Saturday, 24 April 2010

Comentando

(...) Mas creio ainda ser legitimo pretender-se, com a contribuicao de todos os
que sabem “algumas verdades”, que a VERDADE, qualquer que ela seja e tanto
quanto pode existir integralmente (nao necessariamente “absolutamente”) em algum
contexto, seja de algum modo reconstituida e ‘put to rest’ tao definitivamente
quanto possivel. O processo de cicatrizacao das feridas ainda abertas e da
reconciliacao, a meu ver sempre possivel (ate’ porque a “ignorancia popular
generalizada” propiciada pelo manto de silencio destes 30 anos tambem,
paradoxalmente e ainda que por vezes com resultados perversos, para isso
contribuiu), assim o exige.


Mais uma noite da minha vida passada em branco em busca de certezas (por exemplo, sobre coisas como esta, esta, ou esta, apenas para citar alguns dos episodios mais recentes que conduziram a isto...) levou-me a revisitar o comentario, feito a este post, que termina com o extracto em epigrafe.

Ja' li algures um 'grande espirita' dizendo de 'fulano' algo como "ele nao percebeu o que lhe aconteceu"... (e, ja' agora, tambem ja' li algures uma jornalista estrangeira dizer da generalidade dos jornalistas angolanos: "eles ou sao bebados, ou bufos". E eu que andei pr'aqui "armada em esperta" a defende-los...). Pois, eu gostaria muito (mesmo!) de poder perceber muitas coisas que me aconteceram e continuam a acontecer na vida (e' que eu aprendi - com altos custos! - a levar muito a serio avisos/ameacas do tipo "mas convem sabermos sempre o que nos espera..."!), em particular desde o 27/05/77, mesmo que algumas delas possam, aparentemente, nao ter qualquer relacao, directa ou indirecta, com aquela data fatidica. Julgo ser esse um direito tao fundamental e humano quanto os direitos a vida e ao bom nome, ou qualquer outro dos direitos basicos e inalienaveis que menciono neste outro , mais recente, comentario.

E toda essa busca de certezas na noite passada foi-me suscitada pela leitura deste artigo...


[Post relacionado: Ainda Sobre o 'June 16, 1976' ]
(...) Mas creio ainda ser legitimo pretender-se, com a contribuicao de todos os
que sabem “algumas verdades”, que a VERDADE, qualquer que ela seja e tanto
quanto pode existir integralmente (nao necessariamente “absolutamente”) em algum
contexto, seja de algum modo reconstituida e ‘put to rest’ tao definitivamente
quanto possivel. O processo de cicatrizacao das feridas ainda abertas e da
reconciliacao, a meu ver sempre possivel (ate’ porque a “ignorancia popular
generalizada” propiciada pelo manto de silencio destes 30 anos tambem,
paradoxalmente e ainda que por vezes com resultados perversos, para isso
contribuiu), assim o exige.


Mais uma noite da minha vida passada em branco em busca de certezas (por exemplo, sobre coisas como
esta, esta, ou esta, apenas para citar alguns dos episodios mais recentes que conduziram a isto...) levou-me a revisitar o comentario, feito a este post, que termina com o extracto em epigrafe.

Ja' li algures um 'grande espirita' dizendo de 'fulano' algo como "ele nao percebeu o que lhe aconteceu"... (e, ja' agora, tambem ja' li algures uma jornalista estrangeira dizer da generalidade dos jornalistas angolanos: "eles ou sao bebados, ou bufos". E eu que andei pr'aqui "armada em esperta" a defende-los...). Pois, eu gostaria muito (mesmo!) de poder perceber muitas coisas que me aconteceram e continuam a acontecer na vida (e' que eu aprendi - com altos custos! - a levar muito a serio avisos/ameacas do tipo "mas convem sabermos sempre o que nos espera..."!), em particular desde o 27/05/77, mesmo que algumas delas possam, aparentemente, nao ter qualquer relacao, directa ou indirecta, com aquela data fatidica. Julgo ser esse um direito tao fundamental e humano quanto os direitos a vida e ao bom nome, ou qualquer outro dos direitos basicos e inalienaveis que menciono neste outro , mais recente, comentario.

E toda essa busca de certezas na noite passada foi-me suscitada pela leitura deste artigo...


[Post relacionado: Ainda Sobre o 'June 16, 1976' ]

2 comments:

Koluki said...

A proposito do passamento de Saramago e a sua exaltacao da Filosofia “como espaco, lugar, metodo de reflexao” (vide http://koluki.blogspot.com/2010/06/jose-saramago-rip.html), lembrei-me de uma “longa conversa” havida em finais de 2005 no espaco do Angonoticias (aqui: http://www.angonoticias.com/full_headlines.php?id=7831), na qual participei, sob o pseudonimo “Kalu Pura”, com os seguintes dois comentarios; o primeiro em resposta a um comentario (tambem reproduzido abaixo) supostamente assinado por Saramago (ou apenas de alguem citando-o):

Kalu Pura

Nao fosse o assunto que e’ e nao estivesse nele envolvido o nome de um premio Camoes, duvidaria da autenticidade da assinatura de um premio Nobel aposta a um dos comentarios nestas humildes paginas. Mas quaisquer duvidas que porventura ainda me sobrassem seriam desvanecidas pelo conteudo de tal comentario. Saramago faz jus a espinha dorsal do pensamento filosofico que partilha com Pepetela: o materialismo (historico e dialectico) e a negacao da verdade como conceito absoluto (“toda a verdade e’ relativa”). E’ nessa dialectica marxista-leninista que ambos assentam a sua ficcao narrativa, com relativo sucesso literario (aceita a relatividade da critica literaria?), mas com um enorme custo real do ponto de vista humanistico: o da negacao da realidade objectiva do ser humano concreto (este foi, alias, o pecado capital do “socialismo cientifico”). Foi na relativizacao, compartimentacao e atomizacao da VERDADE que lhes permitiu a negacao de “algumas verdades” em favor de “outras” mais suportaveis, que alguns dos nossos intelectuais encontraram respaldo para o que de outro modo seriam, no minimo, sentimentos de culpa insuportaveis. Mas, queira-se ou nao, a VERDADE EXISTE - em particular para os orfaos, pais e irmaos a quem nao se pode simplesmente dizer: e’ mentira, os vossos pais, filhos e irmaos nao foram presos, nem torturados e muito menos mortos! A verdade existe sim e, como diz o ditado popular, tal como o azeite vem sempre ao de cima! Por isso nao me posso conformar com a ideia de que um acontecimento que teve um impacto tao traumatico e devastador sobre a sociedade angolana seja simplesmente enterrado com os seus principais protagonistas, quando centenas, senao milhares, de orfaos, viuvas e um grande numero de familias angolanas continuam sem saber o que e porque realmente aconteceu com os seus entes queridos, ou sequer onde estao os seus ossos, ja para nao falar na simples admissao oficial da sua liquidacao sumaria e na emissao das respectivas certidoes de obito, que sao basicos direitos humanos e de cidadania de todos nos! Para mim, eh precisamente o respeito que devemos a TODOS os mortos do 27 de Maio que exige que a verdade e nada menos do que a verdade venha completamente ao de cima. E nao so o respeito pelos mortos: a construcao de um futuro de paz e harmonia para nos os ainda vivos e para as geracoes dos nossos filhos, netos e bisnetos exige que todos os fantasmas do nosso passado sejam completamente exorcisados e as suas cinzas completamente varridas, sob pena de as almas dos nossos mortos jamais virem a gozar da paz eterna que lhes eh devida! Como nos aconselha o senso comum, ha que enterrar os nossos mortos condignamente, mas a nossa prioridade deve ser cuidar apropriadamente dos vivos, senao viveremos para sempre como mortos-vivos em eterno estado de luto num pais mal assombrado… Agora que a paz institucional entre o MPLA e a UNITA parece ser irreversivel, os acontecimentos do 27 de Maio e todos os contenciosos ainda pendentes da guerra que devastou o pais por decadas que pareciam nao ter fim deveriam sim ser objecto de algo assim como a ‘Comissao para a Verdade e Reconciliacao’ que tanto ajudou a Africa do Sul a enfrentar o seu futuro com optimismo e com espiritos mais ou menos pacificados. E tal evento, que deveria assumir foros de um verdadeiro Komba Ditokwa Nacional, deveria realizar-se mais cedo do que tarde!

[Segue no proximo comentario]

Koluki said...

Kalu Pura

Nas ultimas 2 semanas a Namibia tem sido assolada por uma onda de descoberta de valas comuns (por sinal muito perto da fronteira com Angola) datadas dos anos 80, do periodo deles de "luta de libertacao"... Ha varios anos que varias organizacoes da sociedade civil namibiana vinham reclamando ao governo a instituicao de uma comissao de verdade e reconciliacao, mas este sempre se recusou, em nome de nao "reavivar fantasmas do passado"... A verdade e' que entre as ossadas descobertas ocasionalmente por construtores, ha vitimas de todos os lados e mais alguns: da SWAPO contra militantes seus, do exercito sul-africano contra a SWAPO e tudo a volta, do grupo etnico maioritario da SWAPO contra grupos etnicos minoritarios... enfim! Resultado, a paz podre que tentaram instaurar em vez de abrirem o processo da verdade acabou por rebentar-lhes aos pes e a vista desarmada: alguns jornais publicaram fotografias de ossadas humanas a serem exumadas em praias sob o olhar estupefacto e horrorizado de turistas... os tais que pretendiam atrair varrendo todo o tipo de "lixo" para debaixo dos tapetes! Um espectaculo que poderia bem ter sido evitado, tivesse o governo ouvido o clamor da nacao! Agora, perante a evidencia indesmentivel, a SWAPO ja comeca a dar sinais de comecar a aquiescer a inevitabilidade da VERDADE HISTORICA...

VERDADE
A verdade não existe. Se a verdade existisse, teria de existir sempre e então ter-nos-íamos apercebido de que, além das mudanças de todo o tipo que acontecem, e continuarão a acontecer, haveria qualquer coisa que se manteria imutável, constante, e essa seria a verdade. Não há nenhuma verdade dessas; há muitas verdades e, como eu creio ter escrito alguma vez, as verdades são muitas e têm que lutar umas com as outras e depois logo se vê o que resulta. Resultará uma ou outra verdade mas sempre serão verdades transitórias, que abrem ou fecham caminhos. A verdade com maiúscula, com letra grande, isso não é coisa que exista, embora algumas pessoas, creio, acreditem que sim e vivam ou tentem viver em função disso. Para mim, a verdade não existe... não há verdades históricas e acabou. JOSE SARAMAGO