Friday 2 November 2007

DE PAULO LARA, UM TESTEMUNHO PARA A HISTORIA: CHE E ANGOLA

E’ com enorme prazer que tenho a honra de publicar aqui hoje, em primeira mao, um documento unico e exclusivo: as memorias de Paulo Lara sobre o encontro de Che Guevara com Agostinho Neto, Lucio Lara e outros dirigentes do MPLA, que marcou, em 1965, o inicio das relacoes entre Cuba e Angola. Trata-se de um testemunho pessoal, relatado com a sensibilidade e profundidade analitica proprias de quem, tendo observado, vivido e sentido momentos impares da Historia de Angola, de Africa e do Mundo, nao deixa, contudo, que ao seu olhar sobre eles falte objectividade e sentido critico.
Nao menos importante, este documento, contendo fotografias ineditas, constitui tambem um crucial instrumento corrector de alguns estabelecidos relatos historicos que pecarao por vicio de imprecisao e/ou distorcao dos factos em causa. Enfim, sem mais delongas de minha parte, aqui ficam as suas proprias palavras:


Há 40 anos desapareceu uma figura que se tornou lendária no mundo inteiro. Na linguagem agora em voga, poderíamos até dizer “globalizada”. Mas, para os angolanos, não se trata simplesmente desta figura que vemos passar colada aos carros, em algumas bandeiras ou nas tatuagens agora na moda em alguns jovens. Trata-se sobretudo daquele que protagonizou as primeiras relações oficiais entre o Estado Cubano e um Movimento de Libertação Angolano. Tendo sido, com muitos outros, um mero assistente do encontro em Brazzaville, a pedido de alguns amigos, decidi-me a fazer este pequeno relato testemunhando alguns momentos da visita de Ché Guevara à delegação do MPLA naquela cidade, num dos primeiros dias do mês de Janeiro de 1965.


Ao invés de visões sensacionalistas, ideológicas ou imaginativas que têm caracterizado algumas referências feitas ao revolucionário cubano-argentino, procurou-se relatar aqui um momento histórico que ligou aquela figura ao continente africano, e mais particularmente a Angola. Figura extremamente polémica no seio do movimento revolucionário mundial em meados do século passado, Ché Guevara não deixou de ser aquele que estabeleceu as relações diplomáticas de Cuba com vários actores internacionais africanos (e não só), sendo estes, Estados ou Movimentos de Libertação.


Para um melhor entendimento daquele período, e para estimular o interesse à leitura e o estudo da nossa história e não só, incluímos a visão de dois protagonistas e de um historiador. O de Jorge Risquet, que foi o primeiro responsável do destacamento cubano que seguiu para o Congo Brazzaville donde sairiam alguns instrutores para treinar os angolanos, e que posteriormente viria a ser o chefe da missão cubana na República Popular de Angola, que resumidamente explica os principais contactos feitos por Ché no Congo. O do historiador americano Piero Gleijeses que teve acesso a diferentes fontes abertas e ainda confidenciais sobre as relações de Cuba com o continente africano, que se refere ao possível conteúdo do encontro tido, bem como a uma polémica visita realizada a uma base guerrilheira do MPLA por Jorge Serguera, primeiro embaixador cubano na Argélia e que acompanhou Guevara durante parte do seu recorrido africano, cujo relatório teria levado a uma avaliação incorrecta de Cuba sobre as verdadeiras capacidades do movimento nacionalista. Inserimos aqui um contributo nosso baseado em alguns documentos e entrevistas em torno desta visita.


O extracto do relatório de Ché Guevara, elaborado depois da sua retirada das matas congolesas da região dos Grandes Lagos, permite apreciar a ideia geopolítica que tinha para aquela parte do continente africano.
Com base nos dados actualmente existentes, incluímos uma cronologia de contactos havidos entre angolanos e cubanos, no quadro da luta nacionalista, antes do encontro oficial de Brazzaville. A efectivação de um provável encontro entre Ché Guevara e Savimbi durante o seu famoso périplo africano tem sido motivo de referência por alguns historiadores. Achamos oportuno inserir uma análise de Jorge Risquet em que demonstra a grande improbabilidade do mesmo se ter realizado.

Paulo Lara
Luanda 8 de Outubro de 2007


© COPYRIGHT PAULO LARA E CENTRO DE DOCUMENTAÇÃO TCHIWEKA. TODOS OS DIREITOS RESERVADOS.

(Obrigada Paulo)


{Continue a ler aqui: Parte I e Parte II}

E’ com enorme prazer que tenho a honra de publicar aqui hoje, em primeira mao, um documento unico e exclusivo: as memorias de Paulo Lara sobre o encontro de Che Guevara com Agostinho Neto, Lucio Lara e outros dirigentes do MPLA, que marcou, em 1965, o inicio das relacoes entre Cuba e Angola. Trata-se de um testemunho pessoal, relatado com a sensibilidade e profundidade analitica proprias de quem, tendo observado, vivido e sentido momentos impares da Historia de Angola, de Africa e do Mundo, nao deixa, contudo, que ao seu olhar sobre eles falte objectividade e sentido critico.
Nao menos importante, este documento, contendo fotografias ineditas, constitui tambem um crucial instrumento corrector de alguns estabelecidos relatos historicos que pecarao por vicio de imprecisao e/ou distorcao dos factos em causa. Enfim, sem mais delongas de minha parte, aqui ficam as suas proprias palavras:


Há 40 anos desapareceu uma figura que se tornou lendária no mundo inteiro. Na linguagem agora em voga, poderíamos até dizer “globalizada”. Mas, para os angolanos, não se trata simplesmente desta figura que vemos passar colada aos carros, em algumas bandeiras ou nas tatuagens agora na moda em alguns jovens. Trata-se sobretudo daquele que protagonizou as primeiras relações oficiais entre o Estado Cubano e um Movimento de Libertação Angolano. Tendo sido, com muitos outros, um mero assistente do encontro em Brazzaville, a pedido de alguns amigos, decidi-me a fazer este pequeno relato testemunhando alguns momentos da visita de Ché Guevara à delegação do MPLA naquela cidade, num dos primeiros dias do mês de Janeiro de 1965.


Ao invés de visões sensacionalistas, ideológicas ou imaginativas que têm caracterizado algumas referências feitas ao revolucionário cubano-argentino, procurou-se relatar aqui um momento histórico que ligou aquela figura ao continente africano, e mais particularmente a Angola. Figura extremamente polémica no seio do movimento revolucionário mundial em meados do século passado, Ché Guevara não deixou de ser aquele que estabeleceu as relações diplomáticas de Cuba com vários actores internacionais africanos (e não só), sendo estes, Estados ou Movimentos de Libertação.


Para um melhor entendimento daquele período, e para estimular o interesse à leitura e o estudo da nossa história e não só, incluímos a visão de dois protagonistas e de um historiador. O de Jorge Risquet, que foi o primeiro responsável do destacamento cubano que seguiu para o Congo Brazzaville donde sairiam alguns instrutores para treinar os angolanos, e que posteriormente viria a ser o chefe da missão cubana na República Popular de Angola, que resumidamente explica os principais contactos feitos por Ché no Congo. O do historiador americano Piero Gleijeses que teve acesso a diferentes fontes abertas e ainda confidenciais sobre as relações de Cuba com o continente africano, que se refere ao possível conteúdo do encontro tido, bem como a uma polémica visita realizada a uma base guerrilheira do MPLA por Jorge Serguera, primeiro embaixador cubano na Argélia e que acompanhou Guevara durante parte do seu recorrido africano, cujo relatório teria levado a uma avaliação incorrecta de Cuba sobre as verdadeiras capacidades do movimento nacionalista. Inserimos aqui um contributo nosso baseado em alguns documentos e entrevistas em torno desta visita.


O extracto do relatório de Ché Guevara, elaborado depois da sua retirada das matas congolesas da região dos Grandes Lagos, permite apreciar a ideia geopolítica que tinha para aquela parte do continente africano.
Com base nos dados actualmente existentes, incluímos uma cronologia de contactos havidos entre angolanos e cubanos, no quadro da luta nacionalista, antes do encontro oficial de Brazzaville. A efectivação de um provável encontro entre Ché Guevara e Savimbi durante o seu famoso périplo africano tem sido motivo de referência por alguns historiadores. Achamos oportuno inserir uma análise de Jorge Risquet em que demonstra a grande improbabilidade do mesmo se ter realizado.

Paulo Lara
Luanda 8 de Outubro de 2007

© COPYRIGHT PAULO LARA E CENTRO DE DOCUMENTAÇÃO TCHIWEKA. TODOS OS DIREITOS RESERVADOS.

(Obrigada Paulo)


{Continue a ler aqui: Parte I e Parte II}

4 comments:

Anonymous said...

O meu obrigado tanto à Koluki como ao Paulo Lara, por este inestimável contributo para a História. Para mim foi a leitura mais interessante deste ano..
Parabéns!

Koluki said...

Obrigada!

Fernando Manuel de Almeida Pereira said...

Vir a este blog é mesmo sentir que há gente que porque ainda merece haver causas a defender.Não sei quem é, mas aqui fica a minha obrigação de vos ter de dizer muito obrigado

Fernando Pereira

Koluki said...

Muito obrigada eu, Fernando Pereira.