Preconceito 1: A mulher é vulnerável no casamento misto.
• A mulher, quando e’ vulneravel, e’-o em qualquer tipo de casamento! De facto, casos ha’ em que mulheres africanas emigradas no ocidente (nao necessariamente pobres, frageis ou incultas…) foram feitas extremamente vulneraveis (incluindo com os seus filhos…) por maridos (tambem nao necessariamente "pobres"...) do seu pais e cultura de origem e encontraram junto de homens de outra nacionalidade e cultura o amor, o respeito, a dignidade e a estabilidade (nao exclusivamente material e/ou financeira…), enfim, a felicidade a que todos os seres humanos teem direito;
• Convem notar que, pelo menos nas sociedades ocidentais, as mulheres, qualquer que seja a sua origem ou status economico-social, ganham com o casamento (oficial) direitos adquiridos perante a lei, que nem o marido, a sua familia, ou a sua cultura e/ou sociedade, podem facilmente violar, ao contrario do que se passa em muitos casos na sociedade angolana...
Preconceito 2: A causa fundamental da emigração é a pobreza.• A causa fundamental (mas nao unica, como alias se reconhece quando se diz que “existe uma vasta gama de factores para a emigração e um deles é a pobreza”) da emigracao de Africa e dos paises do dito terceiro mundo para outros destinos podera’ ser, de facto, a pobreza. Mas ja’ o mesmo nao sera’ verdade de
toda a emigracao de europeus e cidadaos de outros paises, sobretudo ocidentais, para Africa e para o dito terceiro mundo – sendo que estes tambem produzem casamentos mistos (aparentemente, excepto em Angola...);
• Quando a causa fundamental da emigracao da mulher africana nao e’ necessariamente a pobreza, nao se pode afirmar com propriedade que ela sera’ vulneravel num casamento misto. De facto, uma das maiores fontes de vulnerabilidade da mulher africana (ou da mulher de qualquer outra proveniencia) quando fora do seu pais de origem, e que pode ser causada pela pobreza, e’ a prostituicao – nao o casamento misto;
• Sera' de notar aqui que, em sociedades como a angolana, nao e' preciso muito para que uma mulher seja estigmatizada como "prostituta" ou, no minimo, "promiscua" (... e veja a sua vida toda, incluindo a profissional, completamente
desgracada ...), mesmo que viva longos periodos de celibato e tenha uma formacao etico-moral-religiosa que a tenha moldado e a encaminhe em qualquer outra direccao menos aquela: basta nao ter nascido "na familia certa", nao ter uma alianca no dedo para "proteger a sua reputacao", ou ser "mae solteira" (mesmo que, e sobretudo, por opcao propria!) e/ou ter tido mais do que um (conhecido) companheiro em relacionamentos amorosos perfeitamente saudaveis (sendo que, especialmente na comunidade negra, basta que tais companheiros sejam "nao negros"!) ...
• Enquanto que, no reverso da medalha, basta uma mulher ter (ou alguma vez ter tido, ainda que apenas breve e figurativamente...) uma alianca no dedo, e mesmo que tenha (incluindo, e sobretudo, dentro do casamento...), ou tenha tido, uma conduta que, pelos mesmos (ou ainda piores, no sentido de mais estrictos) criterios acima, poderiam leva-la a ser considerada "prostituta" ou "promiscua", ela e' geralmente "respeitada" pela sociedade e tem mais chances de, em qualquer fatalidade ou outra circunstancia menos feliz, reconstruir a sua vida em paz, tranquilidade e dignidade... Alias, nao e' por acaso que muitas delas, mesmo quando se auto-consideram "emancipadas", apesar de divorciadas ha' muitos anos, mesmo que ja' tenham vivido, ou vivam, maritalmente com outros homens e destes tenham filhos, continuam a usar a tal alianca e o apelido do ex-marido - mesmo quando este tambem ja' seja marido de outra mulher - para o resto da vida para "protegerem a sua reputacao" e "garantirem o seu status social"!
Preconceito 3: A distância e a solidão estão, às vezes, na origem da união conjugal entre pessoas de culturas diferentes, o que origina a ‘cultura mista’, que causa muitos transtornos em muitas famílias.
• Unioes conjugais entre pessoas de culturas diferentes (e resultantes ‘culturas mistas’) acontecem quer nos paises de origem dessas pessoas, quer noutros paises e isso nao tem forcosamente a ver com distancia ou solidao;
• A ‘cultura mista’ esta’ longe de ser a unica origem dos “muitos transtornos causados em muitas familias”. Um exemplo
a contrario pode ser a poligamia… que (especialmente quando praticada fora do seu natural contexto socio-cultural, sendo que nesse caso e' geralmente
nao assumida plenamente pelo homem, especialmente quando e' casado oficialmente com uma das mulheres) causa muito mais
distancia,
solidao,
vulnerabilidade e
transtornos a mulheres em unioes conjugais dentro da mesma cultura e suas familias.
Preconceito 4: A mulher é o género mais vulnerável nos casamentos mistos e indesejados devido à sua fragilidade ou à pobreza e, quando isso acontece, a tendência é adquirir a cultura do marido.
• Apenas a mulher e’ aqui vista como “fragil e/ou pobre”;
• O que dizer, entao, dos africanos que, sobretudo no ocidente, se casam (numa proporcao de 100/1 relativamente a casamentos entre mulheres africanas e homens de outras origens) com mulheres de outras origens e adquirem a sua cultura? Serao tambem eles “frageis” e "vulneraveis", ou serao as suas parceiras necessariamente “pobres”? Ou serao todos eles "ricos"?
• E o que dizer de homens que, dentro da mesma cultura, apenas se casam com mulheres de uma certa raca ou tom de pele, ou cujas familias tenham um determinado apelido e/ou status economico-social? Enquanto que, ao mesmo tempo, alguns deles fazem questao de ostentar o nome de "outras" com quem tiveram algum relacionamento (minimo, acidental, ocasional, equivocado e inconsequente que tenha sido!), como "trofeus" sobre os quais se julgam eternamente com direitos de posse e de vida ou de morte... sendo que, caso as suas
vitimas se revoltem contra tal comportamento abusivo, eles (e, quantas vezes, as suas "legitimas patroas" e respectivas familias e amigos...) nao se coibem de tudo fazer para as ostracizar socialmente e arrastar os seus nomes pela lama para o resto da vida!
• Deverao apenas os casamentos de mulheres com homens de outras culturas ser considerados “indesejaveis”?
Preconceito 5: Muitas pessoas que deixam o país de origem, quando atingem a maior idade perdem a nacionalidade ou a identidade cultural. O ensino da língua materna, que é também grande factor de preservação da cultura, é esquecido.• E', de facto, lamentavel que isso aconteca, quando acontece (e ainda bem que aqui se fala em "pessoas" e nao apenas em "mulheres"), mas a triste realidade e' que a tendencia e' para os emigrados - mesmo por uma questao de sobrevivencia espiritual enquanto seres humanos e ate' porque algumas das sociedades em que vivem promovem e valorizam sobremaneira a diversidade cultural - terem um maior apego a sua cultura de origem do que os seus compatriotas que permanecem no seu pais e que vivem "fascinados" e "vidrados" (quando nao completamente subjugados!) a tudo o que e' estrangeiro e, especialmente, ocidental...
• E, no caso particular de Angola, a questao da falta de preservacao da identidade cultural e das linguas maternas, esta' longe de ser um atributo exclusivo dos emigrados, sendo na verdade uma consequencia da propria matriz de colonizacao a que o pais foi submetido durante seculos...
• De notar tambem que, geralmente, sao as mulheres as portadoras, preservadoras e transmissoras da sua cultura materna, pelo que ha' mais chances de os seus filhos num casamento misto serem educados, pelo menos parcialmente, nas tradicoes do pais da mae, do que quando tais filhos sao produto de um casamento de um homem africano como uma mulher de outra origem.
* [Comentarios a
esta materia]
Posts relacionados:
The Burden of The Black WomanCasamento!