Saturday 28 August 2010

Eu (tambem) Tenho Um Sonho...

Para assinalar a passagem de mais um aniversario do historico discurso de Martin Luther King, Jr. "I Have a Dream" ("Eu Tenho Um Sonho" - versao em portugues aqui), parece-me oportuno trazer para aqui uma carta sua dirigida a Deolinda Rodrigues em 1959.

Recebi-a por e-mail, nao me sendo possivel identificar a autoria do texto introdutorio, mas tendo conhecimento da passagem de Deolinda Rodrigues pelos EUA e das suas relacoes com instituicoes religiosas ligadas a luta pelos direitos civicos naquele pais, creio na sua autenticidade.

Infelizmente, passadas cinco decadas desde essa correspondencia, nao so' o Sonho de Luther King continua por se concretizar completamente nos EUA, como os ideais de dignificacao da Mulher Angolana, simbolizados na luta e sacrificio de Deolinda Rodrigues, entre outras martires da causa da independencia de Angola, continuam por se realizar na sua plenitude.

Pelo que, o (meu) Sonho, particularmente no que diz respeito aos direitos inalienaveis a vida, a liberdade e a busca de felicidade referidos por Martin Luther King, Jr. no seu "Dream", (tambem) continua vivo (por entre Sabores & Odores mais ou menos amargos)...


Aqui ficam o texto introdutorio e a carta:


Deolinda Rodrigues entrou para a História de Angola como mártir da luta armada de libertação nacional. Mas até à sua morte ela foi uma combatente da liberdade, dirigente do movimento revolucionário angolano e uma activista incansável dos direitos humanos. Esteve sempre na primeira linha no terreno da luta ao lado dos seus camaradas angolanos e teve contactos com figuras de relevo mundial, como o grande líder negro da luta pelos direitos civis nos Estados Unidos.

A grande líder revolucionária trocou correspondência com Martin Luther King no final dos anos 50, altura em que ele liderava no Alabama a luta contra a segregação racial e pelos direitos civis dos negros americanos. Na carta que a seguir publicamos, Luther King faz afirmações premonitórias. Sobretudo no que se refere à “vitória certa” dos angolanos, assim que tivessem um líder a quem seguir. Esse líder na altura da troca de correspondência estava preso. Era o jovem médico Agostinho Neto que apenas três anos depois guiou o povo angolano pelo “caminho das estrelas” até à liberdade e a independência nacional.

No dia 21 de Julho de 1959, da cidade de Montgmoery, no Alabama, Martin Luther King escrevia à heroína angolana:



Senhorita Deolinda Rodrigues

Muito lhe agradeço pela sua muito amável carta, de data recente. Li cada linha que me escreveu com grande interesse. É realmente encorajador saber do seu interesse na libertação do povo do seu país. Estou bastante contente em receber informação em primeira-mão sobre a situação em Angola. Tive notícias a partir de outras pessoas que vivem fora do país, mas não há nada melhor do que receber notícia em primeira-mão.

Parece que os portugueses são as pessoas mais lentas a largar mão das suas possessões em territórios estrangeiros. É lamentável que lhes falte a visão para se aperceberem do que está traçado para esses territórios. É sempre trágico ver um indivíduo ou uma nação tentando impedir ou parar uma irresistível onda.

Criar uma liderança

Não sei se posso dar-lhe alguma sugestão concreta sobre o que fazer na vossa particular situação, pois muitas vezes é necessário ver com os próprios olhos antes de poder dar uma resposta definitiva. Direi, contudo, que o primeiro passo para corrigir a situação é criar uma verdadeira liderança no seu País. Alguma entidade ou algumas poucas entidades devem posicionar-se como símbolos do vosso movimento para a independência.

Logo que tal símbolo seja encontrado não é difícil conseguir que as pessoas o sigam e quanto mais o opressor procurar deter e derrotar esse símbolo, tanto mais ele consolidará o movimento. Seria maravilhoso regressar ao seu país com esta ideia na mente:

A liberdade nunca é alcançada sem sofrimento e sacrifício. Só se conquista com trabalho persistente e incansáveis esforços de pessoas dedicadas.

A senhorita Deolinda Rodrigues deve também saber que aquilo que vem acontecendo noutros países de África terá inevitavelmente repercussões no seu país. Será impossível Angola permanecer em África, sem ser afectada por aquilo que acontece na Nigéria, no Quénia e na Rodésia (referia-se à Zâmbia, então chamada Rodésia do Norte). Portanto, a vossa verdadeira esperança reside no facto de que a independência será uma realidade em toda a África, dentro dos próximos anos.

Dirijo à senhorita Deolinda Rodrigues as minhas orações e os melhores votos de bênçãos de Deus, em tudo o que estiverem a fazer. Espero que os seus estudos continuem de maneira a serem frutíferos e compensadores. Em encomenda separada envio-lhe um exemplar do meu livro “Stride Toward Freedom”. Queira aceitá-lo como oferta minha. Espero que lhe venha a ser útil este meu humilde trabalho.

Muito sinceramente, me subscrevo

Martin Luther King, Jr.




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Revisitando Questoes de Genero, ou de 'Direitos' vs. 'Conquistas'


Still Dreaming After All These (40) Years
Para assinalar a passagem de mais um aniversario do historico discurso de Martin Luther King, Jr. "I Have a Dream" ("Eu Tenho Um Sonho" - versao em portugues aqui), parece-me oportuno trazer para aqui uma carta sua dirigida a Deolinda Rodrigues em 1959.

Recebi-a por e-mail, nao me sendo possivel identificar a autoria do texto introdutorio, mas tendo conhecimento da passagem de Deolinda Rodrigues pelos EUA e das suas relacoes com instituicoes religiosas ligadas a luta pelos direitos civicos naquele pais, creio na sua autenticidade.

Infelizmente, passadas cinco decadas desde essa correspondencia, nao so' o Sonho de Luther King continua por se concretizar completamente nos EUA, como os ideais de dignificacao da Mulher Angolana, simbolizados na luta e sacrificio de Deolinda Rodrigues, entre outras martires da causa da independencia de Angola, continuam por se realizar na sua plenitude.

Pelo que, o (meu) Sonho, particularmente no que diz respeito aos direitos inalienaveis a vida, a liberdade e a busca de felicidade referidos por Martin Luther King, Jr. no seu "Dream", (tambem) continua vivo (por entre Sabores & Odores mais ou menos amargos)...


Aqui ficam o texto introdutorio e a carta:


Deolinda Rodrigues entrou para a História de Angola como mártir da luta armada de libertação nacional. Mas até à sua morte ela foi uma combatente da liberdade, dirigente do movimento revolucionário angolano e uma activista incansável dos direitos humanos. Esteve sempre na primeira linha no terreno da luta ao lado dos seus camaradas angolanos e teve contactos com figuras de relevo mundial, como o grande líder negro da luta pelos direitos civis nos Estados Unidos.

A grande líder revolucionária trocou correspondência com Martin Luther King no final dos anos 50, altura em que ele liderava no Alabama a luta contra a segregação racial e pelos direitos civis dos negros americanos. Na carta que a seguir publicamos, Luther King faz afirmações premonitórias. Sobretudo no que se refere à “vitória certa” dos angolanos, assim que tivessem um líder a quem seguir. Esse líder na altura da troca de correspondência estava preso. Era o jovem médico Agostinho Neto que apenas três anos depois guiou o povo angolano pelo “caminho das estrelas” até à liberdade e a independência nacional.

No dia 21 de Julho de 1959, da cidade de Montgmoery, no Alabama, Martin Luther King escrevia à heroína angolana:



Senhorita Deolinda Rodrigues

Muito lhe agradeço pela sua muito amável carta, de data recente. Li cada linha que me escreveu com grande interesse. É realmente encorajador saber do seu interesse na libertação do povo do seu país. Estou bastante contente em receber informação em primeira-mão sobre a situação em Angola. Tive notícias a partir de outras pessoas que vivem fora do país, mas não há nada melhor do que receber notícia em primeira-mão.

Parece que os portugueses são as pessoas mais lentas a largar mão das suas possessões em territórios estrangeiros. É lamentável que lhes falte a visão para se aperceberem do que está traçado para esses territórios. É sempre trágico ver um indivíduo ou uma nação tentando impedir ou parar uma irresistível onda.

Criar uma liderança

Não sei se posso dar-lhe alguma sugestão concreta sobre o que fazer na vossa particular situação, pois muitas vezes é necessário ver com os próprios olhos antes de poder dar uma resposta definitiva. Direi, contudo, que o primeiro passo para corrigir a situação é criar uma verdadeira liderança no seu País. Alguma entidade ou algumas poucas entidades devem posicionar-se como símbolos do vosso movimento para a independência.

Logo que tal símbolo seja encontrado não é difícil conseguir que as pessoas o sigam e quanto mais o opressor procurar deter e derrotar esse símbolo, tanto mais ele consolidará o movimento. Seria maravilhoso regressar ao seu país com esta ideia na mente:

A liberdade nunca é alcançada sem sofrimento e sacrifício. Só se conquista com trabalho persistente e incansáveis esforços de pessoas dedicadas.

A senhorita Deolinda Rodrigues deve também saber que aquilo que vem acontecendo noutros países de África terá inevitavelmente repercussões no seu país. Será impossível Angola permanecer em África, sem ser afectada por aquilo que acontece na Nigéria, no Quénia e na Rodésia (referia-se à Zâmbia, então chamada Rodésia do Norte). Portanto, a vossa verdadeira esperança reside no facto de que a independência será uma realidade em toda a África, dentro dos próximos anos.

Dirijo à senhorita Deolinda Rodrigues as minhas orações e os melhores votos de bênçãos de Deus, em tudo o que estiverem a fazer. Espero que os seus estudos continuem de maneira a serem frutíferos e compensadores. Em encomenda separada envio-lhe um exemplar do meu livro “Stride Toward Freedom”. Queira aceitá-lo como oferta minha. Espero que lhe venha a ser útil este meu humilde trabalho.

Muito sinceramente, me subscrevo

Martin Luther King, Jr.




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Friday 27 August 2010

Mocambique: Relendo Samora pelo pincel de Naguib (II) [Updated]






Quando camaradas solteiras ficam gravidas, consideramos isso um escandalo. O
verdadeiro escandalo e’ o nao termos sabido educar essas camaradas, nao lhes ter
feito assumir o verdadeiro sentido do amor e como a propria relacao sexual se
integra dentro do amor e dentro da vida.

Samora Machel




Decidi dedicar um post separado a essa (infeliz) tirada de Samora Machel, incluida no catalogo desta exposicao de Naguib, por um lado, porque ela destaca-se por si propria das outras, geralmente bem mais pacificas e ponderadas, citacoes nela pintadas e, por outro lado, porque se relaciona e enquadra em algumas das discussoes que, sobretudo nos ultimos tempos (e.g. aqui), a este blog me tenho visto forcada a trazer.

Porque infeliz? Porque, de facto, nao me lembro de alguma vez ter lido algo que retrate de forma tao flagrante algumas das contradicoes e perversoes de um certo discurso dito “socialista revolucionario de esquerda”… Dir-se-ia que Samora estava a falar de uma sociedade algures numa ilha paradisiaca, totalmente “abencoada por Deus”, onde o “casamento” e’ uma instituicao culturalmente endogena e dominante, onde nao se contempla a possibilidade de gravidezes involuntarias e onde os "camaradas homens" (solteiros ou casados) sao todos uns “principes perfeitos” ou “santos”!...

Mas a realidade, e ela nao e’ exclusiva da sociedade mocambicana, e’ que a instituicao “casamento” (e da citacao pode inferir-se que Samora se estaria a referir ao casamento oficial, monogamico e, possivelmente, ate’ mesmo religioso) e’ culturalmente exogena a maior parte das, senao a todas as, sociedades africanas: ele foi “trazido” pela colonizacao e manteve-se quase totalmente confinado aos segmentos populacionais (minoritarios) assimilados as culturas e religioes europeias.

Juntamente com o casamento (oficial e/ou religioso) monogamico, os europeus levaram tambem o patriarcado, com o homem como 'chefe de familia', como estrutura familiar dominante, e embora este nao fosse exogeno as sociedades africanas, nunca foi dominante em todas elas. De facto, o matriarcado e as linhagens matrilineares eram e, em grande medida, continuam a ser, dominantes em varias sociedades africanas, onde as mulheres, em particular no que toca a sua sexualidade e direitos reprodutivos, teem um estatuto completamente distinto daquele que lhes e' reservado nas sociedades patriarcais e patrilineares.[*]

Como, entao, compreender-se que um tal discurso tenha sido proferido por um lider revolucionario africano, num pais em "transformacao revolucionaria" para a "criacao do homem novo", em "combate contra a alienacao, aculturacao e obscurantismo promovidos pela religiao", em “recuperacao das suas raizes culturais” e em "resgate dos seus principios e valores morais" (e aqui ressalvo o facto de a citacao nao estar datada, tal como nao o estao as outras citacoes constantes do catalogo, pelo que nao sei se a tera’ proferido ja’ no pos-independencia, ou se ainda durante a guerrilha anti-colonial)? Pessoalmente, so’ o posso entender como uma perversao da ideologia socialista (comunista?) revolucionaria dita de esquerda… [**]


Josina Machel por Malangatana


De facto, em minha opiniao, apenas uma tal perversao pode explicar que a mesma ideologia que via o casamento como uma instituicao "burguesa", que professa(va?) a “emancipacao da mulher”, que a aceitava como “companheira de luta”, incluindo de armas na mao, qualquer que fosse a sua idade (!) - veja-se aqui a biografia da primeira esposa de Samora, Josina Machel, retratada acima por Malangatana e na foto abaixo, a direita - que a incentiva(va?) a tomar as redeas do seu proprio corpo e do seu proprio destino, a tomar as suas proprias decisoes de vida e a assumir a responsabilidade e as consequencias dos seus proprios actos, nao contemple a possibilidade de que essa mesma mulher possa ser “mae solteira” por decisao propria; ou que se tenha encontrado nessa condicao em resultado de uma desilusao amorosa posterior ao seu engravidamento; ou que possa ter engravidado em resultado de uma violacao… Em qualquer dos casos, a assumpcao plena de uma gravidez e’ (deve ser) sempre uma responsabilidade partilhada – e esta nao e’ estritamente uma questao do foro ideologico (e nem sequer do “politicamente correcto”) ou religioso: e’ uma questao dos foros humanistico e etico-moral!


Josina Machel (a direita)


No entanto, em nenhum momento Samora se refere ao "camarada homem" (casado ou solteiro) que engravidou a “camarada solteira”… E o que afirma e’ duplamente perverso: por um lado, assume o preconceito, a culpabilizacao exclusiva e a estigmatizacao social da “mae solteira” como um dado adquirido (“consideramos isso um escandalo”); por outro lado, sugere que o “assumir o verdadeiro sentido do amor e como a propria relacao sexual se integra dentro do amor e dentro da vida”[***] e’ um dado adquirido no que ao "camarada homem" diz respeito e que apenas a "camarada mulher" (... qual Eva-serpente-jezebel(a) “corruptora” de Adao no paraiso ...) precisa de “ser educada” naquele sentido… para “nao provocar escandalo”!

Mas, talvez mais perturbador do que tudo isso e' a implicacao de que aquela "camarada solteira" nao possa ter entre os seus valores, desde muito cedo na vida, o principio de que a sua auto-estima, dignificacao e valorizacao como MULHER e como SER HUMANO nao estao, nunca estiveram, nem podem estar, em nenhuma circunstancia, exclusivamente dependentes de uma alianca no seu anelar; que a sua postura perante a VIDA nao e', nao pode ser, definida e interpretada exclusivamente pela sua sexualidade - certamente nao por 'definicoes' e 'interpretacoes' dessa sexualidade confabuladas e maliciosa e torpemente forjadas pela vil devassa de terceiros e, sobretudo, terceiras, frustrado/as e recalcados em relacao a sua propria sexualidade e a sua propria vida; ou que uma gravidez fora do casamento, ou que nao resulte em casamento, nao possa ter sido resultado de um acto de Amor... [****] entre "ambos os camaradas", homem e mulher, envolvidos!

Enfim… simplesmente (dupla... triplamente) triste e lamentavel!

(Contudo, Paz a Sua Alma)



*[A legalizacao em 2005, em Mocambique, da (existente) poligamia, bem como a eliminacao do estatuto de facto do homem como 'chefe de familia', como aqui se pode constatar, e' disso apenas a (tardia?) confirmacao oficial...]


**[Infelizmente, Samora nao estava sozinho nesse tipo de postura: era, pelo menos em parte, a ela que me referia aqui, quando falava em determinados grupos de "um radicalismo (embora raramente assumido abertamente) dito “de esquerda” em termos politico-ideologicos e de ideais economicos, associado a um conservadorismo marcadamente “de direita” em termos socio-culturais"; e' tambem ela que se esconde, com o rabo de fora, por detras de certos discursos ditos "feministas de esquerda" disseminados por certas hipocritas 'donas' puritanas recalcadas, frustradas, deprimidas, depressivas e deprimentes, rejeitadas e cheias de ressaibos, inveja e ciumes, que nao nasceram mulheres, aparentemente afectas aos mesmos grupos acabados de referir, como a(s) de que aqui se fala...]


***[Para mim o significado de “assumir o verdadeiro sentido do amor e como a propria relacao sexual se integra dentro do amor e dentro da vida” pode ser encontrado, por exemplo, aqui]


****[Note-se como, curiosamente, em Ingles, uma crianca nascida fora do casamento e' designada "Love Child", i.e. "Filho/a do Amor"]





Quando camaradas solteiras ficam gravidas, consideramos isso um escandalo. O
verdadeiro escandalo e’ o nao termos sabido educar essas camaradas, nao lhes ter
feito assumir o verdadeiro sentido do amor e como a propria relacao sexual se
integra dentro do amor e dentro da vida.

Samora Machel




Decidi dedicar um post separado a essa (infeliz) tirada de Samora Machel, incluida no catalogo desta exposicao de Naguib, por um lado, porque ela destaca-se por si propria das outras, geralmente bem mais pacificas e ponderadas, citacoes nela pintadas e, por outro lado, porque se relaciona e enquadra em algumas das discussoes que, sobretudo nos ultimos tempos (e.g. aqui), a este blog me tenho visto forcada a trazer.

Porque infeliz? Porque, de facto, nao me lembro de alguma vez ter lido algo que retrate de forma tao flagrante algumas das contradicoes e perversoes de um certo discurso dito “socialista revolucionario de esquerda”… Dir-se-ia que Samora estava a falar de uma sociedade algures numa ilha paradisiaca, totalmente “abencoada por Deus”, onde o “casamento” e’ uma instituicao culturalmente endogena e dominante, onde nao se contempla a possibilidade de gravidezes involuntarias e onde os "camaradas homens" (solteiros ou casados) sao todos uns “principes perfeitos” ou “santos”!...

Mas a realidade, e ela nao e’ exclusiva da sociedade mocambicana, e’ que a instituicao “casamento” (e da citacao pode inferir-se que Samora se estaria a referir ao casamento oficial, monogamico e, possivelmente, ate’ mesmo religioso) e’ culturalmente exogena a maior parte das, senao a todas as, sociedades africanas: ele foi “trazido” pela colonizacao e manteve-se quase totalmente confinado aos segmentos populacionais (minoritarios) assimilados as culturas e religioes europeias.

Juntamente com o casamento (oficial e/ou religioso) monogamico, os europeus levaram tambem o patriarcado, com o homem como 'chefe de familia', como estrutura familiar dominante, e embora este nao fosse exogeno as sociedades africanas, nunca foi dominante em todas elas. De facto, o matriarcado e as linhagens matrilineares eram e, em grande medida, continuam a ser, dominantes em varias sociedades africanas, onde as mulheres, em particular no que toca a sua sexualidade e direitos reprodutivos, teem um estatuto completamente distinto daquele que lhes e' reservado nas sociedades patriarcais e patrilineares.[*]

Como, entao, compreender-se que um tal discurso tenha sido proferido por um lider revolucionario africano, num pais em "transformacao revolucionaria" para a "criacao do homem novo", em "combate contra a alienacao, aculturacao e obscurantismo promovidos pela religiao", em “recuperacao das suas raizes culturais” e em "resgate dos seus principios e valores morais" (e aqui ressalvo o facto de a citacao nao estar datada, tal como nao o estao as outras citacoes constantes do catalogo, pelo que nao sei se a tera’ proferido ja’ no pos-independencia, ou se ainda durante a guerrilha anti-colonial)? Pessoalmente, so’ o posso entender como uma perversao da ideologia socialista (comunista?) revolucionaria dita de esquerda… [**]


Josina Machel por Malangatana


De facto, em minha opiniao, apenas uma tal perversao pode explicar que a mesma ideologia que via o casamento como uma instituicao "burguesa", que professa(va?) a “emancipacao da mulher”, que a aceitava como “companheira de luta”, incluindo de armas na mao, qualquer que fosse a sua idade (!) - veja-se aqui a biografia da primeira esposa de Samora, Josina Machel, retratada acima por Malangatana e na foto abaixo, a direita - que a incentiva(va?) a tomar as redeas do seu proprio corpo e do seu proprio destino, a tomar as suas proprias decisoes de vida e a assumir a responsabilidade e as consequencias dos seus proprios actos, nao contemple a possibilidade de que essa mesma mulher possa ser “mae solteira” por decisao propria; ou que se tenha encontrado nessa condicao em resultado de uma desilusao amorosa posterior ao seu engravidamento; ou que possa ter engravidado em resultado de uma violacao… Em qualquer dos casos, a assumpcao plena de uma gravidez e’ (deve ser) sempre uma responsabilidade partilhada – e esta nao e’ estritamente uma questao do foro ideologico (e nem sequer do “politicamente correcto”) ou religioso: e’ uma questao dos foros humanistico e etico-moral!


Josina Machel (a direita)


No entanto, em nenhum momento Samora se refere ao "camarada homem" (casado ou solteiro) que engravidou a “camarada solteira”… E o que afirma e’ duplamente perverso: por um lado, assume o preconceito, a culpabilizacao exclusiva e a estigmatizacao social da “mae solteira” como um dado adquirido (“consideramos isso um escandalo”); por outro lado, sugere que o “assumir o verdadeiro sentido do amor e como a propria relacao sexual se integra dentro do amor e dentro da vida”[***] e’ um dado adquirido no que ao "camarada homem" diz respeito e que apenas a "camarada mulher" (... qual Eva-serpente-jezebel(a) “corruptora” de Adao no paraiso ...) precisa de “ser educada” naquele sentido… para “nao provocar escandalo”!

Mas, talvez mais perturbador do que tudo isso e' a implicacao de que aquela "camarada solteira" nao possa ter entre os seus valores, desde muito cedo na vida, o principio de que a sua auto-estima, dignificacao e valorizacao como MULHER e como SER HUMANO nao estao, nunca estiveram, nem podem estar, em nenhuma circunstancia, exclusivamente dependentes de uma alianca no seu anelar; que a sua postura perante a VIDA nao e', nao pode ser, definida e interpretada exclusivamente pela sua sexualidade - certamente nao por 'definicoes' e 'interpretacoes' dessa sexualidade confabuladas e maliciosa e torpemente forjadas pela vil devassa de terceiros e, sobretudo, terceiras, frustrado/as e recalcados em relacao a sua propria sexualidade e a sua propria vida; ou que uma gravidez fora do casamento, ou que nao resulte em casamento, nao possa ter sido resultado de um acto de Amor... [****] entre "ambos os camaradas", homem e mulher, envolvidos!

Enfim… simplesmente (dupla... triplamente) triste e lamentavel!

(Contudo, Paz a Sua Alma)



*[A legalizacao em 2005, em Mocambique, da (existente) poligamia, bem como a eliminacao do estatuto de facto do homem como 'chefe de familia', como aqui se pode constatar, e' disso apenas a (tardia?) confirmacao oficial...]


**[Infelizmente, Samora nao estava sozinho nesse tipo de postura: era, pelo menos em parte, a ela que me referia aqui, quando falava em determinados grupos de "um radicalismo (embora raramente assumido abertamente) dito “de esquerda” em termos politico-ideologicos e de ideais economicos, associado a um conservadorismo marcadamente “de direita” em termos socio-culturais"; e' tambem ela que se esconde, com o rabo de fora, por detras de certos discursos ditos "feministas de esquerda" disseminados por certas hipocritas 'donas' puritanas recalcadas, frustradas, deprimidas, depressivas e deprimentes, rejeitadas e cheias de ressaibos, inveja e ciumes, que nao nasceram mulheres, aparentemente afectas aos mesmos grupos acabados de referir, como a(s) de que aqui se fala...]


***[Para mim o significado de “assumir o verdadeiro sentido do amor e como a propria relacao sexual se integra dentro do amor e dentro da vida” pode ser encontrado, por exemplo, aqui]


****[Note-se como, curiosamente, em Ingles, uma crianca nascida fora do casamento e' designada "Love Child", i.e. "Filho/a do Amor"]

"Um Passo em Frente" (?)...





A revisão do Código da Família vai, entre outras normas, obrigar os homens a assumir a paternidade e garantirem uma pensão de sobrevivência aos filhos, anunciou em Luanda a coordenadora da secção da OMA junto aos Serviços de Apoio ao Presidente da República.

Em declarações ao Jornal de Angola, à margem da palestra sobre "O papel da família e da sociedade civil na construção de uma nova mentalidade", Florbela Rocha Araújo lamentou o facto de muitos homens continuarem a não assumir as suas responsabilidades paternais e informou que o futuro Código da Família, em fase de elaboração, vai procurar inverter esse quadro.

"O actual Código da Família foi aprovado em 1978 e até à data muita coisa mudou na sociedade angolana. Os estudos efectuados vão permitir a entrada em vigor de um novo Código da Família adequado à realidade actual", informou.

Fuga à paternidade

Sobre a fuga à paternidade, Florbela Araújo disse que uma criança sem nome normalmente é revoltada, porque logo à partida a intenção da mãe é contar a história do que se passou e as razões que a levam a criar os filhos sozinha: “é um risco criar os filhos sozinha e quando assim acontece normalmente as crianças crescem revoltadas e, nestes casos, a sociedade é que paga”. Considerou que a família, como núcleo fundamental da sociedade, deve trabalhar para a instrução dos filhos. “É importante que os pais dêem atenção aos filhos e acompanhem a sua educação. Achamos ainda pertinente que nas escolas haja aulas de moral para que as crianças e os jovens se habituem a respeitar os valores da sociedade”, apelou.


[Mais Aqui e Aqui]


Posts Relacionados:

Olhares Diversos VII

O Cidadao em Angola





... "Dois Passos a Retaguarda" (!)


P.S. 1: "(...) uma criança sem nome normalmente é revoltada, porque logo à partida a intenção da mãe é contar a história do que se passou e as razões que a levam a criar os filhos sozinha: é um risco criar os filhos sozinha e quando assim acontece normalmente as crianças crescem revoltadas e, nestes casos, a sociedade é que paga”

Apenas algumas observacoes a essas afirmacoes:


- It ain't necessarily so... E' necessario que se deixe de fazer afirmacoes publicas generalizadoras com base em meras suposicoes, especulacoes e... mais uma vez, estereotipos!

- Qual e' o maior risco? Criar os filhos sozinha num ambiente saudavel, de estabilidade, paz e tranquilidade, ou com um pai (ou outro parceiro) inconstante, irresponsavel, desestabilizador material e emocionalmente, cheio de vicios e abusivo fisica e/ou psicologicamente?...

- A questao da "fuga a paternidade" nao se resume a "criancas sem nome": casos ha' em que a crianca tem e sempre teve o nome que lhe foi (e ate' repetidamente, devido a circunstancias alheias a questao) dado pelo seu pai, pelo que nao se pode falar propriamente em "fuga a paternidade"! No entanto, o facto de lhe ter dado o nome nao significa necessariamente que esse mesmo pai seja um "pai responsavel" - e isso acontece em muitos casos, "abencoados ou nao por Deus"!

- Casos ha' em que relacoes (de papel passado ou nao) de facto se desenvolveram fora daquilo que a "sociedade" tem como "norma padrao"... Casos ha' em que, apesar de algumas aparencias ou especulacoes em contrario, relacoes saudaveis existiram e, apesar da separacao e distanciamento entre os pais da crianca, se mantiveram na base da amizade, do bem-querer e do respeito mutuo...

- Casos ha' em que a mae que ficou a frente da "familia monoparental" fez tudo para evitar que os preconceitos e estigmatizacao da "sociedade" que sobre ela recaiam afectassem o filho, fosse de que forma fosse e muito menos psicologicamente, chegando ate' a pintar para ele um quadro positivo um tanto exagerado da imagem do "pai ausente", precisamente para que ele nao se sentisse "rejeitado" e se viesse a tornar um "revoltado" quando adulto...

- Casos ha' em que todo esse trabalho arduo e delicado de Amor ao longo de toda uma vida sacrificada da "mae solteira" foi literalmente estracalhado e deitado pela sarjeta abaixo sem quaisquer escrupulos pelos ciumes, inveja, odio, despeito, complexos e racismos varios e toda a sorte de sentimentos baixos e mesquinhos, seja por outras parceiras do tal "pai ausente" (se por nenhuma outra razao, pelo simples facto de a crianca ser o unico rapaz dentre os filhos que o dito cujo deixou neste mundo...) e seus familiares e amigos, seja pelos proprios "familiares e amigos", quer da "mae solteira", quer do "pai ausente" - os quais, de resto, nunca acompanharam de perto a relacao nem nunca se dignaram OUVIR a "mae solteira" sobre a questao -, seja ate' por VERDADEIROS ABUTRES supostos ou pretensos "pretendentes post-mortem" e desconhecidos de ambas as partes, liderados por kabungados a espumar da boca e - essas sim, pobres e insignificantes criaturas rejeitadas! - verdes e doentes ninfas sexualmente objectificadas e vultas racistas, ciumentas, frustradas, ociosas, superficiais, mentecaptas, atrasadas mentais, intrometidas, levianas, venais, amorais e imorais, viciadas e viciosas, porcas, vulgares, ordinarias, irresponsaveis, oportunistas e abusivas ... enfim, pela IRRESPONSABILIDADE, pelos complexos, baixo coturno, falta de estofo, ignorancia, bocalismo, imaturidade, insensibilidade, imbecilidade, superficialidade, falsidade, hipocrisia, arrivismo, intromissao abusiva, venalidade, devassa e vil oprobio de certos sectores da tal de "sociedade" (dita "de esquerda")!

Em suma, casos ha' em que tanto a crianca como a "mae solteira" (que, ademais, se tornaram mais vulneraveis do que nunca a toda a sorte de manipulacoes e abusos com a morte subita e precoce do "pai ausente" e, por isso, com a ausencia de um testamento por parte deste - que, nao e' demais lembra-lo, NUNCA FOI CASADO com ninguem! -, o qual, malgre' tout, podia ser chamado a razao, quer em relacao a crianca, quer no que tocava a "defender e a lutar pela sua dama", quando a tal fosse forcado...) ACABAM POR FICAR REFENS, POR SER VITIMAS, POR SER FEITOS BODES EXPIATORIOS E POR PAGAR PELOS MALES, TARAS, VICIOS E DOENCAS, enfim PURE EVIL (!), DA SOCIEDADE e nao o contrario!

E' ISTO QUE CRIA REVOLTA!!!



P.S. 2: Quantos filhos "sem nome" foram deixados pelo colono? Terao todas as suas maes "lhes contado a estoria"? Terao todos eles se tornado "revoltados"? Terao todos eles "feito pagar a sociedade"?!!!




ADENDA



CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA DE ANGOLA

Artigo 35.º
(Família, casamento e filiação)

1. A família é o núcleo fundamental da organização da sociedade e é objecto de especial protecção do Estado, quer se funde em casamento, quer em união de facto, entre homem e mulher.
2. Todos têm o direito de livremente constituir família nos termos da Constituição e da lei.
3. O homem e a mulher são iguais no seio da família, da sociedade e do Estado, gozando dos mesmos direitos e cabendo-lhes os mesmos deveres.
4. A lei regula os requisitos e os efeitos do casamento e da união de facto, bem como os da sua dissolução.
5. Os filhos são iguais perante a lei, sendo proibida a sua discriminação e a utilização de qualquer designação discriminatória relativa à filiação.
6. A protecção dos direitos da criança, nomeadamente, a sua educação integral e harmoniosa, a protecção da sua saúde, condições de vida e ensino constituem
absoluta prioridade da família, do Estado e da sociedade.
7. O Estado, com a colaboração da família e da sociedade, promove o desenvolvimento harmonioso e integral dos jovens e adolescentes, bem como a criação de condições para a efectivação dos seus direitos políticos, económicos, sociais e culturais e estimula as organizações juvenis para a prossecução de fins económicos, culturais, artísticos, recreativos, desportivos, ambientais, científicos, educacionais, patrióticos e de intercâmbio juvenile internacional.


Artigo 80.º
(Infância)

1. A criança tem direito à atenção especial da família, da sociedade e do Estado, os quais, em estreita colaboração, devem assegurar a sua ampla protecção contra todas as formas de abandono, discriminação, opressão, exploração e exercício abusivo de autoridade, na família e nas demais instituições.
2. As políticas públicas no domínio da família, da educação e da saúde devem salvaguardar o princípio do superior interesse da criança, como forma de garantir o seu pleno desenvolvimento físico, psíquico e cultural.
3. O Estado assegura especial protecção à criança órfã, com deficiência, abandonada ou, por qualquer forma, privada de um ambiente familiar normal.
4. O Estado regula a adopção de crianças, promovendo a sua integração em ambiente familiar sadio e velando pelo seu desenvolvimento integral.
5. É proibido, nos termos da lei, o trabalho de menores em idade escolar.





A revisão do Código da Família vai, entre outras normas, obrigar os homens a assumir a paternidade e garantirem uma pensão de sobrevivência aos filhos, anunciou em Luanda a coordenadora da secção da OMA junto aos Serviços de Apoio ao Presidente da República.

Em declarações ao Jornal de Angola, à margem da palestra sobre "O papel da família e da sociedade civil na construção de uma nova mentalidade", Florbela Rocha Araújo lamentou o facto de muitos homens continuarem a não assumir as suas responsabilidades paternais e informou que o futuro Código da Família, em fase de elaboração, vai procurar inverter esse quadro.

"O actual Código da Família foi aprovado em 1978 e até à data muita coisa mudou na sociedade angolana. Os estudos efectuados vão permitir a entrada em vigor de um novo Código da Família adequado à realidade actual", informou.

Fuga à paternidade

Sobre a fuga à paternidade, Florbela Araújo disse que uma criança sem nome normalmente é revoltada, porque logo à partida a intenção da mãe é contar a história do que se passou e as razões que a levam a criar os filhos sozinha: “é um risco criar os filhos sozinha e quando assim acontece normalmente as crianças crescem revoltadas e, nestes casos, a sociedade é que paga”. Considerou que a família, como núcleo fundamental da sociedade, deve trabalhar para a instrução dos filhos. “É importante que os pais dêem atenção aos filhos e acompanhem a sua educação. Achamos ainda pertinente que nas escolas haja aulas de moral para que as crianças e os jovens se habituem a respeitar os valores da sociedade”, apelou.


[Mais Aqui e Aqui]


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Olhares Diversos VII

O Cidadao em Angola





... "Dois Passos a Retaguarda" (!)


P.S. 1: "(...) uma criança sem nome normalmente é revoltada, porque logo à partida a intenção da mãe é contar a história do que se passou e as razões que a levam a criar os filhos sozinha: é um risco criar os filhos sozinha e quando assim acontece normalmente as crianças crescem revoltadas e, nestes casos, a sociedade é que paga”

Apenas algumas observacoes a essas afirmacoes:


- It ain't necessarily so... E' necessario que se deixe de fazer afirmacoes publicas generalizadoras com base em meras suposicoes, especulacoes e... mais uma vez, estereotipos!

- Qual e' o maior risco? Criar os filhos sozinha num ambiente saudavel, de estabilidade, paz e tranquilidade, ou com um pai (ou outro parceiro) inconstante, irresponsavel, desestabilizador material e emocionalmente, cheio de vicios e abusivo fisica e/ou psicologicamente?...

- A questao da "fuga a paternidade" nao se resume a "criancas sem nome": casos ha' em que a crianca tem e sempre teve o nome que lhe foi (e ate' repetidamente, devido a circunstancias alheias a questao) dado pelo seu pai, pelo que nao se pode falar propriamente em "fuga a paternidade"! No entanto, o facto de lhe ter dado o nome nao significa necessariamente que esse mesmo pai seja um "pai responsavel" - e isso acontece em muitos casos, "abencoados ou nao por Deus"!

- Casos ha' em que relacoes (de papel passado ou nao) de facto se desenvolveram fora daquilo que a "sociedade" tem como "norma padrao"... Casos ha' em que, apesar de algumas aparencias ou especulacoes em contrario, relacoes saudaveis existiram e, apesar da separacao e distanciamento entre os pais da crianca, se mantiveram na base da amizade, do bem-querer e do respeito mutuo...

- Casos ha' em que a mae que ficou a frente da "familia monoparental" fez tudo para evitar que os preconceitos e estigmatizacao da "sociedade" que sobre ela recaiam afectassem o filho, fosse de que forma fosse e muito menos psicologicamente, chegando ate' a pintar para ele um quadro positivo um tanto exagerado da imagem do "pai ausente", precisamente para que ele nao se sentisse "rejeitado" e se viesse a tornar um "revoltado" quando adulto...

- Casos ha' em que todo esse trabalho arduo e delicado de Amor ao longo de toda uma vida sacrificada da "mae solteira" foi literalmente estracalhado e deitado pela sarjeta abaixo sem quaisquer escrupulos pelos ciumes, inveja, odio, despeito, complexos e racismos varios e toda a sorte de sentimentos baixos e mesquinhos, seja por outras parceiras do tal "pai ausente" (se por nenhuma outra razao, pelo simples facto de a crianca ser o unico rapaz dentre os filhos que o dito cujo deixou neste mundo...) e seus familiares e amigos, seja pelos proprios "familiares e amigos", quer da "mae solteira", quer do "pai ausente" - os quais, de resto, nunca acompanharam de perto a relacao nem nunca se dignaram OUVIR a "mae solteira" sobre a questao -, seja ate' por VERDADEIROS ABUTRES supostos ou pretensos "pretendentes post-mortem" e desconhecidos de ambas as partes, liderados por kabungados a espumar da boca e - essas sim, pobres e insignificantes criaturas rejeitadas! - verdes e doentes ninfas sexualmente objectificadas e vultas racistas, ciumentas, frustradas, ociosas, superficiais, mentecaptas, atrasadas mentais, intrometidas, levianas, venais, amorais e imorais, viciadas e viciosas, porcas, vulgares, ordinarias, irresponsaveis, oportunistas e abusivas ... enfim, pela IRRESPONSABILIDADE, pelos complexos, baixo coturno, falta de estofo, ignorancia, bocalismo, imaturidade, insensibilidade, imbecilidade, superficialidade, falsidade, hipocrisia, arrivismo, intromissao abusiva, venalidade, devassa e vil oprobio de certos sectores da tal de "sociedade" (dita "de esquerda")!

Em suma, casos ha' em que tanto a crianca como a "mae solteira" (que, ademais, se tornaram mais vulneraveis do que nunca a toda a sorte de manipulacoes e abusos com a morte subita e precoce do "pai ausente" e, por isso, com a ausencia de um testamento por parte deste - que, nao e' demais lembra-lo, NUNCA FOI CASADO com ninguem! -, o qual, malgre' tout, podia ser chamado a razao, quer em relacao a crianca, quer no que tocava a "defender e a lutar pela sua dama", quando a tal fosse forcado...) ACABAM POR FICAR REFENS, POR SER VITIMAS, POR SER FEITOS BODES EXPIATORIOS E POR PAGAR PELOS MALES, TARAS, VICIOS E DOENCAS, enfim PURE EVIL (!), DA SOCIEDADE e nao o contrario!

E' ISTO QUE CRIA REVOLTA!!!



P.S. 2: Quantos filhos "sem nome" foram deixados pelo colono? Terao todas as suas maes "lhes contado a estoria"? Terao todos eles se tornado "revoltados"? Terao todos eles "feito pagar a sociedade"?!!!




ADENDA



CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA DE ANGOLA

Artigo 35.º
(Família, casamento e filiação)

1. A família é o núcleo fundamental da organização da sociedade e é objecto de especial protecção do Estado, quer se funde em casamento, quer em união de facto, entre homem e mulher.
2. Todos têm o direito de livremente constituir família nos termos da Constituição e da lei.
3. O homem e a mulher são iguais no seio da família, da sociedade e do Estado, gozando dos mesmos direitos e cabendo-lhes os mesmos deveres.
4. A lei regula os requisitos e os efeitos do casamento e da união de facto, bem como os da sua dissolução.
5. Os filhos são iguais perante a lei, sendo proibida a sua discriminação e a utilização de qualquer designação discriminatória relativa à filiação.
6. A protecção dos direitos da criança, nomeadamente, a sua educação integral e harmoniosa, a protecção da sua saúde, condições de vida e ensino constituem
absoluta prioridade da família, do Estado e da sociedade.
7. O Estado, com a colaboração da família e da sociedade, promove o desenvolvimento harmonioso e integral dos jovens e adolescentes, bem como a criação de condições para a efectivação dos seus direitos políticos, económicos, sociais e culturais e estimula as organizações juvenis para a prossecução de fins económicos, culturais, artísticos, recreativos, desportivos, ambientais, científicos, educacionais, patrióticos e de intercâmbio juvenile internacional.


Artigo 80.º
(Infância)

1. A criança tem direito à atenção especial da família, da sociedade e do Estado, os quais, em estreita colaboração, devem assegurar a sua ampla protecção contra todas as formas de abandono, discriminação, opressão, exploração e exercício abusivo de autoridade, na família e nas demais instituições.
2. As políticas públicas no domínio da família, da educação e da saúde devem salvaguardar o princípio do superior interesse da criança, como forma de garantir o seu pleno desenvolvimento físico, psíquico e cultural.
3. O Estado assegura especial protecção à criança órfã, com deficiência, abandonada ou, por qualquer forma, privada de um ambiente familiar normal.
4. O Estado regula a adopção de crianças, promovendo a sua integração em ambiente familiar sadio e velando pelo seu desenvolvimento integral.
5. É proibido, nos termos da lei, o trabalho de menores em idade escolar.

Mocambique: Relendo Samora pelo pincel de Naguib (I)

Num fim de tarde dedicado ao lazer, entre as tensas sessoes de trabalho das 'Reunioes Internacionais sobre Recursos Hidricos Partilhados', que tiveram lugar em Maputo em Novembro de 2003 (algumas imagens das quais podem ser vistas no slideshow deste post), o meu colega e amigo mocambicano Luis de Almeida levou-me a visitar uma exposicao de Naguib, no seu Espaco Artistico (Academia de Arte) - Galeria Joe Braganca.

Trata-se de um espaco de fazer inveja a qualquer artista, em qualquer parte do mundo - tanto pela sua localizacao, junto a Marginal da cidade, como pela concepcao espacial e arquitectonica - que logo me fez pensar, e disse-o na altura ao Luis, do quanto "o meu artista" da Humbi-Humbi em Luanda gostaria de o ter... [E isto transporta-me a uma certa tarde de domingo em Luanda, em que, com um certo poeta errante que ja' por aqui me vi compelida a designar "O Incrivel Svengali", nos dirigiamos, de maos dadas, a uma exposicao do Mestre Malangatana* na galeria da UNAP. Ao aproximarmo-nos do local, o Malangatana, que estava parado no largo em frente, ao ver-nos comecou a dirigir-se a nos e, falando para o poeta mas olhando para mim, disse sorridente: "estas muito bonito hoje!"]

Bom, regressando a Maputo e ao Espaco Artistico, eu e o Luis encontramos la' o Naguib, tambem em momento de lazer com a familia, que nos pediu que estivessemos a vontade apesar de, aquela hora, o espaco ja' estar encerrado ao publico. De la' trouxe o catalogo da sua exposicao patente na altura, "Samora Machel: Pensamento, Enxada e Sacrificio - Frases de Samora pelo pincel de Naguib", que contem tambem uma reportagem fotografica da visita de Samora a primeira exposicao individual de Naguib, em 1986, entitulada "Grito de Paz".

Nao me sendo possivel de momento, por razoes tecnicas, reproduzir aqui as imagens do catalogo, recorro a outras (representativas da obra de Naguib nos anos que se seguiram aquela exposicao de 2003) que, com a devida venia, fui tomar de emprestimo ao blog de Ricardo Riso, com quem ja' tivemos antes algum intercambio (aqui e aqui). Mas as frases de Samora que aqui reproduzo sao retiradas do catalogo.



Australírica numa variação de nyau, 2004


Promover a emancipacao da mulher, recuperar a sua dignidade, uma das fontes principais da batalha para uma autentica libertacao do nosso povo.


Exaltação lírica nas margens do Zambeze I, 2005


A emancipacao da mulher nao e' um acto de caridade, nao resulta duma posicao humanitaria ou de compaixao. No seio da sociedade, ela aparece como o ser mais oprimido, mais humilhado, mais explorado. Ela e' explorada ate' pelo explorado, batida pelo homem rasgado pela palmatoria, humilhada pelo homem esmagado pela bota do patrao e do colono.


Exaltação lírica nas margens do Zambeze II, 2005


O poder, as facilidades que rodeiam os governantes podem corromper facilmente o homem mais firme. Por isso queremos que vivam modestamente e com o povo. Nao facam da tarefa recebida um privilegio ou veiculo de acumular bens ou distribuir favores.


Efabulírica com todas as claves, 2004


O ignorante e' incompetente. O incompetente julga saber tudo.


Reinventário de manhã para amar sem medo III, 2005


Dominar a tecnica e a ciencia e' estudar e nao imitar.


Exaltação lírica nas margens do Zambeze III, 2005


A luta contra o subdesenvolvimento e' uma batalha cultural.


*[No inicio do catalogo, e' reproduzida uma carta de Naguib a Luis (Carlos Patraquim), entitulada "A Minha Sincera Opiniao", relativa a sua obra ate' entao, onde se podem ler os seguintes extractos: "(...) Foi uma investigacao literaria e nao vivida; tentei nao confundir-me com o Malangatana fazendo corpos inteiros, num emaranhado de espacos subdivididos por cores. Nao me agradou e como consequencia deixo os vazios 'as escuras, como estava a minha mente no momento." (sobre "Pranto de Mae Africa"); "(...) Gostaria de dar a cada obra mais profundidade tecnica que nao a encontro ca', nem no Malangatana. Onde ir beber isso ainda nao sei. E, e' claro, sem me esquecer da Luz que a meu ver ainda e' fraca." (sobre "Grito de Paz"); "(...) Portanto, recebi muitos louvores e felicitacoes, mas acabo de assumir uma carga bem pesada. Em suma, para nao te roubar mais tempo, tenho a dizer-te que so' me resta um caminho: trabalhar dez vezes mais. Percebes? Um abraco. Naguib - Maputo, 24 Abril/86."
Num fim de tarde dedicado ao lazer, entre as tensas sessoes de trabalho das 'Reunioes Internacionais sobre Recursos Hidricos Partilhados', que tiveram lugar em Maputo em Novembro de 2003 (algumas imagens das quais podem ser vistas no slideshow deste post), o meu colega e amigo mocambicano Luis de Almeida levou-me a visitar uma exposicao de Naguib, no seu Espaco Artistico (Academia de Arte) - Galeria Joe Braganca.

Trata-se de um espaco de fazer inveja a qualquer artista, em qualquer parte do mundo - tanto pela sua localizacao, junto a Marginal da cidade, como pela concepcao espacial e arquitectonica - que logo me fez pensar, e disse-o na altura ao Luis, do quanto "o meu artista" da Humbi-Humbi em Luanda gostaria de o ter... [E isto transporta-me a uma certa tarde de domingo em Luanda, em que, com um certo poeta errante que ja' por aqui me vi compelida a designar "O Incrivel Svengali", nos dirigiamos, de maos dadas, a uma exposicao do Mestre Malangatana* na galeria da UNAP. Ao aproximarmo-nos do local, o Malangatana, que estava parado no largo em frente, ao ver-nos comecou a dirigir-se a nos e, falando para o poeta mas olhando para mim, disse sorridente: "estas muito bonito hoje!"]

Bom, regressando a Maputo e ao Espaco Artistico, eu e o Luis encontramos la' o Naguib, tambem em momento de lazer com a familia, que nos pediu que estivessemos a vontade apesar de, aquela hora, o espaco ja' estar encerrado ao publico. De la' trouxe o catalogo da sua exposicao patente na altura, "Samora Machel: Pensamento, Enxada e Sacrificio - Frases de Samora pelo pincel de Naguib", que contem tambem uma reportagem fotografica da visita de Samora a primeira exposicao individual de Naguib, em 1986, entitulada "Grito de Paz".

Nao me sendo possivel de momento, por razoes tecnicas, reproduzir aqui as imagens do catalogo, recorro a outras (representativas da obra de Naguib nos anos que se seguiram aquela exposicao de 2003) que, com a devida venia, fui tomar de emprestimo ao blog de Ricardo Riso, com quem ja' tivemos antes algum intercambio (aqui e aqui). Mas as frases de Samora que aqui reproduzo sao retiradas do catalogo.



Australírica numa variação de nyau, 2004


Promover a emancipacao da mulher, recuperar a sua dignidade, uma das fontes principais da batalha para uma autentica libertacao do nosso povo.


Exaltação lírica nas margens do Zambeze I, 2005


A emancipacao da mulher nao e' um acto de caridade, nao resulta duma posicao humanitaria ou de compaixao. No seio da sociedade, ela aparece como o ser mais oprimido, mais humilhado, mais explorado. Ela e' explorada ate' pelo explorado, batida pelo homem rasgado pela palmatoria, humilhada pelo homem esmagado pela bota do patrao e do colono.


Exaltação lírica nas margens do Zambeze II, 2005


O poder, as facilidades que rodeiam os governantes podem corromper facilmente o homem mais firme. Por isso queremos que vivam modestamente e com o povo. Nao facam da tarefa recebida um privilegio ou veiculo de acumular bens ou distribuir favores.


Efabulírica com todas as claves, 2004


O ignorante e' incompetente. O incompetente julga saber tudo.


Reinventário de manhã para amar sem medo III, 2005


Dominar a tecnica e a ciencia e' estudar e nao imitar.


Exaltação lírica nas margens do Zambeze III, 2005


A luta contra o subdesenvolvimento e' uma batalha cultural.


*[No inicio do catalogo, e' reproduzida uma carta de Naguib a Luis (Carlos Patraquim), entitulada "A Minha Sincera Opiniao", relativa a sua obra ate' entao, onde se podem ler os seguintes extractos: "(...) Foi uma investigacao literaria e nao vivida; tentei nao confundir-me com o Malangatana fazendo corpos inteiros, num emaranhado de espacos subdivididos por cores. Nao me agradou e como consequencia deixo os vazios 'as escuras, como estava a minha mente no momento." (sobre "Pranto de Mae Africa"); "(...) Gostaria de dar a cada obra mais profundidade tecnica que nao a encontro ca', nem no Malangatana. Onde ir beber isso ainda nao sei. E, e' claro, sem me esquecer da Luz que a meu ver ainda e' fraca." (sobre "Grito de Paz"); "(...) Portanto, recebi muitos louvores e felicitacoes, mas acabo de assumir uma carga bem pesada. Em suma, para nao te roubar mais tempo, tenho a dizer-te que so' me resta um caminho: trabalhar dez vezes mais. Percebes? Um abraco. Naguib - Maputo, 24 Abril/86."

Tuesday 24 August 2010

A Menina que nasceu em cima da arvore: um update




Numa das estorias (... a par desta...), senao A ESTORIA (!), que fez recair sobre mim a chuva, ou melhor - enxurrada (!), de lama e pedras desta campanha, assim terminava, ha' ja' algum tempo, a minha "nota de rodape'" a este post:

Apenas para terminar numa nota com algum humor, uma estoria que me foi contada por um amigo Mocambicano*: lembram-se daquela mulher que, durante as cheias de 2000 em Mocambique, teve um bebe em cima de uma arvore? Pois bem, depois daquelas imagens que correram mundo, choveram-lhe donativos monetarios e materiais de todo o mundo, de tal modo que a senhora ficou rica e passou a gozar de uma grande admiracao por parte da comunidade, nao so’ por ter tido um bebe naquelas condicoes, mas tambem porque toda a riqueza de que a familia agora usufruia se devia a ela… Entao, nas grandes cheias que se seguiram, um grupo de uma comunidade vizinha que tinha perdido todos os seus bens foi bater-lhe a porta pedindo: minha senhora, agora que esta’ rica e nao lhe falta nada, por favor ajude-nos… qualquer coisa serve mesmo… qualquer coisa que nao precise so’! Entao a senhora gritou para o marido que estava dentro de casa: oh Joao, vem ca’ que estao a te precisar aqui fora!


Bom, claro que se tratava de uma anedota com base numa estoria veridica (daquelas que nao aparecem nas paginas do "Aconteceu Mesmo" de certa imprensa angolana, pelo que nao informam nem substanciam o seu "jornalismo de opiniao"...). Mas o update da estoria e-nos agora feito pelo correspondente da BBC para Africa:

Na verdade, a senhora, de seu nome Carolina Pedro, para alem dos varios donativos que recebeu na altura, nao ficou nada "rica" (embora tambem nao tenha ficado mais pobre do que era, em particular se em comparacao com os seus antigos vizinhos e familiares), mas "ganhou" uma boa casa definitiva de tijolo com um grande quintal, um emprego como empregada de limpeza num escritorio governamental na cidade e um lugar na escola local para a filha que, ha' 10 anos, trouxe ao mundo em cima de uma arvore, a Rosita. Para alem desses ganhos materiais, teve outras "recompensas" como a sua estoria ter passado a fazer parte do curriculum escolar nacional e a colocacao de uma placa alusiva no sope' da arvore onde o memoravel parto teve lugar.

Claro que a estoria do marido era a punchline da anedota, mas segundo este update nao andava la' muito longe da realidade: o dito marido, cujo nome verdadeiro e' Salvador (embora, como esta' bom de ver, dificilmente seria capaz de salvar a mulher e a filha na altura daquele parto, nao fossem os helicopteros da ajuda internacional...), se nao passa a vida a dormir (jiboiar talvez seja o termo mais apropriado) dentro de casa, e' acusado de ser um pai ausente e de se ter apropriado e gasto futilmente praticamente todo o dinheiro que foi dado a familia na sequencia do nascimento da filha naquelas circunstancias, pelo que, apesar dos "ganhos" da dona Carolina, a familia, a qual entretanto se juntou mais uma filha, a Cecilia, agora com 10 meses, por causa da vida perdularia do 'senhor' Salvador, nao tem o rendimento necessario para manter o seu novo lifestyle e tem passado por alguns momentos dificeis...

Mas nem tudo esta' perdido para a dona Carolina: a Rosita, que e' mesmo uma warrior desde o momento em que NASCEU MULHER, diz que a sua grande ambicao e' ser... Presidente da Republica!

(... E suspeito bem que o seu slogan de campanha nao sera' nada parecido com algo como "Okotunda Olunga"!...)


*(Quem me contou esta anedota, na Zambia, foi o meu amigo Luis de quem falo neste post, ao qual, como prometido, voltarei tao logo possa)


[Update, em Ingles, aqui]




Warrior (in Xemplify) - Khethi (South Africa)



Numa das estorias (... a par desta...), senao A ESTORIA (!), que fez recair sobre mim a chuva, ou melhor - enxurrada (!), de lama e pedras desta campanha, assim terminava, ha' ja' algum tempo, a minha "nota de rodape'" a este post:

Apenas para terminar numa nota com algum humor, uma estoria que me foi contada por um amigo Mocambicano*: lembram-se daquela mulher que, durante as cheias de 2000 em Mocambique, teve um bebe em cima de uma arvore? Pois bem, depois daquelas imagens que correram mundo, choveram-lhe donativos monetarios e materiais de todo o mundo, de tal modo que a senhora ficou rica e passou a gozar de uma grande admiracao por parte da comunidade, nao so’ por ter tido um bebe naquelas condicoes, mas tambem porque toda a riqueza de que a familia agora usufruia se devia a ela… Entao, nas grandes cheias que se seguiram, um grupo de uma comunidade vizinha que tinha perdido todos os seus bens foi bater-lhe a porta pedindo: minha senhora, agora que esta’ rica e nao lhe falta nada, por favor ajude-nos… qualquer coisa serve mesmo… qualquer coisa que nao precise so’! Entao a senhora gritou para o marido que estava dentro de casa: oh Joao, vem ca’ que estao a te precisar aqui fora!


Bom, claro que se tratava de uma anedota com base numa estoria veridica (daquelas que nao aparecem nas paginas do "Aconteceu Mesmo" de certa imprensa angolana, pelo que nao informam nem substanciam o seu "jornalismo de opiniao"...). Mas o update da estoria e-nos agora feito pelo correspondente da BBC para Africa:

Na verdade, a senhora, de seu nome Carolina Pedro, para alem dos varios donativos que recebeu na altura, nao ficou nada "rica" (embora tambem nao tenha ficado mais pobre do que era, em particular se em comparacao com os seus antigos vizinhos e familiares), mas "ganhou" uma boa casa definitiva de tijolo com um grande quintal, um emprego como empregada de limpeza num escritorio governamental na cidade e um lugar na escola local para a filha que, ha' 10 anos, trouxe ao mundo em cima de uma arvore, a Rosita. Para alem desses ganhos materiais, teve outras "recompensas" como a sua estoria ter passado a fazer parte do curriculum escolar nacional e a colocacao de uma placa alusiva no sope' da arvore onde o memoravel parto teve lugar.

Claro que a estoria do marido era a punchline da anedota, mas segundo este update nao andava la' muito longe da realidade: o dito marido, cujo nome verdadeiro e' Salvador (embora, como esta' bom de ver, dificilmente seria capaz de salvar a mulher e a filha na altura daquele parto, nao fossem os helicopteros da ajuda internacional...), se nao passa a vida a dormir (jiboiar talvez seja o termo mais apropriado) dentro de casa, e' acusado de ser um pai ausente e de se ter apropriado e gasto futilmente praticamente todo o dinheiro que foi dado a familia na sequencia do nascimento da filha naquelas circunstancias, pelo que, apesar dos "ganhos" da dona Carolina, a familia, a qual entretanto se juntou mais uma filha, a Cecilia, agora com 10 meses, por causa da vida perdularia do 'senhor' Salvador, nao tem o rendimento necessario para manter o seu novo lifestyle e tem passado por alguns momentos dificeis...

Mas nem tudo esta' perdido para a dona Carolina: a Rosita, que e' mesmo uma warrior desde o momento em que NASCEU MULHER, diz que a sua grande ambicao e' ser... Presidente da Republica!

(... E suspeito bem que o seu slogan de campanha nao sera' nada parecido com algo como "Okotunda Olunga"!...)


*(Quem me contou esta anedota, na Zambia, foi o meu amigo Luis de quem falo neste post, ao qual, como prometido, voltarei tao logo possa)


[Update, em Ingles, aqui]




Warrior (in Xemplify) - Khethi (South Africa)

Alguns dos livros do meu filho... [R]*




Confesso que desde os tempos em que, ainda em Lisboa, ele devorava todas as Mafaldas e Asterixes, escrevia poemas e fazia pequenos cadernos de banda desenhada com estorias e personagens criados por ele e tentava aprender sozinho a ler e escrever Ingles, nao tenho seguido muito de perto as leituras do meu filho, excepto em casos muito pontuais.


Mas, no outro dia, tive que dar umas voltas por parte da biblioteca inactiva dele (isto e’, por aqueles livros que ele ja’ leu ha' muito tempo) e, entre uns Tio Patinhas, Patos Donald, Asterixes (sempre!) e uma vasta coleccao de paperbacks onde se destacam autores como Paulo Coelho e Jeffrey Archer, chamaram-me particularmente a atencao alguns dos titulos que la’ encontrei, dos quais cito aqui apenas alguns (mencionando os autores apenas num ou dois casos, para bo(a)m entendedor(a)...) :

 The Complete Works of William Shakespeare
 The Holy Bible
 Foundations Edge
 Le Petit Prince
 Dreams from My Father
 The Audacity of Hope
 The Da Vinci Code
 Writers on Organizations
 Mind Magic
 Fischer v Spassky: The Chess Match of the Century
 The Great Gatsby (Scott Fitzgerald)
 To a Skylark (Percy Bysshe Shelley)
 The Outsider (Albert Camus)
 Introduction to Sociology
 The Irony of Democracy
 American Politics & Society
 Class Inequality & Political Order
 Of Good and Evil
 A Preface to James Joyce
 The Death of Tragedy
 Ernesto Che Guevara: Obras
 The Motorcycle Diaries
 Ipupiara - O Devorador de Indios
 Positive Image
 Aprender a Comentar um Texto Literario
 The Celestine Prophecy
 O Que e’ Negociacao
 Things a Man Should Know About Style





Mas, no entanto, ele pode estar sujeito (apenas porque, tal como eu, nao faz “espalhafatos” nem anda em "maratonas de literatura" a volta do que leu ou deixou de ler e do que sabe ou nao) a um belo dia ser acusado de “nunca ter lido nenhum livro”! Alias, ate’ sei que ja’ o foi…



*[First posted 15/07/10]



Confesso que desde os tempos em que, ainda em Lisboa, ele devorava todas as Mafaldas e Asterixes, escrevia poemas e fazia pequenos cadernos de banda desenhada com estorias e personagens criados por ele e tentava aprender sozinho a ler e escrever Ingles, nao tenho seguido muito de perto as leituras do meu filho, excepto em casos muito pontuais.


Mas, no outro dia, tive que dar umas voltas por parte da biblioteca inactiva dele (isto e’, por aqueles livros que ele ja’ leu ha' muito tempo) e, entre uns Tio Patinhas, Patos Donald, Asterixes (sempre!) e uma vasta coleccao de paperbacks onde se destacam autores como Paulo Coelho e Jeffrey Archer, chamaram-me particularmente a atencao alguns dos titulos que la’ encontrei, dos quais cito aqui apenas alguns (mencionando os autores apenas num ou dois casos, para bo(a)m entendedor(a)...) :

 The Complete Works of William Shakespeare
 The Holy Bible
 Foundations Edge
 Le Petit Prince
 Dreams from My Father
 The Audacity of Hope
 The Da Vinci Code
 Writers on Organizations
 Mind Magic
 Fischer v Spassky: The Chess Match of the Century
 The Great Gatsby (Scott Fitzgerald)
 To a Skylark (Percy Bysshe Shelley)
 The Outsider (Albert Camus)
 Introduction to Sociology
 The Irony of Democracy
 American Politics & Society
 Class Inequality & Political Order
 Of Good and Evil
 A Preface to James Joyce
 The Death of Tragedy
 Ernesto Che Guevara: Obras
 The Motorcycle Diaries
 Ipupiara - O Devorador de Indios
 Positive Image
 Aprender a Comentar um Texto Literario
 The Celestine Prophecy
 O Que e’ Negociacao
 Things a Man Should Know About Style





Mas, no entanto, ele pode estar sujeito (apenas porque, tal como eu, nao faz “espalhafatos” nem anda em "maratonas de literatura" a volta do que leu ou deixou de ler e do que sabe ou nao) a um belo dia ser acusado de “nunca ter lido nenhum livro”! Alias, ate’ sei que ja’ o foi…



*[First posted 15/07/10]

OLHARES DIVERSOS (VII) [R]* (Actualizado)




"O grande inimigo da verdade, muitas vezes não é a mentira - deliberada, compulsiva e desonesta - , mas o mito - persistente, persuasivo e irrealista. Acreditar em mitos dá o conforto da opinião sem o desconforto do pensamento."
John F. Kennedy


"We cannot trample upon the humanity of others without devaluing our own. The Igbo, always practical, put it concretely in their proverb Onye ji onye n'ani ji onwe ya: "He who will hold another down in the mud must stay in the mud to keep him down."

[Chinua Achebe]

Ou, alternativamente, em Portugues: Yanick Ngombo, a.k.a. Afroman, membro da etnia Bakongo (tal como os Igbo, igualmente com um sentido bastante pratico das coisas mundanas, para que lhes sobre tempo suficiente para as coisas do espirito, como a metafisica ou a filosofia), diz numa das suas cancoes algo como isto: "... e' como o porco que arrasta o javali para uma luta na lama: os dois vao se sujar, mas o porco gosta porque assim ganha fama!







Regresso a este post, motivada por esta noticia e por ter lido aqui que na mesa redonda em questao nao houve debate. Poderia re-entitula-lo "Mais, mais uma vez... Revisitando Questoes de Genero", ou algo assim parecido. Mas nao o faco porque prefiro mante-lo tal como o postei pela primeira vez e porque... ele nao trata de "questoes de genero"!

Trata, isso sim, de PRECONCEITOS, de olhares aprioristicos, ou melhor, de um olhar (cego?), sobre a sociedade, ou sobre algumas pessoas na sociedade (ou seria ate', como tudo parece indicar, apenas sobre uma pessoa?!...) e do que me soa ate' hoje como uma INTROMISSAO GROSSEIRA na vida intima de pessoas privadas e de um JULGAMENTO SUMARIO em praca publica de SUPOSTOS comportamentos privados de pessoas privadas, com base em VEREDICTOS informados apenas pelo ponto de vista INQUISITORIAL de quem julga a distancia aquilo e quem NUNCA VIU, NEM DE PERTO NEM DE LONGE e NAO CONHECE, nem NUNCA CONHECEU, minimamente que seja... E, nessa medida, ate' porque se trata de um discurso cheio de ARGUMENTOS NON SEQUITUR, parece-me francamente faltar-lhe a ANALISE SOCIOLOGICA, para dizer o minimo!


Este e' precisamente um exemplo tipico daquilo a que Malveaux se referia ao dizer que "demasiados analistas sao apanhados na teia de Sexo, Mentiras e Estereotipos forjada pelos media para fazer politica publica"! E, neste caso, com a agravante de nao serem so' analistas, mas tambem politico(a)s, cuja filiacao partidaria 'garante' que as possiveis politicas publicas (assepticas?) adoptadas ou a adoptar neste dominio especifico venham a ser 'informadas' pelos seus preconceitos baseados em tais estereotipos...

Peco imensas desculpas, nao pretendo ofender ninguem, mas se se pretende realmente "resgatar valores", "mudar mentalidades" e/ou RECONCILIAR PESSOAS E FAMILIAS e, em ultima analise, a SOCIEDADE ANGOLANA, ha' que se deixar de ESTIGMATIZAR, AGREDIR, INSULTAR e OFENDER gratuita, indiscriminada e aleatoriamente pessoas cujas vozes JAMAIS SAO OUVIDAS, seja nos espacos (publicos ou privados) onde tais entrevistas sao concedidas, seja nas tais mesas redondas ou bicudas onde, de resto, tais questoes nao sao sequer debatidas... Enfim, ha' que saber-se OUVIR primeiro as PESSOAS visadas, para se conhecer a REALIDADE e para que se a possa analisar com propriedade, acuidade e o devido respeito pelos SERES HUMANOS, incluindo CRIANCAS INOCENTES, que se pretende julgar SEM QUALQUER FUNDAMENTO, assim apenas SOMANDO INSULTO A INJURIA!...

E tudo, aparentemente, apenas para se ALIVIAREM CONSCIENCIAS PESADAS (?) E TENTAR-SE JUSTIFICAR ESFARRAPADAMENTE O INJUSTIFICAVEL E DEFENDER O INDEFENSAVEL, ou, pior ainda, PARA SE FAZEREM CAMPANHAS DE AUTO-PROMOCAO PESSOAL A CUSTA DA HONRA E DO BOM NOME DE QUEM, CONTRA TODAS AS TENTACOES E 'APELOS' EM CONTRARIO, TEM LEVADO A SUA VIDA SACRIFICADAMENTE COM A MAIOR DAS DIGNIDADES E PROBIDADES (... e sobre isto devo lembrar que A VERDADE VEM SEMPRE AO DE CIMA)!
Ha' que deixar-se de tentar arranjar BODES EXPIATORIOS para todos os males e doencas da sociedade e de POLITIZAR E MANIPULAR TRAGEDIAS HUMANAS INDIVIDUAIS OU FAMILIARES para VENDER JORNAIS, fazer delas COBAIAS EM EXPERIENCIAS/ESPECULACOES PSEUDO-SOCIOLOGICAS OU PSEUDO-PSICANALITICAS e tentar delas retirar DIVIDENDOS POLITICOS!... Ha' que aprender-se a ouvir os VERDADEIROS REPRESENTANTES DA SOCIEDADE CIVIL, ou seja, entre outros, daqueles que foram tornados excluidos social, economica e politicamente pela DESTRUICAO DAS FAMILIAS E DO TECIDO ECONOMICO, SOCIAL, MORAL E ESPIRITUAL de que os representantes de quem hoje promove tais mesas redondas estao longe de estar isentos, pois foi com os seus INSENSIVEIS E INSENSATOS KAMARTELOS E METRALHADORAS que os destruiram!... Enfim, ha' que ter-se, no minimo, alguma capacidade de auto-analise e de AUTO-CRITICA!

Ha' que SABER-SE TER MORAL PARA SE SER MORALISTA! Mas, acima de tudo, HA' QUE DEFINIR-SE CLARAMENTE DE QUE PRINCIPIOS E VALORES, E DE QUEM EM CONCRETO, SE ESTA' A FALAR! Em suma, usando as proprias palavras da entrevistada, HA' QUE SABER-SE GERIR OS APELOS a intromissao ABUSIVA, LEVIANA, IRRESPONSAVEL e ate' CRIMINOSA, porque CALUNIOSA E DIFAMATORIA, na VIDA PRIVADA DO CIDADAO (neste caso, mais especificamente, da CIDADA), no que e' um exemplo flagrante de INVERSAO E SUBVERSAO PRECISAMENTE DOS VALORES E PRINCIPIOS que se alega pretender "RESGATAR"!

O que farei em seguida, um pouco tentando cobrir o "debate que nao houve", e' colocar algumas questoes muito simples, directas e incisivas (a vermelho) relativas a algumas passagens dessa entrevista. Nao espero respostas, espero apenas poder contribuir um pouco para a REFLEXAO que se impoe. E espero tambem que as questoes que aqui coloco possam ser recebidas por quem as leia com o mesmo espirito de TOLERANCIA E ABERTURA A DIVERSIDADE CULTURAL, POLITICA E INTELECTUAL com que decidi publicar aqui esta entrevista quando o fiz.

Resta-me dizer que nao conheco pessoalmente a entrevistada, nem nunca antes havia sequer ouvido ou lido o seu nome antes desta entrevista.



FATIMA VIEGAS

AO PAIS

(…)

Temos (mulheres prepotentes). E por vezes a prepotência, o autoritarismo, servem para esconder outras coisas, essas pessoas têm sempre uma fragilidade, incompetência ou outras questões, pode ser algo recalcado, a pessoa pode ter sido violentamente maltratada na sua infância ou na sua juventude e depois, com poder, querem usar o poder com prepotência. Mas acho que se podem gerir as situações, a questão está mesmo na educação … Há a gestão que se deve fazer do poder, mas há também a gestão dos apelos. Já tivemos o cooperante, agora o expatriado, as catorzinhas …

{... Ja' nao teem as catorzinhas, os cooperantes e os expatriados?! Gostava mesmo de saber - mera curiosidade academica - porque nunca estive muito familiarizada com tais especimens e quando tive algum, reagi desta forma... E o que e' que esta sucessao de PEDRADAS (dirigidas, obviamente, nao aos homens que usam e abusam das ditas catorzinhas, nem aos cooperantes ou expatriados...) tem a ver com a questao da "prepotencia das mulheres"?}

(…)

Essas que têm conhecimento da situação do companheiro e que aceitam essa situação são mulheres que não se respeitam a si próprias. Não me venham dizer que é das dificuldades económicas porque qualquer ser humano que se organize pode sobreviver aos desafios. Se ela sabe que o companheiro já tem “n” mulheres nem sequer há uma relação, nem sequer a ligação entre eles é efectivamente vivida. Se ela não se respeitar a ela própria ninguém a respeita, é uma questão de valorizar a dignidade da pessoa humana. Salvo em questões culturais, nas comunidades em que a poligamia ou a poliandria é instituída.
{Sera' inteiramente objectivo, realistico ou justo este julgamento numa sociedade onde a poligamia, independentemente do meio cultural, e' praticamente uma INSTITUICAO com dia nacional consagrado e tudo: a sexta feira?!... E nao e' curioso que julgamento equivalente, ou apenas uma leve mencao, em algum momento seja feita ao HOMEM POLIGAMO?}
(…)

Esse rótulo do “tio Pacheco” deriva efectivamente da falta de educação, de princípios. Se ele foi educado em como era superior à mulher, que tem de estar sempre acima da mulher, quer do ponto de vista do conhecimento, quer do ponto de vista do trabalho e do ponto de vista da sociedade, ele, efectivamente não aceita esta situação. Mas já vivemos num mundo de paridade de valores, de trabalho e de oportunidades. Havendo essa paridade, o essencial é o diálogo e a convivência.
{"Ja' vivemos num mundo de paridade de valores, de trabalho e de oportunidades"?! Onde? No MPLA? Em Luanda? Em Angola?... Mas a questao fundamental nao e' sequer essa: e' que, tanto quanto julgo entender da cancao da Patricia Faria, com o Kota Bonga, sobre o tal de "Pacheco", trata-se de alguem que "so' quer cama e mesa... depois de sacar toda a escama, arrasta o meu nome na lama... mama nao se meta so' la', esse homem esta' cheio de astucia, ele nao procura emprego, depois quer somar um bom posto... mas ele so' quer cama e mesa... esta' a pensar que a mulher e' limpeza"!...}
(…)

Infelizmente temos uma sociedade muito mais agarrada aos bens materiais que à parte espiritual, e as pessoas vão-se agarrando mais a determinados subterfúgios para terem uma certa posição. Daí que não se faça questão de mostrar aos filhos questões culturais, um livro, actividades potenciadoras de uma cultura no seu todo, mas apenas o vestido, que muitas vezes nem é condigno, as toilettes, os luxos. São questões que têm um valor educacional, que têm a ver com a dignidade da pessoa humana, da forma como se encara a vida. Se eu encaro a vida com futilidade, eu darei aos meus filhos coisas fúteis, como, por exemplo, a melhor marca, das melhores comidas, e não ter a preocupação de ensinar a convivência em sociedade e a cultura geral. O facto de ir a Londres eu não condeno, condeno é que sirva apenas para futilidades. Nós além da nossa cultura devemos também buscar coisas de outros lados.
{... Mais uma vez, e ja' fazendo um GRANDE ESFORCO para ignorar tudo o resto (e.g. em nenhum momento se fala do pai do tal filho a quem alegadamente "nao se mostram questoes culturais"... ), a que proposito e' que venhem aqui "idas a Londres apenas para futilidades"? E porque Londres e nao qualquer outra cidade do mundo, como por exemplo Lisboa? Quem sao, por exemplo, os angolanos de que se fala, entre muitas outras que teem vindo a publico em Portugal e noutros paises nos ultimos tempos, nesta materia?!}
(…)

Essa cultura do ter passa pela competição de ver quem tem uma conta mais recheada, quem tem carros de marcas cada vez mais caras, ou quem consegue ter mais espaço na sociedade. Preocupa-me porque não é apenas o ter que nos trará felicidade neste país. É o ser e isso passa por termos valores e respeitarmos os outros. Quando diz que há jovens que olham para fora sem olhar cá para dentro, temos de fazer as duas coisas. Temos de valorizar primeiro as coisas de dentro e depois as de fora. Sem conhecer a minha realidade eu não posso saber quem eu sou. É importante este conhecimento de saber de onde venho e para onde vou.
{Sem comentarios, excepto para perguntar: quem e' que incentiva a "cultura do ter" em Angola? Quem e' que TEM, COMO o obteve e PORQUE que o TEM em Angola e, sobretudo, FORA DE ANGOLA?! E sobre essa estoria do TER vs. HAVER a verdade e' que SUAS EXCELENCIAS transformaram Angola num pais onde para se SER tem que se TER!}
(…)

Temos uma sociedade com assimetrias muito fortes, com gente que tem muito e esbanja, e os que nada têm. Temos é de esbater as assimetrias, dando oportunidades de emprego, de formação e dar oportunidades em função dos níveis das famílias. Precisamos de identificar as famílias e ouvi-las dizer o que precisam. Não falo de um Estado assistencialista, mas de um Estado que crie condições para as pessoas se poderem desenvolver. Durante muito tempo tivemos pessoas que apenas aprenderam a estender a mão. Estas pessoas não foram ensinadas como fazer o pão, como organizar as suas vidas. É preciso ensinar a saber fazer.
Mas isso tem de ser acompanhado de oportunidades. Fala-se agora da construção de um milhão de casas mas é preciso estudar como colocar lá as pessoas. Uma população da ilha tem como actividade a pesca, não podemos colocar estas pessoas longe onde se faça agricultura, não é o seu modo de vida. É preciso caracterizar bem as famílias e encaminhá-las como deve ser. Em qualquer sociedade há classes, ricos e pobres, mas é preciso dar aos pobres as condições mínimas para viver em sociedade. É preciso ver bem as coisas, dar o micro crédito, e aqui é preciso acompanhar bem o que se dá às mulheres.
{... "E' preciso acompanhar bem o que se da' as (mendigas?) das mulheres (que nao sabem gerir o seu pouco, ou nenhum, dinheiro, ou recursos domesticos, ou mesmo as suas vidas)"?! Ou aprender com elas quais a suas reais prioridades, problemas e necessidades e ajuda-las a satisfaze-los efectiva e eficazmente, com ou sem micro-credito? Ou evitar criar situacoes, como as demolicoes e desalojamentos de familias inteiras, ou simplesmente ROUBOS de casas a mulheres indefesas?...}
(…)

O que mais temos na nossa sociedade são, infelizmente, famílias monoparentais forçadas e nessas famílias a mulher, geralmente, não tem meios de sustento. Ou ela foi levada emocionalmente pela conversa bonita que o homem lhe cantou e que depois a abandonou. O problema nem é só a questão da paternidade, quando isso acontece, o maior reconhecimento é o amor e o carinho com que ele pode acompanhar o crescimento da criança, ser pai. Isso é que me preocupa. Nós tivemos décadas de destruição de infraestruturas, mas isso se pode reconstruir, o pior é a reconstrução do tecido social que leva muito mais tempo.
{Apenas uma hipotese (sociologica) alternativa: e se tiver sido ela a abandona-lo apesar da "conversa bonita"? Qualquer que seja a resposta, nao deixa de ser interessante que, em nenhum momento, qualquer analise critica substantiva seja feita em relacao ao tal "pai ausente", forcado ou nao!...}
(…)

Estive em Moçambique a trabalhar, a dar aulas e olhe que os alunos na universidade expressavam-se na língua materna, e Moçambique está dentro da globalização. Se dinamizarmos as nossas línguas, as nossas culturas e os valores culturais positivos. Porque eu não vou valorizar nem a poligamia nem a feitiçaria porque sei que acarretam consequências negativas. Mas devemos valorizar o nosso. Não devemos deixar que a globalização nos coma. Mesmo no Ocidente, pela televisão, vemos as suas danças, a sua arquitectura, os seus valores. É isso que tem de ser feito e essa valorização começa na cultura da educação, começa em casa e passa pela escola. Não se deve temer ser conservador, porque ser conservador, em determinados aspectos, pode ser útil.
{Sem comentarios... excepto para chamar atencao para a Lei da Familia em Mocambique, apresentada no espaco de comentarios a outra entrevista indicada no fim deste post}
(...)

Gosto de agarrar-me ao discurso do Presidente da República, José Eduardo do Santos, sobre a família, quando ele diz que a grande preocupação é que o homem angolano hoje tornou-se muito imediatista, egoísta, muito voltado para si mesmo.
{esta e' que fica mesmo SEM COMENTARIOS...}


[Aqui]
*[First posted 05/08/09]



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P.S.1: Tive, ate agora, alguma relutancia, ditada pelos meus valores e principios, em mencionar aqui esta 'pequena estoria', mas uma vez que me “estenderam” em praca publica, “porque sou isto, porque sou aquilo”, decidi-me a regista-la, mesmo porque ela nao e’ apenas do meu conhecimento:

Um dos participantes dessa mesa redonda (a que
aqui me referia quando dizia que “ate’ cumplice de plagios me obrigaram a ser”…) esteve hospedado em minha casa em Lisboa durante algumas semanas, num periodo em que eu ocasionalmente alugava quartos a estudantes – geralmente jovens do sexo feminino que me eram recomendadas pelos meus amigos alemaes que me haviam ajudado a obter o seu contrato de aluguer, mas nesse caso abri uma excepcao porque a pessoa em questao me havia sido recomendada por alguem de confianca e eu tambem ja’ o conhecia dos tempos de militancias e ate’ o tinha em alguma consideracao e amizade.

Acontece que o camarada era casado (por sinal, com uma mulher branca), mas tinha uma outra (por sinal uma mulher negra), que com ele tambem tinha ido para la’ fazer um curso (e que eu tambem ja’ conhecia dos mesmos tempos de militancias), mas que ficara hospedada numa outra casa. Ora, porque eu vivia sozinha na altura, comecei a ser bombardeada com telefonemas tanto da mulher casada, como da mae dela - sogra do camarada, portanto, a “pedirem-me satisfacoes” sobre “o meu relacionamento” com o dito camarada… Ao que lhes respondi apenas com a verdade e nada mais do que a verdade: que ele era apenas, e tao so’, meu inquilino! E apenas temporariamente ate' que ele arranjasse a sua propria acomodacao definitiva - como alias o fez passado pouco tempo, comprando (nao alugando...) uma casa numa zona nobre...

Agora, ele, participante que foi nessa mesa redonda sobre "valores e principios" e a sua “outra” (que, inclusive, uma vez foi la’ a minha casa para eu ajuda-la a vestir-se para uma recepcao do 11 de Novembro na Embaixada – numa altura em que eu, para todos os efeitos, ja’ era persona non grata e nem sequer era mais convidada para o “nosso dia”…), que, por obsequio, venham a mesma praca publica em que me “estenderam” dizer se, apesar de eu viver sozinha na altura, alguma vez teve, ou eu “o aliciei” para, algum relacionamento menos proprio comigo!





P.S.2: E, ja' agora (... ja' que comecei ...), embora estes 'personagens' possam nao ter directamente a ver com essa mesa redonda (... ou talvez ate' tenham, pelo menos indirectamente, uma vez que o individuo aqui em questao foi sogro de um dos participantes nessa mesa redonda...), o ter falado dos tempos em que eu era persona non grata na Embaixada, lembrou-me do facto de que quem 'mais explicitamente' me colocou naquela categoria (e nao me custa nada crer que tal facto tenha tido a ver com a "inconfidencia" que aqui vou fazer - diga-se que com assumida leveza, por ele ja' ser falecido e esperando que a terra lhe seja leve...) foi o individuo (por sinal branco de origem goesa) de quem aqui falava e que, sendo casado [por sinal com uma mulher branca que, por coincidencia (?), na altura tambem trabalhava la' na Embaixada], teve pelo menos uma "outra" (por sinal uma jovem mulher negra) que a dada altura se tornara minha amiga em Luanda (embora ja' nos conhecessemos dos tempos mais remotos da infancia na Vila Alice) e que comigo confidenciara sobre a sua relacao com ele... E sobre esse caso mais nao digo!



Mas… ja’ que comecei… e por falar em “valores e principios” (os meus e os dos outros e das outras), oferece-se-me a oportunidade de acrescentar alguns detalhes ao tristemente celebre, dramatico, traumatico (para mim – tanto pessoal, como profissional, psicologica, material e financeiramente) e escandaloso episodio ocorrido nesta organizacao e ao qual me referia aqui , aqui e aqui:

O protagonista principal de tal episodio (o angolano, por sinal negro e casado, que me fez o ataque pornografico) tinha entrado para a organizacao, onde me encontrou, ha’ muito pouco tempo, tendo-se rapidamente feito “muito amigo” de um mocambicano, por sinal tambem negro, que se dizia PhD e fazia muita questao de ser tratado como tal, embora nunca tivesse revelado em que universidade, ou pais, obtivera tal qualificacao, e cujas credencicais academicas e profissionais eram questionadas pelos seus proprios conterraneos que o conheciam melhor do que eu e que para la’ tinha entrado, to put it mildly, por portas travessas…

[E aqui abro um parentesis para notar uma 'observacao empirica' que se vem solidificando com as minhas experiencias a este respeito: o facto de o comportamento obcessivamente persecutorio desse individuo em relacao a mim se ter demonstrado muito similar ao de um outro sujeito na mesma organizacao, um sul-africano tambem casado com uma branca (a qual, por sinal, volta e meia aparecia pelo gabinete do genero da organizacao com um dos bracos em gesso, a queixar-se dos "afectos" que o marido lhe dava em casa...), e de o comportamento de ambos, por sua vez, se assemelhar bastante ao de certos PhDs e Kabungados Novo-Jornaleiros habitues deste blog - aos quais devo acrescentar o de um dos "epigonos ex-brigadistas especialista em poemarios" a quem
aqui me refiro e, ja' agora e en passant, certos homo democraticus 'activistas do social' aqui mencionados... - , vem confirmando a minha percepcao de que os negros "mais assanhados" em ataques canalhas, baixos e soezes contra certo tipo de mulheres negras (como as que aqui sao retratadas) sao, geralmente, casados (ou com relacionamentos proximos/intimos) com brancas ou mesticas, ou que a isso sempre aspiraram - como que, com tal comportamento, exteriorizando algo (nomeadamente o seu misto de recalcamentos, insegurancas e complexos de superioridade/inferioridade...) que sempre tentaram dissimular atraves de tais casamentos ou relacionamentos e as frustracoes neles acumuladas, ou apenas buscando uma justificacao para as suas "escolhas mais profundas"... ou, simplesmente, apenas reflectindo o 'racismo aprendido por osmose' com as suas parceiras/amigas ... ou, mais simplesmente ainda, apenas tentando provar beyond any reasonable doubt o seu "inquestionavel amor por elas"... ou, sem mais ques nem porques, apenas porque, para todos os efeitos reais e praticos, com todo o seu racismo invertido, sao "brancos por dentro e negros por fora"... (veja-se, a titulo de exemplo, este caso...) - claro que me refiro aqui apenas aos que ostentam esse tipo de comportamento, porque tambem os ha' casados e/ou envolvidos saudavelmente com mulheres nao negras e que nao demonstram qualquer necessidade de o fazer! E o facto de eu propria ter tido envolvimentos formais com nao negros sem que por isso alguma vez me tenha sentido compelida a hostilizar qualquer negro, apenas me torna mais perceptiva em relacao a esses bizarros e psicopaticos comportamentos... E, ja' agora, um pouco mais de "psicanalise": nao soubesse eu que pelo menos o sul-africano nao leu este meu artigo, diria que os outros estariam (estarao) a reagir a esta afirmacao de Rousseau que nele citei: "(...) E sobretudo, pertence-vos corrigir os defeitos que os nossos jovens vao buscar a outros paises, donde, em vez de tantas coisas uteis de que poderiam aproveitar, com ares ridiculos aprendidos no meio de mulheres estrangeiras, nao trazem senao admiracao de nao sei que pretensas grandezas, frivolas compensacoes da escravidao, que nunca terao o valor da excelsa liberdade." - E la' diz o ditado: "quem se ofendeu, carapuca lhe serviu!"... Estou certa, ou estou errada?!]

Ora, esse individuo tornou-se, desde que para la’ entrou, o ring leader de um grupelho cujo nucleo central era constituido por ele proprio, a sua amante e mais alguns poucos (por sinal todos lusofonos) do seu circulo. Acontece que a tal amante (por sinal uma musticia mwangole’) que se tornou “peca de mobiliario da organizacao”, divorciada [embora seja consabido que nao era propriamente conhecida por ter sido fiel no casamento (o que me faz lembrar vagamente de uma keta do antigamente na vida ke dizia assim: #se eu soubesse nao kasava, se eu soubesse nao kasava kom akela mulata enganadora... a mulata me dizia ke era mesmo delikada afinale fui ver e' piore ke uma cebola#...) – tendo embora mantido o sobrenome do ex-marido, por sinal negro, entretanto casado pela segunda vez com uma mulher branca…) e vinha de um recente relacionamento falhado com um outro mocambicano (por sinal musticio-indiano) … Acontece tambem que o tal individuo era casado com uma mulher, por sinal branca, com quem tinha dois filhos ainda pequenos que deixara em Mocambique, sendo que, para alem da amante mwangole’, dizia-se ter outras 'namoradas' na cidade…

Acontece igualmente que, tanto ele como a amante mwangole’ (que desde que o "engatou" comecou a aparecer pelo edificio da organizacao vestida de tal modo que ela propria dizia que "estou a catorzinha"!...) tinham razoes, e expressaram-no a saciedade (!) desde que eu entrara para a organizacao, para terem inveja e ciumes pessoais e profissionais em relacao a mim (por isso eles e outro/as no fim decidiram inventar-me um fantasmagorico relacionamento intimo com o entao Secretario Executivo da organizacao – puras CALUNIA E DIFAMACAO!), com os quais terao contagiado o seu grupelho e, implicitamente, o angolano que acabou por ser o meu algoz na organizacao… A este proposito talvez baste dizer que o primeiro obus que ele disparou sobre o meu quintal foi em retaliacao a um artigo de uma revista americana sobre estudos que demonstravam que as mulheres negras nos EUA tinham em media um nivel academico, profissional e financeiro superior ao da media dos homens negros americanos (uma questao tambem abordada
nesta obra), que eu circulara por e-mail a todo o staff, tal como o fazia regularmente com materias que me pareciam relevantes para a reflexao e/ou a formulacao de algumas politicas. Fi-lo sem qualquer intencao de provocar absolutamente ninguem - nem homem, nem mulher, nem branco, nem negro - mas o individuo tomou aquilo como um "insulto pessoal" e respondeu-me, com copia para todo o staff, como se o artigo, a que eu nao acrescentara qualquer comentario, se referisse ao meu caso pessoal, nestes termos: "Achas mesmo que vales assim tanto?! Olha so' como as nossas colegas mulheres aqui, sem tantas qualificacoes nem remuneracoes, estao muito bem e muito felizes!"... Claramente, nao so' um ataque pessoal do mais baixo coturno, como ciumes e despeito pela minha posicao e remuneracao e, mais do que tudo isso, a tentativa de acirrar os animos das colegas mulheres contra mim... o que, pelo menos em parte, tera' conseguido...

[E aqui abro um outro parentesis, para registar que ja' antes de eu ter entrado para a organizacao, mas trabalhava tambem la' no Botswana, vi-me forcada a fazer saber a tal 'dona', ou Exma. Sra., musticia mwangole' acima mencionada, da minha indignacao e repugnancia pela 'iniciativa' que ela e uma irma sua decidiram tomar, sem que eu alguma vez lhes tivesse dado azo para tal grosseira ingerencia, atrevimento e abuso de confianca - mesmo porque eu vivia e trabalhava rodeada de homens e pretendentes era o que nao me faltava - de "me arranjarem homem", certamente porque, de acordo com os seus "valores e principios", na cabeca del(e)as nao cabe a ideia de uma mulher "sem homem", tendo para o efeito dado o meu endereco a um fulano que eu nao conhecia de parte nenhuma e com ele marcado um encontro comigo em meu nome, limitando-se depois a comunicar-me por email que o tal fulano "iria visitar-me no dia x"... Bom, felizmente para ele e para elas, eu nao estava na cidade, nem no pais, no tal dia! Mas, mesmo assim, consegui conter-me e fui educada e comedida o suficiente para lhes pedir apenas que nao voltassem a repetir a "brincadeira"... acrescente-se, de muito mau gosto!]

Ha’ outros detalhes dessa historia (alguns dos quais podem ser encontrados AQUI), como por exemplo o envolvimento de uma outra mwangole’ recem-entrada na organizacao e que logo se tornara, again to put it mildly, “amiga especial” do chefe de um dos directorados – um zambiano que ha’ muito 'andava atras de mim' sem qualquer sucesso, quanto mais nao seja por ser casado – o que provocara o ultraje de outros colegas seus do mesmo directorado e, em particular, de uma tanzaniana que se sentira prejudicada pessoal e profissionalmente por tal affair , tendo-o tornado ‘publico’ internamente e com referencias muito pouco abonatorias para a generalidade das mulheres angolanas!

E’ que, para alem de tudo o resto, a leviandade, a superficialidade, a vulgaridade, a venalidade, a permissividade e a falta de escrupulos, profissionalismo, educacao moral e civica, etica, em suma, de valores e principios , gostam de companhia, quanto mais nao seja para “nao se sentirem inferiores” … como o tal "meu algoz" gostava muito de dizer em relacao a mim e todos os que priorizavam o trabalho, a imagem do seu pais e o respeito pela instituicao e nao alinhavam nos seus "apelos" (e' que... sabiam geri-los bem demais!... ) para se juntarem aos seus “devassos, lascivos e promiscuos afectos”, seguramente nao no local de trabalho: “teem a mania de se achar mais do que os outros”!





"O grande inimigo da verdade, muitas vezes não é a mentira - deliberada, compulsiva e desonesta - , mas o mito - persistente, persuasivo e irrealista. Acreditar em mitos dá o conforto da opinião sem o desconforto do pensamento."
John F. Kennedy


"We cannot trample upon the humanity of others without devaluing our own. The Igbo, always practical, put it concretely in their proverb Onye ji onye n'ani ji onwe ya: "He who will hold another down in the mud must stay in the mud to keep him down."

[Chinua Achebe]

Ou, alternativamente, em Portugues: Yanick Ngombo, a.k.a.
Afroman, membro da etnia Bakongo (tal como os Igbo, igualmente com um sentido bastante pratico das coisas mundanas, para que lhes sobre tempo suficiente para as coisas do espirito, como a metafisica ou a filosofia), diz numa das suas cancoes algo como isto: "... e' como o porco que arrasta o javali para uma luta na lama: os dois vao se sujar, mas o porco gosta porque assim ganha fama!







Regresso a este post, motivada por esta noticia e por ter lido aqui que na mesa redonda em questao nao houve debate. Poderia re-entitula-lo "Mais, mais uma vez... Revisitando Questoes de Genero", ou algo assim parecido. Mas nao o faco porque prefiro mante-lo tal como o postei pela primeira vez e porque... ele nao trata de "questoes de genero"!

Trata, isso sim, de PRECONCEITOS, de olhares aprioristicos, ou melhor, de um olhar (cego?), sobre a sociedade, ou sobre algumas pessoas na sociedade (ou seria ate', como tudo parece indicar, apenas sobre uma pessoa?!...) e do que me soa ate' hoje como uma INTROMISSAO GROSSEIRA na vida intima de pessoas privadas e de um JULGAMENTO SUMARIO em praca publica de SUPOSTOS comportamentos privados de pessoas privadas, com base em VEREDICTOS informados apenas pelo ponto de vista INQUISITORIAL de quem julga a distancia aquilo e quem NUNCA VIU, NEM DE PERTO NEM DE LONGE e NAO CONHECE, nem NUNCA CONHECEU, minimamente que seja... E, nessa medida, ate' porque se trata de um discurso cheio de ARGUMENTOS NON SEQUITUR, parece-me francamente faltar-lhe a ANALISE SOCIOLOGICA, para dizer o minimo!


Este e' precisamente um exemplo tipico daquilo a que Malveaux se referia ao dizer que "demasiados analistas sao apanhados na teia de Sexo, Mentiras e Estereotipos forjada pelos media para fazer politica publica"! E, neste caso, com a agravante de nao serem so' analistas, mas tambem politico(a)s, cuja filiacao partidaria 'garante' que as possiveis politicas publicas (assepticas?) adoptadas ou a adoptar neste dominio especifico venham a ser 'informadas' pelos seus preconceitos baseados em tais estereotipos...

Peco imensas desculpas, nao pretendo ofender ninguem, mas se se pretende realmente "resgatar valores", "mudar mentalidades" e/ou RECONCILIAR PESSOAS E FAMILIAS e, em ultima analise, a SOCIEDADE ANGOLANA, ha' que se deixar de ESTIGMATIZAR, AGREDIR, INSULTAR e OFENDER gratuita, indiscriminada e aleatoriamente pessoas cujas vozes JAMAIS SAO OUVIDAS, seja nos espacos (publicos ou privados) onde tais entrevistas sao concedidas, seja nas tais mesas redondas ou bicudas onde, de resto, tais questoes nao sao sequer debatidas... Enfim, ha' que saber-se OUVIR primeiro as PESSOAS visadas, para se conhecer a REALIDADE e para que se a possa analisar com propriedade, acuidade e o devido respeito pelos SERES HUMANOS, incluindo CRIANCAS INOCENTES, que se pretende julgar SEM QUALQUER FUNDAMENTO, assim apenas SOMANDO INSULTO A INJURIA!...

E tudo, aparentemente, apenas para se ALIVIAREM CONSCIENCIAS PESADAS (?) E TENTAR-SE JUSTIFICAR ESFARRAPADAMENTE O INJUSTIFICAVEL E DEFENDER O INDEFENSAVEL, ou, pior ainda, PARA SE FAZEREM CAMPANHAS DE AUTO-PROMOCAO PESSOAL A CUSTA DA HONRA E DO BOM NOME DE QUEM, CONTRA TODAS AS TENTACOES E 'APELOS' EM CONTRARIO, TEM LEVADO A SUA VIDA SACRIFICADAMENTE COM A MAIOR DAS DIGNIDADES E PROBIDADES (... e sobre isto devo lembrar que A VERDADE VEM SEMPRE AO DE CIMA)!
Ha' que deixar-se de tentar arranjar BODES EXPIATORIOS para todos os males e doencas da sociedade e de POLITIZAR E MANIPULAR TRAGEDIAS HUMANAS INDIVIDUAIS OU FAMILIARES para VENDER JORNAIS, fazer delas COBAIAS EM EXPERIENCIAS/ESPECULACOES PSEUDO-SOCIOLOGICAS OU PSEUDO-PSICANALITICAS e tentar delas retirar DIVIDENDOS POLITICOS!... Ha' que aprender-se a ouvir os VERDADEIROS REPRESENTANTES DA SOCIEDADE CIVIL, ou seja, entre outros, daqueles que foram tornados excluidos social, economica e politicamente pela DESTRUICAO DAS FAMILIAS E DO TECIDO ECONOMICO, SOCIAL, MORAL E ESPIRITUAL de que os representantes de quem hoje promove tais mesas redondas estao longe de estar isentos, pois foi com os seus INSENSIVEIS E INSENSATOS KAMARTELOS E METRALHADORAS que os destruiram!... Enfim, ha' que ter-se, no minimo, alguma capacidade de auto-analise e de AUTO-CRITICA!

Ha' que SABER-SE TER MORAL PARA SE SER MORALISTA! Mas, acima de tudo, HA' QUE DEFINIR-SE CLARAMENTE DE QUE PRINCIPIOS E VALORES, E DE QUEM EM CONCRETO, SE ESTA' A FALAR! Em suma, usando as proprias palavras da entrevistada, HA' QUE SABER-SE GERIR OS APELOS a intromissao ABUSIVA, LEVIANA, IRRESPONSAVEL e ate' CRIMINOSA, porque CALUNIOSA E DIFAMATORIA, na VIDA PRIVADA DO CIDADAO (neste caso, mais especificamente, da CIDADA), no que e' um exemplo flagrante de INVERSAO E SUBVERSAO PRECISAMENTE DOS VALORES E PRINCIPIOS que se alega pretender "RESGATAR"!

O que farei em seguida, um pouco tentando cobrir o "debate que nao houve", e' colocar algumas questoes muito simples, directas e incisivas (a vermelho) relativas a algumas passagens dessa entrevista. Nao espero respostas, espero apenas poder contribuir um pouco para a REFLEXAO que se impoe. E espero tambem que as questoes que aqui coloco possam ser recebidas por quem as leia com o mesmo espirito de TOLERANCIA E ABERTURA A DIVERSIDADE CULTURAL, POLITICA E INTELECTUAL com que decidi publicar aqui esta entrevista quando o fiz.

Resta-me dizer que nao conheco pessoalmente a entrevistada, nem nunca antes havia sequer ouvido ou lido o seu nome antes desta entrevista.



FATIMA VIEGAS

AO PAIS

(…)

Temos (mulheres prepotentes). E por vezes a prepotência, o autoritarismo, servem para esconder outras coisas, essas pessoas têm sempre uma fragilidade, incompetência ou outras questões, pode ser algo recalcado, a pessoa pode ter sido violentamente maltratada na sua infância ou na sua juventude e depois, com poder, querem usar o poder com prepotência. Mas acho que se podem gerir as situações, a questão está mesmo na educação … Há a gestão que se deve fazer do poder, mas há também a gestão dos apelos. Já tivemos o cooperante, agora o expatriado, as catorzinhas …

{... Ja' nao teem as catorzinhas, os cooperantes e os expatriados?! Gostava mesmo de saber - mera curiosidade academica - porque nunca estive muito familiarizada com tais especimens e quando tive algum, reagi desta forma... E o que e' que esta sucessao de PEDRADAS (dirigidas, obviamente, nao aos homens que usam e abusam das ditas catorzinhas, nem aos cooperantes ou expatriados...) tem a ver com a questao da "prepotencia das mulheres"?}

(…)

Essas que têm conhecimento da situação do companheiro e que aceitam essa situação são mulheres que não se respeitam a si próprias. Não me venham dizer que é das dificuldades económicas porque qualquer ser humano que se organize pode sobreviver aos desafios. Se ela sabe que o companheiro já tem “n” mulheres nem sequer há uma relação, nem sequer a ligação entre eles é efectivamente vivida. Se ela não se respeitar a ela própria ninguém a respeita, é uma questão de valorizar a dignidade da pessoa humana. Salvo em questões culturais, nas comunidades em que a poligamia ou a poliandria é instituída.
{Sera' inteiramente objectivo, realistico ou justo este julgamento numa sociedade onde a poligamia, independentemente do meio cultural, e' praticamente uma INSTITUICAO com dia nacional consagrado e tudo: a sexta feira?!... E nao e' curioso que julgamento equivalente, ou apenas uma leve mencao, em algum momento seja feita ao HOMEM POLIGAMO?}
(…)

Esse rótulo do “tio Pacheco” deriva efectivamente da falta de educação, de princípios. Se ele foi educado em como era superior à mulher, que tem de estar sempre acima da mulher, quer do ponto de vista do conhecimento, quer do ponto de vista do trabalho e do ponto de vista da sociedade, ele, efectivamente não aceita esta situação. Mas já vivemos num mundo de paridade de valores, de trabalho e de oportunidades. Havendo essa paridade, o essencial é o diálogo e a convivência.
{"Ja' vivemos num mundo de paridade de valores, de trabalho e de oportunidades"?! Onde? No MPLA? Em Luanda? Em Angola?... Mas a questao fundamental nao e' sequer essa: e' que, tanto quanto julgo entender da cancao da Patricia Faria, com o Kota Bonga, sobre o tal de "Pacheco", trata-se de alguem que "so' quer cama e mesa... depois de sacar toda a escama, arrasta o meu nome na lama... mama nao se meta so' la', esse homem esta' cheio de astucia, ele nao procura emprego, depois quer somar um bom posto... mas ele so' quer cama e mesa... esta' a pensar que a mulher e' limpeza"!...}
(…)

Infelizmente temos uma sociedade muito mais agarrada aos bens materiais que à parte espiritual, e as pessoas vão-se agarrando mais a determinados subterfúgios para terem uma certa posição. Daí que não se faça questão de mostrar aos filhos questões culturais, um livro, actividades potenciadoras de uma cultura no seu todo, mas apenas o vestido, que muitas vezes nem é condigno, as toilettes, os luxos. São questões que têm um valor educacional, que têm a ver com a dignidade da pessoa humana, da forma como se encara a vida. Se eu encaro a vida com futilidade, eu darei aos meus filhos coisas fúteis, como, por exemplo, a melhor marca, das melhores comidas, e não ter a preocupação de ensinar a convivência em sociedade e a cultura geral. O facto de ir a Londres eu não condeno, condeno é que sirva apenas para futilidades. Nós além da nossa cultura devemos também buscar coisas de outros lados.
{... Mais uma vez, e ja' fazendo um GRANDE ESFORCO para ignorar tudo o resto (e.g. em nenhum momento se fala do pai do tal filho a quem alegadamente "nao se mostram questoes culturais"... ), a que proposito e' que venhem aqui "idas a Londres apenas para futilidades"? E porque Londres e nao qualquer outra cidade do mundo, como por exemplo Lisboa? Quem sao, por exemplo, os angolanos de que se fala, entre muitas outras que teem vindo a publico em Portugal e noutros paises nos ultimos tempos, nesta materia?!}
(…)

Essa cultura do ter passa pela competição de ver quem tem uma conta mais recheada, quem tem carros de marcas cada vez mais caras, ou quem consegue ter mais espaço na sociedade. Preocupa-me porque não é apenas o ter que nos trará felicidade neste país. É o ser e isso passa por termos valores e respeitarmos os outros. Quando diz que há jovens que olham para fora sem olhar cá para dentro, temos de fazer as duas coisas. Temos de valorizar primeiro as coisas de dentro e depois as de fora. Sem conhecer a minha realidade eu não posso saber quem eu sou. É importante este conhecimento de saber de onde venho e para onde vou.
{Sem comentarios, excepto para perguntar: quem e' que incentiva a "cultura do ter" em Angola? Quem e' que TEM, COMO o obteve e PORQUE que o TEM em Angola e, sobretudo, FORA DE ANGOLA?! E sobre essa estoria do TER vs. HAVER a verdade e' que SUAS EXCELENCIAS transformaram Angola num pais onde para se SER tem que se TER!}
(…)

Temos uma sociedade com assimetrias muito fortes, com gente que tem muito e esbanja, e os que nada têm. Temos é de esbater as assimetrias, dando oportunidades de emprego, de formação e dar oportunidades em função dos níveis das famílias. Precisamos de identificar as famílias e ouvi-las dizer o que precisam. Não falo de um Estado assistencialista, mas de um Estado que crie condições para as pessoas se poderem desenvolver. Durante muito tempo tivemos pessoas que apenas aprenderam a estender a mão. Estas pessoas não foram ensinadas como fazer o pão, como organizar as suas vidas. É preciso ensinar a saber fazer.
Mas isso tem de ser acompanhado de oportunidades. Fala-se agora da construção de um milhão de casas mas é preciso estudar como colocar lá as pessoas. Uma população da ilha tem como actividade a pesca, não podemos colocar estas pessoas longe onde se faça agricultura, não é o seu modo de vida. É preciso caracterizar bem as famílias e encaminhá-las como deve ser. Em qualquer sociedade há classes, ricos e pobres, mas é preciso dar aos pobres as condições mínimas para viver em sociedade. É preciso ver bem as coisas, dar o micro crédito, e aqui é preciso acompanhar bem o que se dá às mulheres.
{... "E' preciso acompanhar bem o que se da' as (mendigas?) das mulheres (que nao sabem gerir o seu pouco, ou nenhum, dinheiro, ou recursos domesticos, ou mesmo as suas vidas)"?! Ou aprender com elas quais a suas reais prioridades, problemas e necessidades e ajuda-las a satisfaze-los efectiva e eficazmente, com ou sem micro-credito? Ou evitar criar situacoes, como as demolicoes e desalojamentos de familias inteiras, ou simplesmente ROUBOS de casas a mulheres indefesas?...}
(…)

O que mais temos na nossa sociedade são, infelizmente, famílias monoparentais forçadas e nessas famílias a mulher, geralmente, não tem meios de sustento. Ou ela foi levada emocionalmente pela conversa bonita que o homem lhe cantou e que depois a abandonou. O problema nem é só a questão da paternidade, quando isso acontece, o maior reconhecimento é o amor e o carinho com que ele pode acompanhar o crescimento da criança, ser pai. Isso é que me preocupa. Nós tivemos décadas de destruição de infraestruturas, mas isso se pode reconstruir, o pior é a reconstrução do tecido social que leva muito mais tempo.
{Apenas uma hipotese (sociologica) alternativa: e se tiver sido ela a abandona-lo apesar da "conversa bonita"? Qualquer que seja a resposta, nao deixa de ser interessante que, em nenhum momento, qualquer analise critica substantiva seja feita em relacao ao tal "pai ausente", forcado ou nao!...}
(…)

Estive em Moçambique a trabalhar, a dar aulas e olhe que os alunos na universidade expressavam-se na língua materna, e Moçambique está dentro da globalização. Se dinamizarmos as nossas línguas, as nossas culturas e os valores culturais positivos. Porque eu não vou valorizar nem a poligamia nem a feitiçaria porque sei que acarretam consequências negativas. Mas devemos valorizar o nosso. Não devemos deixar que a globalização nos coma. Mesmo no Ocidente, pela televisão, vemos as suas danças, a sua arquitectura, os seus valores. É isso que tem de ser feito e essa valorização começa na cultura da educação, começa em casa e passa pela escola. Não se deve temer ser conservador, porque ser conservador, em determinados aspectos, pode ser útil.
{Sem comentarios... excepto para chamar atencao para a Lei da Familia em Mocambique, apresentada no espaco de comentarios a outra entrevista indicada no fim deste post}
(...)

Gosto de agarrar-me ao discurso do Presidente da República, José Eduardo do Santos, sobre a família, quando ele diz que a grande preocupação é que o homem angolano hoje tornou-se muito imediatista, egoísta, muito voltado para si mesmo.
{esta e' que fica mesmo SEM COMENTARIOS...}


[Aqui]
*[First posted 05/08/09]



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P.S.1: Tive, ate agora, alguma relutancia, ditada pelos meus valores e principios, em mencionar aqui esta 'pequena estoria', mas uma vez que me “estenderam” em praca publica, “porque sou isto, porque sou aquilo”, decidi-me a regista-la, mesmo porque ela nao e’ apenas do meu conhecimento:

Um dos participantes dessa mesa redonda (a que
aqui me referia quando dizia que “ate’ cumplice de plagios me obrigaram a ser”…) esteve hospedado em minha casa em Lisboa durante algumas semanas, num periodo em que eu ocasionalmente alugava quartos a estudantes – geralmente jovens do sexo feminino que me eram recomendadas pelos meus amigos alemaes que me haviam ajudado a obter o seu contrato de aluguer, mas nesse caso abri uma excepcao porque a pessoa em questao me havia sido recomendada por alguem de confianca e eu tambem ja’ o conhecia dos tempos de militancias e ate’ o tinha em alguma consideracao e amizade.

Acontece que o camarada era casado (por sinal, com uma mulher branca), mas tinha uma outra (por sinal uma mulher negra), que com ele tambem tinha ido para la’ fazer um curso (e que eu tambem ja’ conhecia dos mesmos tempos de militancias), mas que ficara hospedada numa outra casa. Ora, porque eu vivia sozinha na altura, comecei a ser bombardeada com telefonemas tanto da mulher casada, como da mae dela - sogra do camarada, portanto, a “pedirem-me satisfacoes” sobre “o meu relacionamento” com o dito camarada… Ao que lhes respondi apenas com a verdade e nada mais do que a verdade: que ele era apenas, e tao so’, meu inquilino! E apenas temporariamente ate' que ele arranjasse a sua propria acomodacao definitiva - como alias o fez passado pouco tempo, comprando (nao alugando...) uma casa numa zona nobre...

Agora, ele, participante que foi nessa mesa redonda sobre "valores e principios" e a sua “outra” (que, inclusive, uma vez foi la’ a minha casa para eu ajuda-la a vestir-se para uma recepcao do 11 de Novembro na Embaixada – numa altura em que eu, para todos os efeitos, ja’ era persona non grata e nem sequer era mais convidada para o “nosso dia”…), que, por obsequio, venham a mesma praca publica em que me “estenderam” dizer se, apesar de eu viver sozinha na altura, alguma vez teve, ou eu “o aliciei” para, algum relacionamento menos proprio comigo!





P.S.2: E, ja' agora (... ja' que comecei ...), embora estes 'personagens' possam nao ter directamente a ver com essa mesa redonda (... ou talvez ate' tenham, pelo menos indirectamente, uma vez que o individuo aqui em questao foi sogro de um dos participantes nessa mesa redonda...), o ter falado dos tempos em que eu era persona non grata na Embaixada, lembrou-me do facto de que quem 'mais explicitamente' me colocou naquela categoria (e nao me custa nada crer que tal facto tenha tido a ver com a "inconfidencia" que aqui vou fazer - diga-se que com assumida leveza, por ele ja' ser falecido e esperando que a terra lhe seja leve...) foi o individuo (por sinal branco de origem goesa) de quem aqui falava e que, sendo casado [por sinal com uma mulher branca que, por coincidencia (?), na altura tambem trabalhava la' na Embaixada], teve pelo menos uma "outra" (por sinal uma jovem mulher negra) que a dada altura se tornara minha amiga em Luanda (embora ja' nos conhecessemos dos tempos mais remotos da infancia na Vila Alice) e que comigo confidenciara sobre a sua relacao com ele... E sobre esse caso mais nao digo!



Mas… ja’ que comecei… e por falar em “valores e principios” (os meus e os dos outros e das outras), oferece-se-me a oportunidade de acrescentar alguns detalhes ao tristemente celebre, dramatico, traumatico (para mim – tanto pessoal, como profissional, psicologica, material e financeiramente) e escandaloso episodio ocorrido nesta organizacao e ao qual me referia aqui , aqui e aqui:

O protagonista principal de tal episodio (o angolano, por sinal negro e casado, que me fez o ataque pornografico) tinha entrado para a organizacao, onde me encontrou, ha’ muito pouco tempo, tendo-se rapidamente feito “muito amigo” de um mocambicano, por sinal tambem negro, que se dizia PhD e fazia muita questao de ser tratado como tal, embora nunca tivesse revelado em que universidade, ou pais, obtivera tal qualificacao, e cujas credencicais academicas e profissionais eram questionadas pelos seus proprios conterraneos que o conheciam melhor do que eu e que para la’ tinha entrado, to put it mildly, por portas travessas…

[E aqui abro um parentesis para notar uma 'observacao empirica' que se vem solidificando com as minhas experiencias a este respeito: o facto de o comportamento obcessivamente persecutorio desse individuo em relacao a mim se ter demonstrado muito similar ao de um outro sujeito na mesma organizacao, um sul-africano tambem casado com uma branca (a qual, por sinal, volta e meia aparecia pelo gabinete do genero da organizacao com um dos bracos em gesso, a queixar-se dos "afectos" que o marido lhe dava em casa...), e de o comportamento de ambos, por sua vez, se assemelhar bastante ao de certos PhDs e Kabungados Novo-Jornaleiros habitues deste blog - aos quais devo acrescentar o de um dos "epigonos ex-brigadistas especialista em poemarios" a quem
aqui me refiro e, ja' agora e en passant, certos homo democraticus 'activistas do social' aqui mencionados... - , vem confirmando a minha percepcao de que os negros "mais assanhados" em ataques canalhas, baixos e soezes contra certo tipo de mulheres negras (como as que aqui sao retratadas) sao, geralmente, casados (ou com relacionamentos proximos/intimos) com brancas ou mesticas, ou que a isso sempre aspiraram - como que, com tal comportamento, exteriorizando algo (nomeadamente o seu misto de recalcamentos, insegurancas e complexos de superioridade/inferioridade...) que sempre tentaram dissimular atraves de tais casamentos ou relacionamentos e as frustracoes neles acumuladas, ou apenas buscando uma justificacao para as suas "escolhas mais profundas"... ou, simplesmente, apenas reflectindo o 'racismo aprendido por osmose' com as suas parceiras/amigas ... ou, mais simplesmente ainda, apenas tentando provar beyond any reasonable doubt o seu "inquestionavel amor por elas"... ou, sem mais ques nem porques, apenas porque, para todos os efeitos reais e praticos, com todo o seu racismo invertido, sao "brancos por dentro e negros por fora"... (veja-se, a titulo de exemplo, este caso...) - claro que me refiro aqui apenas aos que ostentam esse tipo de comportamento, porque tambem os ha' casados e/ou envolvidos saudavelmente com mulheres nao negras e que nao demonstram qualquer necessidade de o fazer! E o facto de eu propria ter tido envolvimentos formais com nao negros sem que por isso alguma vez me tenha sentido compelida a hostilizar qualquer negro, apenas me torna mais perceptiva em relacao a esses bizarros e psicopaticos comportamentos... E, ja' agora, um pouco mais de "psicanalise": nao soubesse eu que pelo menos o sul-africano nao leu este meu artigo, diria que os outros estariam (estarao) a reagir a esta afirmacao de Rousseau que nele citei: "(...) E sobretudo, pertence-vos corrigir os defeitos que os nossos jovens vao buscar a outros paises, donde, em vez de tantas coisas uteis de que poderiam aproveitar, com ares ridiculos aprendidos no meio de mulheres estrangeiras, nao trazem senao admiracao de nao sei que pretensas grandezas, frivolas compensacoes da escravidao, que nunca terao o valor da excelsa liberdade." - E la' diz o ditado: "quem se ofendeu, carapuca lhe serviu!"... Estou certa, ou estou errada?!]

Ora, esse individuo tornou-se, desde que para la’ entrou, o ring leader de um grupelho cujo nucleo central era constituido por ele proprio, a sua amante e mais alguns poucos (por sinal todos lusofonos) do seu circulo. Acontece que a tal amante (por sinal uma musticia mwangole’) que se tornou “peca de mobiliario da organizacao”, divorciada [embora seja consabido que nao era propriamente conhecida por ter sido fiel no casamento (o que me faz lembrar vagamente de uma keta do antigamente na vida ke dizia assim: #se eu soubesse nao kasava, se eu soubesse nao kasava kom akela mulata enganadora... a mulata me dizia ke era mesmo delikada afinale fui ver e' piore ke uma cebola#...) – tendo embora mantido o sobrenome do ex-marido, por sinal negro, entretanto casado pela segunda vez com uma mulher branca…) e vinha de um recente relacionamento falhado com um outro mocambicano (por sinal musticio-indiano) … Acontece tambem que o tal individuo era casado com uma mulher, por sinal branca, com quem tinha dois filhos ainda pequenos que deixara em Mocambique, sendo que, para alem da amante mwangole’, dizia-se ter outras 'namoradas' na cidade…

Acontece igualmente que, tanto ele como a amante mwangole’ (que desde que o "engatou" comecou a aparecer pelo edificio da organizacao vestida de tal modo que ela propria dizia que "estou a catorzinha"!...) tinham razoes, e expressaram-no a saciedade (!) desde que eu entrara para a organizacao, para terem inveja e ciumes pessoais e profissionais em relacao a mim (por isso eles e outro/as no fim decidiram inventar-me um fantasmagorico relacionamento intimo com o entao Secretario Executivo da organizacao – puras CALUNIA E DIFAMACAO!), com os quais terao contagiado o seu grupelho e, implicitamente, o angolano que acabou por ser o meu algoz na organizacao… A este proposito talvez baste dizer que o primeiro obus que ele disparou sobre o meu quintal foi em retaliacao a um artigo de uma revista americana sobre estudos que demonstravam que as mulheres negras nos EUA tinham em media um nivel academico, profissional e financeiro superior ao da media dos homens negros americanos (uma questao tambem abordada
nesta obra), que eu circulara por e-mail a todo o staff, tal como o fazia regularmente com materias que me pareciam relevantes para a reflexao e/ou a formulacao de algumas politicas. Fi-lo sem qualquer intencao de provocar absolutamente ninguem - nem homem, nem mulher, nem branco, nem negro - mas o individuo tomou aquilo como um "insulto pessoal" e respondeu-me, com copia para todo o staff, como se o artigo, a que eu nao acrescentara qualquer comentario, se referisse ao meu caso pessoal, nestes termos: "Achas mesmo que vales assim tanto?! Olha so' como as nossas colegas mulheres aqui, sem tantas qualificacoes nem remuneracoes, estao muito bem e muito felizes!"... Claramente, nao so' um ataque pessoal do mais baixo coturno, como ciumes e despeito pela minha posicao e remuneracao e, mais do que tudo isso, a tentativa de acirrar os animos das colegas mulheres contra mim... o que, pelo menos em parte, tera' conseguido...

[E aqui abro um outro parentesis, para registar que ja' antes de eu ter entrado para a organizacao, mas trabalhava tambem la' no Botswana, vi-me forcada a fazer saber a tal 'dona', ou Exma. Sra., musticia mwangole' acima mencionada, da minha indignacao e repugnancia pela 'iniciativa' que ela e uma irma sua decidiram tomar, sem que eu alguma vez lhes tivesse dado azo para tal grosseira ingerencia, atrevimento e abuso de confianca - mesmo porque eu vivia e trabalhava rodeada de homens e pretendentes era o que nao me faltava - de "me arranjarem homem", certamente porque, de acordo com os seus "valores e principios", na cabeca del(e)as nao cabe a ideia de uma mulher "sem homem", tendo para o efeito dado o meu endereco a um fulano que eu nao conhecia de parte nenhuma e com ele marcado um encontro comigo em meu nome, limitando-se depois a comunicar-me por email que o tal fulano "iria visitar-me no dia x"... Bom, felizmente para ele e para elas, eu nao estava na cidade, nem no pais, no tal dia! Mas, mesmo assim, consegui conter-me e fui educada e comedida o suficiente para lhes pedir apenas que nao voltassem a repetir a "brincadeira"... acrescente-se, de muito mau gosto!]

Ha’ outros detalhes dessa historia (alguns dos quais podem ser encontrados AQUI), como por exemplo o envolvimento de uma outra mwangole’ recem-entrada na organizacao e que logo se tornara, again to put it mildly, “amiga especial” do chefe de um dos directorados – um zambiano que ha’ muito 'andava atras de mim' sem qualquer sucesso, quanto mais nao seja por ser casado – o que provocara o ultraje de outros colegas seus do mesmo directorado e, em particular, de uma tanzaniana que se sentira prejudicada pessoal e profissionalmente por tal affair , tendo-o tornado ‘publico’ internamente e com referencias muito pouco abonatorias para a generalidade das mulheres angolanas!

E’ que, para alem de tudo o resto, a leviandade, a superficialidade, a vulgaridade, a venalidade, a permissividade e a falta de escrupulos, profissionalismo, educacao moral e civica, etica, em suma, de valores e principios , gostam de companhia, quanto mais nao seja para “nao se sentirem inferiores” … como o tal "meu algoz" gostava muito de dizer em relacao a mim e todos os que priorizavam o trabalho, a imagem do seu pais e o respeito pela instituicao e nao alinhavam nos seus "apelos" (e' que... sabiam geri-los bem demais!... ) para se juntarem aos seus “devassos, lascivos e promiscuos afectos”, seguramente nao no local de trabalho: “teem a mania de se achar mais do que os outros”!


Monday 23 August 2010

SUNDAY TELLY [R]*

Sou uma daquelas “estranhas criaturas” que pouca ou nenhuma televisao veem ao longo da vida… Em ‘media agregada’ devo ver umas 2 a 3 horas/dia durante uns 3 a 6 meses/ano de TV. Trata-se de um ‘habito’ que criei inicialmente em Angola, onde e quando pouco ou nada das curtas emissoes da TPA (ainda estavam muito longe os tempos da 'Multichoice'...), frequente e longamente interrompidas pela falta de electricidade, me interessava. Um ‘habito’ que mantive noutros paises em que entretanto tenho vivido, por se ter tornado um habito e porque a minha vida – centrada a volta de leituras e escrituras – nao me deixa espaco ou tempo suficientes para olhares ‘para fora’ dos livros/papers/artigos/folhas de papel ou laptop screens, ou, nos momentos de lazer individual, dos espacos naturais exteriores sem os quais nao sobrevivo e, dependendo dos meus moods, do meu xadrez electronico (chama-se Kasparov e fala…) ou, mais recentemente, do meu Sudoku igualmente electronico (nao tem nome proprio e nao fala, emite apenas alguns sons irritantes que imediatamente desligo assim que comeco um jogo…).
A radio, essa sim, e’ e sempre foi a minha companheira indispensavel.

Vem isto a proposito de nos ultimos 3 a 4 meses nao ter visto praticamente nenhuma TV, a excepcao de um ou dois programas ocasionais, e de por isso nao ter visto a ultima serie do Big Brother UK… E, pelo que vim a saber depois, com muita pena minha porque ela produziu o primeiro vencedor negro de sempre, tanto no UK como na Europa, Brian Belo.

Vem isto tambem a proposito da multiplicidade de possiveis diferentes olhares, leituras e visoes que se podem ter, obter, ou fazer do BB, que variam de espectador para espectador, de cultura para cultura e de pais para pais – no UK, os regulamentos das emissoes televisivas apenas permitem a projeccao de “imagens ou linguagem eventualmente chocantes” fora da chamada watershed, ou seja depois de ‘horas decentes’ e quem as quiser ver tera’, por "vontade propria", que ficar a pe’ durante a noite para as chamadas edicoes uncut, para as quais definitivamente nao tenho tempo, interesse ou inclinacao – por isso nunca vi tais cenas em nenhuma das edicoes, ou fragmentos delas, do BB que tive oportunidade de ver ate’ agora, embora tenha lido sobre cenas de 'sexo explicito' envolvendo particularmente uma concorrente Zambiana do Big Bráder UK e, mais recentemente, a participante Angolana na corrente edicao do Big Bréder Africa (isto para apenas mencionar as Africanas, porque entre as Europeias julgo saber que isso e' bastante comum - afinal, a 'tristemente celebre' Jade Goody virou celebrity precisamente por isso...).

Num post que
aqui publiquei ha’ ja' um tempo, falei um pouco do que me interessa no BB e sao as mesmas razoes nele apontadas que me fazem sentir pena de nao ter visto esta ultima edicao. Tal como tive pena de ter perdido a “prestacao” da concorrente Angolana na primeira serie do BB Africa – o que aconteceu porque na altura estava tambem num daqueles periodos em que nao via televisao ha’ meses. Mas, voltando aos possiveis diferentes olhares, leituras e visoes que se podem ter, obter, ou fazer do BB, tenho para mim que cada um ve nele o que procura, ou o que os preconceitos que informam os seus olhares projectam.

A esse proposito devo dizer, nao sem alguma reluctancia, por razoes que teem a ver precisamente com os olhares e leituras dos outros, que sou tambem uma daquelas “estranhas criaturas” que teem uma absoluta aversao a pornografia, ou a qualquer dos seus associados como o chamado voyeurismo, e que, incidentalmente, considero tao pornograficas as imagens que certas criaturas insanas na ‘lusosfera’ tentaram a viva forca colar a minha poesia (en passant, nao deixa de ser interessante notar que, sobre os mesmos poemas, o intelectual Angolano Nelson Pestana ‘Bonavena’ escreveu, nos idos dos anos 80 em Luanda, no saudoso “Archote”, uma recensao critica sob o titulo, tanto quanto me lembro, “A Intertextualidade entre Sabores, Odores & Sonho e o texto Biblico”…) como certos relatos de ‘momentos intimos’ com mulheres Tchokwe’ algures no leste de Angola - e estes, em particular, de um voyeurismo absolutamente mais repulsivo, obsceno e condenavel do que qualquer outro devido as questoes eticas, deontologicas, morais e culturais, enfim de valores, principios e conceitos, a eles subjacentes e que, tal como as imagens de 'sexo explicito' em que a concorrente Angolana no BB Africa se tera' envolvido "por vontade propria", nao teem outra serventia senao perpetuar os tradicionais estereotipos negativos e exoticos a volta da imagem mediatica da mulher Africana (e muito especialmente da Angolana - mas a isto voltarei noutra ocasiao), especialmente quando precedidos de 'inuendos' e 'promessas' aliciatorias a um publico bloguista absolutamente despreparado para as ver

Alias, considero tao idioticas, absurdas, pateticas, ridiculas e doentias as criaturas que esperam encontrar no BB a ‘pedra filosofal’, como as que ‘conseguem’ ver pornografia nos frescos da Capela Sistina (que as ha'!)… Mas sobre isso ja’ Freud explicou uma parte, Chomsky outra, Germaine Greer - a mais 'iconica' feminista do mundo 'anglofono' depois de Virginia Woolf (que, ja' agora note-se, expressou recentemente num dos mais prestigiados programas culturais da TV Britanica - o Newsnight Review - a sua absoluta repulsao pelo ballet classico!), e que participou numa das versoes celebrity do BB UK, que lamento tambem nao ter visto - ainda outra, e Noemia de Sousa outra ainda...


Bom Domingo e Boa Semana!

*[First posted 23/09/07]
Sou uma daquelas “estranhas criaturas” que pouca ou nenhuma televisao veem ao longo da vida… Em ‘media agregada’ devo ver umas 2 a 3 horas/dia durante uns 3 a 6 meses/ano de TV. Trata-se de um ‘habito’ que criei inicialmente em Angola, onde e quando pouco ou nada das curtas emissoes da TPA (ainda estavam muito longe os tempos da 'Multichoice'...), frequente e longamente interrompidas pela falta de electricidade, me interessava. Um ‘habito’ que mantive noutros paises em que entretanto tenho vivido, por se ter tornado um habito e porque a minha vida – centrada a volta de leituras e escrituras – nao me deixa espaco ou tempo suficientes para olhares ‘para fora’ dos livros/papers/artigos/folhas de papel ou laptop screens, ou, nos momentos de lazer individual, dos espacos naturais exteriores sem os quais nao sobrevivo e, dependendo dos meus moods, do meu xadrez electronico (chama-se Kasparov e fala…) ou, mais recentemente, do meu Sudoku igualmente electronico (nao tem nome proprio e nao fala, emite apenas alguns sons irritantes que imediatamente desligo assim que comeco um jogo…).
A radio, essa sim, e’ e sempre foi a minha companheira indispensavel.

Vem isto a proposito de nos ultimos 3 a 4 meses nao ter visto praticamente nenhuma TV, a excepcao de um ou dois programas ocasionais, e de por isso nao ter visto a ultima serie do Big Brother UK… E, pelo que vim a saber depois, com muita pena minha porque ela produziu o primeiro vencedor negro de sempre, tanto no UK como na Europa, Brian Belo.

Vem isto tambem a proposito da multiplicidade de possiveis diferentes olhares, leituras e visoes que se podem ter, obter, ou fazer do BB, que variam de espectador para espectador, de cultura para cultura e de pais para pais – no UK, os regulamentos das emissoes televisivas apenas permitem a projeccao de “imagens ou linguagem eventualmente chocantes” fora da chamada watershed, ou seja depois de ‘horas decentes’ e quem as quiser ver tera’, por "vontade propria", que ficar a pe’ durante a noite para as chamadas edicoes uncut, para as quais definitivamente nao tenho tempo, interesse ou inclinacao – por isso nunca vi tais cenas em nenhuma das edicoes, ou fragmentos delas, do BB que tive oportunidade de ver ate’ agora, embora tenha lido sobre cenas de 'sexo explicito' envolvendo particularmente uma concorrente Zambiana do Big Bráder UK e, mais recentemente, a participante Angolana na corrente edicao do Big Bréder Africa (isto para apenas mencionar as Africanas, porque entre as Europeias julgo saber que isso e' bastante comum - afinal, a 'tristemente celebre' Jade Goody virou celebrity precisamente por isso...).

Num post que
aqui publiquei ha’ ja' um tempo, falei um pouco do que me interessa no BB e sao as mesmas razoes nele apontadas que me fazem sentir pena de nao ter visto esta ultima edicao. Tal como tive pena de ter perdido a “prestacao” da concorrente Angolana na primeira serie do BB Africa – o que aconteceu porque na altura estava tambem num daqueles periodos em que nao via televisao ha’ meses. Mas, voltando aos possiveis diferentes olhares, leituras e visoes que se podem ter, obter, ou fazer do BB, tenho para mim que cada um ve nele o que procura, ou o que os preconceitos que informam os seus olhares projectam.

A esse proposito devo dizer, nao sem alguma reluctancia, por razoes que teem a ver precisamente com os olhares e leituras dos outros, que sou tambem uma daquelas “estranhas criaturas” que teem uma absoluta aversao a pornografia, ou a qualquer dos seus associados como o chamado voyeurismo, e que, incidentalmente, considero tao pornograficas as imagens que certas criaturas insanas na ‘lusosfera’ tentaram a viva forca colar a minha poesia (en passant, nao deixa de ser interessante notar que, sobre os mesmos poemas, o intelectual Angolano Nelson Pestana ‘Bonavena’ escreveu, nos idos dos anos 80 em Luanda, no saudoso “Archote”, uma recensao critica sob o titulo, tanto quanto me lembro, “A Intertextualidade entre Sabores, Odores & Sonho e o texto Biblico”…) como certos relatos de ‘momentos intimos’ com mulheres Tchokwe’ algures no leste de Angola - e estes, em particular, de um voyeurismo absolutamente mais repulsivo, obsceno e condenavel do que qualquer outro devido as questoes eticas, deontologicas, morais e culturais, enfim de valores, principios e conceitos, a eles subjacentes e que, tal como as imagens de 'sexo explicito' em que a concorrente Angolana no BB Africa se tera' envolvido "por vontade propria", nao teem outra serventia senao perpetuar os tradicionais estereotipos negativos e exoticos a volta da imagem mediatica da mulher Africana (e muito especialmente da Angolana - mas a isto voltarei noutra ocasiao), especialmente quando precedidos de 'inuendos' e 'promessas' aliciatorias a um publico bloguista absolutamente despreparado para as ver

Alias, considero tao idioticas, absurdas, pateticas, ridiculas e doentias as criaturas que esperam encontrar no BB a ‘pedra filosofal’, como as que ‘conseguem’ ver pornografia nos frescos da Capela Sistina (que as ha'!)… Mas sobre isso ja’ Freud explicou uma parte, Chomsky outra, Germaine Greer - a mais 'iconica' feminista do mundo 'anglofono' depois de Virginia Woolf (que, ja' agora note-se, expressou recentemente num dos mais prestigiados programas culturais da TV Britanica - o Newsnight Review - a sua absoluta repulsao pelo ballet classico!), e que participou numa das versoes celebrity do BB UK, que lamento tambem nao ter visto - ainda outra, e Noemia de Sousa outra ainda...


Bom Domingo e Boa Semana!

*[First posted 23/09/07]

Versoes & Especulacoes [R]*



*[Postado inicialmente a o6/06/10 - Repostado, primeiro em referencia a esta materia, e hoje apenas como um lembrete sobre quem falou primeiro (em tom de contralto agudo) em "transaccao de mercado" e, mesmo antes disso, quem foi mais especifico caracterizando-a (em tom de baritono desmedido) como uma "OPA"... Nao, nos Congoleses, Sao Paulo ou Ajuda Marido nao se realizam "OPAs", hostis ou nao...]


O negócio está a levantar preocupações sobre a liberdade de imprensa, reforçadas pela mudança de direcção no Semanário Angolense.

Um dos primeiros efeitos da compra deste último jornal – que, nas suas investigações, tem tido como um dos alvos mais frequentes o presidente da empresa petrolífera Sonangol, Manuel Vicente – foi a saída do fundador e director, Graça Campos, e o fim da colaboração de Rafael Marques.

[Publico] - Aqui

Tratou-se de uma transacção ditada exclusivamente por questões de mercado, traduzida no formato mais comum em casos do género: uma empresa fez uma oferta de aquisição a outra. Foi uma operação comercial semelhante a muitas outras.

Durante o processo negocial foi- me oferecida a cadeira que ocupo até hoje. Entendo que preciso, para já, de passar para o ‹‹banco da trás›› do jornalismo para dar respostas a alguns projectos pessoais que a dinâmica de um jornal não permite. O regresso à escrita nesta ou noutra publicação vai acontecer a seu tempo.

Diremos apenas que o primeiro «aproach» entre a Media Invest e o SA teve lugar em Fevereiro.

[Graca Campos] - in SA#370


*****

OBSERVACOES

Para la’ das versoes e especulacoes, parece-me suficientemente claro que se tratou aqui de uma transaccao de mercado – como, alias, a caracterizam tanto o comprador como o vendedor envolvidos –, num mercado cujas tendencias eu aqui recentemente abordei em algum detalhe, em que o poder e o dinheiro falaram mais alto… de ambos os lados!

De facto, numa transaccao de mercado desse tipo (mesmo porque ela nao ocorreu numa bolsa de valores, ou atraves de qualquer outro tipo de operacao em mercado aberto...), hostil ou nao, ninguem e’ “obrigado” a vender… particularmente quando se diz (usando as proprias palavras de Graca Campos no seu "testamento") ser “lebre e nao gato”, que “nao se negociou com a corda ao pescoco”, se e’ “lider do mercado” e “ninguém, absolutamente ninguém, entra neste negócio para perder dinheiro. Nem mesmo quem tenha também razões políticas”!

Um dado curioso desta saga, e que pode levar ao questionamento da nocao de que esta tenha sido uma "OPA hostil" apenas iniciada em Fevereiro (e que talvez lance nova luz sobre as reviravoltas de 360 graus na linha editorial do jornal a que me referia aqui e aqui - uma vez que, supostamente, era preciso tornar o jornal "mais apetecivel" aos potenciais compradores...), e' que, a paginas tantas (mais precisamente na pagina 6 da edicao do SA em apreco) se relata "o ultimo ano novo com o Gracita" (2009/10) afirmando-se que "(...) na mesma altura, embora parecesse que estivesse a brincar (e por isso quase ninguém o levou muito a sério) ele já aventava a possibilidade da publicação vir a trocar de patrão. Como de resto, acabou por acontecer". (...)

Outra questao que me parece, pelo menos perante a evidencia apresentada ate’ agora, ser apenas do dominio da especulacao, e’ a ligacao de Rafael Marques a esta alegada “OPA hostil”. Ora, se ela teve inicio em Fevereiro, dificilmente se lhe pode estabelecer uma ligacao directa com as ultimas investigacoes de Rafael Marques que, tanto quanto julgo saber, apenas comecaram a ser publicadas no SA nas ultimas semanas, depois de, pelo menos parte delas, ja’ terem sido divulgadas no seu blog pessoal… Por outro lado, que eu saiba (e um indicador disso e’ que na lista de colaboradores, passados e presentes, “arrolada” por Graca Campos no seu “testamento” o seu nome nao consta) Rafael Marques nunca foi um colaborador permanente do SA…

Em suma, com o devido respeito, parece-me que alguns “epigonos” de alguma imprensa privada angolana, e tambem alguns observadores estrangeiros, prestariam um grande servico a si proprios, a liberdade de imprensa, a democracia e a cidadania dos angolanos, se deixassem de andar sempre “atras do prejuizo” e a tentar fazer-se passar sempre por “vitimas do poder” quando, na realidade, em muitos casos [eu que o diga! (1)...; eu que o diga! (2)...; eu que o diga! (3)...; eu que o diga! (4))...; eu que o diga! (5) ...], sao apenas “vitimas de si proprios” ou do “seu proprio poder”… Por exemplo, excepto num caso, nao vi qualquer desmentido ou esclarecimento sobre as denuncias, aparentemente crediveis, feitas aqui nao ha’ muito tempo sobre benesses varias recebidas desse mesmo “poder” por alguns desses mesmos “epigonos”…


[Enfim, estamos verdadeiramente paiados por todos os lados!]


Post relacionado: SA (R.I.P.)?






*[Postado inicialmente a o6/06/10 - Repostado, primeiro em referencia a
esta materia, e hoje apenas como um lembrete sobre quem falou primeiro (em tom de contralto agudo) em "transaccao de mercado" e, mesmo antes disso, quem foi mais especifico caracterizando-a (em tom de baritono desmedido) como uma "OPA"... Nao, nos Congoleses, Sao Paulo ou Ajuda Marido nao se realizam "OPAs", hostis ou nao...]


O negócio está a levantar preocupações sobre a liberdade de imprensa, reforçadas pela mudança de direcção no Semanário Angolense.

Um dos primeiros efeitos da compra deste último jornal – que, nas suas investigações, tem tido como um dos alvos mais frequentes o presidente da empresa petrolífera Sonangol, Manuel Vicente – foi a saída do fundador e director, Graça Campos, e o fim da colaboração de Rafael Marques.

[Publico] - Aqui

Tratou-se de uma transacção ditada exclusivamente por questões de mercado, traduzida no formato mais comum em casos do género: uma empresa fez uma oferta de aquisição a outra. Foi uma operação comercial semelhante a muitas outras.

Durante o processo negocial foi- me oferecida a cadeira que ocupo até hoje. Entendo que preciso, para já, de passar para o ‹‹banco da trás›› do jornalismo para dar respostas a alguns projectos pessoais que a dinâmica de um jornal não permite. O regresso à escrita nesta ou noutra publicação vai acontecer a seu tempo.

Diremos apenas que o primeiro «aproach» entre a Media Invest e o SA teve lugar em Fevereiro.

[Graca Campos] - in SA#370


*****

OBSERVACOES

Para la’ das versoes e especulacoes, parece-me suficientemente claro que se tratou aqui de uma transaccao de mercado – como, alias, a caracterizam tanto o comprador como o vendedor envolvidos –, num mercado cujas tendencias eu aqui recentemente abordei em algum detalhe, em que o poder e o dinheiro falaram mais alto… de ambos os lados!

De facto, numa transaccao de mercado desse tipo (mesmo porque ela nao ocorreu numa bolsa de valores, ou atraves de qualquer outro tipo de operacao em mercado aberto...), hostil ou nao, ninguem e’ “obrigado” a vender… particularmente quando se diz (usando as proprias palavras de Graca Campos no seu "testamento") ser “lebre e nao gato”, que “nao se negociou com a corda ao pescoco”, se e’ “lider do mercado” e “ninguém, absolutamente ninguém, entra neste negócio para perder dinheiro. Nem mesmo quem tenha também razões políticas”!

Um dado curioso desta saga, e que pode levar ao questionamento da nocao de que esta tenha sido uma "OPA hostil" apenas iniciada em Fevereiro (e que talvez lance nova luz sobre as reviravoltas de 360 graus na linha editorial do jornal a que me referia aqui e aqui - uma vez que, supostamente, era preciso tornar o jornal "mais apetecivel" aos potenciais compradores...), e' que, a paginas tantas (mais precisamente na pagina 6 da edicao do SA em apreco) se relata "o ultimo ano novo com o Gracita" (2009/10) afirmando-se que "(...) na mesma altura, embora parecesse que estivesse a brincar (e por isso quase ninguém o levou muito a sério) ele já aventava a possibilidade da publicação vir a trocar de patrão. Como de resto, acabou por acontecer". (...)

Outra questao que me parece, pelo menos perante a evidencia apresentada ate’ agora, ser apenas do dominio da especulacao, e’ a ligacao de Rafael Marques a esta alegada “OPA hostil”. Ora, se ela teve inicio em Fevereiro, dificilmente se lhe pode estabelecer uma ligacao directa com as ultimas investigacoes de Rafael Marques que, tanto quanto julgo saber, apenas comecaram a ser publicadas no SA nas ultimas semanas, depois de, pelo menos parte delas, ja’ terem sido divulgadas no seu blog pessoal… Por outro lado, que eu saiba (e um indicador disso e’ que na lista de colaboradores, passados e presentes, “arrolada” por Graca Campos no seu “testamento” o seu nome nao consta) Rafael Marques nunca foi um colaborador permanente do SA…

Em suma, com o devido respeito, parece-me que alguns “epigonos” de alguma imprensa privada angolana, e tambem alguns observadores estrangeiros, prestariam um grande servico a si proprios, a liberdade de imprensa, a democracia e a cidadania dos angolanos, se deixassem de andar sempre “atras do prejuizo” e a tentar fazer-se passar sempre por “vitimas do poder” quando, na realidade, em muitos casos [eu que o diga! (1)...; eu que o diga! (2)...; eu que o diga! (3)...; eu que o diga! (4))...; eu que o diga! (5) ...], sao apenas “vitimas de si proprios” ou do “seu proprio poder”… Por exemplo, excepto num caso, nao vi qualquer desmentido ou esclarecimento sobre as denuncias, aparentemente crediveis, feitas aqui nao ha’ muito tempo sobre benesses varias recebidas desse mesmo “poder” por alguns desses mesmos “epigonos”…


[Enfim, estamos verdadeiramente paiados por todos os lados!]


Post relacionado: SA (R.I.P.)?