Para variar um pouco o “mau habito” de so’ incluir nesta serie artigos dos semanarios (diga-se que apenas porque estes, ao contrario do nosso unico diario, nao sao livremente acessiveis online), comeco com uma noticia publicada hoje no Jornal de Angola… pelo tema e por envolver Ngozi Okonjo-Iewala, que aqui anteriormente referi (acontecimento que quem tenha lido o meu artigo "Angola, Petroleo e Economia Post-Conflito: Que Fazer?", achara' certamente interessante):

O Banco Mundial felicitou Angola pela “boa gestão macro-económica”, assim como pela estabilidade, segurança e paz alcançadas pelos angolanos.Esta felicitação foi manifestada ao princípio da tarde de ontem, em Luanda, pela directora de Gestão (vice-presidente) do Banco, a nigeriana Ngozi Okonjo-Iweala, à saída de uma audiência que lhe foi concedida, no Palácio da Cidade Alta, em Luanda, pelo Primeiro-Ministro Fernando da Piedade Dias dos Santos.Durante a audiência foi abordado o reforço da cooperação entre o país e a instituição financeira.A vice-presidente do Banco Mundial disse ter vindo a Angola “para felicitar o Presidente José Eduardo dos Santos e o Primeiro-Ministro pela estabilidade, segurança e paz alcançadas no país, bem como pela boa gestão macro-económica”.
No SA, encontramos a Resenha aritmética de uma legislatura de 16 anos:
O Relatório de Actividades da Primeira Legislatura, lido na plenária que na terça-feira, 14, encerrou um ciclo parlamentar de 16 anos, considera positivo o desempenho dos órgãos da Assembleia Nacional e dos deputados, à luz de números fornecidos no dito documento. As actividades estatisticamente reportadas no documento, referente ao período entre Novembro de 1992 e o presente mês de Julho, atribuem um rol de actividades à Secretaria da Assembleia Nacional (SAN), o que constitui, entretanto, uma inferição ao trabalho do próprio Parlamento. Os números dizem que durante os 16 anos pelos quais perdurou a legislatura, a SAN produziu 179 leis e 384 resoluções, perfazendo um total de 563 actos legislativos.
Segue-se-lhe, em Eles só não prometem o céu e a terra, a primeira parte de uma serie que o mesmo semanario dedica, a partir deste numero, as propostas eleitorais dos dois maiores partidos politicos Angolanos:

Embora os dois partidos tenham feito questão de mostrar uma pontinha do seu conteúdo em actos públicos, os seus programas de governo não foram totalmente escancarados porque havia a conveniência de os preservar de «olhares indiscretos». Ou, mais concretamente, da espionagem dos adversários e concorrentes. Mesmo assim, não vá o diabo tece-las, os programas da UNITA e do MPLA ainda não andam por aí à mercê de qualquer manápula. Foi o cabo dos trabalhos para o Semanário Angolense lograr aceder a dois exemplares. Assim, a partir desta edição, o leitor já não terá de esperar pelo início da campanha propriamente dita e dos comícios que a partir daí correrão à larga para dar uma olhada às propostas dos gigantes da política angolana.
Severino Carlos apresenta uma recente comunicacao sua sobre Rigor informativo vs verdades jornalísticas:
Vivemos, actualmente, num contexto de super-informação global, cujas características principais centram-se na velocidade da difusão e circulação de informação. Trata-se de uma espécie de darwinismo no universo da comunicação, em que o melhor e mais apto é aquele que não só chega primeiro aos factos dignos de serem noticiados, como também aquele que os divulga primeiro. A lógica é ser o primeiro jornal, rádio ou canal de televisão. É proibido ser ultrapassado. Chega a ser uma tirania para todos: receptores e emissores de comunicação.
Angola não está isolada deste contexto. E, por isso, a vaga tem vindo a salpicar o nosso país. Não é um fenómeno necessariamente negativo, mas configura um quadro que, face às debilidades da envolvente político-organizativa e às condições materiais em que os jornalistas laboram, gera sérios problemas específicos de rigor informativo. Ou, melhor dizendo, problemas que imbricam com uma das regras de ouro da actividade jornalística: o pressuposto de que toda a informação, para ser entendida como tal, e não como um exercício de manipulação ou de contra-informação, deve caracterizar-se pela objectividade. O que quer dizer que tem de ser enxuta e despida da emotividade e da visão pessoal do jornalista que a veicula. Por fim, e mais importante do que tudo, tem de ser verdadeira.
No NJ, Fernando Pacheco critica alguns desenvolvimentos e posturas em relacao a politica agricola no pais, Enquanto o ferro está quente:

Tenho criticado os nossos mais conceituados economistas por também não dedicarem a devida atenção à agricultura e à produção de alimentos. Na recente apresentação do prestigiado Relatório Económico do Centro de Estudos e Investigação Científica da Universidade Católica o meu amigo Justino Pinto de Andrade dedicou menos de dois dos mais de trinta minutos da sua intervenção ao capítulo da agricultura, apesar de ele abordar temas pertinentes e polémicos como os biocombustíveis. Nestes momentos lembro-me de como seria importante para Angola ter economistas como o malogrado moçambicano José Negrão, que tanto contribuiu para que a agricultura do seu país tivesse crescido de forma tão contundente desde o fim da guerra.
(…)
A ausência de sentido crítico e a auto censura de jornais e de técnicos não têm permitido que a opinião pública se aperceba de alguns dos enormes erros que se estão a acontecer. Um exemplo inquietante do que estou a dizer tem a ver com a importação de gado de raça nelore do Brasil, que aparece frequentemente nas telenovelas da Globo. Subitamente surgiram em Angola empresas brasileiras a vender esse gado e tudo indica que até final deste ano as importações terão atingido cerca de cem mil cabeças, apesar dos resultados não estarem a ser animadores. Como está envolvida gente importante, não foram ouvidas as instituições competentes nem os conselhos dos técnicos mais qualificados, nem sequer respeitadas as normas mais elementares de importação de gado, como, por exemplo, a obrigatoriedade de quarentenas, como acontece em todo o mundo.
Voltando ao SA, encontramos a noticia do lancamento amanha, em Lisboa, do canal internacional da TPA:
Na próxima quinta-feira, 24, o canal internacional da Televisão Pública de Angola (TPA) será apresentado no Coliseu dos Recreios de Lisboa (Portugal), numa gala especialmente preparada para o efeito e na qual marcará presença o ministro da Comunicação Social de Angola, Manuel Rabelais. Durante a cerimónia será gravado o primeiro programa, o «Hora Quente», do humorista Pedro Zage. Artistas angolanos vão abrilhantar a gala em que se farão presentes vários dignitários portugueses, além de figuras ligadas à comunicação social de ambos os países. O «cardápio» da festa oferece os músicos Yola Araújo, Puto Lilas, Carlos Burity, Bonga, Karina Santos, Bruna Tatiana, Maya Cool e Yuri da Cunha.
Finalmente, uma entrevista de Mia Couto ao NJ:
Visitei Angola na condição de escritor e de biólogo. Em todos os casos, encontrei gente de uma afabilidade extrema, o que faz renascer a vontade de voltar sempre e sempre. Devo também dizer que, do ponto de vista literário, tenho uma espécie de dívida para com Luandino Vieira, cuja leitura me encorajou a enveredar por processos de recriação da norma portuguesa.
(…)
O Agualusa é um amigo e o que eu penso digo-lho a ele directamente.
(…)
Não vivo num país de negros mas de moçambicanos. E é muito raro que me lembrem que tenho raça. Invariavelmente, a minha condição de branco é lembrada apenas quando se reivindica o usufruto de privilégios e é necessário criar hierarquias na base da raça.
(…)
O facto de sermos africanos e de língua portuguesa coloca-nos numa condição de dupla dificuldade. É preciso entender que África continua a funcionar como uma coisa exótica e que apenas 'vende' se estiver a envergar vestes folclóricas e estereotipadas. Por outro lado, cada vez menos se fazem traduções. Por exemplo, em Inglaterra menos de 3% dos livros publicados resultam de traduções. Temos, portanto, que vencer estes dois obstáculos, e isso está a acontecer, a pouco e pouco, mas há ainda um longo caminho a percorrer.
(…)
O escritor é aquele que conhece a língua dos sonhos e, mais do que um idioma específico, usa a dimensão poética da palavra. Esse ser existe em todos nós, mesmo nos que não se crêem escritores. Adormecemos dentro de nós a capacidade de inventarmos histórias e, mais do que histórias, modos únicos de as contarmos. A oralidade que trazemos da nossa infância é tida como uma menoridade que o estado chamado de adulto deve saber ofuscar.

(Capa do ultimo livro de Mia Couto, Editorial Caminho, 2008)