"CRONICA DE UMA MAKA ANUNCIADA”
”(...) Quando alguém mostra a visibilidade do mito acha-se ao serviço de pretextos (... qualquer coisa tirada de passagem à Cultura) para, com seu uso, desencadear a explosão mítica. (...) Só não percebe quem vive mergulhado na cultura. Talvez se perceba numa certa África ainda. (...) Estou no mundo, a esquizofrenia fica longe, na cultura.”
Para que fique registado neste blog o que deu lugar a esta maka (e por isso voltei hoje, 11/04/07, a reabrir temporariamente o blog ao publico em geral, mas com os espacos de comentarios a este e ao post anterior encerrados), decidi publicar aqui, no espaco de comentarios a este post, NA INTEGRA, os iniciais comentarios, publicados e nao publicados (digo iniciais porque houve outros posteriormente, 3 ou 4, dos quais apenas 2 foram publicados). Apesar de ja' ter considerado o assunto encerrado, com isto pretendo apenas sugerir aos leitores que, enquanto esta maka se desenrolava "por tras da cortina", foram seguindo os meus pontos de vista, quer aqui no meu blog, quer no blog “A Materia do Tempo” (nao pretendendo com isto de qualquer forma implicar o Denudado ou envolve-lo involuntariamente nesta maka, mas apenas porque as minhas primeiras “manifestacoes” sobre essas questoes foram registadas no blog dele) , sobre alguns dos argumentos da ACGM no seu post entitulado “Vulto Said:”, nomeadamente a volta dos conceitos de “apropriacao cultural”, “partilha” e “racismo”, facam as suas proprias avaliacoes e formulem os seus proprios pontos de vista e/ou juizos de valor.
Sugeriria que o fizessem a luz do meu artigo anexado ao post anterior a este (
“Maka de Sanzala!!!” ) entitulado “A Minha Patria nao e’ a Lingua Portuguesa”, com particular referencia a "alguns exímios praticantes do impressivo, mas de questionável honestidade intelectual, ofício do 'vulturismo cultural' (i.e., a apropriação de simbologias e narrativas antropológicas, sociológicas ou rituais Africanas, para seu uso e abuso como instrumentos, máscaras, de legitimação cultural de discursos artístico-literários raramente condicentes com as experiências vivenciais, as convicções político-ideológicas, as preferências estéticas, ou a praxis social, passada ou presente, dos seus autores)."
Pedir-vos-ia tambem que, tanto quanto possivel, tentassem prestar mais atencao ao CONTEUDO e menos a FORMA como os meus comentarios foram feitos, porque, sinceramente, incialmente para mim tratava-se apenas de expressar um ponto de vista e algumas interrogacoes perante quem, apesar de nao conhecer pessoalmente mas sobre quem sabia o suficiente para me expressar como o fiz sem grandes constrangimentos, nao me sentia com qualquer particular obrigacao de enderecar com “alturas e mesuras” e por quem, depois das suas respostas e a luz do que antes sabia dela e da leitura de alguns dos seus posts e comentarios no seu e noutros blogs, perdi todo o respeito…
Finalmente, impoe-se-me notar particularmente que uma das minhas leituras desta "maka" encaixa-se perfeitamente na frase de Herberto Helder acima citada (e por isso a tive destacada neste blog, no fim do 'News & Views', durante aquele periodo...). Isto e':
Eu expus a visibilidade do mito da "Phwo", ao tentar "destapar-lhe a mascara" e, imediatamente me achei ao servico de pretextos (e.g. acusacoes, ou melhor, insultos, de 'racismo', 'cobardia', 'grosseria', 'falta de educacao', 'atrevimento', 'ignorancia', 'incultura', 'patetice', 'estupidez', 'complexo', 'recalcamento', 'constrangimento', 'retrogredismo' ou 'retroaccao', 'rancor', 'ressaibo', 'raiva', 'ressentimento', 'parasitismo', 'insignificancia', 'besta, quadrada ou nao', 'disparatada', 'aquela coisa', 'vomito', 'pecadora capital', 'terrorista', 'instigadora de assassinatos', 'petit rien', etc, etc, etc...) que pudessem justificar que eu "cometesse um suicidio em grande estilo"... ou seria que alguem "cometesse um assassinato em grande estilo" sobre mim?!
Ao mesmo tempo, na sua resposta ao meu comentario (parcialmente) publicado (triplamente censurado) sob o titulo "Vulto said", ela tira "qualquer coisa" (de facto, varias coisas) de passagem a Cultura, particularmente a filologia, a antropologia e a etnologia (em nenhuma das quais ela e' especialista... e, ja' agora, como especialista em economia, devo dizer-lhe que nem nesta disciplina cientifica o conceito de "negociacao" e' equivalente a "negocio"... por isso, mas infelizmente nao so' por isso, a considero
arrogante ignorante!) para com seu uso desencadear a explosao mitica (i.e. todos os episodios da "maka" que se seguiu e que explodiram nesta cena final...).
De facto, so' nao percebe quem vive mergulhado na cultura - com minuscula... ACGM da' mostras de viver mergulhada na "cultura" la' "dentro" do seu ministerio, da sua academia, dos livros que teve que ler e das licoes que teve que aprender para fazer um curso universitario... e tradu-los a letra para a sua "realidade"... como se a Vida, como se a Cultura, como se a Poesia, como se a Arte, como se a Danca, como se a Literatura, como se a Ciencia, como se a Partilha, como se a Criacao, como se a Geracao, como se a Gestacao, como se a Mukanda... se pudessem alguma vez reduzir a isso! Como se a Educacao, a Investigacao, o Ensino, a Aprendizagem, o Raciocinio, o Pensamento, a Intelectualidade ou a Inteligencia se pudessem limitar a ver, constatar, descrever, copiar, decorar, recitar, relatar e afirmar dogmaticamente o "obvio" a partir de algumas inconsistentes e superficiais observacoes empiricas aleatorias, dirigidas, enviezadas, exogenas, extemporaneas e esporadicas!
Talvez se perceba numa certa Africa ainda (eu percebi-o na "minha" Afrika, imediatamente...). (com minuscula... sem mais comentarios, porque o obvio dispensa-os...)!
So' para introduzir aqui uma pitadinha de "humor seco": houve uma vez, em Estocolmo, que me senti movida a "escrever" um poema transcrevendo os caracteres e simbolos (e seus significados) que encontrei num livro de Redinha... claro que nao o fiz a serio, porque mesmo quem nao domine os conceitos de "etic e emic", se for suficientemente honesto intelectualmente, reconhecera' que a "mimica" jamais podera' ser levada com seriedade, ou tida como Arte, por quem seja seriamente inteligente e culto!
Tenho ainda uma outra leitura (e com ela nao se esgotam todas as leituras que tenho desta "maka"), que igualmente se encaixa naquela frase, a qual, para mim, descreve perfeitamente o fenomeno "vulturismo cultural" e a esquizofrenia individual e social a ele associada. E por isso a usei no fim do meu artigo acima mencionado, tendo-o feito tambem para ressaltar a forma como a frase de Pessoa "a minha patria e' a lingua portuguesa" e' geralmente usada fora do contexto em que foi escrita, isto e', como "qualquer coisa tirada de passagem a Cultura para com seu uso desencadear a explosao mitica..." (e.g. o mito do "lusotropicalismo"). Isto, sobretudo, porque me recuso a acreditar que a totalidade das pessoas que, em qualquer parte do mundo, teem a lingua portuguesa como a sua patria, possam igualmente dizer, como Pessoa, "nao tenho nenhum sentimento politico ou social". Eu certamente nao o posso dizer e lamento-o, por varias razoes, mas principalmente porque respeito profundamente a sua poesia e a Lingua Portuguesa!
Vamos a "ela"? 'A leitura, claro!
Nesta segunda leitura, o que os "vultos culturais" fazem, na sua busca de uma "identidade" que os corporize, lhes finque os pes no chao, lhes crie raizes, os valide culturalmente, os valorize intelectualmente e os legitime politicamente numa sociedade em que se sentem "deslocados", "a pairar no ar" (vizualizar
aqui), com a qual nao se identificam (ou recusam-se a identificar-se, apesar de terem contribuido activamente para o estado em que ela se encontra actualmente, ou terem assistido passivamente a sua progressiva degradacao, ao longo dos anos desde a independencia) e da qual por isso se auto-marginalizam, e' tirar da Cultura (Africana) qualquer coisa (fenomeno "apropriacao"), como um "nome", um "pseudonimo", um "cognome", um "nick", uma indumentaria, um penteado, ou a mascara Pwo, e usa-la para desencadear a explosao mitica (... que, entre outras coisas, lhes permite auto-convencer-se de que sao mais conhecedores dessa Cultura do que os seus proprios criadores/detentores e ser "mimados" com premios literarios e "nacionais de cultura" por isso; enquanto aqueles com quem aprenderam sobre tal Cultura sao relegados a extincao ou transformados em "atraccao turistica exotica" nesse processo de apropriacao que os usa, abusa e desusa como "objectos de estudo" e nao sujeitos da sua propria cultura e identidade; ao mesmo tempo que fazem muita questao de corrigir o meu "pretogues", nao percebo bem se em nome do Pessoa, do Camoes, ou do Tchibinda Ilunga, como o fez um tal "Diamante"!).
Como se a Cultura Angolana se pudesse confinar a Cultura Tchokwe! Por isso me refiro a ela frequentemente como 'miuda', 'menina' e 'fedelha' atrevida, mal-educada, mimada, inculta e irresponsavel... (mas sera' que dentre os 'mais velhos' do mundo do "nacional-premialismo" da ACGM ninguem ainda lhe explicou de onde partem, regra geral, os "cronicos conflitos etnico-raciais" em Africa?!). Mas da' para perceber, obviamente, que nunca ninguem lhe ensinou, nem ela parece capaz de aprender, apreender, compreender, interiorizar, pensar, raciocinar, interagir e agir por si propria e pela sua propria cabeca e nao apenas pelas dos seus professores, seja em que lingua ou cultura for, de acordo com o significado mais profundo de "it ain't necessarily so"... ou reduzir-se a sua insignificancia e sela-la com o mais simplorio conceito de "shallow mind"!
Eu percebi-o ha' muito na "minha" Afrika, tanto "dentro" como "fora" de Angola! ... Minha Afrika onde nunca confundi "identidade" com "etnicidade", nem alguma vez limitei a "identidade" as "sociedades tradicionais", nem nunca opus qualquer delas aos conceitos de "modernidade", "evolucao", "progresso", ou "desenvolvimento" (que, ja' agora, teem muito pouco a ver com a adopcao de objectos materiais, como televisores, shampoos, gel de banho, ou espelhos por sociedades que antes nao os produziam e que continuaram depois da sua "adopcao" a nao os produzir... vejam-se, por exemplo, os efeitos "desenvolvimentistas" e "progressistas" que esse tipo de "adopcao" teve no Kongo de 500, como vivamente o ilustra a carta que anexei ao meu post "Late Sunday Service"... e, ja' agora tambem, para mim o verdadeiro desenvolvimento economico, social e cultural de uma sociedade, qualquer que ela seja e em que parte do mundo for, tem que ser "endogeno" - para quem saiba o que isso significa...), nem nunca limitei a Cultura a "culturas originais ou fechadas"...
Minha Afrika onde nao so' ja' vi mulheres brancas de panos (nunca fui a Holanda, mas sei que e' la' que sao fabricados "tradicionalmente" os "panos do Congo"... meu Kongo que ja' era uma potencia textil antes de os colonizadores chegarem com as suas "faixas de panos vermelhos" e missangas...), como ja vi ate' mulheres brancas "sangomas" (isto e', para os leigos como ACGM, "feiticeiras" ou curandeiras "tradicionais"...) na Africa do Sul post-apartheid (... praticamente toda a gente, entre brancos, negros e outras racas e/ou etnicidades, as considera, no entanto, absolutamente ridiculas e as "mais dignas e unicas" representantes do vulturismo cultural...)!
Minha Afrika e meu Mundo onde muito antes de eu ter nascido se formularam, conceptualizaram, discutiram, institucionalizaram, desinstitucionalizaram, politicizaram, despoliticizaram, construiram, desconstruiram, bateram, debateram, rebateram, esbateram, reacenderam, ultrapassaram e renovaram continua e ciclicamente os conceitos que ACGM, que nasceu depois de mim, comeca agora apenas a soletrar (e muito mal!), mas sobre os quais se considera com autoridade suficiente para fazer "public lectures" e para "falar de catedra" para quem ela "pensa" que "nao estudou", mas que certamente estudou, aprendeu, apreendeu e compreendeu muito mais e melhor do que ela e, sem qualquer duvida, muito humildemente, viveu, conviveu, viu, experimentou e partilhou a sua identidade cultural, a sua mundivivencia, os seus diversificados conhecimentos literarios e academicos em, e aprendeu, apreendeu e compreendeu com e entre, varias sociedades e comunidades Africanas e nao so', muito mais e melhor do que ela... sem guarda-costas, guias de marcha ou "bolsas de criacao" e certamente desde que nasceu e nao apenas depois da independencia de Angola! Quem e' que, afinal, no meio disto tudo, falou de alguem sem a conhecer? Falei de "arrogancia ignorante"? Falei de "falta de nocao do ridiculo"? Falei de "auto-convencimento"? Falei de "fraude"? Terei dito tudo?!
E so' nao "me aproprio" tambem de uma qualquer mascara na minha poesia, ou na minha vida em geral, porque a minha identidade cultural dispensa tais expedientes... E e' tambem por isso que tenho o maior respeito pelas pessoas de qualquer nacionalidade, que, sem desrespeitarem ou menosprezarem outras culturas, ou as pessoas que as possuem, defendem orgulhosamente a sua propria identidade cultural. Justamente, eles sao "guardioes das suas culturas", nao deixando por isso de ter abertura de espirito suficiente para se abrirem a partilha, interaccao e integracao com outras culturas - em suma, sao educados, cultos e inteligentes.
Acredito neles e com eles me identifico instintiva e intuitivamente, independentemente da sua raca, cor de pele, etnicidade, idioma, orientacao sexual, genero, religiao, classe social, nivel educacional ou academico, ou conviccoes politico-ideologicas, mesmo que eventualmente nao possa ver a sua cara e mesmo que eles tambem usassem mascaras, porque os vejo, me parecem e os sinto humanos, nao "vultos"!
Por isso me sinto capaz de partilhar alguma coisa com essas pessoas genuinas, nao "mascaras"! Por isso me sinto capaz de interagir e integrar nas suas sociedades abertas, nao "circulos restritos" (mais frequentemente do que o contrario, baseados fora do pais de que se acham "absolutos donos" enquanto la' estao - isto e', os que de la' "nunca sairam" porque tambem nunca la' estiveram a viver como o 'ze' povinho' e jamais poderiam sonhar com a vida de mordomias que todos os "sistemas" sempre lhes outorgaram - ou prontos a abandona-lo, como as verdadeiras e inultrapassaveis 'prima donnas' que sempre foram, a primeira "contrariedade"...), viciosos e viciados, ordinarios, marginais, promiscuos, doentios, claustrofobicos, autofagicos, esquizofrenicos, exclusivistas, divisionistas, tribalistas, fechados, censorios, agressivos, destrutivos, anti-sociais, recalcados, complexados, invejosos, mesquinhos, racistas, constrangidos, ameacadores, enfim... INSEGUROS... porque habitados por vultos auto-enclausurados por medo da sua propria sombra! De que teem tanto medo?!
I wonder...
Por tudo isso, estou no Mundo... a esquizofrenia fica longe... na cultura!
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