Thursday 31 May 2012

Il Illuminati...






Eis que se faz luz para os "apagoes" das universidades angolanas que nunca aparecem nos rankings das melhores universidades africanas: contratem (ou - uma vez que "tentaram uma e desconseguiram" - deam-lhes um titulo de "Doutor Honoris Causa" para lhes satisfazerem o hiper-inflacionado, mas super-deficitario ego...) "peritos em economia" a desperdicarem-se na "imprensa facebukeira" como este:


Os "apagões" do BNA...


Na avaliação regular que faz dos principais indicadores macroeconómicos do país, o Comité de Política de Monetária do BNA nunca faz referência ao comportamento do Emprego.
De acordo com a teoria "os indicadores de emprego reflectem a saúde ...global de uma economia ou ciclo de negócios. Para entender como uma economia está a funcionar, é importante saber quantos empregos estão a ser criados ou destruídos, que percentagem da mão-de-obra está a trabalhar activamente, e quantas pessoas estão a declarar desemprego. Para medir a inflação, também é importante acompanhar a velocidade com que os salários estão a aumentar".
Há um outro agregado macroeconómico que também nunca é aflorado com a regularidade necessária pelas instâncias que avaliam o estado da economia nacional.

Trata-se da renda pessoal ou consumo das famílias.

que tem a ver com o "somatório das remunerações recebidas pelos proprietários dos fatores de produção como retribuição pela utilização de seus serviços na atividade produtiva. Ex: salário, aluguéis, juros, lucros. Renda pessoal disponível (RPD) é a renda com que as famílias contam para poderem consumir.

Poupança (S) é a parte da RPD que não foi consumida.

Renda(D) = C + S".

Como
resultado destas omissões, temos um quadro baseado apenas no comportamento dos preços e pouco mais, o que não chega de forma alguma para aferirmos a saúde da nossa economia em termos de estabilidade.
Nem pensar...



 





Eis que se faz luz para os "apagoes" das universidades angolanas que nunca aparecem nos rankings das melhores universidades africanas: contratem (ou - uma vez que "tentaram uma e desconseguiram" - deam-lhes um titulo de "Doutor Honoris Causa" para lhes satisfazerem o hiper-inflacionado, mas super-deficitario ego...) "peritos em economia" a desperdicarem-se na "imprensa facebukeira" como este:


Os "apagões" do BNA...


Na avaliação regular que faz dos principais indicadores macroeconómicos do país, o Comité de Política de Monetária do BNA nunca faz referência ao comportamento do Emprego.
De acordo com a teoria "os indicadores de emprego reflectem a saúde ...global de uma economia ou ciclo de negócios. Para entender como uma economia está a funcionar, é importante saber quantos empregos estão a ser criados ou destruídos, que percentagem da mão-de-obra está a trabalhar activamente, e quantas pessoas estão a declarar desemprego. Para medir a inflação, também é importante acompanhar a velocidade com que os salários estão a aumentar".
Há um outro agregado macroeconómico que também nunca é aflorado com a regularidade necessária pelas instâncias que avaliam o estado da economia nacional.

Trata-se da renda pessoal ou consumo das famílias.

que tem a ver com o "somatório das remunerações recebidas pelos proprietários dos fatores de produção como retribuição pela utilização de seus serviços na atividade produtiva. Ex: salário, aluguéis, juros, lucros. Renda pessoal disponível (RPD) é a renda com que as famílias contam para poderem consumir.

Poupança (S) é a parte da RPD que não foi consumida.

Renda(D) = C + S".

Como
resultado destas omissões, temos um quadro baseado apenas no comportamento dos preços e pouco mais, o que não chega de forma alguma para aferirmos a saúde da nossa economia em termos de estabilidade.
Nem pensar...



 

Tuesday 29 May 2012

Just a Thought...

... Rio de Sangue

Onde se bebe a vida
se banham as raparigas
se embebedam os rapazes
se saram as feridas
se afogam os sequazes
se ressuscita a justiça
e se lava a honra...

[imagem daqui]

Saturday 26 May 2012

"O Meu 27 de Maio"



This is coast country, humid and God-fearing, where female recklessness runs too deep for short shorts or thongs or cameras.
Sometimes the cut is so deep no woe-is-me tale is enough. Then the only thing that does the trick, that explains the craziness heaping up, holding down, and making women hate one another and ruin their children is an outside evil.

[Toni Morrison in Love]





  Com o meu ultimo post sobre o 27 de Maio, tinha decidido nao mais voltar a assinalar essa data neste blog como o vinha fazendo todos os anos desde o seu inicio. Mas, embora o possa parecer, nao e’ por isso que o faco na vespera – decidi mesmo nao voltar a faze-lo, pelo menos nao neste blog (... e talvez apenas "so' depois de toda a poeira assentar", como aqui argumentava Justino Pinto de Andrade...).

Acontece que, nos ultimos meses, a violencia, e em particular a sexual, contra a mulher, tem-se imposto neste blog como um tema recorrente (e.g. aqui e aqui). Por isso decidi fazer este derradeiro post sobre a orgia de violencia que se abateu sobre milhares de cidadas e cidadaos angolanos desde aquela data e que ainda hoje se faz sentir.

E’ que, o 27 de Maio fez vitimas… e vitimas! Umas directas, outras indirectas ou colaterais.
E mesmo entre as directas, o 27 de Maio fez vitimas… e vitimas!
Umas, as mais rememoradas e mencionadas nas varias obras que veem aos poucos sendo publicadas, provinham dos “circulos restritos” de que aqui se fala. Outras, nunca ou raramente mencionadas, seja em obras de referencia, seja na imprensa corrente (constituindo esta a unica excepcao do meu conhecimento), foram, aberta ou veladamente, catalogados como, senao “lumpens”, os "semi-analfabetos" e "incivilizados" que “vieram do muceque ou do maqui”…

E o 27 de Maio fez vitimas homens e… vitimas mulheres!

E se, entre as vitimas homens, a estratificacao social tem ditado quem tera' sido “more victim than thou” e merecedor de atencao especial por parte dos historiadores e cronistas, ja’ das vitimas mulheres, como um todo e nao apenas com o foco numa ou outra personagem - e aqui Sita Valles (de quem, por sinal, me lembro bem de uma reuniao que os membros do SEDME tiveram com ela na sede da JMPLA em Luanda em 1976/77) vem facilmente a memoria por obra dos livros e artigos que sobre o seu caso ja’ se debrucaram -, a estratificacao por genero tem vindo a ditar que delas e da violencia a que foram sujeitas pouco ou nada se diga.
Mas  muito ha’ a dizer sobre a violencia a que essas vitimas foram sujeitas – e nao me proponho aqui faze-lo em seu nome. Pretendo apenas registar o pouco (muito?) que sei e que me parece dever ser dito:

Nomeadamente que houve mulheres prisioneiras que foram violadas consecutivamente por mais de dez homens numa so’ noite… ou dia.
Nomeadamente, que houve mulheres que foram violadas ou vitimas de outras formas de violencia sexual fora das cadeias apenas por serem namoradas ou mulheres de prisioneiros do 27 de Maio ou de prisioneiros associados a outros agrupamentos politicos…
Nomeadamente, que mulheres ha’ que apenas por terem tido um relacionamento com um prisioneiro do 27 de Maio ou terem familiares nele envolvidos de uma ou outra forma, continuam a ser vitimas das mais diversas formas de violencia sexual e psicologica, directa ou indirectamente, real ou virtualmente!...
E estas ultimas, as vitimas colaterais, continuam a ser vitimas nao apenas dos algozes directos do 27 de Maio, mas tambem das suas sobreviventes vitimas directas: homens ou mulheres!...
 



 Dizia aqui Carlinho Zassala sobre a “sociedade doente” k'estamos kum ela:  "(…) Os problemas que mencionei existem em Angola em grande escala. O problema da guerra causou muitos traumatismos, há pessoas que não gostam que se diga isso, mas o 27 de Maio também causou muitos traumatismos nas pessoas."

E o prubulema k'estamus kum ele e’ que as vitimas directas sobreviventes do 27 de Maio nunca foram, ou se submeteram, a assistencia psicoterapeutica (ressalvando, obviamente, os casos dos que porventura o tenham feito a titulo privado e confidencial), nem nunca obtiveram qualquer acknowledgement oficial do seu “estatuto de vitimas” e apenas muito recentemente (e em grande medida sob o impulso dos livros que nos ultimos anos teem vindo a ser publicados sobre aquele acontecimento) comecaram a falar abertamente das suas experiencias e memorias do carcere, sendo que, durante todo o periodo de mais de 30 anos que entretanto decorreu, tentaram sublimar das mais diversas formas a sua condicao…

Uma dessas formas, para alem do recurso, entre outros escapismos, ao alcool e/ou as drogas, tem sido a "projeccao" da violencia a que foram sujeita/os sobre outra/os que ela/es veem “enviusada, miope e semioticamente” como tendo ficado “imunes” as sevicias pelas quais passaram nas cadeias ou nos campos de “reeducacao”…
Ou que colocam “na pele” dos seus algozes, apelidando-as de “servidor/as do poder” ou "agentes da tenebrosa DISA" para melhor e mais violenta e impunemente as agredirem... Ao mesmo tempo que compartilham os mesmos funges, pomadas e sacos azuis com os verdadeiros servidores do poder, quanto mais nao seja porque, o mais das vezes sao todos "parentes" uns dos outros!...
No que toca aos homens, este (... por entre o seu cinico 'rio de lagrimas de krokodilo'...) e' apenas um “case in point”.




No que toca as mulheres, creio que algumas passagens de alguns dos meus outros posts (como este ...  este ... este ... este ... ou este) poderao indicar casos concretos, sendo que alguns deles apontam para o facto de que nao foram apenas as vitimas, directas ou indirectas, do 27 de Maio, mas tambem mulheres ligadas a outros agrupamentos politicos, que passaram por esse tipo de vitimizacao enquanto prisioneiras ou fora das prisoes…

Nao pretendo, no entanto, pessoalizar aqui mais do que necessario essa questao.
Direi apenas que, no que toca 'as mulheres vitimas directas (ou pelo menos a algumas delas), a tal “projeccao” e “transferencia” da sua vitimizacao se tem consubstanciado, em alguns casos, para alem da propria violencia fisica, na tentativa, nomeadamente atraves da calunia, da difamacao e da estigmatizacao por entre abundantes doses de "chantagem emocional" e outras formas de "blackmail", de desumanizacao e “castracao” da feminilidade, sexualidade, jovialidade, espontaneidade, identidade, dignidade, criatividade, sensibilidade e auto-estima de outras mulheres, especialmente se mais novas do que elas: foi o que a violencia sexual a que foram sujeitas enquanto prisioneiras ainda na flor da idade lhes “castrou”… infelizmente!


["A Mulher Eunuco": obra iconica de Germaine Greer - uma academica que assumiu e tem auto-analisado publicamente o facto de ter sido violada na sua juventude]
 
E assim, essas mulheres vao reproduzindo autofagicamente, particularmente junto dos que lhes sao mais proximos, o ciclo vicioso de violencia, quando nao fisica, psicologica e emocional, que tende a perpetuar-se de geracao em geracao e que vai corroendo amizades, familias e a propria sociedade...
 
 Muita gente ter-se-ha’ perguntado “a que proposito” e, ademais, sendo eu supostamente, tal como hoje, uma “servidora do poder” por ocasiao do 27 de Maio de 1977, ‘todo o mundo’ se permite “falar do 27 de Maio”, tendo uma certa “mae da negritude branca lusofona pos-colonial” (para quem, tal como com outras "academicas" e "investigadoras", aparentemente o 27 de Maio nao passou de um picnic onde se vai "pick and chose" as "reality bites" que melhor possam servir ao paladar das suas "bocas intelectualoides"...)   inclusivamente se dado “ao trabalho” de nomear, no Semanario Angolense, quem, em sua “douta opiniao”, foram os primeiros “literatos” (homens, of course!...) a expressar-se nas suas obras, aberta ou veladamente, sobre os acontecimentos 'a volta daquela data…

Nao sei quem foi, nem tal me parece relevante (nao estou, nunca estive, nem aqui nem em qualquer outro lugar, “em competicao” com quaisquer "outro/as" pela “posse” de uma “memoria” que nao creio alguem sadiamente, de boa fe' e consciencia limpa pretenda empunhar como “um trofeu exclusivo”!…) : sei, isso sim, que, implicitamente, o fiz (e nao, nao o fiz "em Ingles"!) aqui
(... "E’ licito perguntar: que futuro poderao construir os traumatizados cidadaos nascidos desse tipo de relacoes, em conjunto com todos aqueles cujos pais a guerra e a intolerancia politica teem vitimado? Por que tipo de sociedade civil pretendemos lutar?"...)
e, explicitamente, entre outros lugares, numa entrevista que concedi a uma jornalista/escritora brasileira no inicio dos anos 90 (... a qual, by the way, foi censurada...), sendo que, privadamente sempre o fiz, desde que justificado, desde o proprio 27 de Maio de 1977.
E por isso tenho sabido pagar o preco!...

Termino, como vitima colateral do 27 de Maio, com este extracto de um comentario por mim feito ha’ varios anos e aqui reproduzido:

"(...)

A verdade existe sim e, como diz o ditado popular, tal como o azeite vem sempre ao de cima! 
Por isso nao me posso conformar com a ideia de que um acontecimento que teve um impacto tao traumatico e devastador sobre a sociedade angolana seja simplesmente enterrado com os seus principais protagonistas, quando centenas, senao milhares, de orfaos, viuvas e um grande numero de familias angolanas continuam sem saber o que e porque realmente aconteceu com os seus entes queridos, ou sequer onde estao os seus ossos, ja para nao falar na simples admissao oficial da sua liquidacao sumaria e na emissao das respectivas certidoes de obito, que sao basicos direitos humanos e de cidadania de todos nos!

Para mim, eh precisamente o respeito que devemos a TODOS os mortos do 27 de Maio que exige que a verdade e nada menos do que a verdade venha completamente ao de cima. E nao so o respeito pelos mortos: a construcao de um futuro de paz e harmonia para nos os ainda vivos e para as geracoes dos nossos filhos, netos e bisnetos exige que todos os fantasmas do nosso passado sejam completamente exorcisados e as suas cinzas completamente varridas, sob pena de as almas dos nossos mortos jamais virem a gozar da paz eterna que lhes eh devida!

Como nos aconselha o senso comum, ha que enterrar os nossos mortos condignamente, mas a nossa prioridade deve ser cuidar apropriadamente dos vivos, senao viveremos para sempre como mortos-vivos em eterno estado de luto num pais mal assombrado… Agora que a paz institucional entre o MPLA e a UNITA parece ser irreversivel, os acontecimentos do 27 de Maio e todos os contenciosos ainda pendentes da guerra que devastou o pais por decadas que pareciam nao ter fim deveriam sim ser objecto de algo assim como a ‘Comissao para a Verdade e Reconciliacao’ que tanto ajudou a Africa do Sul a enfrentar o seu futuro com optimismo e com espiritos mais ou menos pacificados. 
E tal evento, que deveria assumir foros de um verdadeiro Komba Ditokwa Nacional, deveria realizar-se mais cedo do que tarde!

(...)"


 

"(...)

e, sobretudo,
nao me perguntes
pelo que nao disse
pois a minha boca
ha' muito se fechou
'a forca do fusil
do homem quem em mim
te semeou!

(...)

[Extracto de "Ralhete" - A.S. in S.O.S. - ... e nao, NUNCA FUI VIOLADA!...]









  Com o meu ultimo post sobre o 27 de Maio, tinha decidido nao mais voltar a assinalar essa data neste blog como o vinha fazendo todos os anos desde o seu inicio. Mas, embora o possa parecer, nao e’ por isso que o faco na vespera – decidi mesmo nao voltar a faze-lo, pelo menos nao neste blog (... e talvez apenas "so' depois de toda a poeira assentar", como aqui argumentava Justino Pinto de Andrade...).

Acontece que, nos ultimos meses, a violencia, e em particular a sexual, contra a mulher, tem-se imposto neste blog como um tema recorrente (e.g. aqui e aqui). Por isso decidi fazer este derradeiro post sobre a orgia de violencia que se abateu sobre milhares de cidadas e cidadaos angolanos desde aquela data e que ainda hoje se faz sentir.

E’ que, o 27 de Maio fez vitimas… e vitimas! Umas directas, outras indirectas ou colaterais.
E mesmo entre as directas, o 27 de Maio fez vitimas… e vitimas!
Umas, as mais rememoradas e mencionadas nas varias obras que veem aos poucos sendo publicadas, provinham dos “circulos restritos” de que aqui se fala. Outras, nunca ou raramente mencionadas, seja em obras de referencia, seja na imprensa corrente (constituindo esta a unica excepcao do meu conhecimento), foram, aberta ou veladamente, catalogados como, senao “lumpens”, os "semi-analfabetos" e "incivilizados" que “vieram do muceque ou do maqui”…

E o 27 de Maio fez vitimas homens e… vitimas mulheres!

E se, entre as vitimas homens, a estratificacao social tem ditado quem tera' sido “more victim than thou” e merecedor de atencao especial por parte dos historiadores e cronistas, ja’ das vitimas mulheres, como um todo e nao apenas com o foco numa ou outra personagem - e aqui Sita Valles (de quem, por sinal, me lembro bem de uma reuniao que os membros do SEDME tiveram com ela na sede da JMPLA em Luanda em 1976/77) vem facilmente a memoria por obra dos livros e artigos que sobre o seu caso ja’ se debrucaram -, a estratificacao por genero tem vindo a ditar que delas e da violencia a que foram sujeitas pouco ou nada se diga.
Mas  muito ha’ a dizer sobre a violencia a que essas vitimas foram sujeitas – e nao me proponho aqui faze-lo em seu nome. Pretendo apenas registar o pouco (muito?) que sei e que me parece dever ser dito:

Nomeadamente que houve mulheres prisioneiras que foram violadas consecutivamente por mais de dez homens numa so’ noite… ou dia.
Nomeadamente, que houve mulheres que foram violadas ou vitimas de outras formas de violencia sexual fora das cadeias apenas por serem namoradas ou mulheres de prisioneiros do 27 de Maio ou de prisioneiros associados a outros agrupamentos politicos…
Nomeadamente, que mulheres ha’ que apenas por terem tido um relacionamento com um prisioneiro do 27 de Maio ou terem familiares nele envolvidos de uma ou outra forma, continuam a ser vitimas das mais diversas formas de violencia sexual e psicologica, directa ou indirectamente, real ou virtualmente!...
E estas ultimas, as vitimas colaterais, continuam a ser vitimas nao apenas dos algozes directos do 27 de Maio, mas tambem das suas sobreviventes vitimas directas: homens ou mulheres!...
 



 Dizia aqui Carlinho Zassala sobre a “sociedade doente” k'estamos kum ela:  "(…) Os problemas que mencionei existem em Angola em grande escala. O problema da guerra causou muitos traumatismos, há pessoas que não gostam que se diga isso, mas o 27 de Maio também causou muitos traumatismos nas pessoas."

E o prubulema k'estamus kum ele e’ que as vitimas directas sobreviventes do 27 de Maio nunca foram, ou se submeteram, a assistencia psicoterapeutica (ressalvando, obviamente, os casos dos que porventura o tenham feito a titulo privado e confidencial), nem nunca obtiveram qualquer acknowledgement oficial do seu “estatuto de vitimas” e apenas muito recentemente (e em grande medida sob o impulso dos livros que nos ultimos anos teem vindo a ser publicados sobre aquele acontecimento) comecaram a falar abertamente das suas experiencias e memorias do carcere, sendo que, durante todo o periodo de mais de 30 anos que entretanto decorreu, tentaram sublimar das mais diversas formas a sua condicao…

Uma dessas formas, para alem do recurso, entre outros escapismos, ao alcool e/ou as drogas, tem sido a "projeccao" da violencia a que foram sujeita/os sobre outra/os que ela/es veem “enviusada, miope e semioticamente” como tendo ficado “imunes” as sevicias pelas quais passaram nas cadeias ou nos campos de “reeducacao”…
Ou que colocam “na pele” dos seus algozes, apelidando-as de “servidor/as do poder” ou "agentes da tenebrosa DISA" para melhor e mais violenta e impunemente as agredirem... Ao mesmo tempo que compartilham os mesmos funges, pomadas e sacos azuis com os verdadeiros servidores do poder, quanto mais nao seja porque, o mais das vezes sao todos "parentes" uns dos outros!...
No que toca aos homens, este (... por entre o seu cinico 'rio de lagrimas de krokodilo'...) e' apenas um “case in point”.




No que toca as mulheres, creio que algumas passagens de alguns dos meus outros posts (como este ...  este ... este ... este ... ou este) poderao indicar casos concretos, sendo que alguns deles apontam para o facto de que nao foram apenas as vitimas, directas ou indirectas, do 27 de Maio, mas tambem mulheres ligadas a outros agrupamentos politicos, que passaram por esse tipo de vitimizacao enquanto prisioneiras ou fora das prisoes…

Nao pretendo, no entanto, pessoalizar aqui mais do que necessario essa questao.
Direi apenas que, no que toca 'as mulheres vitimas directas (ou pelo menos a algumas delas), a tal “projeccao” e “transferencia” da sua vitimizacao se tem consubstanciado, em alguns casos, para alem da propria violencia fisica, na tentativa, nomeadamente atraves da calunia, da difamacao e da estigmatizacao por entre abundantes doses de "chantagem emocional" e outras formas de "blackmail", de desumanizacao e “castracao” da feminilidade, sexualidade, jovialidade, espontaneidade, identidade, dignidade, criatividade, sensibilidade e auto-estima de outras mulheres, especialmente se mais novas do que elas: foi o que a violencia sexual a que foram sujeitas enquanto prisioneiras ainda na flor da idade lhes “castrou”… infelizmente!


["A Mulher Eunuco": obra iconica de Germaine Greer - uma academica que assumiu e tem auto-analisado publicamente o facto de ter sido violada na sua juventude]
 
E assim, essas mulheres vao reproduzindo autofagicamente, particularmente junto dos que lhes sao mais proximos, o ciclo vicioso de violencia, quando nao fisica, psicologica e emocional, que tende a perpetuar-se de geracao em geracao e que vai corroendo amizades, familias e a propria sociedade...
 
 Muita gente ter-se-ha’ perguntado “a que proposito” e, ademais, sendo eu supostamente, tal como hoje, uma “servidora do poder” por ocasiao do 27 de Maio de 1977, ‘todo o mundo’ se permite “falar do 27 de Maio”, tendo uma certa “mae da negritude branca lusofona pos-colonial” (para quem, tal como com outras "academicas" e "investigadoras", aparentemente o 27 de Maio nao passou de um picnic onde se vai "pick and chose" as "reality bites" que melhor possam servir ao paladar das suas "bocas intelectualoides"...)   inclusivamente se dado “ao trabalho” de nomear, no Semanario Angolense, quem, em sua “douta opiniao”, foram os primeiros “literatos” (homens, of course!...) a expressar-se nas suas obras, aberta ou veladamente, sobre os acontecimentos 'a volta daquela data…

Nao sei quem foi, nem tal me parece relevante (nao estou, nunca estive, nem aqui nem em qualquer outro lugar, “em competicao” com quaisquer "outro/as" pela “posse” de uma “memoria” que nao creio alguem sadiamente, de boa fe' e consciencia limpa pretenda empunhar como “um trofeu exclusivo”!…) : sei, isso sim, que, implicitamente, o fiz (e nao, nao o fiz "em Ingles"!) aqui
(... "E’ licito perguntar: que futuro poderao construir os traumatizados cidadaos nascidos desse tipo de relacoes, em conjunto com todos aqueles cujos pais a guerra e a intolerancia politica teem vitimado? Por que tipo de sociedade civil pretendemos lutar?"...)
e, explicitamente, entre outros lugares, numa entrevista que concedi a uma jornalista/escritora brasileira no inicio dos anos 90 (... a qual, by the way, foi censurada...), sendo que, privadamente sempre o fiz, desde que justificado, desde o proprio 27 de Maio de 1977.
E por isso tenho sabido pagar o preco!...

Termino, como vitima colateral do 27 de Maio, com este extracto de um comentario por mim feito ha’ varios anos e aqui reproduzido:

"(...)

A verdade existe sim e, como diz o ditado popular, tal como o azeite vem sempre ao de cima! 
Por isso nao me posso conformar com a ideia de que um acontecimento que teve um impacto tao traumatico e devastador sobre a sociedade angolana seja simplesmente enterrado com os seus principais protagonistas, quando centenas, senao milhares, de orfaos, viuvas e um grande numero de familias angolanas continuam sem saber o que e porque realmente aconteceu com os seus entes queridos, ou sequer onde estao os seus ossos, ja para nao falar na simples admissao oficial da sua liquidacao sumaria e na emissao das respectivas certidoes de obito, que sao basicos direitos humanos e de cidadania de todos nos!

Para mim, eh precisamente o respeito que devemos a TODOS os mortos do 27 de Maio que exige que a verdade e nada menos do que a verdade venha completamente ao de cima. E nao so o respeito pelos mortos: a construcao de um futuro de paz e harmonia para nos os ainda vivos e para as geracoes dos nossos filhos, netos e bisnetos exige que todos os fantasmas do nosso passado sejam completamente exorcisados e as suas cinzas completamente varridas, sob pena de as almas dos nossos mortos jamais virem a gozar da paz eterna que lhes eh devida!

Como nos aconselha o senso comum, ha que enterrar os nossos mortos condignamente, mas a nossa prioridade deve ser cuidar apropriadamente dos vivos, senao viveremos para sempre como mortos-vivos em eterno estado de luto num pais mal assombrado… Agora que a paz institucional entre o MPLA e a UNITA parece ser irreversivel, os acontecimentos do 27 de Maio e todos os contenciosos ainda pendentes da guerra que devastou o pais por decadas que pareciam nao ter fim deveriam sim ser objecto de algo assim como a ‘Comissao para a Verdade e Reconciliacao’ que tanto ajudou a Africa do Sul a enfrentar o seu futuro com optimismo e com espiritos mais ou menos pacificados. 
E tal evento, que deveria assumir foros de um verdadeiro Komba Ditokwa Nacional, deveria realizar-se mais cedo do que tarde!

(...)"


 

"(...)

e, sobretudo,
nao me perguntes
pelo que nao disse
pois a minha boca
ha' muito se fechou
'a forca do fusil
do homem quem em mim
te semeou!

(...)

[Extracto de "Ralhete" - A.S. in S.O.S. - ... e nao, NUNCA FUI VIOLADA!...]


Thursday 24 May 2012

Sobre o Movimento Estudantil (V)



A democratização das escolas não era a única preocupação. O consumo de drogas colocava‐se na sociedade angolana, como chamou a atenção o Movimento Jovem (MJ), de Nova Lisboa. O MJ pediu ao governo no dia 17 de Agosto de 1974 que abolisse a lei da droga em vigor, por condenar severamente os seus utilizadores. Nesse documento, o presidente António de Oliveira Porto advogava “sanatórios especializados” para os “irrecuperáveis” viverem “livremente”. A proposta levantou polémica. Dias depois o MJ esclarecia que condenava “o uso e a venda” de droga, mas a repressão devia ser dirigida aos vendedores. O MJ achava que a droga iria afectar  “um índice assustador de viciados” e daí a necessidade de cuidados de saúde especializados, para os irrecuperáveis receberem a droga “doseada” por médicos.
[a província de Angola, 24 de Agosto de 1974, p. 5.]




 A cannabis, que crescia espontaneamente, era fumada por alguns africanos e por alguns estudantes. A reitora do Liceu Feminino foi um dia surpreendida com a presença de agentes da Polícia Judiciária. “(…) Apareceram para nos multar, dizendo que tínhamos lá cannabis. Nenhuma das professoras da direcção sabia o que era (…). Havia bastantes nos canteiros do liceu. Claro, fomos obrigadas a arranca‐las. Isto passou‐se em 1970. A Polícia Judiciária fez‐nos uma prelecção. Explicaram‐nos como detectar pelas pupilas, se uma jovem se drogava. Esse foi um problema angolano. (…) Havia drogadas no liceu, casos em que tivemos de intervir, chamar os pais. Não eram muitos, mas havia. Muitos jovens deram umas passas, mas poucos ficaram viciados (…)”
[Entrevista à Reitora do Liceu Feminino, Darcília Salgado Zenha M. Correia]

COMENTARIO: Desconhecia esse longo historial de cultivo, uso e abuso de drogas no ‘meu liceu’ e entre a populacao estudantil em geral, em Luanda e nao so’.
Mas, obviamente, nao me passou despercebido (e disso dou conta aqui) o facto de a Pro-AEESL ter ficado associada ao consumo de drogas, mesmo se muitos estudantes, como eu, nunca sequer as tenham visto antes ou durante o Movimento Estudantil.
Seria apenas alguns anos mais tarde que me viria a dar conta do uso mais ou menos generalizado de drogas em Luanda, sobretudo em alguns circulos de artistas e intelectuais, tendo tido, infelizmente, que lidar com dois deles (este e este) com os resultados que “se conhecem”… Consegui, no entanto, resistir a tentacao (ou, dito de outro modo, consegui gerir os apelos) de mergulhar no mundo das drogas.




Lúcio Lara, que na juventude iniciou a sua formação política nas associações de estudantes metropolitanos, contou décadas depois: “(…) quando a delegação que eu chefiei chegou (…) encontrámos uma juventude agitada pra burro, como nós dizemos, uma juventude dinâmica, altamente agitada e muito mais marxista do que nós pensávamos, porque não tínhamos ideia semelhante e nem sequer falávamos muito no marxismo, embora por princípio de comportamento muitos de nós fossemos marxistas, mas não falávamos nisso nessa altura, mas quando chegámos a Luanda até albaneses eu vim encontrar (…) os grupos extremistas eram tantos e tão diversos, que até albaneses! (…) o MPLA passava por um movimento moderado no meio dessa juventude, alguns dos quais foram elementos que compuseram o que se chamou depois o fraccionismo (…)”
 [Drumond Jaime e Helder Barber, Angola: Depoimentos para a História Recente, edição dos autores, Luanda, 1999, entrevista a Lúcio Lara pp. 52‐53. O “fraccionismo” eclodiu em Angola com os acontecimentos de 27 de Maio de 1977]




COMENTARIO: Disso nao tenho qualquer duvida! Quanto mais nao seja porque, desde aquela altura, continuo a ser alvo dos golpes de (aka)martelo e das cicatrizes no cerebro desferidas pelos ditos “albaneses”... "unicas e verdadeiras intelectuais"... "vanguardistas" e outros “iluminados”!... 

Por outro lado, essas afirmacoes de Lucio Lara talvez permitam perceber melhor o que aqui referi:

(...)

"- Eu tinha 16 anos quando se deu o 27 de Maio. Na altura, era estudante e trabalhava part-time no MPLA, no DOM na Vila Alice e depois no DORGAN no ‘Kremlin’, tendo algum tempo depois partido para esta 'aventura'. Nunca tive, portanto, qualquer “envolvimento”, directo ou indirecto, nos acontecimentos que rodearam aquela data fatidica, antes ou depois dela – certamente nao fui eu quem matou Saidi Mingas - NUNCA MATEI NINGUEM!!!...




E, ja' agora, vem a proposito esta memoria: nunca tive qualquer propensao para ser professora primaria e muito menos teorica do marxismo - mesmo porque isso pode ter o condao de atrair ameacas de morte, quando nao morte mesmo! - mas, no DOM/DORGAN eu fazia parte de um grupo de estudo do Marxismo-Leninismo, em que eu era a mais nova por varios anos em relacao a todos os outros participantes e que era orientado pelo Kota Lara, e como infelizmente a memoria dele ja' nao o pode ajudar nesse sentido, talvez algum dos outros participantes possa confirmar que ocasioes houve em que ele me deixava responder a questoes que lhe eram colocadas e no fim so' concordava, modestamente, com a cabeca em sinal de aprovacao do que eu acabara de explicar... mas nao fui por isso "promovida a teorica do marxismo", nem "perdida em 1977"!... Embora alguns ecos daquelas "aulas" possam, sem muito esforco, ser detectados aqui, aqui, aqui... E, quanto "ao resto", especialmente as feridas ainda por sarar, a minha memoria continua a servir-me suficientemente bem... Gracas a Deus!"

 (...)

Devo, no entanto, referir - porque algumas passagens do livro a isso podem induzir -, que o meu trabalho no DOM/DORGAN nao tinha nenhuma relacao com o Movimento Estudantil (mesmo porque este ja' estava, como aqui referi, praticamente auto-extinto) e, embora (como aqui e aqui mencionei) tivesse uma vertente ocasionalmente ligada as estruturas organizativas juvenis nas provincias do pais, nem mesmo ja' com a JMPLA.



A democratização das escolas não era a única preocupação. O consumo de drogas colocava‐se na sociedade angolana, como chamou a atenção o Movimento Jovem (MJ), de Nova Lisboa. O MJ pediu ao governo no dia 17 de Agosto de 1974 que abolisse a lei da droga em vigor, por condenar severamente os seus utilizadores. Nesse documento, o presidente António de Oliveira Porto advogava “sanatórios especializados” para os “irrecuperáveis” viverem “livremente”. A proposta levantou polémica. Dias depois o MJ esclarecia que condenava “o uso e a venda” de droga, mas a repressão devia ser dirigida aos vendedores. O MJ achava que a droga iria afectar  “um índice assustador de viciados” e daí a necessidade de cuidados de saúde especializados, para os irrecuperáveis receberem a droga “doseada” por médicos.
[a província de Angola, 24 de Agosto de 1974, p. 5.]




 A cannabis, que crescia espontaneamente, era fumada por alguns africanos e por alguns estudantes. A reitora do Liceu Feminino foi um dia surpreendida com a presença de agentes da Polícia Judiciária. “(…) Apareceram para nos multar, dizendo que tínhamos lá cannabis. Nenhuma das professoras da direcção sabia o que era (…). Havia bastantes nos canteiros do liceu. Claro, fomos obrigadas a arranca‐las. Isto passou‐se em 1970. A Polícia Judiciária fez‐nos uma prelecção. Explicaram‐nos como detectar pelas pupilas, se uma jovem se drogava. Esse foi um problema angolano. (…) Havia drogadas no liceu, casos em que tivemos de intervir, chamar os pais. Não eram muitos, mas havia. Muitos jovens deram umas passas, mas poucos ficaram viciados (…)”
[Entrevista à Reitora do Liceu Feminino, Darcília Salgado Zenha M. Correia]

COMENTARIO: Desconhecia esse longo historial de cultivo, uso e abuso de drogas no ‘meu liceu’ e entre a populacao estudantil em geral, em Luanda e nao so’.
Mas, obviamente, nao me passou despercebido (e disso dou conta aqui) o facto de a Pro-AEESL ter ficado associada ao consumo de drogas, mesmo se muitos estudantes, como eu, nunca sequer as tenham visto antes ou durante o Movimento Estudantil.
Seria apenas alguns anos mais tarde que me viria a dar conta do uso mais ou menos generalizado de drogas em Luanda, sobretudo em alguns circulos de artistas e intelectuais, tendo tido, infelizmente, que lidar com dois deles (este e este) com os resultados que “se conhecem”… Consegui, no entanto, resistir a tentacao (ou, dito de outro modo, consegui gerir os apelos) de mergulhar no mundo das drogas.




Lúcio Lara, que na juventude iniciou a sua formação política nas associações de estudantes metropolitanos, contou décadas depois: “(…) quando a delegação que eu chefiei chegou (…) encontrámos uma juventude agitada pra burro, como nós dizemos, uma juventude dinâmica, altamente agitada e muito mais marxista do que nós pensávamos, porque não tínhamos ideia semelhante e nem sequer falávamos muito no marxismo, embora por princípio de comportamento muitos de nós fossemos marxistas, mas não falávamos nisso nessa altura, mas quando chegámos a Luanda até albaneses eu vim encontrar (…) os grupos extremistas eram tantos e tão diversos, que até albaneses! (…) o MPLA passava por um movimento moderado no meio dessa juventude, alguns dos quais foram elementos que compuseram o que se chamou depois o fraccionismo (…)”
 [Drumond Jaime e Helder Barber, Angola: Depoimentos para a História Recente, edição dos autores, Luanda, 1999, entrevista a Lúcio Lara pp. 52‐53. O “fraccionismo” eclodiu em Angola com os acontecimentos de 27 de Maio de 1977]




COMENTARIO: Disso nao tenho qualquer duvida! Quanto mais nao seja porque, desde aquela altura, continuo a ser alvo dos golpes de (aka)martelo e das cicatrizes no cerebro desferidas pelos ditos “albaneses”... "unicas e verdadeiras intelectuais"... "vanguardistas" e outros “iluminados”!... 

Por outro lado, essas afirmacoes de Lucio Lara talvez permitam perceber melhor o que aqui referi:

(...)

"- Eu tinha 16 anos quando se deu o 27 de Maio. Na altura, era estudante e trabalhava part-time no MPLA, no DOM na Vila Alice e depois no DORGAN no ‘Kremlin’, tendo algum tempo depois partido para esta 'aventura'. Nunca tive, portanto, qualquer “envolvimento”, directo ou indirecto, nos acontecimentos que rodearam aquela data fatidica, antes ou depois dela – certamente nao fui eu quem matou Saidi Mingas - NUNCA MATEI NINGUEM!!!...




E, ja' agora, vem a proposito esta memoria: nunca tive qualquer propensao para ser professora primaria e muito menos teorica do marxismo - mesmo porque isso pode ter o condao de atrair ameacas de morte, quando nao morte mesmo! - mas, no DOM/DORGAN eu fazia parte de um grupo de estudo do Marxismo-Leninismo, em que eu era a mais nova por varios anos em relacao a todos os outros participantes e que era orientado pelo Kota Lara, e como infelizmente a memoria dele ja' nao o pode ajudar nesse sentido, talvez algum dos outros participantes possa confirmar que ocasioes houve em que ele me deixava responder a questoes que lhe eram colocadas e no fim so' concordava, modestamente, com a cabeca em sinal de aprovacao do que eu acabara de explicar... mas nao fui por isso "promovida a teorica do marxismo", nem "perdida em 1977"!... Embora alguns ecos daquelas "aulas" possam, sem muito esforco, ser detectados aqui, aqui, aqui... E, quanto "ao resto", especialmente as feridas ainda por sarar, a minha memoria continua a servir-me suficientemente bem... Gracas a Deus!"

 (...)

Devo, no entanto, referir - porque algumas passagens do livro a isso podem induzir -, que o meu trabalho no DOM/DORGAN nao tinha nenhuma relacao com o Movimento Estudantil (mesmo porque este ja' estava, como aqui referi, praticamente auto-extinto) e, embora (como aqui e aqui mencionei) tivesse uma vertente ocasionalmente ligada as estruturas organizativas juvenis nas provincias do pais, nem mesmo ja' com a JMPLA.

Tuesday 22 May 2012

E POR FALAR EM "ESTADO DE DIREITO"...





(…)
A imposicao da chamada “ditadura do proletariado” fez com que os cidadaos se vissem privados, durante quase duas decadas, quer do direito fundamental ao voto, quer do direito de emitirem livremente as suas opinioes, num pais onde a imprensa era, ate’ ha’ bem pouco tempo, inteiramente controlada pelo partido-estado; de professarem, sem constrangimentos, as suas confissoes religiosas; ou ainda de educarem os seus filhos de acordo com os valores eticos e morais, herdados quer da cultura tradicional angolana, quer do contacto com os europeus, que noutros tempos fizeram com que Angola pudesse ser considerada um "pais civilizado".
(…)
Enterrada que esta’ essa fase obscura da vida do pais, mantem-se, no entanto, a questao de como compatibilizar a existencia de tais estruturas tradicionais com o principio da separacao de poderes, que e’ uma das exigencias basicas para a construcao de um verdadeiro Estado de direito.

[Extractos de "O Cidadao em Angola" - 1993]




(…)
A imposicao da chamada “ditadura do proletariado” fez com que os cidadaos se vissem privados, durante quase duas decadas, quer do direito fundamental ao voto, quer do direito de emitirem livremente as suas opinioes, num pais onde a imprensa era, ate’ ha’ bem pouco tempo, inteiramente controlada pelo partido-estado; de professarem, sem constrangimentos, as suas confissoes religiosas; ou ainda de educarem os seus filhos de acordo com os valores eticos e morais, herdados quer da cultura tradicional angolana, quer do contacto com os europeus, que noutros tempos fizeram com que Angola pudesse ser considerada um "pais civilizado".
(…)
Enterrada que esta’ essa fase obscura da vida do pais, mantem-se, no entanto, a questao de como compatibilizar a existencia de tais estruturas tradicionais com o principio da separacao de poderes, que e’ uma das exigencias basicas para a construcao de um verdadeiro Estado de direito.

[Extractos de "O Cidadao em Angola" - 1993]

Monday 21 May 2012

Sonho vs. Demagogia: Como Distinguir?


Sonho e’ o que alguem como Martin Luther King foi capaz de ter, articular e imortalizar…


Demagogia e’ quando alguem capaz distodistodisto… e de muito mais!... e' capaz de ter a falta de vergonha na kara suficiente para 'mandar bokas' destas:

"(...) O Estado Democrático de que falo é o Estado onde o direito de oposição é respeitado, defendido, protegido e acarinhado, onde a liberdade de expressão é um bem maior, onde o direito de manifestação/reunião é estruturante, porque não há outra forma de fazer política, de mobilizar os cidadãos e o eleitorado para os desafios que se repetem no âmbito de um ciclo que queremos que seja virtuoso, premiando os que melhor trabalham, mas promovendo, sempre que necessário, a saudável alternância.(...)"


E, claro, como toda a boa demagogia (... ou TV show ou Facebook page...) que se preze, as “massas” (algumas histericamente) aplaudem efusivamente!

Moral da historia (apenas para os meus brothers!):



Sonho e’ o que alguem como Martin Luther King foi capaz de ter, articular e imortalizar…


Demagogia e’ quando alguem capaz distodistodisto… e de muito mais!... e' capaz de ter a falta de vergonha na kara suficiente para 'mandar bokas' destas:

"(...) O Estado Democrático de que falo é o Estado onde o direito de oposição é respeitado, defendido, protegido e acarinhado, onde a liberdade de expressão é um bem maior, onde o direito de manifestação/reunião é estruturante, porque não há outra forma de fazer política, de mobilizar os cidadãos e o eleitorado para os desafios que se repetem no âmbito de um ciclo que queremos que seja virtuoso, premiando os que melhor trabalham, mas promovendo, sempre que necessário, a saudável alternância.(...)"


E, claro, como toda a boa demagogia (... ou TV show ou Facebook page...) que se preze, as “massas” (algumas histericamente) aplaudem efusivamente!

Moral da historia (apenas para os meus brothers!):


Sunday 20 May 2012

"KWIZZ..."




Nao... a resposta certa nao da' direito a "parakuka kom kifufutila"!

Aqui vai – 'straight, no chaser!': Trata-se de um INTOCAVEL ke "nunka" teve nada a ver kom politika do p(h)oder ou da oposicao!... Absolutamente nada a ver mesmo! Dos politicos sempre manteve a maior distancia! Portanto, o BD que se kwiiide porke, dada a kamaleonice e falta de vergonha na kara da kriatura em kestao, ainda acaba por fikar sem o seu kabo eleitoral (kaenche!) numero 1 na "imprensa facebukeira"!...
Precisa de "mais detalhes"? Aqui tem:

'A primeira lição do "caso Suzana Inglês"...

Quem não é da política mas se mete com os nossos políticos (do poder) sem pertencer ao "quintal" e sem ter os pés bem assentes na terra, está sempre sujeito aos ventos da conjuntura e normalmente dura pouco e acaba mal.

A história do pós-independência está cheio destes exemplos, mas como as pessoas preferem continuar a ouvir "estórias", vamos ter ainda mais casos destes...

Os políticos, estes, na maior das calmas, vão continuar por aí...

PS- Amigo que sou da Dra. Suzana Inglês custa-me vê-la nesta nova condição de "proscrita".

Só há, contudo, uma forma de se evitarem estas situações, sobretudo para as pessoas que a certa altura da sua vida têm de se relacionar, em nome do interesse público, com a política ou com os políticos.

Distância, meus amigos, muita distância, muito respeito, e sempre em pé de igualdade. Na vertical.

A política é entendida aqui num sentido mais restrito, tendo em conta as características da nossa partidocracia. Do poder ou da oposição.

Dos independentes que estão na política falaremos numa outra altura...'



P.S.1: (...) Alguem disse que falta de vergonha na kara em Angola mata?!
 
P.S.2: E por falar em "quintais":

"Eu di-lo-ia de outro modo: ainda que nao venham do "Roque Santeiro", nem estejam apenas em busca de "ascensao social" [poderao, por exemplo, vir de Viana, da Vila Alice, do Kinaxixe, do Bairro Popular, da Maianga, ou mesmo do Alvalade, da Marginal, do 'Quartier Latin' ou do Bairro Alto, para as escadarias e quintais  da permissiva e promiscua "comuna 'libertinaria' neoliberal" da Cidade Alta em busca de "proximidade ao poder" e do "menos congestionado" trafico de influencias e de "fontes de informacao" para os "novos jornais" da praca, e.g. sobre "partes da historia do MPLA", que esse lugar proporciona, ou, especialmente no caso dos "rapazes" e "raparigas" que nunca tiveram forca suficiente para pegarem numa catana ou numa enxada para sairem do conforto das ruas asfaltadas da capital e irem para o campo contribuir para a "resolucao dos problemas do povo", ou a coragem necessaria para pegarem em armas e irem para uma frente de combate defender os "seus ideais", a ilusao de que (tambem) o fizeram... - o que tambem nao e' mais do que buscar "ascensao social" ...o que quer que isso seja ...], continuarao eternamente, ou pelo menos por muito tempo, sem passar das "escadarias da UEA", mesmo que nela consigam entrar e sentar-se, sob o signo dos seus neofitos '7 egos', 'aquela mesa central com o poema "Criar" de Agostinho Neto no background!... E isto servira' especialmente aos que para la' entram com certo tipo de "declaracoes acintosas" como as aqui mencionadas!..."

[Extracto daqui





Nao... a resposta certa nao da' direito a "parakuka kom kifufutila"!

Aqui vai – 'straight, no chaser!': Trata-se de um INTOCAVEL ke "nunka" teve nada a ver kom politika do p(h)oder ou da oposicao!... Absolutamente nada a ver mesmo! Dos politicos sempre manteve a maior distancia! Portanto, o BD que se kwiiide porke, dada a kamaleonice e falta de vergonha na kara da kriatura em kestao, ainda acaba por fikar sem o seu kabo eleitoral (kaenche!) numero 1 na "imprensa facebukeira"!...
Precisa de "mais detalhes"? Aqui tem:

'A primeira lição do "caso Suzana Inglês"...

Quem não é da política mas se mete com os nossos políticos (do poder) sem pertencer ao "quintal" e sem ter os pés bem assentes na terra, está sempre sujeito aos ventos da conjuntura e normalmente dura pouco e acaba mal.

A história do pós-independência está cheio destes exemplos, mas como as pessoas preferem continuar a ouvir "estórias", vamos ter ainda mais casos destes...

Os políticos, estes, na maior das calmas, vão continuar por aí...

PS- Amigo que sou da Dra. Suzana Inglês custa-me vê-la nesta nova condição de "proscrita".

Só há, contudo, uma forma de se evitarem estas situações, sobretudo para as pessoas que a certa altura da sua vida têm de se relacionar, em nome do interesse público, com a política ou com os políticos.

Distância, meus amigos, muita distância, muito respeito, e sempre em pé de igualdade. Na vertical.

A política é entendida aqui num sentido mais restrito, tendo em conta as características da nossa partidocracia. Do poder ou da oposição.

Dos independentes que estão na política falaremos numa outra altura...'



P.S.1: (...) Alguem disse que falta de vergonha na kara em Angola mata?!
 
P.S.2: E por falar em "quintais":

"Eu di-lo-ia de outro modo: ainda que nao venham do "Roque Santeiro", nem estejam apenas em busca de "ascensao social" [poderao, por exemplo, vir de Viana, da Vila Alice, do Kinaxixe, do Bairro Popular, da Maianga, ou mesmo do Alvalade, da Marginal, do 'Quartier Latin' ou do Bairro Alto, para as escadarias e quintais  da permissiva e promiscua "comuna 'libertinaria' neoliberal" da Cidade Alta em busca de "proximidade ao poder" e do "menos congestionado" trafico de influencias e de "fontes de informacao" para os "novos jornais" da praca, e.g. sobre "partes da historia do MPLA", que esse lugar proporciona, ou, especialmente no caso dos "rapazes" e "raparigas" que nunca tiveram forca suficiente para pegarem numa catana ou numa enxada para sairem do conforto das ruas asfaltadas da capital e irem para o campo contribuir para a "resolucao dos problemas do povo", ou a coragem necessaria para pegarem em armas e irem para uma frente de combate defender os "seus ideais", a ilusao de que (tambem) o fizeram... - o que tambem nao e' mais do que buscar "ascensao social" ...o que quer que isso seja ...], continuarao eternamente, ou pelo menos por muito tempo, sem passar das "escadarias da UEA", mesmo que nela consigam entrar e sentar-se, sob o signo dos seus neofitos '7 egos', 'aquela mesa central com o poema "Criar" de Agostinho Neto no background!... E isto servira' especialmente aos que para la' entram com certo tipo de "declaracoes acintosas" como as aqui mencionadas!..."

[Extracto daqui


Thursday 17 May 2012

Sobre o Movimento Estudantil (IV)


 [Salvador Correia/Mutu ya Kevela durante o ME: Nesta foto pode ver-se o Buca - primeiro de pe' do lado esquerdo e o Tirso, estudante da Escola Industrial - terceiro depois do Buca]*


"O Salvador Correia tornou‐se sede de convívio e dos plenários de Luanda. “(…) Os estudantes começaram a despertar para a vida associativa (…) em assembleias muito participadas, com muito entusiasmo (…). Vivia‐se um espaço de democracia pautada pelos intervenientes. Começou a esbater‐se a separação entre liceus e escolas comerciais e industriais. Foi um passo importante para acabar com a discriminação económica e social. E alguns começaram a participar. Por esta altura ou um pouco mais tarde começou a ser visível a africanização da sociedade angolana. Nesse sentido, a Pró‐AEESL decidiu substituir os nomes portugueses dos estabelecimentos de ensino por outros da História de Angola. Assim, o Liceu D. Guiomar de Lencastre, ou Liceu Feminino, passou a chamar‐se N’Zinga M’Bandi, o Liceu Salvador Correia ficou Mutu Ya Kevela, o Liceu Paulo Dias de Novais designou‐se por N’Gola Kiluanji, a Escola Industrial transformou‐se em Bula Matadi e a Comercial Vicente Ferreira ficou 1º de Maio."
[Entrevista a Timóteo Macedo]


[Liceu D. Guiomar de Lencastre/Nzinga Mbandi: novamente o Tirso, no centro, tendo ao seu lado e a sua frente as manas filhas da cantora Lily Tchiumba - com uma delas, a Paula, viria a partilhar algumas aventuras anos depois no eixo Lubango/Namibe; encostada ao pilar a Arlete Bolonhes - ela foi, comigo, uma das duas que representamos as alunas durante algum tempo no Conselho Directivo do Liceu; encontramo-nos nos ultimos anos na Africa do Sul, onde ela reside, tendo uma das ocasioes sido 'reportada' aqui - ela esta' em conversa comigo no canto inferior esquerdo da composicao fotografica]*


“(…) Escolhi o nome de uma rainha angolana. Tinha de ser mulher, a rainha N’Zinga M’Bandi que se tinha distinguido. Eu e outras alunas fomos à fachada do liceu para tentarmos arrancar as letras, mas eram num metal pesado, foi impossível. Depois mudaram e ficou N’Zinga M’Bandi (…)”.

[Entrevista a Maria Adelina Batista]


[foto: Buca Boavida, 1996]

COMENTARIO: Quem "deu" o nome Nzinga Mbandi ao "meu liceu"? Nao creio que tenha sido uma so' pessoa em particular. Mas ainda que assim o tenha sido, o importante naquela altura era nao so' "(re)nomea-lo" mas "faze-lo" Nzinga Mbandi. E quem melhor do que as "meninas de origem Africana" aqui referidas para o fazer? Como aqui afirmei: "O Liceu Feminino Produziu tanto Meninas Guiomares de Lencastres, protegidas na Sala das Professoras… Como Mulheres desprotegidas na Cerca, que o fizeram Nzinga Mbandi"... Porque nao, nao somos, nunca fomos "todas iguais"!

E fizemo-lo (e aqui nao posso deixar de fazer uma mencao especial 'a Mila') em varias frentes: organizando as nossas varias reunioes e RGAs, participando no Conselho Directivo, organizando e participando em actividades politico-culturais e desportivas, fazendo os nossos jornais murais, comecando a cultivar lavras de legumes no quintal traseiro do liceu,
 participando nas campanhas de producao e de alfabetizacao, etc., etc., etc....

Mas, acima de tudo, ficamos la' para o que desse e viesse (... no meu caso mesmo depois de a minha familia mais proxima ter tambem "bazado" para Portugal por razoes ponderosas!...) e, ao contrario do que ja' fui cavilosamente acusada de "nao ter sido capaz de fazer" por uma certa vulta de triste memoria, AGUENTAMOS A (nossa) DIPANDA e, pelo menos no meu caso, AGUENTAMOS ESTOICAMENTE TODAS AS INTEMPERIES DA 'UGGLY AFRIKA'!...


Et pourtant...

 Eramos da "Mocidade Portuguesa"!!!...


*[fotos propriedade da autora deste blog]


 [Salvador Correia/Mutu ya Kevela durante o ME: Nesta foto pode ver-se o Buca - primeiro de pe' do lado esquerdo e o Tirso, estudante da Escola Industrial - terceiro depois do Buca]*


"O Salvador Correia tornou‐se sede de convívio e dos plenários de Luanda. “(…) Os estudantes começaram a despertar para a vida associativa (…) em assembleias muito participadas, com muito entusiasmo (…). Vivia‐se um espaço de democracia pautada pelos intervenientes. Começou a esbater‐se a separação entre liceus e escolas comerciais e industriais. Foi um passo importante para acabar com a discriminação económica e social. E alguns começaram a participar. Por esta altura ou um pouco mais tarde começou a ser visível a africanização da sociedade angolana. Nesse sentido, a Pró‐AEESL decidiu substituir os nomes portugueses dos estabelecimentos de ensino por outros da História de Angola. Assim, o Liceu D. Guiomar de Lencastre, ou Liceu Feminino, passou a chamar‐se N’Zinga M’Bandi, o Liceu Salvador Correia ficou Mutu Ya Kevela, o Liceu Paulo Dias de Novais designou‐se por N’Gola Kiluanji, a Escola Industrial transformou‐se em Bula Matadi e a Comercial Vicente Ferreira ficou 1º de Maio."
[Entrevista a Timóteo Macedo]


[Liceu D. Guiomar de Lencastre/Nzinga Mbandi: novamente o Tirso, no centro, tendo ao seu lado e a sua frente as manas filhas da cantora Lily Tchiumba - com uma delas, a Paula, viria a partilhar algumas aventuras anos depois no eixo Lubango/Namibe; encostada ao pilar a Arlete Bolonhes - ela foi, comigo, uma das duas que representamos as alunas durante algum tempo no Conselho Directivo do Liceu; encontramo-nos nos ultimos anos na Africa do Sul, onde ela reside, tendo uma das ocasioes sido 'reportada' aqui - ela esta' em conversa comigo no canto inferior esquerdo da composicao fotografica]*


“(…) Escolhi o nome de uma rainha angolana. Tinha de ser mulher, a rainha N’Zinga M’Bandi que se tinha distinguido. Eu e outras alunas fomos à fachada do liceu para tentarmos arrancar as letras, mas eram num metal pesado, foi impossível. Depois mudaram e ficou N’Zinga M’Bandi (…)”.

[Entrevista a Maria Adelina Batista]


[foto: Buca Boavida, 1996]

COMENTARIO: Quem "deu" o nome Nzinga Mbandi ao "meu liceu"? Nao creio que tenha sido uma so' pessoa em particular. Mas ainda que assim o tenha sido, o importante naquela altura era nao so' "(re)nomea-lo" mas "faze-lo" Nzinga Mbandi. E quem melhor do que as "meninas de origem Africana" aqui referidas para o fazer? Como aqui afirmei: "O Liceu Feminino Produziu tanto Meninas Guiomares de Lencastres, protegidas na Sala das Professoras… Como Mulheres desprotegidas na Cerca, que o fizeram Nzinga Mbandi"... Porque nao, nao somos, nunca fomos "todas iguais"!

E fizemo-lo (e aqui nao posso deixar de fazer uma mencao especial 'a Mila') em varias frentes: organizando as nossas varias reunioes e RGAs, participando no Conselho Directivo, organizando e participando em actividades politico-culturais e desportivas, fazendo os nossos jornais murais, comecando a cultivar lavras de legumes no quintal traseiro do liceu,
 participando nas campanhas de producao e de alfabetizacao, etc., etc., etc....

Mas, acima de tudo, ficamos la' para o que desse e viesse (... no meu caso mesmo depois de a minha familia mais proxima ter tambem "bazado" para Portugal por razoes ponderosas!...) e, ao contrario do que ja' fui cavilosamente acusada de "nao ter sido capaz de fazer" por uma certa vulta de triste memoria, AGUENTAMOS A (nossa) DIPANDA e, pelo menos no meu caso, AGUENTAMOS ESTOICAMENTE TODAS AS INTEMPERIES DA 'UGGLY AFRIKA'!...


Et pourtant...

 Eramos da "Mocidade Portuguesa"!!!...


*[fotos propriedade da autora deste blog]

Wednesday 16 May 2012

News of The World: When Justice is Served!...


The news brief came through the radio on a charity shop yesterday morning:
“Rebekah Brooks as been charged with subverting the course of justice in the phone hacking scandal”…
A man got closer to the radio and cheered the news while saying to us (the shopkeeper and I): “She’s been charged, well done!” I said, also enthusiastically: “Yes, justice was served!” The man: “Which is not usual!” I: “Yes, but this is one of those cases when it should really work and it did!... And I know the importance of this being as I am facing issues of press intrusion, hacking, defamation, etc., without any hope that justice will ever be done in my case, because it comes from a country where there are no effective laws and when there are, no one bothers about their implementation, especially in this sort of cases…”.
The man: “where are you from”? I: “Angola.” The man: “Oh!... Is the press there foreign-owned”?
I: “Yes, most of the new private press, but since independence all the existing press was state-owned until recently”. We talked a little bit more and then I said: “I really respect your country for showing us all that somewhere in the world justice does exist and can be put to work effectively”! The man: “It’s not my country, but I agree with you, at least as far as this case is concerned”. I asked: “Where are you from?” The man: “New Zealand.” He talked a bit about the press in his country and then we said goodbye with him wishing me: “good luck with your case!”
Of course I said "thank you"! And how I wish that would really happen in my case!...

[More details here]


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(contra) Argumentando no Vazio

The news brief came through the radio on a charity shop yesterday morning:
“Rebekah Brooks as been charged with subverting the course of justice in the phone hacking scandal”…
A man got closer to the radio and cheered the news while saying to us (the shopkeeper and I): “She’s been charged, well done!” I said, also enthusiastically: “Yes, justice was served!” The man: “Which is not usual!” I: “Yes, but this is one of those cases when it should really work and it did!... And I know the importance of this being as I am facing issues of press intrusion, hacking, defamation, etc., without any hope that justice will ever be done in my case, because it comes from a country where there are no effective laws and when there are, no one bothers about their implementation, especially in this sort of cases…”.
The man: “where are you from”? I: “Angola.” The man: “Oh!... Is the press there foreign-owned”?
I: “Yes, most of the new private press, but since independence all the existing press was state-owned until recently”. We talked a little bit more and then I said: “I really respect your country for showing us all that somewhere in the world justice does exist and can be put to work effectively”! The man: “It’s not my country, but I agree with you, at least as far as this case is concerned”. I asked: “Where are you from?” The man: “New Zealand.” He talked a bit about the press in his country and then we said goodbye with him wishing me: “good luck with your case!”
Of course I said "thank you"! And how I wish that would really happen in my case!...

[More details here]


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(contra) Argumentando no Vazio

Tuesday 15 May 2012

“KUDURO, PATRIMÓNIO ANGOLANO PARA A ÁFRICA E O MUNDO”



Kuduru International Conference: 23-25 May, Luanda, Angola 

Comunicado de Imprensa 

A Comissão Organizadora da KIC – Kuduru International Conference dá a conhecer aos órgãos de comunicação social, às instituições nacionais e internacionais e ao público em geral, que tem lugar de 23 a 25 de Maio de 2012, no Nacional Cine-Teatro, em Luanda, o primeiro evento que reúne especialistas e investigadores nacionais e internacionais, para um debate científico sobre o Kuduro. Tem como tema: “KUDURO, PATRIMÓNIO ANGOLANO PARA A ÁFRICA E O MUNDO” e como slogan: “Conhecer para valorizar”. 

O objectivo é incentivar o estudo e a prática performativa do Kuduro, debruçando-se sobre a sua génese, criatividade e inovação, e possibilitar aos estudiosos e praticantes a troca de ideias, conhecimento e informação, em torno deste movimento artístico cultural surgido no início da década de 90. Já confirmaram a sua participação investigadores angolanos e da Alemanha, Austrália, Reino Unido, Estados Unidos, Portugal, França, Ghana e Brasil. Esta conferência internacional vai examinar como os avanços da tecnologia, cidadania global, transacções interculturais e empréstimos tiveram impacto sobre a génese e performance do Kuduro, através de soluções engenhosas baseadas na inovação e criatividade, a partir de diferentes vertentes. 

A abordagem académica é interdisciplinar, centrada em ângulos históricos, musicológicos, da ciência da dança, da linguística e da sociologia. Organizado em painéis temáticos, as comunicações abordarão diversas questões, destacandose as seguintes: História da música popular angolana; Origem e formação do Kuduro; O percurso histórico do Kuduro e contextualizações; A Anatomia de kuduro; Os processos sincréticos envolvidos em culturas musicais do kuduro; O kuduro e os discursos em torno de uma produção musical jovem periférica; O conceito de Karga na dança de kuduro; Música, Socialização e reprodução de identidades no kuduro; As estruturas do imaginário e o kuduro como texto cultural; Áreas de incidência semântica da linguagem da música kuduro; Reflexões à volta da grafia; O kuduro como meio de educação profissional; A internacionalização do kuduro; As danças e músicas urbanas dos jovens afro-descendentes na periferia de Lisboa; Autenticidade e Pedagogia do Kuduro; Kuduro e Lusofonia; Papel do “I Love Kuduro” na divulgação mundial do kuduro. 

Solicita-se a participação de todos, devendo os interessados efectuar a sua inscrição, a partir do dia 15 de Maio de 2012, na Associação Cultural e Recreativa Chá de Caxinde. O projecto foi concebido e é organizado pelo Jornal Dos Negócios, Grupo-Editora Sons e Letras; pelo Centro de Estudos de Teatro da Associação Cultural e Recreativa Chá de Caxinde e pela investigadora Stefanie Alisch, da Iwalewa-Haus, Museu de Arte Contemporânea e Popular Africana da Universidade de Bayreuth (Alemanha), que assume a responsabilidade da publicação das Actas da Conferência. A produção é da responsabilidade da Associação Cultural e Recreativa Chá de Caxinde e da empresa Da Banda Entertainment S,A. Comissão Organizadora da KIC, em Luanda, aos 14 de Maio de 2012 Contactos: E-mail: conferenciasobrekuduro@hotmail.com / www.conferenciakuduro.blogspot.com Facebook: conferenciasobrekuduro 





Press Release 

Kuduro International Conference in Luanda 23rd-25th May 2012 Luanda

First Kuduro International Conference (KIC) to be held in Luanda 23 - 25 May 2012 at the historic Nacional Cine-Teatro. 

The first international academic gathering exclusively dedicated to the popular music genre kuduro joins Angolan and international protagonists and researchers of the genre for a scholarly debate under the guiding theme "KUDURO - ANGOLAN HERITAGE FOR AFRICA AND THE WORLD – Discover to appreciate“. 

KIC aims to encourage the investigation and practice of kuduro as well as reflections on its genesis and creative methods. The conference enables scholars and practitioners to exchange knowledge and analytical readings of this Angolan cultural movement that emerged in the early 1990s. Researchers from Angola, Australia, Brazil, France, Germany, Ghana, Portugal, the United Kingdom and the United States have confirmed their participation. 

KIC aims to examine how technological development, global citizenship and intercultural transactions have impacted the formation and ramifications of kuduro. Interdisciplinary in its approach, KIC brings together historical and musicological approaches, and perspectives from dance science, linguistics and sociology. The papers are organized into thematic panels and will discuss various issues, including the following: The History of Angolan popular music; The origin of Kuduro and its context; The Anatomy of kuduro; Syncretic processes of kuduro's musical cultures, Kuduro and the discourse around young people's musical production in the perifery; The concept of carga in kuduro dance; Music, socializing and playing identities in kuduro; Imaginary structures and kuduro as cultural text; Semantic implications of kuduro's language; Kuduru or Kuduro? Reflections on spelling; Kuduro as a means of professional education; The internationalization of kuduro; Dances and songs of young afro-descendants in the suburbs of Lisbon; Authenticity and pedagogy in Kuduro; Kuduro and the lusophone world; The role of "I Love Kuduro" in worldwide promotion of kuduro. 

Everyone interested in participating the conference is invited to register from May 15, 2012, in Associação Cultural e Recreativa Chá de Caxinde. The project was conceived and organized by the Jornal dos Negócios, Grupo-Editora Sons e Letras; the Centro de Estudos de Teatro da Associação Cultural e Recreativa Chá de Caxinde, and the musicologist Stefanie Alisch of Iwalewa-Haus, Museum of Contemporary African Art (University of Bayreuth, Germany), who will be responsible for the publication of the conference volume. The production is being taken care of by the Associação Cultural e Recreativa Chá de Caxinde and the company Da Banda Entertainment S.A. Organizing Committee of KIC, in Luanda, 2012, 14 of May Contactos: E-mail: conferenciasobrekuduro@hotmail.com / www.conferenciakuduro.blogspot.com Facebook: conferenciasobrekuduro 




Kuduru International Conference: 23-25 May, Luanda, Angola 

Comunicado de Imprensa 

A Comissão Organizadora da KIC – Kuduru International Conference dá a conhecer aos órgãos de comunicação social, às instituições nacionais e internacionais e ao público em geral, que tem lugar de 23 a 25 de Maio de 2012, no Nacional Cine-Teatro, em Luanda, o primeiro evento que reúne especialistas e investigadores nacionais e internacionais, para um debate científico sobre o Kuduro. Tem como tema: “KUDURO, PATRIMÓNIO ANGOLANO PARA A ÁFRICA E O MUNDO” e como slogan: “Conhecer para valorizar”. 

O objectivo é incentivar o estudo e a prática performativa do Kuduro, debruçando-se sobre a sua génese, criatividade e inovação, e possibilitar aos estudiosos e praticantes a troca de ideias, conhecimento e informação, em torno deste movimento artístico cultural surgido no início da década de 90. Já confirmaram a sua participação investigadores angolanos e da Alemanha, Austrália, Reino Unido, Estados Unidos, Portugal, França, Ghana e Brasil. Esta conferência internacional vai examinar como os avanços da tecnologia, cidadania global, transacções interculturais e empréstimos tiveram impacto sobre a génese e performance do Kuduro, através de soluções engenhosas baseadas na inovação e criatividade, a partir de diferentes vertentes. 

A abordagem académica é interdisciplinar, centrada em ângulos históricos, musicológicos, da ciência da dança, da linguística e da sociologia. Organizado em painéis temáticos, as comunicações abordarão diversas questões, destacandose as seguintes: História da música popular angolana; Origem e formação do Kuduro; O percurso histórico do Kuduro e contextualizações; A Anatomia de kuduro; Os processos sincréticos envolvidos em culturas musicais do kuduro; O kuduro e os discursos em torno de uma produção musical jovem periférica; O conceito de Karga na dança de kuduro; Música, Socialização e reprodução de identidades no kuduro; As estruturas do imaginário e o kuduro como texto cultural; Áreas de incidência semântica da linguagem da música kuduro; Reflexões à volta da grafia; O kuduro como meio de educação profissional; A internacionalização do kuduro; As danças e músicas urbanas dos jovens afro-descendentes na periferia de Lisboa; Autenticidade e Pedagogia do Kuduro; Kuduro e Lusofonia; Papel do “I Love Kuduro” na divulgação mundial do kuduro. 

Solicita-se a participação de todos, devendo os interessados efectuar a sua inscrição, a partir do dia 15 de Maio de 2012, na Associação Cultural e Recreativa Chá de Caxinde. O projecto foi concebido e é organizado pelo Jornal Dos Negócios, Grupo-Editora Sons e Letras; pelo Centro de Estudos de Teatro da Associação Cultural e Recreativa Chá de Caxinde e pela investigadora Stefanie Alisch, da Iwalewa-Haus, Museu de Arte Contemporânea e Popular Africana da Universidade de Bayreuth (Alemanha), que assume a responsabilidade da publicação das Actas da Conferência. A produção é da responsabilidade da Associação Cultural e Recreativa Chá de Caxinde e da empresa Da Banda Entertainment S,A. Comissão Organizadora da KIC, em Luanda, aos 14 de Maio de 2012 Contactos: E-mail: conferenciasobrekuduro@hotmail.com / www.conferenciakuduro.blogspot.com Facebook: conferenciasobrekuduro 





Press Release 

Kuduro International Conference in Luanda 23rd-25th May 2012 Luanda

First Kuduro International Conference (KIC) to be held in Luanda 23 - 25 May 2012 at the historic Nacional Cine-Teatro. 

The first international academic gathering exclusively dedicated to the popular music genre kuduro joins Angolan and international protagonists and researchers of the genre for a scholarly debate under the guiding theme "KUDURO - ANGOLAN HERITAGE FOR AFRICA AND THE WORLD – Discover to appreciate“. 

KIC aims to encourage the investigation and practice of kuduro as well as reflections on its genesis and creative methods. The conference enables scholars and practitioners to exchange knowledge and analytical readings of this Angolan cultural movement that emerged in the early 1990s. Researchers from Angola, Australia, Brazil, France, Germany, Ghana, Portugal, the United Kingdom and the United States have confirmed their participation. 

KIC aims to examine how technological development, global citizenship and intercultural transactions have impacted the formation and ramifications of kuduro. Interdisciplinary in its approach, KIC brings together historical and musicological approaches, and perspectives from dance science, linguistics and sociology. The papers are organized into thematic panels and will discuss various issues, including the following: The History of Angolan popular music; The origin of Kuduro and its context; The Anatomy of kuduro; Syncretic processes of kuduro's musical cultures, Kuduro and the discourse around young people's musical production in the perifery; The concept of carga in kuduro dance; Music, socializing and playing identities in kuduro; Imaginary structures and kuduro as cultural text; Semantic implications of kuduro's language; Kuduru or Kuduro? Reflections on spelling; Kuduro as a means of professional education; The internationalization of kuduro; Dances and songs of young afro-descendants in the suburbs of Lisbon; Authenticity and pedagogy in Kuduro; Kuduro and the lusophone world; The role of "I Love Kuduro" in worldwide promotion of kuduro. 

Everyone interested in participating the conference is invited to register from May 15, 2012, in Associação Cultural e Recreativa Chá de Caxinde. The project was conceived and organized by the Jornal dos Negócios, Grupo-Editora Sons e Letras; the Centro de Estudos de Teatro da Associação Cultural e Recreativa Chá de Caxinde, and the musicologist Stefanie Alisch of Iwalewa-Haus, Museum of Contemporary African Art (University of Bayreuth, Germany), who will be responsible for the publication of the conference volume. The production is being taken care of by the Associação Cultural e Recreativa Chá de Caxinde and the company Da Banda Entertainment S.A. Organizing Committee of KIC, in Luanda, 2012, 14 of May Contactos: E-mail: conferenciasobrekuduro@hotmail.com / www.conferenciakuduro.blogspot.com Facebook: conferenciasobrekuduro 


Gil Evans at 100


Gil Evans (May 13, 1912 – March 20, 1988)





See also "An Introduction to Kind of Blue"

Monday 14 May 2012

Sobre o Movimento Estudantil (III)



[Continuacao daqui]

"Duas manifestações de alunos calcorrearam as ruas de Luanda a 23 de Abril de 1975, uma de apoio e outra de repúdio à greve do Secundário. Terminaram no Palácio do Governo, com os representantes recebidos por membros do Executivo. A primeira manifestação, às 11 h, reuniu simpatizantes de Jerónimo Wanga, com cartazes «não à greve», «queremos aulas», «viva o Ministro da Educação». Decorreu normalmente.
A segunda manifestação, promovida pela Pro-AEESL, começou ao início da tarde, e contou com universitários. A imprensa do MPLA referia-se a 5 mil manifestantes. Os alunos partiram do Liceu Feminino e foram a entoar palavras de ordem até ao palácio: «por um ensino popular», «os estudantes ao lado do povo trabalhador», «quem oprime não liberta, quem liberta não oprime», «manobras da reacção, os estudantes dizem não». Na sede do governo realizaram um comício, enquanto aguardavam a delegação que fora entregar as reivindicações. A Pro-AEUL referiu que a comissão esperou no palácio duas horas para ser recebida, e foi alvo de “gestos de ameaça e gozo” por parte do Secretário de Estado do Interior, eng. Vahakeni. Às 18 h, para o arrear da bandeira, estudantes da comissão vieram à varanda pedir para a
manifestação recuar, mas o megafone funcionava mal, os de trás não compreenderam
a mensagem. Foi então que a Polícia Militar empurrou a multidão e começou à “brutal
cacetada”. Gerou‐se o pânico, alguns estudantes foram agredidos, outros entraram em confonto. Os polícias dispararam para o ar, obrigando a uma “precipitada debandada geral”, com quedas e atropelos. A PM feriu estudantes à cacetada e à coronhada."

Entrevista a Pedro Guerra em 25/1/2011. Em 1975 tinha 17 anos, frequentava o 7º ano no Liceu Paulo Dias de Novais, onde pertencia a um grupo de teatro que lhe deu alguma consciência política, antes do 25 de Abril. Foi líder da Pro‐AEESL, e militante dos CAC, da “célula” do Liceu Feminino.

COMENTARIO: Lembro-me bem da segunda manifestacao, em que participei. E tambem de quando descemos a calcada do palacio em fuga, ca’ em baixo eu ter olhado para tras e, se a memoria nao me prega partidas, ter visto a Nani Pereira e o Ricardo de Mello de maos dadas a correr atras de mim…
Por aqueles dias os “confrontos” das manifestacoes viviam-se tambem em minha casa, porque a minha mae, funcionaria do Ministerio da Educacao, exercia na altura as funcoes de Secretaria do Ministro Jeronimo Wanga – um dia ela deu-me um par de estalos porque eu tinha dado uma “resposta torta” ao que ela dizia pelo meio das excitadas discussoes que tinhamos sobre as manifestacoes, a greve e o movimento estudantil em geral: “Ha’ que respeita-lo independentemente da politica, porque ele e’ uma pessoa culta e educada!”

"A Cimeira de Nakuru, entre 16 e 21 de Junho de 1975, foi uma encenação dos presidentes dos 3 movimentos. O fracasso ficou demonstrado nos combates que se seguiram. Nestas circunstâncias o programa para os exames foi afectado e aberta nova oportunidade. E com os exames vieram os seus contestatários. Piquetes de alunos e professores mobilizaram‐se para dissuadirem os fura‐greves. Mas as provas realizaram‐se em colégios particulares – D. Moisés Alves de Pinho, D. João II, Viriato, Cristo Rei, Bom Saber, Alexandre Herculano, Universal, José Régio, Santo Condestável, S. José de Cluny e Vasco da Gama. Nos dois últimos houve manifestações. No Colégio S. José de Cluny os exames foram suspensos no dia 24 de Junho 1975, após intervenção da Polícia Militar, que disparou para o ar (segundo a imprensa), contra um grupo desarmado (segundo os professores). Outro incidente envolveu a pistola com que uma funcionária do colégio ameaçou os grevistas. Houve um segundo episódio com disparos. Estudantes feridos à coronhada receberam tratamento hospitalar."

COMENTARIO: Lembro-me tambem perfeitamente bem do boicote aos exames e da "berrida" que levamos da Policia Militar no S. José de Cluny. Na primeira lembro-me de ter fugido pela calcada a baixo e de as minhas 'socas' de madeira se terem rachado pelo caminho. Na segunda, alguns de nos fomos parar ao apartamento da mae do Tirso (num predio no Kinaxixe que ficava em frente aquele em que eu viria a ter o meu kubiko ke me kassumbularam kum ele) de onde ele se pos a telefonar para hospitais pedindo socorro para atender aos que tinham ficado feridos. 

 


[Continuacao daqui]

"Duas manifestações de alunos calcorrearam as ruas de Luanda a 23 de Abril de 1975, uma de apoio e outra de repúdio à greve do Secundário. Terminaram no Palácio do Governo, com os representantes recebidos por membros do Executivo. A primeira manifestação, às 11 h, reuniu simpatizantes de Jerónimo Wanga, com cartazes «não à greve», «queremos aulas», «viva o Ministro da Educação». Decorreu normalmente.
A segunda manifestação, promovida pela Pro-AEESL, começou ao início da tarde, e contou com universitários. A imprensa do MPLA referia-se a 5 mil manifestantes. Os alunos partiram do Liceu Feminino e foram a entoar palavras de ordem até ao palácio: «por um ensino popular», «os estudantes ao lado do povo trabalhador», «quem oprime não liberta, quem liberta não oprime», «manobras da reacção, os estudantes dizem não». Na sede do governo realizaram um comício, enquanto aguardavam a delegação que fora entregar as reivindicações. A Pro-AEUL referiu que a comissão esperou no palácio duas horas para ser recebida, e foi alvo de “gestos de ameaça e gozo” por parte do Secretário de Estado do Interior, eng. Vahakeni. Às 18 h, para o arrear da bandeira, estudantes da comissão vieram à varanda pedir para a
manifestação recuar, mas o megafone funcionava mal, os de trás não compreenderam
a mensagem. Foi então que a Polícia Militar empurrou a multidão e começou à “brutal
cacetada”. Gerou‐se o pânico, alguns estudantes foram agredidos, outros entraram em confonto. Os polícias dispararam para o ar, obrigando a uma “precipitada debandada geral”, com quedas e atropelos. A PM feriu estudantes à cacetada e à coronhada."

Entrevista a Pedro Guerra em 25/1/2011. Em 1975 tinha 17 anos, frequentava o 7º ano no Liceu Paulo Dias de Novais, onde pertencia a um grupo de teatro que lhe deu alguma consciência política, antes do 25 de Abril. Foi líder da Pro‐AEESL, e militante dos CAC, da “célula” do Liceu Feminino.

COMENTARIO: Lembro-me bem da segunda manifestacao, em que participei. E tambem de quando descemos a calcada do palacio em fuga, ca’ em baixo eu ter olhado para tras e, se a memoria nao me prega partidas, ter visto a Nani Pereira e o Ricardo de Mello de maos dadas a correr atras de mim…
Por aqueles dias os “confrontos” das manifestacoes viviam-se tambem em minha casa, porque a minha mae, funcionaria do Ministerio da Educacao, exercia na altura as funcoes de Secretaria do Ministro Jeronimo Wanga – um dia ela deu-me um par de estalos porque eu tinha dado uma “resposta torta” ao que ela dizia pelo meio das excitadas discussoes que tinhamos sobre as manifestacoes, a greve e o movimento estudantil em geral: “Ha’ que respeita-lo independentemente da politica, porque ele e’ uma pessoa culta e educada!”

"A Cimeira de Nakuru, entre 16 e 21 de Junho de 1975, foi uma encenação dos presidentes dos 3 movimentos. O fracasso ficou demonstrado nos combates que se seguiram. Nestas circunstâncias o programa para os exames foi afectado e aberta nova oportunidade. E com os exames vieram os seus contestatários. Piquetes de alunos e professores mobilizaram‐se para dissuadirem os fura‐greves. Mas as provas realizaram‐se em colégios particulares – D. Moisés Alves de Pinho, D. João II, Viriato, Cristo Rei, Bom Saber, Alexandre Herculano, Universal, José Régio, Santo Condestável, S. José de Cluny e Vasco da Gama. Nos dois últimos houve manifestações. No Colégio S. José de Cluny os exames foram suspensos no dia 24 de Junho 1975, após intervenção da Polícia Militar, que disparou para o ar (segundo a imprensa), contra um grupo desarmado (segundo os professores). Outro incidente envolveu a pistola com que uma funcionária do colégio ameaçou os grevistas. Houve um segundo episódio com disparos. Estudantes feridos à coronhada receberam tratamento hospitalar."

COMENTARIO: Lembro-me tambem perfeitamente bem do boicote aos exames e da "berrida" que levamos da Policia Militar no S. José de Cluny. Na primeira lembro-me de ter fugido pela calcada a baixo e de as minhas 'socas' de madeira se terem rachado pelo caminho. Na segunda, alguns de nos fomos parar ao apartamento da mae do Tirso (num predio no Kinaxixe que ficava em frente aquele em que eu viria a ter o meu kubiko ke me kassumbularam kum ele) de onde ele se pos a telefonar para hospitais pedindo socorro para atender aos que tinham ficado feridos. 

 

Sunday 13 May 2012

Gostei de Ler [8]*







Carta ao Director

UM REPARO

«Há trinta e oito anos, numa atmosfera de grande efervescência política, o 1º de Maio de 1974, que deveria ser celebrado pela primeira vez em Angola após 500 anos de colonização portuguesa como Dia Internacional dos Trabalhadores, foi brutalmente reprimido em Luanda pelas autoridades então detentoras do poder…» escreveu-se no editorial do nº 224 do Jornal Novo, repetindo o que historiadores portugueses declaram ter escutado recentemente da boca de intelectual angolano com responsabilidades na área da cultura.

Pelo muito respeito que me merece o Jornal Novo, permitam que faça um reparo à utilização deste argumento da propaganda do Estado Novo, quando este procurava fundamentar o direito histórico de permanecer nas colónias e, simultaneamente, legitimar a guerra em sua defesa. Com efeito, a ocupação efectiva de Angola foi, durante séculos, muito limitada. Ainda em meados do século XIX, esta ocupação se reduzia a uma estreita faixa costeira de 80 a 130 quilómetros de largura média, sem limites definidos para o interior. No Norte, o território ocupado alargava-se um tanto, abrangendo as duas margens do Zaire até à actual Matadi. No Sul, a sueste de Benguela, a soberania portuguesa alcançava Caconda, uns 240 quilómetros a oriente do mar. A própria linha costeira só se conhecia com pormenor até Benguela.

Quanto ao número de portugueses em Angola, já em 1911, não ia além das 12 mil pessoas. E nessa altura, a única cidade digna desse nome era Luanda. Não tem, pois, sentido falar de «500 anos de ocupação colonial». É facto, que Portugal foi pioneiro no contacto com as populações da costa angolana, contactos que remontam ao século XV. E que os portugueses foram criando feitorias na costa, vocacionadas para o tráfico de ouro, de marfim e de escravos (actividade de responsabilidade partilhada entre portugueses negreiros, chefes africanos escravistas e uma elite crioula de intermediários).

De maneira que a ocupação efectiva só começou depois da Conferência de Berlim (1884- 1885), cujo Acto Geral, ao substituir os direitos históricos, forçou a um esforço rápido e praticamente impossível de envio de tropas e de funcionários civis para todas as áreas que Portugal pretendia suas. Envolvendo o país, nas últimas décadas do século XIX e nas primeiras do século XX, nas chamadas guerras de «pacificação». E assim, só nas décadas de 40 e 50 do século XX é que Angola adquiriu os contornos que muitos ainda conhecemos: quando era habitada por algumas centenas de milhar de portugueses. De modo que a presença efectiva de Portugal em Angola não terá excedido umas décadas.

Em conclusão. Os «500 anos de ocupação» foram falsidade colonialista que, de tão repetida, continuamos a dar por boa.

Dalila Cabrita Mateus

[in Novo Jornal, edicao #225]


[*] Apenas porque essa e' uma questao ja' bastante discutida neste blog - e.g., vejam-se os comentarios a este post e a este. Gostaria apenas de acrescentar uma observacao: do meu ponto de vista, tal como o argumento dos "500 anos" foi instrumental para a propaganda colonialista do Estado Novo, ele e' actualmente instrumental para a justificacao da "recolonizacao" e da "politica linguistica e cultural" do Estado Angolano desde a Independencia...



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UM REPARO

«Há trinta e oito anos, numa atmosfera de grande efervescência política, o 1º de Maio de 1974, que deveria ser celebrado pela primeira vez em Angola após 500 anos de colonização portuguesa como Dia Internacional dos Trabalhadores, foi brutalmente reprimido em Luanda pelas autoridades então detentoras do poder…» escreveu-se no editorial do nº 224 do Jornal Novo, repetindo o que historiadores portugueses declaram ter escutado recentemente da boca de intelectual angolano com responsabilidades na área da cultura.

Pelo muito respeito que me merece o Jornal Novo, permitam que faça um reparo à utilização deste argumento da propaganda do Estado Novo, quando este procurava fundamentar o direito histórico de permanecer nas colónias e, simultaneamente, legitimar a guerra em sua defesa. Com efeito, a ocupação efectiva de Angola foi, durante séculos, muito limitada. Ainda em meados do século XIX, esta ocupação se reduzia a uma estreita faixa costeira de 80 a 130 quilómetros de largura média, sem limites definidos para o interior. No Norte, o território ocupado alargava-se um tanto, abrangendo as duas margens do Zaire até à actual Matadi. No Sul, a sueste de Benguela, a soberania portuguesa alcançava Caconda, uns 240 quilómetros a oriente do mar. A própria linha costeira só se conhecia com pormenor até Benguela.

Quanto ao número de portugueses em Angola, já em 1911, não ia além das 12 mil pessoas. E nessa altura, a única cidade digna desse nome era Luanda. Não tem, pois, sentido falar de «500 anos de ocupação colonial». É facto, que Portugal foi pioneiro no contacto com as populações da costa angolana, contactos que remontam ao século XV. E que os portugueses foram criando feitorias na costa, vocacionadas para o tráfico de ouro, de marfim e de escravos (actividade de responsabilidade partilhada entre portugueses negreiros, chefes africanos escravistas e uma elite crioula de intermediários).

De maneira que a ocupação efectiva só começou depois da Conferência de Berlim (1884- 1885), cujo Acto Geral, ao substituir os direitos históricos, forçou a um esforço rápido e praticamente impossível de envio de tropas e de funcionários civis para todas as áreas que Portugal pretendia suas. Envolvendo o país, nas últimas décadas do século XIX e nas primeiras do século XX, nas chamadas guerras de «pacificação». E assim, só nas décadas de 40 e 50 do século XX é que Angola adquiriu os contornos que muitos ainda conhecemos: quando era habitada por algumas centenas de milhar de portugueses. De modo que a presença efectiva de Portugal em Angola não terá excedido umas décadas.

Em conclusão. Os «500 anos de ocupação» foram falsidade colonialista que, de tão repetida, continuamos a dar por boa.

Dalila Cabrita Mateus

[in Novo Jornal, edicao #225]


[*] Apenas porque essa e' uma questao ja' bastante discutida neste blog - e.g., vejam-se os comentarios a este post e a este. Gostaria apenas de acrescentar uma observacao: do meu ponto de vista, tal como o argumento dos "500 anos" foi instrumental para a propaganda colonialista do Estado Novo, ele e' actualmente instrumental para a justificacao da "recolonizacao" e da "politica linguistica e cultural" do Estado Angolano desde a Independencia...



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Saturday 12 May 2012

Sobre o Movimento Estudantil (II)


[Continuacao daqui]


"A Pró‐AEESL tinha decidido fazer o seu «quartel‐general» no Liceu Feminino, que
ficava no coração da zona das escolas. Mas a Reitora via isso com maus olhos."

“(…) No Liceu Feminino existia um grupo restrito de alunas negras e mestiças da aristocracia angolana, a frequentar os últimos anos do Secundário – das famílias Van Dúnem, Espírito Santo e Mingas, entre outras –, e nos anos mais abaixo não havia muitas mais, embora já tivesse chegado aos dois primeiros anos do liceu uma vaga de alunos africanos de ascendência mais pobre. Havia uma espécie de separação rácica (…). Por exemplo, numa série de turmas correspondentes ao actual 8º ano, as alunas da turma A tinham 13 anos, eram normalmente brancas. As alunas da turma B tinham 13 anos mais um bocadinho, e já havia uma ou outra aluna negra. Quando se chegava à turma H eram quase todas negras. Não havia uma separação por raças, mas por idades. Coincidia. Tive alunas com dificuldades de horários, de dinheiro, de alimentação. As alunas negras viviam no muceque, estudavam a petróleo, quando chegavam a casa ainda tinham de ajudar a mãe a lavar a roupa e a fazer comida. Tinham uma vida diferente, com menos possibilidades à partida (…)”.

 Entrevista à Reitora do Liceu Feminino, Darcília Salgado Zenha M. Correia, em 31/10/2010.

COMENTARIO: Esta passagem corresponde 'grosso modo' a descricao que fiz aqui e aqui das divisoes e sub-divisoes existentes no "Meu Liceu". Nao posso, no entanto, subscrever a generalizacao e estereotipificacao (?) que se faz do 'modus vivendi' das alunas negras nas duas ultimas frases: no meu caso concreto, sendo embora da ultima geracao que frequentou aquele liceu antes do periodo 1974/75 (sendo que, quando eu entrei em 72/73, ja' la' estava a minha irma mais velha, Elisa Santana, que fez todo o segundo ciclo e o complementar no Liceu Feminino, encontrando-se portanto no grupo das que estavam a frequentar os ultimos anos do secundario) e pertencesse a uma familia que, a varios titulos, poderia ser considerada "pobre (mas honesta e honrada)" nao me lembro de ter estudado a petroleo e, quanto ao resto, algumas das passagens deste post e deste talvez ajudem a elucidar algumas 'outras' "diferencas reais ou imaginarias"...

“Algumas docentes do Liceu Feminino evitavam ficar com as turmas destas alunas, detentoras de uma Cultura e Línguas distintas. Mas havia quem fizesse questão de as substituir, como a professora Aida Freudenthal. “(…) As meninas de origem Africana tinham começado a escolaridade mais tarde, tinham problemas de aproveitamento escolar, chumbavam mais. Talvez fossem 4 turmas em cada 10 ou 15. As dificuldades eram óbvias, em especial em Português. Não quer dizer que as brancas não tivessem dificuldades, que as tinham (…)”.

Entrevista a Aida Freudenthal em 10/11/2010. Investigadora em História de Angola. Nasceu em Moçambique, tirou Letras em Lisboa. Nos anos 60 foi do grupo de estudantes próximos do MPLA (a última geração da Casa dos Estudantes do Império). Participou na luta académica de 1962, ainda passou pela PIDE. Em 1965 foi para Angola, e ficou a dar aulas no Liceu Feminino. Esteve no gabinete da Educação do Governo de Transição, em 1975.

COMENTARIO: Mais uma vez, por razoes que daqui se podem aduzir, nao posso subscrever totalmente essa generalizacao do aproveitamento escolar das "meninas de origem Africana"... Mas "apraz-me" notar que, "afinale", sempre "vinhamos" de "Cultura e Linguas distintas"!... o que me remete para esta "outra narrativa"!...


As alunas do Liceu Feminino insurgiram-se contra as regras da casa. No encontro de 30 de Maio de 1974 reclamaram a abolição do regulamento interno e um novo tipo de relacionamento entre professoras e alunas. “(…) Reinava a ditadura. Nós não tínhamos voto na matéria. Havia que chegar a acordo com os professores. Queríamos abolir as batas, que usávamos quase abaixo do joelho, queríamos a abertura da zona das árvores de fruto (…), queriamos organizar actividades culturais (…)”. As primeiras reivindicações cedo passaram a outras atitudes. “(…) A primeira grande manifestação nos corredores do Liceu Feminino foi a propósito do caso entre uma professora indiana e uma aluna negra. Passou-se algo a nível disciplinar, sem importância. Mas usámos isso como pretexto para nos manifestarmos. A professora foi enxovalhada por nós. Movimentámos o liceu inteirinho a apupar a mulher, dizendo que era racista, e que tinha tratado mal a aluna porque era negra. Enchemos o liceu de comunicados contra a professora (…).”

Entrevista a Maria Adelina Batista em 20/1/2011. Nasceu em Coimbra, foi para Angola com 3 anos. Nesta altura tinha 17 anos, frequentava o 7º ano no Liceu Feminino. Era activista da Pro-AEESL. 

COMENTARIO: Nao me lembro especificamente dessa "primeira grande manifestacao nos corredores do Liceu Feminino" (talvez porque, embora nao se diga a data em que ocorreu tal manifestacao, eu perdi parte do ME no periodo entre Junho e Setembro de 1974, em que, com a minha mae e irmas tinhamos estado de 'ferias graciosas' em Portugal). Lembro-me, no entanto, de um episodio similar, envolvendo um professor de origem Cabo-Verdiana e uma aluna Negra: ele tinha esbofeteado a aluna em plena sala de aula e, ai sim, lembro-me da manisfestacao da nossa indignacao pelos corredores do Liceu e nao so' em solidariedade para com a nossa colega!... 



[Continuacao daqui]


"A Pró‐AEESL tinha decidido fazer o seu «quartel‐general» no Liceu Feminino, que
ficava no coração da zona das escolas. Mas a Reitora via isso com maus olhos."

“(…) No Liceu Feminino existia um grupo restrito de alunas negras e mestiças da aristocracia angolana, a frequentar os últimos anos do Secundário – das famílias Van Dúnem, Espírito Santo e Mingas, entre outras –, e nos anos mais abaixo não havia muitas mais, embora já tivesse chegado aos dois primeiros anos do liceu uma vaga de alunos africanos de ascendência mais pobre. Havia uma espécie de separação rácica (…). Por exemplo, numa série de turmas correspondentes ao actual 8º ano, as alunas da turma A tinham 13 anos, eram normalmente brancas. As alunas da turma B tinham 13 anos mais um bocadinho, e já havia uma ou outra aluna negra. Quando se chegava à turma H eram quase todas negras. Não havia uma separação por raças, mas por idades. Coincidia. Tive alunas com dificuldades de horários, de dinheiro, de alimentação. As alunas negras viviam no muceque, estudavam a petróleo, quando chegavam a casa ainda tinham de ajudar a mãe a lavar a roupa e a fazer comida. Tinham uma vida diferente, com menos possibilidades à partida (…)”.

 Entrevista à Reitora do Liceu Feminino, Darcília Salgado Zenha M. Correia, em 31/10/2010.

COMENTARIO: Esta passagem corresponde 'grosso modo' a descricao que fiz aqui e aqui das divisoes e sub-divisoes existentes no "Meu Liceu". Nao posso, no entanto, subscrever a generalizacao e estereotipificacao (?) que se faz do 'modus vivendi' das alunas negras nas duas ultimas frases: no meu caso concreto, sendo embora da ultima geracao que frequentou aquele liceu antes do periodo 1974/75 (sendo que, quando eu entrei em 72/73, ja' la' estava a minha irma mais velha, Elisa Santana, que fez todo o segundo ciclo e o complementar no Liceu Feminino, encontrando-se portanto no grupo das que estavam a frequentar os ultimos anos do secundario) e pertencesse a uma familia que, a varios titulos, poderia ser considerada "pobre (mas honesta e honrada)" nao me lembro de ter estudado a petroleo e, quanto ao resto, algumas das passagens deste post e deste talvez ajudem a elucidar algumas 'outras' "diferencas reais ou imaginarias"...

“Algumas docentes do Liceu Feminino evitavam ficar com as turmas destas alunas, detentoras de uma Cultura e Línguas distintas. Mas havia quem fizesse questão de as substituir, como a professora Aida Freudenthal. “(…) As meninas de origem Africana tinham começado a escolaridade mais tarde, tinham problemas de aproveitamento escolar, chumbavam mais. Talvez fossem 4 turmas em cada 10 ou 15. As dificuldades eram óbvias, em especial em Português. Não quer dizer que as brancas não tivessem dificuldades, que as tinham (…)”.

Entrevista a Aida Freudenthal em 10/11/2010. Investigadora em História de Angola. Nasceu em Moçambique, tirou Letras em Lisboa. Nos anos 60 foi do grupo de estudantes próximos do MPLA (a última geração da Casa dos Estudantes do Império). Participou na luta académica de 1962, ainda passou pela PIDE. Em 1965 foi para Angola, e ficou a dar aulas no Liceu Feminino. Esteve no gabinete da Educação do Governo de Transição, em 1975.

COMENTARIO: Mais uma vez, por razoes que daqui se podem aduzir, nao posso subscrever totalmente essa generalizacao do aproveitamento escolar das "meninas de origem Africana"... Mas "apraz-me" notar que, "afinale", sempre "vinhamos" de "Cultura e Linguas distintas"!... o que me remete para esta "outra narrativa"!...


As alunas do Liceu Feminino insurgiram-se contra as regras da casa. No encontro de 30 de Maio de 1974 reclamaram a abolição do regulamento interno e um novo tipo de relacionamento entre professoras e alunas. “(…) Reinava a ditadura. Nós não tínhamos voto na matéria. Havia que chegar a acordo com os professores. Queríamos abolir as batas, que usávamos quase abaixo do joelho, queríamos a abertura da zona das árvores de fruto (…), queriamos organizar actividades culturais (…)”. As primeiras reivindicações cedo passaram a outras atitudes. “(…) A primeira grande manifestação nos corredores do Liceu Feminino foi a propósito do caso entre uma professora indiana e uma aluna negra. Passou-se algo a nível disciplinar, sem importância. Mas usámos isso como pretexto para nos manifestarmos. A professora foi enxovalhada por nós. Movimentámos o liceu inteirinho a apupar a mulher, dizendo que era racista, e que tinha tratado mal a aluna porque era negra. Enchemos o liceu de comunicados contra a professora (…).”

Entrevista a Maria Adelina Batista em 20/1/2011. Nasceu em Coimbra, foi para Angola com 3 anos. Nesta altura tinha 17 anos, frequentava o 7º ano no Liceu Feminino. Era activista da Pro-AEESL. 

COMENTARIO: Nao me lembro especificamente dessa "primeira grande manifestacao nos corredores do Liceu Feminino" (talvez porque, embora nao se diga a data em que ocorreu tal manifestacao, eu perdi parte do ME no periodo entre Junho e Setembro de 1974, em que, com a minha mae e irmas tinhamos estado de 'ferias graciosas' em Portugal). Lembro-me, no entanto, de um episodio similar, envolvendo um professor de origem Cabo-Verdiana e uma aluna Negra: ele tinha esbofeteado a aluna em plena sala de aula e, ai sim, lembro-me da manisfestacao da nossa indignacao pelos corredores do Liceu e nao so' em solidariedade para com a nossa colega!... 


Thursday 10 May 2012

Sobre o Movimento Estudantil (I)


Este livro, recentemente publicado, baseado numa Dissertacao de Mestrado sobre o tema por Leonor Figueiredo, trata, como o seu titulo indica, do Movimento Associativo Estudantil de 1974/75 em Luanda.  Da dissertacao (que pode ser acessada aqui), extrai algumas passagens, sobre as quais pretendo fazer aqui alguns breves comentarios nos proximos posts. 

Neste primeiro apontamento, destaco duas passagens em que sao referidos aqueles que, naquele movimento e "seus arredores", me sao, ou eram, mais proximos, ou com quem lidei mais de perto: Teresa Santana - minha irma (mencionada aqui) e Waldemar Parreira, seu ex-marido (mencionado aqui e aqui), nao podendo deixar de mencionar especialmente o facto de a mencao 'a minha irma ser feita pelo Timoteo Macedo, outra pessoa relativamente proxima e que, desde aquela altura, apenas recentemente vim a "reencontrar" no Facebook:

Nos liceus, as forças em confronto estavam identificadas. A mais forte, embora
pudesse não ser a mais numerosa, era a Pro‐AEESL (contestatária, mais radical do que
o próprio MPLA), que extremava práticas e discursos, valendo‐se da dicotomia –
“reaccionários” (os nao‐MPLA) versus “revolucionários” (os MPLA), entre os quais se
incluía. Mas “a Pró”, como era chamada, defrontava‐se no terreno com os Grupos de
Trabalho, seus rivais, que tinham sido criados no Liceu Feminino, no Liceu Salvador
Correia e no Liceu Paulo Dias de Novais, embora fossem independentes uns dos
outros, que aglutinavam alunos próximos da UNITA, FNLA ou rivais da Pro‐AEESL. A
eles se associavam, normalmente, as direcções dos estabelecimentos de ensino e os
professores que não faziam parte do grupo de docentes sindicalistas pro‐MPLA. Uma
terceira força, de que pouco se sabe, juntava alunos de esquerda, do MPLA ou não,
que ganharam eleições nos seus estabelecimentos de ensino.


Um dos líderes do Liceu Salvador Correia, Valdemar Parreira, que desde o início esteve no Movimento Estudantil, distanciou-se dos que formaram a Pro-AEESL, para se integrar na Associação dos Estudantes do Liceu Salvador Correia, trabalhou para que o mesmo acontecesse no Liceu Paulo Dias. “(…) A Pro-AEESL tentou politizar o ME e este fragmentou-se. Os que estavam contra a Pro-AEESL fundaram outras associações. Foi o que eu fiz, com o Pedro Pinto e o Quintas. Eu já estava integrado no MPLA, mas a associação, não (…)”.

[Entrevista a Valdemar Parreira, a 3 de Julho de 2011. Era aluno do 7º ano do Salvador Correia. Pertenceu mais tarde à OCA, foi preso pelo MPLA entre 1976 e 1979]

Um dos militantes OCA que se manteve até à última na Pro-AEESL recorda como foi extinta. “(…) Havia muita pressão para aderirmos à JMPLA. (…) Como queríamos ficar independentes, a JMPLA decidiu extinguir-nos. Eu e a Teresa Santana (Teca), éramos os que sobrávamos dos dirigentes, porque foram saindo para Portugal, e outros líderes associativos tinham sido presos. Fomos chamados às instalações da JMPLA, num clima de intimidação, com ameaças. Argumentavam, «vocês têm de ser do Mpla!», «ou são do Mpla ou são anti-Mpla». Não podíamos ser uma estrutura independente. Havia este autoritarismo político. A pro-AEESL foi extinta assim. Eu e Teresa Santana tivemos a coragem de ir lá um dia à noite, em finais de 1976. Eles declararam que a pro-AEESL deixava de existir e a JMPLA é que ia fundar uma associação. E ponto final (…)”

[Entrevista a Timóteo Macedo em 27/1/2011. Tinha nesta altura 19 anos, era aluno da Escola
Industrial. Militante dos CAC antes do 25 de Abril, foi activista do Movimento Estudantil, e mais tarde
pertenceu à OCA. Foi preso pelo MPLA entre Janeiro de 1978 e Julho de 1979]


N.B.: Como militante da JMPLA na altura (como o notei aqui) nao posso, infelizmente, corroborar as afirmacoes do Timoteo - e nao: nao em qualquer tipo de "self-defense" ou "denial". Trata-se apenas do facto de que muita coisa se passou naquele conturbado periodo e nem tudo e' suficientemente conhecido de todos. De minha parte, a unica coisa de que nao tenho quaisquer duvidas e' que, desde aquela altura, passei a ser acusada falsa e injustamente, por elementos da Pro-AEESL mais ligados a outros agrupamentos politicos como a OCA e os CAC, de ser "servidora do poder" e ate'... "agente da DISA" (!) apenas por pertencer a JMPLA e, especialmente, a sua Seccao de Enquadramento e Direccao das Massas Estudantis (SEDME), numa fase em que o Movimento Estudantil de 1974/75 em si mesmo ja' se tinha praticamente auto-extinto, pelas mais variadas razoes. E isso continua a afectar negativamente a minha vida, como aqui se pode constatar... Infelizmente!


Este livro, recentemente publicado, baseado numa Dissertacao de Mestrado sobre o tema por Leonor Figueiredo, trata, como o seu titulo indica, do Movimento Associativo Estudantil de 1974/75 em Luanda.  Da dissertacao (que pode ser acessada aqui), extrai algumas passagens, sobre as quais pretendo fazer aqui alguns breves comentarios nos proximos posts. 

Neste primeiro apontamento, destaco duas passagens em que sao referidos aqueles que, naquele movimento e "seus arredores", me sao, ou eram, mais proximos, ou com quem lidei mais de perto: Teresa Santana - minha irma (mencionada aqui) e Waldemar Parreira, seu ex-marido (mencionado aqui e aqui), nao podendo deixar de mencionar especialmente o facto de a mencao 'a minha irma ser feita pelo Timoteo Macedo, outra pessoa relativamente proxima e que, desde aquela altura, apenas recentemente vim a "reencontrar" no Facebook:

Nos liceus, as forças em confronto estavam identificadas. A mais forte, embora
pudesse não ser a mais numerosa, era a Pro‐AEESL (contestatária, mais radical do que
o próprio MPLA), que extremava práticas e discursos, valendo‐se da dicotomia –
“reaccionários” (os nao‐MPLA) versus “revolucionários” (os MPLA), entre os quais se
incluía. Mas “a Pró”, como era chamada, defrontava‐se no terreno com os Grupos de
Trabalho, seus rivais, que tinham sido criados no Liceu Feminino, no Liceu Salvador
Correia e no Liceu Paulo Dias de Novais, embora fossem independentes uns dos
outros, que aglutinavam alunos próximos da UNITA, FNLA ou rivais da Pro‐AEESL. A
eles se associavam, normalmente, as direcções dos estabelecimentos de ensino e os
professores que não faziam parte do grupo de docentes sindicalistas pro‐MPLA. Uma
terceira força, de que pouco se sabe, juntava alunos de esquerda, do MPLA ou não,
que ganharam eleições nos seus estabelecimentos de ensino.


Um dos líderes do Liceu Salvador Correia, Valdemar Parreira, que desde o início esteve no Movimento Estudantil, distanciou-se dos que formaram a Pro-AEESL, para se integrar na Associação dos Estudantes do Liceu Salvador Correia, trabalhou para que o mesmo acontecesse no Liceu Paulo Dias. “(…) A Pro-AEESL tentou politizar o ME e este fragmentou-se. Os que estavam contra a Pro-AEESL fundaram outras associações. Foi o que eu fiz, com o Pedro Pinto e o Quintas. Eu já estava integrado no MPLA, mas a associação, não (…)”.

[Entrevista a Valdemar Parreira, a 3 de Julho de 2011. Era aluno do 7º ano do Salvador Correia. Pertenceu mais tarde à OCA, foi preso pelo MPLA entre 1976 e 1979]

Um dos militantes OCA que se manteve até à última na Pro-AEESL recorda como foi extinta. “(…) Havia muita pressão para aderirmos à JMPLA. (…) Como queríamos ficar independentes, a JMPLA decidiu extinguir-nos. Eu e a Teresa Santana (Teca), éramos os que sobrávamos dos dirigentes, porque foram saindo para Portugal, e outros líderes associativos tinham sido presos. Fomos chamados às instalações da JMPLA, num clima de intimidação, com ameaças. Argumentavam, «vocês têm de ser do Mpla!», «ou são do Mpla ou são anti-Mpla». Não podíamos ser uma estrutura independente. Havia este autoritarismo político. A pro-AEESL foi extinta assim. Eu e Teresa Santana tivemos a coragem de ir lá um dia à noite, em finais de 1976. Eles declararam que a pro-AEESL deixava de existir e a JMPLA é que ia fundar uma associação. E ponto final (…)”

[Entrevista a Timóteo Macedo em 27/1/2011. Tinha nesta altura 19 anos, era aluno da Escola
Industrial. Militante dos CAC antes do 25 de Abril, foi activista do Movimento Estudantil, e mais tarde
pertenceu à OCA. Foi preso pelo MPLA entre Janeiro de 1978 e Julho de 1979]


N.B.: Como militante da JMPLA na altura (como o notei aqui) nao posso, infelizmente, corroborar as afirmacoes do Timoteo - e nao: nao em qualquer tipo de "self-defense" ou "denial". Trata-se apenas do facto de que muita coisa se passou naquele conturbado periodo e nem tudo e' suficientemente conhecido de todos. De minha parte, a unica coisa de que nao tenho quaisquer duvidas e' que, desde aquela altura, passei a ser acusada falsa e injustamente, por elementos da Pro-AEESL mais ligados a outros agrupamentos politicos como a OCA e os CAC, de ser "servidora do poder" e ate'... "agente da DISA" (!) apenas por pertencer a JMPLA e, especialmente, a sua Seccao de Enquadramento e Direccao das Massas Estudantis (SEDME), numa fase em que o Movimento Estudantil de 1974/75 em si mesmo ja' se tinha praticamente auto-extinto, pelas mais variadas razoes. E isso continua a afectar negativamente a minha vida, como aqui se pode constatar... Infelizmente!