâtraux - tout le contraire de feu Jonas Savimbi, fondateur de l'Union nationale pour l'indépendance totale de l'Angola (Unita) - et la star médiatique que l'on a vue pendant la campagne courir le pays au gré des inaugurations d'infrastructures publiques, il y a un monde.
Mais il faut se rappeler que celui qu'on a surnommé « Zédu » (contraction de José Eduardo) a dû très tôt apprendre, tel un joueur de poker, à dissimuler ses émotions. Pour mieux grimper l'échelle du pouvoir...

SA DERNIERE BATAILLE?

Après l ' indépendance, en 1975, il est très proche d'Agostinho Neto (fondateur du MPLA et premier président de l'Angola), qui lui confie plusieurs postes ministériels importants (Relations étrangères, Plan...). À la mort de ce dernier, en 1979, il est propulsé à la tête du MPLA et de l'État par le numéro deux du parti, Lucia Lara, qui refuse le poste suprême parce qu'il est «métis et que ce n'est pas le moment». De fait, une partie de l'élite blanche et métisse du nouveau parti-État pense que le technicien dos Santos n'est qu'une éphémère solution de transition. Vingt-neuf ans plus tard, l'avènement du multipartisme a eu lieu (1991), Jonas Savimbi est mort (2002), l'Angola est devenu la clé de voûte de l'équilibre régional...
Et dos Santos est toujours en place. Prêt à recevoir l'onction démocratique de l'élection présidentielle de 2009.

A Luanda, qui compte près d'un tiers des 8,3 millions d'électeurs du pays, des problèmes d'organisation ont eu lieu dans environ 10% des bureaux de vote: files interminables, retards du personnel et du matériel électoral...
Et le scrutin a dû être prolongé d'une journée. Tout en pointant ces incidents, les observateurs de l'Union européenne et ceux de l'Union africaine ont qualifié les élections d'«impartiales et crédibles», la Communauté de développement de l'Afrique australe (SADC) et celle des pays de langue portugaise (CPLP) les jugeant «pacifiques et transparentes». Isaias Samakuva, président de l'Unita, a, dans un premier temps, déploré leur «manque de crédibilité». Avec quelques autres de 14 partis et coalitions en présence, il a demandé un nouveau vote dans les bureaux où il avait eu des difficultés. Une requête aussitôt rejetée par Caetano de Sousa, président de la Commission nationale électorale (CNE). Et, dès le 8 septembre, l'Unita a pris acte de sa défaite et annoncé qu'elle ne contesterait pas les résultats définitifs du scrutin. «Est-ce que nous avons vraiment le choix? Pouvons-nous descendre dans la rue?» demande avec fatalité Alcides Sakala, l'ancien président du groupe parlementaire de l'Unita.

OBJECTIF : DEVENIR LE LEADER POLITIQUE DE LA SOUS-RÉGION

En route pour l'élection présidentielle de 2009 comme dos Santos, Zuma n'est que le dernier en date des leaders de la sous-région sur lesquels le président angolais exerce une forte ascendance. C'est lui qui, en 1997, a aidé Laurent-Désiré Kabila à renverser le régime mobutiste, allié de l'Unita, puis à se maintenir au pouvoir en RD Congo. La même année, au Congo, les forces armées angolaises ont aidé Denis Sassou Nguesso à reprendre Brazzaville à Pascal Lissouba, lui aussi soutien de Savimbi. De quoi garder des liens étroits avec les deux voisins congolais...
Depuis, l'Angola a poursuivi son offensive diplomatique avec des moyens plus politiquement corrects, en renforçant notamment sa présence dans les structures multilatérales africaines. En 2007, l'Angola a été nommé pour
trois ans au Conseil de paix et de sécurité de l'Union africaine et devrait prendre une part croissante dans les opérations de maintien de la paix sur le continent. Sa présence s'est renforcée au sein de la Communauté économique des États d'Afrique centrale (CEEAC, dont le secrétaire exécutif adjoint est angolais depuis 1999). Et il fait désormais partie du comité permanent de la Communauté de développement d'Afrique australe (SADC), dont il est le deuxième contributeur après l'Afrique du Sud (avec 2,8 milliards de dollars pour 2008-2009).

DES CHANTIERS PAR MILLIERS

L'Angola est en effet un immense chantier. Les projets à l'étude ou en cours de réalisation ne se comptent plus: ports (notamment à Luanda, où le temps d'attente avan déchargement est estimé à quarante jours, mais aussi à Namibe, Cabinda, Lubango, Soyo, Lobito), aéroports (400 millions de dollars sont prévus pour leur réhabilitation dans l'ensemble du pays), lignes ferroviaires (réseaux de Luanda, Malanje, Benguela Moçamedes)...
De même, l'immobilier public et privé se développe. Favorisan l'émergence d'une classe moyenne, l'État commence à financer des programmes de logement. Lesquels jouxtent des projets plus spéculatifs comme celui, pharaonique, de Kilamba Kiaxi, dans la banlieue de Luanda, où China International Trust and Investment Corporation (Citic) va construire d'ici à 2010 une ville entière de 710 immeubles et 20000 appartements, pour un investissement de 3,5 milliards de dollars !

L'EXPANSION SELON SONANGOL

Fonctionnant à la manière d'un fonds souverain, la société pétrolière nationale Sonangol est au centre d'une stratégie qui vise à délocaliser, de Lisbonne à Luanda, les centres de décision de grandes sociétés portugaises. Elle pourrait ainsi bientôt prendre le contrôle de Galp Energia, dont elle contrôle déjà 15%, en achetant la part de 7% que l'État portugais a décidé de vendre le 1er août. Le géant angolais possède déjà, dans le secteur bancaire, 49,9% de Millenium BCP Angola (filiale de BCP, la plus grande banque privée portugaise, dont Sonangol est le plus gros actionnaire avec 10% des parts), 49% de BPI et 25% de Totta-Angola. Entre autres... Déjà propriétaire d'une compagnie aérienne, Sonair (qui possède une flotte de 52 appareils), la Sonangol entend aussi investir dans la compagnie nationale portugaise TAP, que le gouvernement portugais a l'intention de privatiser. •

© Jeune Afrique - Hebdomadaire International Independent, No. 2488, Septembre 2008
Dès quelques mois, celui qu'on disait, au mieux, effacé et, au pire, sans charisme, a réussi à surprendre tous les observateurs politiques, faisant taire au passage les spéculations sur sa santé. En mai, après la 3e conférence nationale du Mouvement populaire pour la libération de l'Angola (MPLA), José Eduardo dos Santos a en effet lancé une véritable offensive de charme envers la jeunesse, dont le vote est toujours incertain, et envers les femmes, qui composent désormais plus de 60 % de l'électorat angolais. Ce qui a le plus surpris, y compris dans l'opposition, c'est la rapidité et la radicalité de la transfiguration présidentielle.
«Je suis le joueur d'une équipe qui gagne!» s'est-il exclamé le 29 août, devant des milliers de militants à Lubango. Entre l'homme taciturne, introverti, peu coutumier des grands gestes théâtraux - tout le contraire de feu Jonas Savimbi, fondateur de l'Union nationale pour l'indépendance totale de l'Angola (Unita) - et la star médiatique que l'on a vue pendant la campagne courir le pays au gré des inaugurations d'infrastructures publiques, il y a un monde.
Mais il faut se rappeler que celui qu'on a surnommé « Zédu » (contraction de José Eduardo) a dû très tôt apprendre, tel un joueur de poker, à dissimuler ses émotions. Pour mieux grimper l'échelle du pouvoir...

SA DERNIERE BATAILLE?

Après l ' indépendance, en 1975, il est très proche d'Agostinho Neto (fondateur du MPLA et premier président de l'Angola), qui lui confie plusieurs postes ministériels importants (Relations étrangères, Plan...). À la mort de ce dernier, en 1979, il est propulsé à la tête du MPLA et de l'État par le numéro deux du parti, Lucia Lara, qui refuse le poste suprême parce qu'il est «métis et que ce n'est pas le moment». De fait, une partie de l'élite blanche et métisse du nouveau parti-État pense que le technicien dos Santos n'est qu'une éphémère solution de transition. Vingt-neuf ans plus tard, l'avènement du multipartisme a eu lieu (1991), Jonas Savimbi est mort (2002), l'Angola est devenu la clé de voûte de l'équilibre régional...
Et dos Santos est toujours en place. Prêt à recevoir l'onction démocratique de l'élection présidentielle de 2009.

A Luanda, qui compte près d'un tiers des 8,3 millions d'électeurs du pays, des problèmes d'organisation ont eu lieu dans environ 10% des bureaux de vote: files interminables, retards du personnel et du matériel électoral...
Et le scrutin a dû être prolongé d'une journée. Tout en pointant ces incidents, les observateurs de l'Union européenne et ceux de l'Union africaine ont qualifié les élections d'«impartiales et crédibles», la Communauté de développement de l'Afrique australe (SADC) et celle des pays de langue portugaise (CPLP) les jugeant «pacifiques et transparentes». Isaias Samakuva, président de l'Unita, a, dans un premier temps, déploré leur «manque de crédibilité». Avec quelques autres de 14 partis et coalitions en présence, il a demandé un nouveau vote dans les bureaux où il avait eu des difficultés. Une requête aussitôt rejetée par Caetano de Sousa, président de la Commission nationale électorale (CNE). Et, dès le 8 septembre, l'Unita a pris acte de sa défaite et annoncé qu'elle ne contesterait pas les résultats définitifs du scrutin. «Est-ce que nous avons vraiment le choix? Pouvons-nous descendre dans la rue?» demande avec fatalité Alcides Sakala, l'ancien président du groupe parlementaire de l'Unita.

OBJECTIF : DEVENIR LE LEADER POLITIQUE DE LA SOUS-RÉGION

En route pour l'élection présidentielle de 2009 comme dos Santos, Zuma n'est que le dernier en date des leaders de la sous-région sur lesquels le président angolais exerce une forte ascendance. C'est lui qui, en 1997, a aidé Laurent-Désiré Kabila à renverser le régime mobutiste, allié de l'Unita, puis à se maintenir au pouvoir en RD Congo. La même année, au Congo, les forces armées angolaises ont aidé Denis Sassou Nguesso à reprendre Brazzaville à Pascal Lissouba, lui aussi soutien de Savimbi. De quoi garder des liens étroits avec les deux voisins congolais...
Depuis, l'Angola a poursuivi son offensive diplomatique avec des moyens plus politiquement corrects, en renforçant notamment sa présence dans les structures multilatérales africaines. En 2007, l'Angola a été nommé pour
trois ans au Conseil de paix et de sécurité de l'Union africaine et devrait prendre une part croissante dans les opérations de maintien de la paix sur le continent. Sa présence s'est renforcée au sein de la Communauté économique des États d'Afrique centrale (CEEAC, dont le secrétaire exécutif adjoint est angolais depuis 1999). Et il fait désormais partie du comité permanent de la Communauté de développement d'Afrique australe (SADC), dont il est le deuxième contributeur après l'Afrique du Sud (avec 2,8 milliards de dollars pour 2008-2009).

DES CHANTIERS PAR MILLIERS

L'Angola est en effet un immense chantier. Les projets à l'étude ou en cours de réalisation ne se comptent plus: ports (notamment à Luanda, où le temps d'attente avan déchargement est estimé à quarante jours, mais aussi à Namibe, Cabinda, Lubango, Soyo, Lobito), aéroports (400 millions de dollars sont prévus pour leur réhabilitation dans l'ensemble du pays), lignes ferroviaires (réseaux de Luanda, Malanje, Benguela Moçamedes)...
De même, l'immobilier public et privé se développe. Favorisan l'émergence d'une classe moyenne, l'État commence à financer des programmes de logement. Lesquels jouxtent des projets plus spéculatifs comme celui, pharaonique, de Kilamba Kiaxi, dans la banlieue de Luanda, où China International Trust and Investment Corporation (Citic) va construire d'ici à 2010 une ville entière de 710 immeubles et 20000 appartements, pour un investissement de 3,5 milliards de dollars !

L'EXPANSION SELON SONANGOL

Fonctionnant à la manière d'un fonds souverain, la société pétrolière nationale Sonangol est au centre d'une stratégie qui vise à délocaliser, de Lisbonne à Luanda, les centres de décision de grandes sociétés portugaises. Elle pourrait ainsi bientôt prendre le contrôle de Galp Energia, dont elle contrôle déjà 15%, en achetant la part de 7% que l'État portugais a décidé de vendre le 1er août. Le géant angolais possède déjà, dans le secteur bancaire, 49,9% de Millenium BCP Angola (filiale de BCP, la plus grande banque privée portugaise, dont Sonangol est le plus gros actionnaire avec 10% des parts), 49% de BPI et 25% de Totta-Angola. Entre autres... Déjà propriétaire d'une compagnie aérienne, Sonair (qui possède une flotte de 52 appareils), la Sonangol entend aussi investir dans la compagnie nationale portugaise TAP, que le gouvernement portugais a l'intention de privatiser. •

© Jeune Afrique - Hebdomadaire International Independent, No. 2488, Septembre 2008

Sunday 5 October 2008

MEMORIA DE UM 'TRUMUNU LITERARIO'





Deambulando pelos arquivos do meu computador, se dei de caras com essa foto ai...

Pensei duas vezes antes de a postar aqui, mas conclui: porque nao? Afinal e' um 'documento historico' digno de nota: algures entre o fim da decada de 70 e o inicio da de 80, duas equipas de futebol (se houve mesmo trumunu e quem ganhou nao sei...), uma pela Brigada Jovem de Literatura (BJL) e outra pela Uniao dos Escritores Angolanos (UEA)!

Portanto, ai fica. Foi-me 'passada', ha' uns tempos, pelo Buca Boavida (esse que foi fundador da BJL de Luanda e o inaugurador da "geracao literaria de 80" com o seu livro de poemas "A Essa Juventude").

Dentre os que consigo reconhecer:

Pela UEA: o Mais Velho Raul David, Luandino Vieira, Manuel Rui, Pepetela, Henrique Guerra, Antonio Cardoso, Ndunduma, Carlos Pimentel

Pela BJL: árbitro, Casse', Buca, Sao Vicente, Gastão Rebelo, Luis Rita, Luis Kandjimbo, António Fonseca.

Nos tempos...


P.S.: Uma 'alma caridosa' ajudou-me com os nomes de que nao me lembrava. A eles as minhas desculpas. Mas, honestamente, eu estive quase, quase a nomear o Kandjimbo, mas nao conseguia ter a certeza (talvez porque lhe faltassem os oculos...) e o Henrique Guerra (deste nao tinha duvidas, quanto mais nao seja pela sua obra de referencia sobre a Economia e Sociedade Angolana, mas realmente bem que procurei o nome mentalmente, mas nao conseguia encontrar).






Deambulando pelos arquivos do meu computador, se dei de caras com essa foto ai...

Pensei duas vezes antes de a postar aqui, mas conclui: porque nao? Afinal e' um 'documento historico' digno de nota: algures entre o fim da decada de 70 e o inicio da de 80, duas equipas de futebol (se houve mesmo trumunu e quem ganhou nao sei...), uma pela Brigada Jovem de Literatura (BJL) e outra pela Uniao dos Escritores Angolanos (UEA)!

Portanto, ai fica. Foi-me 'passada', ha' uns tempos, pelo Buca Boavida (esse que foi fundador da BJL de Luanda e o inaugurador da "geracao literaria de 80" com o seu livro de poemas "A Essa Juventude").

Dentre os que consigo reconhecer:

Pela UEA: o Mais Velho Raul David, Luandino Vieira, Manuel Rui, Pepetela, Henrique Guerra, Antonio Cardoso, Ndunduma, Carlos Pimentel

Pela BJL: árbitro, Casse', Buca, Sao Vicente, Gastão Rebelo, Luis Rita, Luis Kandjimbo, António Fonseca.

Nos tempos...


P.S.: Uma 'alma caridosa' ajudou-me com os nomes de que nao me lembrava. A eles as minhas desculpas. Mas, honestamente, eu estive quase, quase a nomear o Kandjimbo, mas nao conseguia ter a certeza (talvez porque lhe faltassem os oculos...) e o Henrique Guerra (deste nao tinha duvidas, quanto mais nao seja pela sua obra de referencia sobre a Economia e Sociedade Angolana, mas realmente bem que procurei o nome mentalmente, mas nao conseguia encontrar).


Saturday 4 October 2008

A CAUSE WELL WORTH GETTING TO THE STREETS FOR

Did you know that about 4 million children (i.e. a number roughly equivalent to just under half the entire Angolan population) are currently living in poverty in the UK, one of the highest rates in the industrialised world?

A protest march against child poverty in the UK took place today at Trafalgar Square, in London. One cause, among others, I find worth getting to the streets for in this country, or anywhere else in the world for that matter.

Did you know that about 4 million children (i.e. a number roughly equivalent to just under half the entire Angolan population) are currently living in poverty in the UK, one of the highest rates in the industrialised world?

A protest march against child poverty in the UK took place today at Trafalgar Square, in London. One cause, among others, I find worth getting to the streets for in this country, or anywhere else in the world for that matter.

LANCAMENTO DE "UM AMPLO MOVIMENTO" E APRESENTACAO DA ASSOCIACAO TCHIWEKA DE DOCUMENTACAO

Como aqui anunciado, foram lancados em Luanda, na quinta-feira que passou, mais dois volumes de "Um Amplo Movimento", de Lucio Lara. O lancamento coincidiu com a apresentacao ao publico da Associacao e Centro de Documentacao Tchiweka, que tambem abriu recentemente este portal na internet.

O Jornal de Angola (JA)noticiou assim o evento:

"O anfiteatro da Faculdade de Arquitectura acolhe(u) a sessão de lançamento do segundo e terceiro volumes da obra intitulada "Um amplo movimento –Itinerário do MPLA através de documentos de Lúcio Lara ". Trata-se de um trabalho iniciado há cerca de dez anos por Ruth, esposa e companheira de Lúcio Lara, com a publicação do primeiro volume em 1998. Depois da morte de Ruth Lara, também ela figura ligada à génese do MPLA, o projecto foi retomado pela filha Wanda, sob o apadrinhamento da Africa Group da Suécia e do Instituto Nórdico de Estudos Africanos. São documentos e cartas de extrema valia para quem esteja interessado em descodificar alguns dos enigmas mais persistentes da história do maior partido político de Angola, tais como a expulsão de Matias Miguéis, José Bernardo Domingos e Viriato da Cruz, em 1963, a fuga de Agostinho Neto para o Reino de Marrocos, em 1962, e também perceber alguns dos episódios da luta de libertação nacional no período de 1961 a 1964."

Wanda Lara, coordenadora do projecto, afirmou em entrevista ao JA:

"Desejo que as pessoas tenham interesse
pelos livros e pelos documentos nele
inseridos. E que de alguma forma isso sirva
não só para que as pessoas que
participaram na luta de libertação, quer na
clandestinidade, quer na luta armada,
escrevam as suas memórias"
(...)
Penso que dependendo de quem vai ler,
um historiador, um estudante de Direito,
um interessado pela história de Angola,
cada um vai retirar sempre alguma coisa
diferente. Uns vão gostar e outros não. As
coisas têm sempre dois ou mais lados."

Paulo Lara rememora experiencias de vida que alguns dos documentos ora publicados lhe evocam:

"Eu nasci em 1956, no ano do famoso manifesto do MPLA, e de facto há muitas coisas de que me lembro perfeitamente e que estão relacionadas com momentos importantes que nós tivemos ao longo da nossa vida. Eu era miúdo quando cheguei a Guiné-Conacry, não lembro de nada do que se passou antes da ida a Conacry, da saída de Portugal, a ida para a Alemanha, a ida ao Reino de Marrocos, mas de Conacry sim, até porque as fotografias ajudam nos a lembrar de coisas. Lembro-me de Amílcar Cabral e sua família. Da filha de Amílcar Cabral, com quem brincava, e do filho de Aristides Pereira, lembro-me perfeitamente de ter ficado em casa de Hugo de Menezes. Lembro-me do momento em que nós saímos de Conacry para Léopoldville, quem nos acompanhou até ao aeroporto foi Amílcar Cabral, e lembro porque inclusivamente ele me ofereceu um relógio. (…) O relógio devia ter vindo lá da Checoslováquia. Mas sei que era tão bom que quando cheguei a Léopoldville já não funcionava (risos). Durou apenas a viagem de avião até Brazzaville e depois de barco para Léopoldville. Mas foi o primeiro relógio da minha vida. Se hoje os relógios se vendem em qualquer canto, naquela altura um relógio era uma relíquia.
(…)
Quando chegámos a Léopoldville foi em plena crise com o Viriato, onde o MPLA estava para ser expulso de Léopoldville. O velho (Lúcio Lara) e o Presidente Neto já haviam sido até detidos por algum tempo pelas autoridades congolesas e acabámos por voltar outra vez a Brazzaville. Ficámos poucos dias em Léopoldville e quando regressámos a Brazzaville havia a revolução Brazzaville, as famosas "Três Gloriosas", no mês de Agosto. Portanto, vivemos tudo, evidentemente que muito jovens, não entendendo bem o que se passava, mas são coisas que nos marcaram profundamente. Há muita coisa que está aí que acompanhámos. Por exemplo, aí no livro aparece uma fotografia em que já éramos chamados 'kudianguelas' (naquele tempo não se chamava pioneiros). Portanto, os jovens, miúdos, kudianguelas, que estávamos em Brazaville naquele tempo, fomos organizados para cantarmos o primeiro hino do MPLA. Nestes documentos vem quando é que apareceu o hino e quem foi o autor do hino.
(…)
Uma questão importante que estes documentos vêm clarificar é, por exemplo, a de saber de quem foi a iniciativa de organizar a fuga de Agostinho Neto. Se foi do Partido Comunista Português ou se partiu mesmo a nível interno, da direcção do MPLA. Outra questão tem a ver com a crise com Viriato da Cruz. Nos livros tem correspondências que dão conta das divergências entre o grupo de Viriato da Cruz e a Direcção do MPLA. E há a questão da altura em que surge o manifesto. Trata-se de uma questão que os documentos ajudam a esclarecer, embora já seja um assunto de certo modo ultrapassado."
[Aqui]

A apresentacao esteve a cargo de Joao Melo, que o fez atraves do que entitulou "Um Retrato a preto-e-branco da Revolucao":

“A Revolução foi feita pelos revolucionários disponíveis”. Esta citação do grande e
inquieto – como convém aos intelectuais dignos da sua profunda vocação cívica, ou
seja, assumirem-se como a consciência crítica das suas sociedades e do seu tempo –
poeta e dramaturgo alemão Bertolt Brecht assaltou-me pela primeira vez quando li o
romance inaugural Mayombe, de Pepetela, lançado no distante ano de 1980.
A mesma ocorreu-me agora, mais uma vez, ao ler estes dois volumes dos documentos
de Lúcio Lara acerca do itinerário histórico do MPLA, que a Associação Tchiweka de
Documentação teve a gentileza de me convidar a apresentar e que eu agradeci de
imediato, talvez demasiado afoitamente, entre honrado, emocionado e amedrontado.
Afinal, apresentar uma obra deste vulto implica um grande sentido de responsabilidade, em especial se o apresentador, como eu, não é historiador.
(...)
Os documentos que compõem estes dois volumes revelam alguns dos principais
protagonistas da gesta nacionalista angolana em toda a sua dimensão, não só política,
mas também pessoal. Forças e fraquezas, ousadias e temores, misérias e grandezas –
tudo perpassa por esta enorme quantidade de documentos, que, sendo um retrato a pree-
branco original, ou seja, sem quaisquer retoques, da fase inicial da Revolução
Angolana, também podem ser lidos, se o quisermos, como uma espécie de “história do
quotidano” do nosso nacionalismo.
Os “revolucionarios disponíveis” que iniciaram a longa e difícil luta pela independência
de Angola estão todos aqui, em carne e osso, sem romantismos de qualquer espécie. O
retrato histórico de alguns pode ser, a partir de agora, mais objectivo, o que confirma
que os tabus e o “black out” informativo só ajudam a alimentar os mitos.
É o caso – vou dizê-lo – do Viriato da Cruz revolucionário (e não, ressalvo, do Viriato
da Cruz poeta), sobre quem foi lançado no mês passado um livro, cujo título remete
precisamente para a sua dimensão mítica. Esse retrato, como é evidente, não pode
esquecer as circunstâncias que envolviam as personagens, pelo que não pode continuar
a servir de pretexto para a tentativa de eliminar algumas delas da fotografia, como, para
usar o mesmo exemplo, o próprio Viriato.
Isso suscita a minha primeira sugestão. Creio ser chegada a hora da direcção actual do
MPLA, confortada pela larga vitória do mencionado partido nas últimas eleições,
resgatar o papel e a memória de algumas das suas figuras históricas, as quais, dentro dos
seus limites e circunstâncias, contribuíram para a sua própria formação e ajudaram a
configurar a feição que o transformou na única organização política verdadeiramente
nacional. Se o MPLA é hoje, mais do que um partido, uma cultura, uma mística e uma
marca, também o deve a figuras como Mário Pinto de Andrade, Viriato da Cruz, Matias
Miguéis e tantos outros.
[Aqui]

Afonso Van-Dúnem Mbinda, veterano do MPLA, afirmou a proposito:

Lúcio Lara encarnou o MPLA e deu a este país e ao MPLA o maior contributo que nós podemos imaginar. Era um caça bilhetinhos. Tudo quanto saísse nos congressos, nas reuniões, ele recolhia. Era um "caça bichinhos", como nós o chamávamos. Esse comportamento permite que hoje se possa lançar em livro tudo quanto guardou. O leitor encontra os fenómenos que aconteceram na vida de uma organização como é o MPLA, que tem vários tipos de pessoas, vários estratos sociais, desde o camponês, o operário, o estudante, toda esta amalgama de pessoas que constituem uma grande riqueza. São fenómenos que serviram de lição para que o MPLA reforçasse, na sua direcção, a coesão interna. Foi exactamente a falta de coesão interna naquela altura que levou à divisão no seio do MPLA. Mas o partido resolveu os seus problemas, continua forte e hoje é uma organização forte, coesa, solidaria. Vimos agora no resultado das eleições, porque no seio da direcção do MPLA tivemos em causa os interesses supremos do povo angolano.
[Aqui]

Mais detalhes aqui e aqui.

Como aqui anunciado, foram lancados em Luanda, na quinta-feira que passou, mais dois volumes de "Um Amplo Movimento", de Lucio Lara. O lancamento coincidiu com a apresentacao ao publico da Associacao e Centro de Documentacao Tchiweka, que tambem abriu recentemente este portal na internet.

O Jornal de Angola (JA)noticiou assim o evento:

"O anfiteatro da Faculdade de Arquitectura acolhe(u) a sessão de lançamento do segundo e terceiro volumes da obra intitulada "Um amplo movimento –Itinerário do MPLA através de documentos de Lúcio Lara ". Trata-se de um trabalho iniciado há cerca de dez anos por Ruth, esposa e companheira de Lúcio Lara, com a publicação do primeiro volume em 1998. Depois da morte de Ruth Lara, também ela figura ligada à génese do MPLA, o projecto foi retomado pela filha Wanda, sob o apadrinhamento da Africa Group da Suécia e do Instituto Nórdico de Estudos Africanos. São documentos e cartas de extrema valia para quem esteja interessado em descodificar alguns dos enigmas mais persistentes da história do maior partido político de Angola, tais como a expulsão de Matias Miguéis, José Bernardo Domingos e Viriato da Cruz, em 1963, a fuga de Agostinho Neto para o Reino de Marrocos, em 1962, e também perceber alguns dos episódios da luta de libertação nacional no período de 1961 a 1964."

Wanda Lara, coordenadora do projecto, afirmou em entrevista ao JA:

"Desejo que as pessoas tenham interesse
pelos livros e pelos documentos nele
inseridos. E que de alguma forma isso sirva
não só para que as pessoas que
participaram na luta de libertação, quer na
clandestinidade, quer na luta armada,
escrevam as suas memórias"
(...)
Penso que dependendo de quem vai ler,
um historiador, um estudante de Direito,
um interessado pela história de Angola,
cada um vai retirar sempre alguma coisa
diferente. Uns vão gostar e outros não. As
coisas têm sempre dois ou mais lados."

Paulo Lara rememora experiencias de vida que alguns dos documentos ora publicados lhe evocam:

"Eu nasci em 1956, no ano do famoso manifesto do MPLA, e de facto há muitas coisas de que me lembro perfeitamente e que estão relacionadas com momentos importantes que nós tivemos ao longo da nossa vida. Eu era miúdo quando cheguei a Guiné-Conacry, não lembro de nada do que se passou antes da ida a Conacry, da saída de Portugal, a ida para a Alemanha, a ida ao Reino de Marrocos, mas de Conacry sim, até porque as fotografias ajudam nos a lembrar de coisas. Lembro-me de Amílcar Cabral e sua família. Da filha de Amílcar Cabral, com quem brincava, e do filho de Aristides Pereira, lembro-me perfeitamente de ter ficado em casa de Hugo de Menezes. Lembro-me do momento em que nós saímos de Conacry para Léopoldville, quem nos acompanhou até ao aeroporto foi Amílcar Cabral, e lembro porque inclusivamente ele me ofereceu um relógio. (…) O relógio devia ter vindo lá da Checoslováquia. Mas sei que era tão bom que quando cheguei a Léopoldville já não funcionava (risos). Durou apenas a viagem de avião até Brazzaville e depois de barco para Léopoldville. Mas foi o primeiro relógio da minha vida. Se hoje os relógios se vendem em qualquer canto, naquela altura um relógio era uma relíquia.
(…)
Quando chegámos a Léopoldville foi em plena crise com o Viriato, onde o MPLA estava para ser expulso de Léopoldville. O velho (Lúcio Lara) e o Presidente Neto já haviam sido até detidos por algum tempo pelas autoridades congolesas e acabámos por voltar outra vez a Brazzaville. Ficámos poucos dias em Léopoldville e quando regressámos a Brazzaville havia a revolução Brazzaville, as famosas "Três Gloriosas", no mês de Agosto. Portanto, vivemos tudo, evidentemente que muito jovens, não entendendo bem o que se passava, mas são coisas que nos marcaram profundamente. Há muita coisa que está aí que acompanhámos. Por exemplo, aí no livro aparece uma fotografia em que já éramos chamados 'kudianguelas' (naquele tempo não se chamava pioneiros). Portanto, os jovens, miúdos, kudianguelas, que estávamos em Brazaville naquele tempo, fomos organizados para cantarmos o primeiro hino do MPLA. Nestes documentos vem quando é que apareceu o hino e quem foi o autor do hino.
(…)
Uma questão importante que estes documentos vêm clarificar é, por exemplo, a de saber de quem foi a iniciativa de organizar a fuga de Agostinho Neto. Se foi do Partido Comunista Português ou se partiu mesmo a nível interno, da direcção do MPLA. Outra questão tem a ver com a crise com Viriato da Cruz. Nos livros tem correspondências que dão conta das divergências entre o grupo de Viriato da Cruz e a Direcção do MPLA. E há a questão da altura em que surge o manifesto. Trata-se de uma questão que os documentos ajudam a esclarecer, embora já seja um assunto de certo modo ultrapassado."
[Aqui]

A apresentacao esteve a cargo de Joao Melo, que o fez atraves do que entitulou "Um Retrato a preto-e-branco da Revolucao":

“A Revolução foi feita pelos revolucionários disponíveis”. Esta citação do grande e
inquieto – como convém aos intelectuais dignos da sua profunda vocação cívica, ou
seja, assumirem-se como a consciência crítica das suas sociedades e do seu tempo –
poeta e dramaturgo alemão Bertolt Brecht assaltou-me pela primeira vez quando li o
romance inaugural Mayombe, de Pepetela, lançado no distante ano de 1980.
A mesma ocorreu-me agora, mais uma vez, ao ler estes dois volumes dos documentos
de Lúcio Lara acerca do itinerário histórico do MPLA, que a Associação Tchiweka de
Documentação teve a gentileza de me convidar a apresentar e que eu agradeci de
imediato, talvez demasiado afoitamente, entre honrado, emocionado e amedrontado.
Afinal, apresentar uma obra deste vulto implica um grande sentido de responsabilidade, em especial se o apresentador, como eu, não é historiador.
(...)
Os documentos que compõem estes dois volumes revelam alguns dos principais
protagonistas da gesta nacionalista angolana em toda a sua dimensão, não só política,
mas também pessoal. Forças e fraquezas, ousadias e temores, misérias e grandezas –
tudo perpassa por esta enorme quantidade de documentos, que, sendo um retrato a pree-
branco original, ou seja, sem quaisquer retoques, da fase inicial da Revolução
Angolana, também podem ser lidos, se o quisermos, como uma espécie de “história do
quotidano” do nosso nacionalismo.
Os “revolucionarios disponíveis” que iniciaram a longa e difícil luta pela independência
de Angola estão todos aqui, em carne e osso, sem romantismos de qualquer espécie. O
retrato histórico de alguns pode ser, a partir de agora, mais objectivo, o que confirma
que os tabus e o “black out” informativo só ajudam a alimentar os mitos.
É o caso – vou dizê-lo – do Viriato da Cruz revolucionário (e não, ressalvo, do Viriato
da Cruz poeta), sobre quem foi lançado no mês passado um livro, cujo título remete
precisamente para a sua dimensão mítica. Esse retrato, como é evidente, não pode
esquecer as circunstâncias que envolviam as personagens, pelo que não pode continuar
a servir de pretexto para a tentativa de eliminar algumas delas da fotografia, como, para
usar o mesmo exemplo, o próprio Viriato.
Isso suscita a minha primeira sugestão. Creio ser chegada a hora da direcção actual do
MPLA, confortada pela larga vitória do mencionado partido nas últimas eleições,
resgatar o papel e a memória de algumas das suas figuras históricas, as quais, dentro dos
seus limites e circunstâncias, contribuíram para a sua própria formação e ajudaram a
configurar a feição que o transformou na única organização política verdadeiramente
nacional. Se o MPLA é hoje, mais do que um partido, uma cultura, uma mística e uma
marca, também o deve a figuras como Mário Pinto de Andrade, Viriato da Cruz, Matias
Miguéis e tantos outros.
[Aqui]

Afonso Van-Dúnem Mbinda, veterano do MPLA, afirmou a proposito:

Lúcio Lara encarnou o MPLA e deu a este país e ao MPLA o maior contributo que nós podemos imaginar. Era um caça bilhetinhos. Tudo quanto saísse nos congressos, nas reuniões, ele recolhia. Era um "caça bichinhos", como nós o chamávamos. Esse comportamento permite que hoje se possa lançar em livro tudo quanto guardou. O leitor encontra os fenómenos que aconteceram na vida de uma organização como é o MPLA, que tem vários tipos de pessoas, vários estratos sociais, desde o camponês, o operário, o estudante, toda esta amalgama de pessoas que constituem uma grande riqueza. São fenómenos que serviram de lição para que o MPLA reforçasse, na sua direcção, a coesão interna. Foi exactamente a falta de coesão interna naquela altura que levou à divisão no seio do MPLA. Mas o partido resolveu os seus problemas, continua forte e hoje é uma organização forte, coesa, solidaria. Vimos agora no resultado das eleições, porque no seio da direcção do MPLA tivemos em causa os interesses supremos do povo angolano.
[Aqui]

Mais detalhes aqui e aqui.

Friday 3 October 2008

PRESIDENCIAIS AMERICANAS: O EFEITO PALIN

Ha' cerca de tres semanas, pessoa amiga enviou-me este artigo por email. Respondi-lhe com o seguinte comentario:

Tenho seguido a convulsao que o “furacao Sarah Palin” esta’ a provocar, nao sem alguma inquietacao quanto ao “damage” que ela esta’ a provocar as chances do Obama. Agora, mais do que nunca, lamento ele nao ter escolhido a Hillary como “running mate”. Alias, o proprio Biden, ja’ o admitiu publicamente…

Portanto, esse artigo vem aliviar um pouco o ‘upset’ que essa senhorita causou nas ultimas semanas. Mas, apesar da conviccao do autor e da clareza das estatisticas que ele apresenta, esta campanha tem sido tao imprevisivel, que acho que ainda preciso de mais algumas semanas para me convencer de que ela nao constitui mesmo qualquer “perigo”. Mesmo porque desde a convencao republicana ela tem sido menosprezada e minimizada pela imprensa que, em geral, tem sido favoravel ao Obama desde o inicio da campanha, mas tem conseguido sair por cima. Ao contrario do que diz o articulista, ela deu anteontem a sua primera grande entrevista televisiva, durante a qual foi interrogada sobre algumas das questoes que ele menciona e, embora nao se tenha saido “brilhantemente”, tambem nao se saiu nada mal… Mesmo o que alguns pretendiam transformar na grande gaffe dela durante a entrevista que foi parecer nao saber o que se convencionou chamar “the Bush doctrine” acabou por ser minimizado e deixado de lado.

O unico argumento que me parece decisivo contra ela sao as posicoes direitistas que ela tem sobre alguns direitos das mulheres, uma vez que a grande aposta do McCain ao escolhe-la foi aproveitar-se do facto de o Obama nao ter escolhido a Clinton, esperando cativar o voto das mulheres democratas que nao se conformaram com tal decisao. Do outro lado da moeda, o argumento de que “as pessoas votam em presidentes e nao nos seus vice-presidentes” nao colhe completamente por duas razoes: 1. Neste caso, os 18 milhoes que votaram na Clinton, fizeram-no em grande medida porque queriam ver uma mulher pela primeira vez na Casa Branca, mesmo se apenas como vice-presidente; 2. A Palin apresenta-se como uma potencial presidente dada a idade do McCain.
Portanto, esperemos para ver…


Bom, tenho que confessar que o brilharete que ela fez ontem, no seu primeiro (e unico durante esta campanha) debate com Joe Biden, apenas confirmou as minhas observacoes (embora nao me pareca que haja razoes para recear que dele tenha advindo qualquer mal para as chances do Obama). Entretanto, eis como Biden 'viu' o debate:

What they won't say
Friday, 3 October, 2008 6:25 AM
From:
"Joe Biden"
To:
"Ana Santana"
Ana --

If you saw tonight's debate, you saw Governor Sarah Palin give a spirited defense of the same disastrous policies that have failed us for the past eight years.

She couldn't identify a single area where she or John McCain would change George W. Bush's economic or foreign policy positions.

If you want something different, Barack and I need your help.

The change we need is fixing this broken economy from the bottom up -- not tax breaks for the wealthy and huge corporations that ship U.S. jobs overseas. We need to focus on defeating al Qaeda and the Taliban and restoring America's standing in the world -- not an unending commitment in Iraq.

Let's be clear: Governor Palin and Senator McCain are offering nothing but more of the same failed Bush policies at home and abroad, trying to disguise them in the rhetoric of change.

Americans need real solutions and real change.

This is the most important presidential election you'll be part of in your life.

Thank you for all that you're doing.

Now let's get to work and change this country,

Joe
Ha' cerca de tres semanas, pessoa amiga enviou-me este artigo por email. Respondi-lhe com o seguinte comentario:

Tenho seguido a convulsao que o “furacao Sarah Palin” esta’ a provocar, nao sem alguma inquietacao quanto ao “damage” que ela esta’ a provocar as chances do Obama. Agora, mais do que nunca, lamento ele nao ter escolhido a Hillary como “running mate”. Alias, o proprio Biden, ja’ o admitiu publicamente…

Portanto, esse artigo vem aliviar um pouco o ‘upset’ que essa senhorita causou nas ultimas semanas. Mas, apesar da conviccao do autor e da clareza das estatisticas que ele apresenta, esta campanha tem sido tao imprevisivel, que acho que ainda preciso de mais algumas semanas para me convencer de que ela nao constitui mesmo qualquer “perigo”. Mesmo porque desde a convencao republicana ela tem sido menosprezada e minimizada pela imprensa que, em geral, tem sido favoravel ao Obama desde o inicio da campanha, mas tem conseguido sair por cima. Ao contrario do que diz o articulista, ela deu anteontem a sua primera grande entrevista televisiva, durante a qual foi interrogada sobre algumas das questoes que ele menciona e, embora nao se tenha saido “brilhantemente”, tambem nao se saiu nada mal… Mesmo o que alguns pretendiam transformar na grande gaffe dela durante a entrevista que foi parecer nao saber o que se convencionou chamar “the Bush doctrine” acabou por ser minimizado e deixado de lado.

O unico argumento que me parece decisivo contra ela sao as posicoes direitistas que ela tem sobre alguns direitos das mulheres, uma vez que a grande aposta do McCain ao escolhe-la foi aproveitar-se do facto de o Obama nao ter escolhido a Clinton, esperando cativar o voto das mulheres democratas que nao se conformaram com tal decisao. Do outro lado da moeda, o argumento de que “as pessoas votam em presidentes e nao nos seus vice-presidentes” nao colhe completamente por duas razoes: 1. Neste caso, os 18 milhoes que votaram na Clinton, fizeram-no em grande medida porque queriam ver uma mulher pela primeira vez na Casa Branca, mesmo se apenas como vice-presidente; 2. A Palin apresenta-se como uma potencial presidente dada a idade do McCain.
Portanto, esperemos para ver…


Bom, tenho que confessar que o brilharete que ela fez ontem, no seu primeiro (e unico durante esta campanha) debate com Joe Biden, apenas confirmou as minhas observacoes (embora nao me pareca que haja razoes para recear que dele tenha advindo qualquer mal para as chances do Obama). Entretanto, eis como Biden 'viu' o debate:

What they won't say
Friday, 3 October, 2008 6:25 AM
From:
"Joe Biden"
To:
"Ana Santana"
Ana --

If you saw tonight's debate, you saw Governor Sarah Palin give a spirited defense of the same disastrous policies that have failed us for the past eight years.

She couldn't identify a single area where she or John McCain would change George W. Bush's economic or foreign policy positions.

If you want something different, Barack and I need your help.

The change we need is fixing this broken economy from the bottom up -- not tax breaks for the wealthy and huge corporations that ship U.S. jobs overseas. We need to focus on defeating al Qaeda and the Taliban and restoring America's standing in the world -- not an unending commitment in Iraq.

Let's be clear: Governor Palin and Senator McCain are offering nothing but more of the same failed Bush policies at home and abroad, trying to disguise them in the rhetoric of change.

Americans need real solutions and real change.

This is the most important presidential election you'll be part of in your life.

Thank you for all that you're doing.

Now let's get to work and change this country,

Joe