Monday 29 June 2009

MORRO DO SEMBA (I)




Uma Voz Feminina Do Semba

Deixei Luanda, ha’ cerca de tres meses, com a clara impressao de que os sons da cidade, desde as farras de quintal no Morro da Samba as varias radios, estavam a viver “em full swing” sob o signo do Semba dos anos 70.
Entretanto, Patricia (‘Paty’) Faria, uma boa e espirituosa nova voz feminina do semba (que apenas promete tornar-se ainda melhor dada a sua idade), vinda do grupo as “Gingas do Makulusso”, lancou recentemente no pais um novo album, entitulado “Baza Baza”. Com 27 anos de idade, ela tras no seu “BI informal” o cognome “La Niegra Caliente”, nao sei bem por que razao, mas que ate' vai bem com os varios “casamentos” que faz com ritmos latinos na sua musica – uma tendencia que, alias, se vem mostrando crescente no ‘novo semba’ em geral, como poderao notar em proximos “takes” desta nova serie dedicada exclusivamente a esse genero musical de origem angolana e que com a sua voz tenho o prazer de inaugurar.
Enquanto nao me chega aos ouvidos o novo lancamento, deixo aqui algumas faixas do seu primeiro album a solo, “Eme Kya” (2003):



Cama e Mesa (feat. Bonga)


Caroco Quente


Eme Kya


Tambola o Saia


Pra Que Chorar


Papa Wa Jimbidila (feat. Paulo Flores)




Uma Voz Feminina Do Semba

Deixei Luanda, ha’ cerca de tres meses, com a clara impressao de que os sons da cidade, desde as farras de quintal no Morro da Samba as varias radios, estavam a viver “em full swing” sob o signo do Semba dos anos 70.
Entretanto, Patricia (‘Paty’) Faria, uma boa e espirituosa nova voz feminina do semba (que apenas promete tornar-se ainda melhor dada a sua idade), vinda do grupo as “Gingas do Makulusso”, lancou recentemente no pais um novo album, entitulado “Baza Baza”. Com 27 anos de idade, ela tras no seu “BI informal” o cognome “La Niegra Caliente”, nao sei bem por que razao, mas que ate' vai bem com os varios “casamentos” que faz com ritmos latinos na sua musica – uma tendencia que, alias, se vem mostrando crescente no ‘novo semba’ em geral, como poderao notar em proximos “takes” desta nova serie dedicada exclusivamente a esse genero musical de origem angolana e que com a sua voz tenho o prazer de inaugurar.
Enquanto nao me chega aos ouvidos o novo lancamento, deixo aqui algumas faixas do seu primeiro album a solo, “Eme Kya” (2003):



Cama e Mesa (feat. Bonga)


Caroco Quente


Eme Kya


Tambola o Saia


Pra Que Chorar


Papa Wa Jimbidila (feat. Paulo Flores)

Sunday 28 June 2009

PREMIO LEMNISCATA


“O selo deste prémio foi criado a pensar nos blogues que demonstram talento, seja nas artes, nas letras, nas ciências, na poesia ou em qualquer outra área e que, com isso, enriquecem a blogosfera e a vida dos seus leitores.»
Sobre o significado de LEMNISCATA: «curva geométrica com a forma semelhante à de um 8; lugar geométrico dos pontos tais que o produto das distâncias a dois pontos fixos é constante». Lemniscato: ornado de fitas Do grego Lemniskos, do latim, Lemniscu: fita que pendia das coroas de louro destinadas aos vencedores. (In Dicionário da Língua Portuguesa, Porto Editora)
O símbolo do infinito é um 8 deitado, em tudo semelhante a esta fita, que não tem interior nem exterior, tal como no anel de Möbius, que se percorre infinitamente.”


Foi-me amavelmente atribuido pelo Navegador Solidario, a quem agradeco a generosidade.

Passo a corrente atribuindo-o a duas bloggers que muito estimo e admiro na lusosfera:



&


“O selo deste prémio foi criado a pensar nos blogues que demonstram talento, seja nas artes, nas letras, nas ciências, na poesia ou em qualquer outra área e que, com isso, enriquecem a blogosfera e a vida dos seus leitores.»
Sobre o significado de LEMNISCATA: «curva geométrica com a forma semelhante à de um 8; lugar geométrico dos pontos tais que o produto das distâncias a dois pontos fixos é constante». Lemniscato: ornado de fitas Do grego Lemniskos, do latim, Lemniscu: fita que pendia das coroas de louro destinadas aos vencedores. (In Dicionário da Língua Portuguesa, Porto Editora)
O símbolo do infinito é um 8 deitado, em tudo semelhante a esta fita, que não tem interior nem exterior, tal como no anel de Möbius, que se percorre infinitamente.”


Foi-me amavelmente atribuido pelo Navegador Solidario, a quem agradeco a generosidade.

Passo a corrente atribuindo-o a duas bloggers que muito estimo e admiro na lusosfera:



&

HOLDEN ROBERTO EM LIVRO


«O Pai do Nacionalismo Angolano» é o título da mais recente obra do escritor e sociólogo João Paulo Nganga, cujo lançamento teve lugar na quarta-feira, 24, na sala de conferências do Museu de História Natural, em Luanda. O livro já se encontra nas bancas das livrarias da capital e está a ser comercializado no valor de cinco mil Kwanzas, sendo este o primeiro volume que narra a vida e obra de Holden Roberto no período compreendido entre 1923 e 1974. A concepção, autoria e edição da obra foram feitas pelo autor durante longos quatro anos, tendo contado com a revisão de Benedita Mendes Gonçalves e o próprio Álvaro Holden Roberto. Narrativa de todo o processo de libertação segundo a teoria do panafricanismo, o autor disse que o livro é uma obra científica baseada em premissas históricosociológicas.
Para João Nganga, a obra está assente simplesmente na academia. Mas, segundo ele, «existem duas razões para que Holden Roberto não seja hoje uma referência nas ciências sociais modernas. A primeira razão é de fórum político, por ser, ainda, um espaço de exclusão, mas, a história não é isto, a história é um relato de factos que já aconteceram fundados na verdade», frisou. Esta verdade, segundo Nganga, transmite-se na presente obra, numa ordem cronológica sobre os passos que foram dados ao longo da odisseia revolucionária de Holden Roberto, considerado como um rio por onde passaram todas as grandes correntes do panafricanismo como Franz Fanon, Patrice Lumumba, Kwame Nkrumah, J. Kenyata, Amílcar Cabral, entre outros nacionalistas que se bateram para a independência de África.
Segundo o autor da obra, que falava à margem do lançamento, «Holden Roberto constituiu um grito de liberdade das colónias portuguesas de África, uma vez que integrou o novo conceito dos países lusófonos na guerra de libertação contra a opressão colonial». «Os dois volumes, embora heterogéneos, têm o condão de ter uma simbiose contrariante, porque se a quisermos encurtar, alongamo-la e ao tentarmos fazê-lo de maneira extensa, damo-nos conta de que, realmente, o que dissemos não passa de um resumo», afirmou o escritor ao apresentar a obra. Na ocasião, o presidente da FNLA, Ngola Kabangu, disse esperar com o lançamento destas memórias que o povo angolano venha a adquirir mais conhecimentos sobre a História do seu país, como era desejo expresso do finado Álvaro Holden Roberto.
Em declarações à imprensa, Ngola Kabangu afirmou que «a partir de agora, estarão disponíveis informações vitais sobre o que realmente aconteceu no país, desde as revoltas das populações contra a opressão colonial até à independência nacional». O escritor Mendes de Carvalho valorizou a obra, reconhecendo que Álvaro Holden Roberto foi, efectivamente, o Pai do Nacionalismo Angolano, a par de figuras como a rainha Njinga Mbandi, e os reis Mandume e Ngola Kiluange. Enalteceu a coragem de João Paulo Nganga por ter publicado esta obra que retrata as memórias do líder histórico. O acto contou com a presença de antigos combatentes da FNLA, deputados de diversos partidos políticos, historiadores, escritores, professores, membros da sociedade civil, estudantes e personalidades estrangeiras.

[in SA, edicao nr. 322]

«O Pai do Nacionalismo Angolano» é o título da mais recente obra do escritor e sociólogo João Paulo Nganga, cujo lançamento teve lugar na quarta-feira, 24, na sala de conferências do Museu de História Natural, em Luanda. O livro já se encontra nas bancas das livrarias da capital e está a ser comercializado no valor de cinco mil Kwanzas, sendo este o primeiro volume que narra a vida e obra de Holden Roberto no período compreendido entre 1923 e 1974. A concepção, autoria e edição da obra foram feitas pelo autor durante longos quatro anos, tendo contado com a revisão de Benedita Mendes Gonçalves e o próprio Álvaro Holden Roberto. Narrativa de todo o processo de libertação segundo a teoria do panafricanismo, o autor disse que o livro é uma obra científica baseada em premissas históricosociológicas.
Para João Nganga, a obra está assente simplesmente na academia. Mas, segundo ele, «existem duas razões para que Holden Roberto não seja hoje uma referência nas ciências sociais modernas. A primeira razão é de fórum político, por ser, ainda, um espaço de exclusão, mas, a história não é isto, a história é um relato de factos que já aconteceram fundados na verdade», frisou. Esta verdade, segundo Nganga, transmite-se na presente obra, numa ordem cronológica sobre os passos que foram dados ao longo da odisseia revolucionária de Holden Roberto, considerado como um rio por onde passaram todas as grandes correntes do panafricanismo como Franz Fanon, Patrice Lumumba, Kwame Nkrumah, J. Kenyata, Amílcar Cabral, entre outros nacionalistas que se bateram para a independência de África.
Segundo o autor da obra, que falava à margem do lançamento, «Holden Roberto constituiu um grito de liberdade das colónias portuguesas de África, uma vez que integrou o novo conceito dos países lusófonos na guerra de libertação contra a opressão colonial». «Os dois volumes, embora heterogéneos, têm o condão de ter uma simbiose contrariante, porque se a quisermos encurtar, alongamo-la e ao tentarmos fazê-lo de maneira extensa, damo-nos conta de que, realmente, o que dissemos não passa de um resumo», afirmou o escritor ao apresentar a obra. Na ocasião, o presidente da FNLA, Ngola Kabangu, disse esperar com o lançamento destas memórias que o povo angolano venha a adquirir mais conhecimentos sobre a História do seu país, como era desejo expresso do finado Álvaro Holden Roberto.
Em declarações à imprensa, Ngola Kabangu afirmou que «a partir de agora, estarão disponíveis informações vitais sobre o que realmente aconteceu no país, desde as revoltas das populações contra a opressão colonial até à independência nacional». O escritor Mendes de Carvalho valorizou a obra, reconhecendo que Álvaro Holden Roberto foi, efectivamente, o Pai do Nacionalismo Angolano, a par de figuras como a rainha Njinga Mbandi, e os reis Mandume e Ngola Kiluange. Enalteceu a coragem de João Paulo Nganga por ter publicado esta obra que retrata as memórias do líder histórico. O acto contou com a presença de antigos combatentes da FNLA, deputados de diversos partidos políticos, historiadores, escritores, professores, membros da sociedade civil, estudantes e personalidades estrangeiras.

[in SA, edicao nr. 322]

Saturday 27 June 2009

MICHAEL JACKSON AND THE (DE)CONSTRUCTION OF RACE

"Part of the formation and deformation of Michael Jackson is visible in comparing the video of "Black or White" with the video of "Morphing Michael Jackson." The promise of a post-racial world is juxtaposed with the slipping and sliding identity deformation of Jackson's face. When the boundaries of identity slip, other boundaries may slip and slide as well."


Michael Jackson - Black Or White (Official Music Video) - Funny bloopers R us

"These may be images of the shadow side of racial pluralism in America. As we struggle with the future of race in America, let's remember the two images. Racial pluralism, like religious pluralism, doesn't mean you merge with the other. It is instead a strong affirmation of your own identity and its integrity and an acceptance of the integrity and independence of the other."



"To watch these two videos side by side is to see tragedy unfold. The promise of the younger Jackson, his grace, charm and astonishing talent are juxtaposed with the melting and morphing of his promise and his identity into something that, in the end, becomes impossible to define or even understand. But tears seem appropriate."

[Quoted from here]

Echoed Here

***

N.B.: Cabe-me notar que as frases em sublinhado constituem uma sublime e eloquente sumula de tudo quanto tenho dito e repetido ad infinitum AQUI e noutros espacos sobre questoes relativas a identidade.
"Part of the formation and deformation of Michael Jackson is visible in comparing the video of "Black or White" with the video of "Morphing Michael Jackson." The promise of a post-racial world is juxtaposed with the slipping and sliding identity deformation of Jackson's face. When the boundaries of identity slip, other boundaries may slip and slide as well."


Michael Jackson - Black Or White (Official Music Video) - Funny bloopers R us

"These may be images of the shadow side of racial pluralism in America. As we struggle with the future of race in America, let's remember the two images. Racial pluralism, like religious pluralism, doesn't mean you merge with the other. It is instead a strong affirmation of your own identity and its integrity and an acceptance of the integrity and independence of the other."



"To watch these two videos side by side is to see tragedy unfold. The promise of the younger Jackson, his grace, charm and astonishing talent are juxtaposed with the melting and morphing of his promise and his identity into something that, in the end, becomes impossible to define or even understand. But tears seem appropriate."

[Quoted from here]

Echoed Here

***

N.B.: Cabe-me notar que as frases em sublinhado constituem uma sublime e eloquente sumula de tudo quanto tenho dito e repetido ad infinitum AQUI e noutros espacos sobre questoes relativas a identidade.

Friday 26 June 2009

MICHAEL JACKSON (R.I.P.)

Nao e' facil falar de Michael Jackson. Nem e' este o melhor momento para o fazer (acabo de saber e doi-me sabe-lo). Mas sempre direi isto: ele foi um dos maiores genios artisticos que o mundo ja' teve!
Ele foi um role model de criatividade e accomplishment para uma geracao que cresceu com os Jackson Five, que o viu moonwalking com Billie Jean e tentou a todo o custo imita-lo, que chillou com o Thriller...
Mas, como todos os genios tragicos, ele foi tambem vitima, entre outras coisas, do seu proprio sucesso: foi a vitima mais notoria (apenas porque teve a 'ousadia' de e os meios para manifestar os seus sinais exteriores) de uma doenca que grassa como uma pandemia na comunidade negra (e comecam a haver cada vez mais sinais de que ela tambem tem o seu equivalente, embora com diferentes motivacoes e expressoes, na comunidade branca) deste mundo -- o self-hatred induzido pelo que e' conhecido como 'racismo invertido' -- resultado da falta de auto-estima provocada pelo odio de que a 'raca negra' tem sido vitima durante seculos. Dito de outro modo, resultado de 'kada um nao kerer ser kumo kada kual, nem kumo envidentemente'!
Todavia, como todos os grandes genios, nem esse triste facto (entre outros desaires que teve na sua vida, sobretudo nos ultimos anos) conseguira' apagar a sua marca unica, indelevel, inesquecivel, neste mundo.

PAZ A SUA ALMA!
Nao e' facil falar de Michael Jackson. Nem e' este o melhor momento para o fazer (acabo de saber e doi-me sabe-lo). Mas sempre direi isto: ele foi um dos maiores genios artisticos que o mundo ja' teve!
Ele foi um role model de criatividade e accomplishment para uma geracao que cresceu com os Jackson Five, que o viu moonwalking com Billie Jean e tentou a todo o custo imita-lo, que chillou com o Thriller...
Mas, como todos os genios tragicos, ele foi tambem vitima, entre outras coisas, do seu proprio sucesso: foi a vitima mais notoria (apenas porque teve a 'ousadia' de e os meios para manifestar os seus sinais exteriores) de uma doenca que grassa como uma pandemia na comunidade negra (e comecam a haver cada vez mais sinais de que ela tambem tem o seu equivalente, embora com diferentes motivacoes e expressoes, na comunidade branca) deste mundo -- o self-hatred induzido pelo que e' conhecido como 'racismo invertido' -- resultado da falta de auto-estima provocada pelo odio de que a 'raca negra' tem sido vitima durante seculos. Dito de outro modo, resultado de 'kada um nao kerer ser kumo kada kual, nem kumo envidentemente'!
Todavia, como todos os grandes genios, nem esse triste facto (entre outros desaires que teve na sua vida, sobretudo nos ultimos anos) conseguira' apagar a sua marca unica, indelevel, inesquecivel, neste mundo.

PAZ A SUA ALMA!

Monday 22 June 2009

"EXCLUSAO SOCIAL EM ANGOLA" DE PAULO DE CARVALHO


Texto da apresentacao do livro, lancado a semana passada em Luanda, pelo escritor e tambem sociologo Artur Pestana (Pepetela):

O Doutor Paulo de Carvalho há muito nos habituou ao rigor e constância com que trata assuntos da sociedade angolana, desde os órgãos de comunicação social e seu impacto, ao consumo e às diferenciações sociais. Chamo a atenção neste sentido para o trabalho desempenhado durante muitos anos na análise dos estabelecimentos comerciais e publicada regularmente na imprensa, com evidentes dificuldades impostas por terceiros, mas que a sua audácia e determinação conseguiram superar, o que levou a melhorias (talvez nem sempre admitidas pelos proprietários) dos próprios estabelecimentos inventariados. Trabalho persistente, muitas vezes mal compreendido, porventura suscitando reacções negativas, mas de extrema importância, pela sua isenção, rigor e coragem.
Não é pois um principiante no estudo sociológico de terreno, antes alia o trabalho académico e teórico à pesquisa sistemática da realidade angolana. E o resultado de anos de investigação e de trabalho de rua está bem patente na sua tese de doutoramento apresentada agora em livro, «Exclusão Social em Angola – O caso dos deficientes físicos de Luanda», numa feliz edição da Kilombelombe, editora que já nos habituou a tratar obras científicas de qualidade comprovada. O trabalho está organizado em duas partes, desdobrada cada uma em vários capítulos.
Por se tratar de tese académica, principia pela discussão dos conceitos que mais interessam o seu propósito, em particular o conceito de pobreza e o de exclusão social. Contrariamente ao preconceito existente por parte de algum público em relação a este tipo de obras, esta introdução teórica não é maçadora, antes escrita de forma clara, concisa, necessária. Em seguida o autor faz uma análise o mais exaustiva possível da exclusão social em Angola, usando os mais variados elementos que pôde colectar até pouco tempo depois do fim da guerra civil. Alguns elementos serão até contraditórios, por serem provenientes das mais diversas fontes, muitas delas bastante parcelares e recolhidos em condições difíceis. Consegue porém brindar-nos assim com uma descrição da situação angolana, em termos de pobreza, que é simplesmente a mais completa que conheço.
[…]
São assim atirados para as ruas, para a mendicidade, pessoas que poderiam trabalhar em ofícios para os quais foram preparados. Poderíamos ir buscar muitos mais exemplos para ilustrar a conclusão a que Paulo de Carvalho chega: ele estudou os excluídos dos excluídos, os que a nossa má consciência faz esquecer, sombras na noite que recusamos olhar de frente, pois todos sabemos ser responsáveis de alguma forma por esta injustiça que grassa ao nosso lado. Se a grande maioria da população de Luanda sofre de exclusão social, de pobreza, de injustiças por parte de quem tem embora um grão de poder ou influência, os deficientes físicos ainda sofrem mais e se podem defender menos, mesmo com todo o seu engenho e criatividade para criar alternativas de sobrevivência.
Este livro pode ajudar a que a sociedade angolana, particularmente os que têm alguma voz para a agitar, tome definitivamente consciência de que convive com um vulcão. Se esse vulcão explodir um dia, não foi por falta de aviso. Sobretudo os poderes públicos a todos os níveis teriam o maior interesse em conhecer este livro, pois se o papel dos sociólogos não é, decididamente, o de propor políticas, acaba sempre por sugerir temas de reflexão que de alguma forma influenciam determinadas escolhas. Basta que os decisores políticos saibam interpretar os dados fornecidos pelos cientistas sociais.
O Dr. Paulo de Carvalho, com o seu trabalho abnegado e inteligente de recolha e análise, tem contribuído enormemente para nos avisar sobre a sociedade que vamos criando e indicando os perigos que fervilham neste caldeirão de Luanda. Espero que continue nessa senda com toda a coragem necessária. Sempre haverá alguns ouvidos atentos.

[Texto integral aqui]

Texto da apresentacao do livro, lancado a semana passada em Luanda, pelo escritor e tambem sociologo Artur Pestana (Pepetela):

O Doutor Paulo de Carvalho há muito nos habituou ao rigor e constância com que trata assuntos da sociedade angolana, desde os órgãos de comunicação social e seu impacto, ao consumo e às diferenciações sociais. Chamo a atenção neste sentido para o trabalho desempenhado durante muitos anos na análise dos estabelecimentos comerciais e publicada regularmente na imprensa, com evidentes dificuldades impostas por terceiros, mas que a sua audácia e determinação conseguiram superar, o que levou a melhorias (talvez nem sempre admitidas pelos proprietários) dos próprios estabelecimentos inventariados. Trabalho persistente, muitas vezes mal compreendido, porventura suscitando reacções negativas, mas de extrema importância, pela sua isenção, rigor e coragem.
Não é pois um principiante no estudo sociológico de terreno, antes alia o trabalho académico e teórico à pesquisa sistemática da realidade angolana. E o resultado de anos de investigação e de trabalho de rua está bem patente na sua tese de doutoramento apresentada agora em livro, «Exclusão Social em Angola – O caso dos deficientes físicos de Luanda», numa feliz edição da Kilombelombe, editora que já nos habituou a tratar obras científicas de qualidade comprovada. O trabalho está organizado em duas partes, desdobrada cada uma em vários capítulos.
Por se tratar de tese académica, principia pela discussão dos conceitos que mais interessam o seu propósito, em particular o conceito de pobreza e o de exclusão social. Contrariamente ao preconceito existente por parte de algum público em relação a este tipo de obras, esta introdução teórica não é maçadora, antes escrita de forma clara, concisa, necessária. Em seguida o autor faz uma análise o mais exaustiva possível da exclusão social em Angola, usando os mais variados elementos que pôde colectar até pouco tempo depois do fim da guerra civil. Alguns elementos serão até contraditórios, por serem provenientes das mais diversas fontes, muitas delas bastante parcelares e recolhidos em condições difíceis. Consegue porém brindar-nos assim com uma descrição da situação angolana, em termos de pobreza, que é simplesmente a mais completa que conheço.
[…]
São assim atirados para as ruas, para a mendicidade, pessoas que poderiam trabalhar em ofícios para os quais foram preparados. Poderíamos ir buscar muitos mais exemplos para ilustrar a conclusão a que Paulo de Carvalho chega: ele estudou os excluídos dos excluídos, os que a nossa má consciência faz esquecer, sombras na noite que recusamos olhar de frente, pois todos sabemos ser responsáveis de alguma forma por esta injustiça que grassa ao nosso lado. Se a grande maioria da população de Luanda sofre de exclusão social, de pobreza, de injustiças por parte de quem tem embora um grão de poder ou influência, os deficientes físicos ainda sofrem mais e se podem defender menos, mesmo com todo o seu engenho e criatividade para criar alternativas de sobrevivência.
Este livro pode ajudar a que a sociedade angolana, particularmente os que têm alguma voz para a agitar, tome definitivamente consciência de que convive com um vulcão. Se esse vulcão explodir um dia, não foi por falta de aviso. Sobretudo os poderes públicos a todos os níveis teriam o maior interesse em conhecer este livro, pois se o papel dos sociólogos não é, decididamente, o de propor políticas, acaba sempre por sugerir temas de reflexão que de alguma forma influenciam determinadas escolhas. Basta que os decisores políticos saibam interpretar os dados fornecidos pelos cientistas sociais.
O Dr. Paulo de Carvalho, com o seu trabalho abnegado e inteligente de recolha e análise, tem contribuído enormemente para nos avisar sobre a sociedade que vamos criando e indicando os perigos que fervilham neste caldeirão de Luanda. Espero que continue nessa senda com toda a coragem necessária. Sempre haverá alguns ouvidos atentos.

[Texto integral aqui]

AGUALUSA ACUSADO DE PLAGIO


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[Informacao daqui]

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[Informacao daqui]

Saturday 20 June 2009

VIVA PORTUGAL!

Um pouco à margem. Vou-me ausentar para o fim de semana, sem internete, e já lá vão 9.990 leitores de Portugal, pressupondo que atinja os 10.000 durante a minha ausência.

Desde já os meus parabéns.

Obrigado também por este rico espaço, com grande qualidade.

E pensar que seria possível, foi coisa que, sinceramente, não julguei concretizável!

Agora, na meta dos 20.000, vamos ver o que se nos oferece...

BFS

umBhalane


{Comentario feito aqui}


O meu MUITO OBRIGADA, especialmente a si, umBhalane, pela dedicacao, assiduidade, encorajamento e sempre enriquecedores comentarios!

Thursday 18 June 2009

OLHARES DIVERSOS (V)

AINDA SOBRE O 'JUNE 16, 1976'

Por ocasiao da passagem de mais um aniversario do massacre de Soweto - perpetrado pelas forcas policiais do regime do apartheid sobre criancas, adolescentes e jovens estudantes negros sul-africanos que se manifestavam contra a obrigatoriedade do ensino do Afrikaans, e a exclusao do Ingles e disciplinas estruturantes como as Ciencias Naturais e a Matematica, nos seus curriculos escolares -, agora celebrado como o 'Dia da Juventude' na Africa do Sul e tambem como 'Dia da Crianca Africana' no resto do continente, recebi ontem uma referencia a este artigo, com esta nota:

"(não sei bem quando é que nós, em Angola, "começámos a degenerar...", mas acho que estas questões se aplicam igualmente, tão bem, a qualquer um dos nossos países...talvez fosse um bom exercício tentarmos encontrar respostas para o nosso caso? - xxxx)"


O artigo (que esta' em Ingles, mas acredito que os leitores exclusivos de Portugues poderao 'apanhar' o seu sentido geral atraves deste post) sugeriu-me os seguintes comentarios:

"The perversion of economic growth and its fruits begins when we attempt to make up for the scarcity of public goods by producing more private ones, and to find in private consumption a barren solace for social frustration."

1. O crescimento economico e’ geralmente definido como o resultado da taxa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB). Os seus frutos sao, por conseguinte, os rendimentos, tanto do sector publico como do privado, dele auferidos. Portanto, para o crescimento economico concorre tambem o sector privado, dai decorrendo que a producao de bens privados nao e’ necessariamente uma “perversao do crescimento economico”. A haver “perversao”, ela decorrera’ das politicas distributivas e redistributivas do PIB adoptadas pelo governo, que poderao ou nao, dependendo das preferencias e escolhas dos cidadaos, que sao ditadas sobretudo por factores culturais, conduzir a “to find in private consumption a barren solace for social frustration” por alguns individuos ou sectores da sociedade;

2. Ha’ no ‘statement’ uma flagrante confusao entre “bens publicos” e “servicos publicos”. Os bens publicos, por definicao, nao podem, ou nao devem, ser privatizados, ao passo que os servicos publicos o podem ser. A privatizacao de certos servicos publicos, ou seus sub-sectores, tem-se revelado, em muitos casos, socialmente benefica, particularmente la’ onde o estado tem uma limitada capacidade de os prover com eficiencia. O beneficio social desse tipo de privatizacao e’ tanto maior quanto mais ele for feito sob sub-contratacao com o estado, o qual passa a agir apenas como “distribuidor” desses servicos ao publico para o seu consumo privado, gratuitamente ou a precos subsidiados. Ele pode tambem ter, em varios casos, efeitos redistributivos positivos, tanto para provedores como para consumidores, nos sectores mais carenciados da sociedade, particularmente quando tais servicos podem ser prestados por populares normalmente afectos ao sector informal (e.g., descontando a ‘nuisance’ que eles podem ser nas estradas, “candongueiros” prestando servicos de transporte publico);

3. “The scarcity of public goods (ou melhor dito, de 'public services')” em paises como a Africa do Sul e Angola resulta, nao necessaria ou exclusivamente do crescimento economico ou da privatizacao mas – entre outros factores, como o crescimento demografico e a sangria de quadros pelas mais diversas razoes (particularmente, e coincidindo com o agravamento da pandemia do SIDA, do sector de saude publica da Africa do Sul, especialmente para paises como a Australia e o UK) – do crescimento da demanda por servicos publicos que no tempo do apartheid e do colonialismo, respectivamente, eram restritos apenas a uma minoria. A concessao, como um direito constitucional universal, de um acesso generalizado aos servicos publicos sob os novos regimes (que no caso de Angola se torna mais dramatico com as restricoes impostas pela inicial estatizacao da economia e com a concentracao das populacoes na capital devido a guerra), sem um correspondente aumento da capacidade de oferta por parte do estado e’ que cria a tal escassez. Ora, o que tem que se saber e’ se o crescimento economico da Africa do Sul post-apartheid foi suficiente para criar tal capacidade e a mesma questao se poe em relacao a Angola do pos-guerra, ou, se se preferir, do pos-independencia;

4. Qualquer que seja a resposta a essas questoes, ha’ que ter em conta que quem privatiza determinados servicos, que de outro modo estariam exclusivamente na esfera do sector publico, na Africa do Sul, nao e’ apenas o estado mas tambem, e sobretudo, os investidores privados, nacionais ou estrangeiros, por sua propria iniciativa empresarial, como alias ja’ se verificava antes do fim do apartheid. O mesmo se passa agora em Angola (ressalvando o facto, obviamente condenavel, de alguns provedores de servicos privados o fazerem fraudulentamente a custa de fundos publicos obtidos ilicitamente, ou de ‘benesses’ varias do estado… mas essa e’, quanto a mim, uma questao a ser analisada sob outros parametros analiticos). E quem recorre a esses servicos privados e‘ quem pode, ou quem quer, como em todo o lado. Mas isso nao significa necessariamente, como o autor implica, que os servicos privados sejam sempre superiores aos prestados pelo sector publico e ha’ bastantes exemplos disso em toda a parte e em varios sectores, desde a saude a comunicacao social, passando pela educacao;

5. Quanto a pergunta “If you had a choice, would you like your mother to be treated in a public or private hospital?” e todas as que se lhe seguem, julgo que elas devem ser ponderadas a luz do ponto anterior. Mas a questao fundamental aqui, do ponto de vista redistributivo, nao e’ “if you had a choice”, mas a quem e’ que e’ dada essa escolha nos nossos paises e porque? E aqui estou a pensar particularmente no caso de Angola, porque no caso da Africa do Sul, teem essa escolha os que a podem pagar com o rendimento do seu trabalho, ou de contribuicoes pessoais para fundos de provisao de saude a titulo privado, ou atraves de outros esquemas de seguranca social. No caso de Angola, sei apenas que para a esmagadora maioria dos cidadaos (parcial ou completamente excluidos) tal escolha nao e’ sequer uma possibilidade…

6. Agora, a percepcao de “degeneracao” na Africa do Sul parte claramente de um pressuposto ideologico que o autor nao explicita, e e’ pena que nao o faca, embora se o depreenda do sentido geral do discurso. Em particular, seria importante que ele demonstrasse que os indicadores sociais para a maioria da populacao na era post-apartheid sao piores que os da era anterior. Nao e’ isso, no entanto, o que as estatisticas teem demonstrado, tanto quanto e’ do meu conhecimento (veja-se, por exemplo o relatorio que aqui postei ha' algum tempo). Pode-se argumentar que eles poderiam ser melhores do que teem sido, nao fosse a pandemia do SIDA, as alegadas ma’ governacao, corrupcao e factores correlatos, ou os efeitos da actual crise economica global? Concerteza! Mas dai a falar-se em “degeneracao”, vai alguma distancia… particularmente se se tiverem em conta dois “bens publicos” fundamentais e inestimaveis produzidos pelo fim do apartheid: a Liberdade e a Democracia (e, no caso de Angola, a conquista da Paz). E por essa e todas as razoes apontadas nos pontos anteriores, do meu ponto de vista, embora o autor disso pareca nao se aperceber, o seu e’ precisamente um dos tipos de discurso que podem ser eficazmente usados (e estao precisamente a ser usados neste momento - embora por elementos de diferentes espectros sociais, economicos, culturais, politicos e/ou ideologicos - tanto em Angola como na Africa do Sul...) por “populist leaders, threatening to recommence the destructive pendular swing between economic populism and economic orthodoxy”, num ambiente de crescente exclusao social…

7. Finalmente, quanto a questao central: “Where were you and what did you do when (Angola) began to degenerate?”

Eu (que, alegadamente - ou, mais precisamente, segundo uma significantissima menina-bem "mais angolana do que a Angolanidade" -, "fugi de Angola em 1975 por nao aguentar a Dipanda pela qual ela lutou"...) estava nos laranjais do Mazozo, depois de ter passado pelos canaviais do Bom Jesus, numa celebre “campanha de producao estudantil”, corria precisamente o ano de 1976. Passei fome e humilhacoes com os meus colegas de acampamento (muitas vezes, para arranjarmos qualquer coisa para comer tinhamos que fazer, a pe, os oito kilometros ate’ e de Catete), mas nao deixei de ir ao campo trabalhar todos os dias. Vim de la’ com uma infeccao nos pes e nas pernas, provocada pelas picadas dos miruis e pelo contacto directo com a terra, sem qualquer tratamento por nao o haver disponivel, que me deixou cicatrizes para o resto da vida (... esses mesmos pes que hoje servem de motivo de xacota nos blogs das mesmas significancias acima referidas...).

Contudo, nao foi isso que me desalentou e me fez pensar naquele episodio como o principio da “degeneracao”: o que o fez foi que, tanto no meu acampamento como pelo que tive noticias de outros, nao se viu qualquer filho ou filha de “mwata” nos campos durante aquela campanha (onde estariam? Sei apenas que muitos se encontravam 'nos cavalos' e nas praias de Luanda, ou de ferias na Europa, isto quando nao andavam efectivamente foragidos da Dipanda...). Isso constituiu uma “degeneracao” tambem no sentido em que eramos todos da mesma “geracao”, dos mesmos estabelecimentos de ensino em Luanda e estavamos todos, pelo menos no discurso vigente, imbuidos do “mesmo espirito”… E la’ dizia Fanon, como o autor sublinha: "We who are citizens of the under-developed countries, we ought to seek every occasion for contact with the rural masses … We ought never to lose contact with the people [who have] battled for [their] independence and for the concrete betterment of [their] existence" – o que alias sempre fiz na minha vida, uma vez que uma parte significativa, com intervalos pelo meio, da primeira metade da minha vida ate hoje foi passada em zonas rurais, com aqueles a quem devo o que sou hoje e que tambem contribuiram, cada um a seu modo, para a nossa independencia e o melhoramento das nossas vidas: os meus pais e avos, restante familia alargada e comunidades locais.

Mas, pior do que o que me aconteceu naquele acampamento, foi que durante os meses que andei em tratamento, ja' em Luanda, com as pernas e pes enfaixados, nao recebi uma visita, ou um telefonema sequer, dos “meus camaradas” que tinham ficado na capital a organizar aquele que foi, afinal, um tremendo “falhanco logistico”, a perguntar como e’ que eu estava e se precisava de alguma coisa... Esse foi, aos meus olhos, o primeiro sinal de que algo se estava a “degenerar” em Angola. “What did I do?” Continuei com a minha vida – sempre a enfrentar mais e mais sinais de “degeneracao” economica, social, cultural e moral na sociedade angolana, ate’ hoje. E todos eles aconteceram, ou comecaram a acontecer, muito antes dos adventos do “neoliberalismo”, da “privatizacao” e do “crescimento economico” no pais…
AINDA SOBRE O 'JUNE 16, 1976'

Por ocasiao da passagem de mais um aniversario do massacre de Soweto - perpetrado pelas forcas policiais do regime do apartheid sobre criancas, adolescentes e jovens estudantes negros sul-africanos que se manifestavam contra a obrigatoriedade do ensino do Afrikaans, e a exclusao do Ingles e disciplinas estruturantes como as Ciencias Naturais e a Matematica, nos seus curriculos escolares -, agora celebrado como o 'Dia da Juventude' na Africa do Sul e tambem como 'Dia da Crianca Africana' no resto do continente, recebi ontem uma referencia a este artigo, com esta nota:

"(não sei bem quando é que nós, em Angola, "começámos a degenerar...", mas acho que estas questões se aplicam igualmente, tão bem, a qualquer um dos nossos países...talvez fosse um bom exercício tentarmos encontrar respostas para o nosso caso? - xxxx)"


O artigo (que esta' em Ingles, mas acredito que os leitores exclusivos de Portugues poderao 'apanhar' o seu sentido geral atraves deste post) sugeriu-me os seguintes comentarios:

"The perversion of economic growth and its fruits begins when we attempt to make up for the scarcity of public goods by producing more private ones, and to find in private consumption a barren solace for social frustration."

1. O crescimento economico e’ geralmente definido como o resultado da taxa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB). Os seus frutos sao, por conseguinte, os rendimentos, tanto do sector publico como do privado, dele auferidos. Portanto, para o crescimento economico concorre tambem o sector privado, dai decorrendo que a producao de bens privados nao e’ necessariamente uma “perversao do crescimento economico”. A haver “perversao”, ela decorrera’ das politicas distributivas e redistributivas do PIB adoptadas pelo governo, que poderao ou nao, dependendo das preferencias e escolhas dos cidadaos, que sao ditadas sobretudo por factores culturais, conduzir a “to find in private consumption a barren solace for social frustration” por alguns individuos ou sectores da sociedade;

2. Ha’ no ‘statement’ uma flagrante confusao entre “bens publicos” e “servicos publicos”. Os bens publicos, por definicao, nao podem, ou nao devem, ser privatizados, ao passo que os servicos publicos o podem ser. A privatizacao de certos servicos publicos, ou seus sub-sectores, tem-se revelado, em muitos casos, socialmente benefica, particularmente la’ onde o estado tem uma limitada capacidade de os prover com eficiencia. O beneficio social desse tipo de privatizacao e’ tanto maior quanto mais ele for feito sob sub-contratacao com o estado, o qual passa a agir apenas como “distribuidor” desses servicos ao publico para o seu consumo privado, gratuitamente ou a precos subsidiados. Ele pode tambem ter, em varios casos, efeitos redistributivos positivos, tanto para provedores como para consumidores, nos sectores mais carenciados da sociedade, particularmente quando tais servicos podem ser prestados por populares normalmente afectos ao sector informal (e.g., descontando a ‘nuisance’ que eles podem ser nas estradas, “candongueiros” prestando servicos de transporte publico);

3. “The scarcity of public goods (ou melhor dito, de 'public services')” em paises como a Africa do Sul e Angola resulta, nao necessaria ou exclusivamente do crescimento economico ou da privatizacao mas – entre outros factores, como o crescimento demografico e a sangria de quadros pelas mais diversas razoes (particularmente, e coincidindo com o agravamento da pandemia do SIDA, do sector de saude publica da Africa do Sul, especialmente para paises como a Australia e o UK) – do crescimento da demanda por servicos publicos que no tempo do apartheid e do colonialismo, respectivamente, eram restritos apenas a uma minoria. A concessao, como um direito constitucional universal, de um acesso generalizado aos servicos publicos sob os novos regimes (que no caso de Angola se torna mais dramatico com as restricoes impostas pela inicial estatizacao da economia e com a concentracao das populacoes na capital devido a guerra), sem um correspondente aumento da capacidade de oferta por parte do estado e’ que cria a tal escassez. Ora, o que tem que se saber e’ se o crescimento economico da Africa do Sul post-apartheid foi suficiente para criar tal capacidade e a mesma questao se poe em relacao a Angola do pos-guerra, ou, se se preferir, do pos-independencia;

4. Qualquer que seja a resposta a essas questoes, ha’ que ter em conta que quem privatiza determinados servicos, que de outro modo estariam exclusivamente na esfera do sector publico, na Africa do Sul, nao e’ apenas o estado mas tambem, e sobretudo, os investidores privados, nacionais ou estrangeiros, por sua propria iniciativa empresarial, como alias ja’ se verificava antes do fim do apartheid. O mesmo se passa agora em Angola (ressalvando o facto, obviamente condenavel, de alguns provedores de servicos privados o fazerem fraudulentamente a custa de fundos publicos obtidos ilicitamente, ou de ‘benesses’ varias do estado… mas essa e’, quanto a mim, uma questao a ser analisada sob outros parametros analiticos). E quem recorre a esses servicos privados e‘ quem pode, ou quem quer, como em todo o lado. Mas isso nao significa necessariamente, como o autor implica, que os servicos privados sejam sempre superiores aos prestados pelo sector publico e ha’ bastantes exemplos disso em toda a parte e em varios sectores, desde a saude a comunicacao social, passando pela educacao;

5. Quanto a pergunta “If you had a choice, would you like your mother to be treated in a public or private hospital?” e todas as que se lhe seguem, julgo que elas devem ser ponderadas a luz do ponto anterior. Mas a questao fundamental aqui, do ponto de vista redistributivo, nao e’ “if you had a choice”, mas a quem e’ que e’ dada essa escolha nos nossos paises e porque? E aqui estou a pensar particularmente no caso de Angola, porque no caso da Africa do Sul, teem essa escolha os que a podem pagar com o rendimento do seu trabalho, ou de contribuicoes pessoais para fundos de provisao de saude a titulo privado, ou atraves de outros esquemas de seguranca social. No caso de Angola, sei apenas que para a esmagadora maioria dos cidadaos (parcial ou completamente excluidos) tal escolha nao e’ sequer uma possibilidade…

6. Agora, a percepcao de “degeneracao” na Africa do Sul parte claramente de um pressuposto ideologico que o autor nao explicita, e e’ pena que nao o faca, embora se o depreenda do sentido geral do discurso. Em particular, seria importante que ele demonstrasse que os indicadores sociais para a maioria da populacao na era post-apartheid sao piores que os da era anterior. Nao e’ isso, no entanto, o que as estatisticas teem demonstrado, tanto quanto e’ do meu conhecimento (veja-se, por exemplo o relatorio que aqui postei ha' algum tempo). Pode-se argumentar que eles poderiam ser melhores do que teem sido, nao fosse a pandemia do SIDA, as alegadas ma’ governacao, corrupcao e factores correlatos, ou os efeitos da actual crise economica global? Concerteza! Mas dai a falar-se em “degeneracao”, vai alguma distancia… particularmente se se tiverem em conta dois “bens publicos” fundamentais e inestimaveis produzidos pelo fim do apartheid: a Liberdade e a Democracia (e, no caso de Angola, a conquista da Paz). E por essa e todas as razoes apontadas nos pontos anteriores, do meu ponto de vista, embora o autor disso pareca nao se aperceber, o seu e’ precisamente um dos tipos de discurso que podem ser eficazmente usados (e estao precisamente a ser usados neste momento - embora por elementos de diferentes espectros sociais, economicos, culturais, politicos e/ou ideologicos - tanto em Angola como na Africa do Sul...) por “populist leaders, threatening to recommence the destructive pendular swing between economic populism and economic orthodoxy”, num ambiente de crescente exclusao social…

7. Finalmente, quanto a questao central: “Where were you and what did you do when (Angola) began to degenerate?”

Eu (que, alegadamente - ou, mais precisamente, segundo uma significantissima menina-bem "mais angolana do que a Angolanidade" -, "fugi de Angola em 1975 por nao aguentar a Dipanda pela qual ela lutou"...) estava nos laranjais do Mazozo, depois de ter passado pelos canaviais do Bom Jesus, numa celebre “campanha de producao estudantil”, corria precisamente o ano de 1976. Passei fome e humilhacoes com os meus colegas de acampamento (muitas vezes, para arranjarmos qualquer coisa para comer tinhamos que fazer, a pe, os oito kilometros ate’ e de Catete), mas nao deixei de ir ao campo trabalhar todos os dias. Vim de la’ com uma infeccao nos pes e nas pernas, provocada pelas picadas dos miruis e pelo contacto directo com a terra, sem qualquer tratamento por nao o haver disponivel, que me deixou cicatrizes para o resto da vida (... esses mesmos pes que hoje servem de motivo de xacota nos blogs das mesmas significancias acima referidas...).

Contudo, nao foi isso que me desalentou e me fez pensar naquele episodio como o principio da “degeneracao”: o que o fez foi que, tanto no meu acampamento como pelo que tive noticias de outros, nao se viu qualquer filho ou filha de “mwata” nos campos durante aquela campanha (onde estariam? Sei apenas que muitos se encontravam 'nos cavalos' e nas praias de Luanda, ou de ferias na Europa, isto quando nao andavam efectivamente foragidos da Dipanda...). Isso constituiu uma “degeneracao” tambem no sentido em que eramos todos da mesma “geracao”, dos mesmos estabelecimentos de ensino em Luanda e estavamos todos, pelo menos no discurso vigente, imbuidos do “mesmo espirito”… E la’ dizia Fanon, como o autor sublinha: "We who are citizens of the under-developed countries, we ought to seek every occasion for contact with the rural masses … We ought never to lose contact with the people [who have] battled for [their] independence and for the concrete betterment of [their] existence" – o que alias sempre fiz na minha vida, uma vez que uma parte significativa, com intervalos pelo meio, da primeira metade da minha vida ate hoje foi passada em zonas rurais, com aqueles a quem devo o que sou hoje e que tambem contribuiram, cada um a seu modo, para a nossa independencia e o melhoramento das nossas vidas: os meus pais e avos, restante familia alargada e comunidades locais.

Mas, pior do que o que me aconteceu naquele acampamento, foi que durante os meses que andei em tratamento, ja' em Luanda, com as pernas e pes enfaixados, nao recebi uma visita, ou um telefonema sequer, dos “meus camaradas” que tinham ficado na capital a organizar aquele que foi, afinal, um tremendo “falhanco logistico”, a perguntar como e’ que eu estava e se precisava de alguma coisa... Esse foi, aos meus olhos, o primeiro sinal de que algo se estava a “degenerar” em Angola. “What did I do?” Continuei com a minha vida – sempre a enfrentar mais e mais sinais de “degeneracao” economica, social, cultural e moral na sociedade angolana, ate’ hoje. E todos eles aconteceram, ou comecaram a acontecer, muito antes dos adventos do “neoliberalismo”, da “privatizacao” e do “crescimento economico” no pais…

Monday 15 June 2009

LUANDANDO (X)


Humbiumbi


&


Arredores


Humbiumbi


&


Arredores

Sunday 14 June 2009

SOLIDARIEDADE COM LUISA ROGERIO





Ela, Secretaria Geral do Sindicato dos Jornalistas Angolanos, encontra-se neste momento sob ameaca de uma accao judicial pela deputada e filha do Presidente Angolano, Tchize’ dos Santos, por alegada “calunia e difamacao”. Os detalhes da rocambolesca estoria podem ser lidos na corrente edicao (nr. 320) do Semanario Angolense.

Nao sou jornalista e nao conheco pessoalmente Luisa Rogerio. Guardo, no entanto, com agradecimento, um gesto impar de atencao, simples mas significativo, que ela me dirigiu privadamente, por email, naquele que foi ate’ agora o momento mais doloroso da minha vida. Fe-lo no exercicio das suas funcoes de jornalista, a altura como editora de cultura no Jornal de Angola, com profissionalismo, isencao e sensibilidade. Creio que o fez como mulher.

E’, pois, como profissional, cidada, mulher e como ser humano que aqui lhe manifesto a minha solidariedade neste momento.






Ela, Secretaria Geral do Sindicato dos Jornalistas Angolanos, encontra-se neste momento sob ameaca de uma accao judicial pela deputada e filha do Presidente Angolano, Tchize’ dos Santos, por alegada “calunia e difamacao”. Os detalhes da rocambolesca estoria podem ser lidos na corrente edicao (nr. 320) do Semanario Angolense.

Nao sou jornalista e nao conheco pessoalmente Luisa Rogerio. Guardo, no entanto, com agradecimento, um gesto impar de atencao, simples mas significativo, que ela me dirigiu privadamente, por email, naquele que foi ate’ agora o momento mais doloroso da minha vida. Fe-lo no exercicio das suas funcoes de jornalista, a altura como editora de cultura no Jornal de Angola, com profissionalismo, isencao e sensibilidade. Creio que o fez como mulher.

E’, pois, como profissional, cidada, mulher e como ser humano que aqui lhe manifesto a minha solidariedade neste momento.


Wednesday 10 June 2009

KADA UM E’ KUMO KADA KUAL, E KADA KUAL E’…

... KUMO ENVIDENTEMENTE!

Le-se aqui, entre outros ‘preciosismos’ de um "distinto compatriota" (embora seja pouco provavel que ele me considere sua compatriota, mas adiante…), [cujo BI angolano contera' os seguintes elementos: negro, angolano, nascido e criado em Portugal (um pais onde o racismo e’ supostamente apenas ‘imaginario’) ate' 1975, filho de um cabindense embarcadico e de uma caboverdiana e, tanto quanto julgo saber, (va-se la’ saber por forca de que ‘diferencas reais ou imaginarias’, mas admitamos que tambem apenas acidentalmente) casado com uma mulher branca (ou, apressemo-nos a dize-lo, ‘sem raca’, porque isso e’, evidentemente, ‘coisa real ou imaginaria’)]*, a proposito da questao da mencao da raca no BI em Angola, isto: “Ora, o racismo é precisamente entendido como sendo ‘a valorização generalizada e definitiva de diferenças reais ou imaginárias em proveito do acusador e em detrimento da vítima a fim de justificar uma agressão ou um privilégio’ [MEMMI (1993): 72].”

Pois eu ca’ pergunto aos meus reais e imaginarios botoes: “serao tais ‘diferencas reais ou imaginarias’ responsaveis pela barragem a entrada, em certos locais de Luanda e outras capitais provinciais (discotecas, restaurantes, hoteis e mesmo empresas), de determinados grupos de cidadaos nacionais com base na cor da sua pele? (agressao)”; “terao sido tais ‘diferencas reais ou imaginarias’ que fizeram com que, so’ para dar um pequeno exemplo, durante a minha recente estada em Luanda, tendo eu marcado pessoalmente por telefone uma entrevista com o PCA de uma determinada empresa (digamos apenas que ‘de raca nao negra’), o qual conheco de longa data – ele deveria, portanto, estar a minha espera – alguem (tambem ‘de raca nao negra’), nao obstante saber desse facto, manifestasse uma aflitiva preocupacao de que eu pudesse ser “barrada” na recepcao da tal empresa, coisa que nem sequer em algum momento me tinha passado pela cabeca?... nao que eu estivesse exactamente vestida, ou geralmente apresentada, como uma mendiga ou criminosa…(agressao)”; “serao tambem as mesmas ‘diferencas reais ou imaginarias’ que determinam a composicao racial dos empregados (constituida maioritariamente, senao exclusivamente, por individuos digamos que ‘de raca nao negra’) em grande parte das empresas e, mais particularmente, nas bancarias e petroliferas baseadas em Angola (veja-se, por exemplo, esta noticia)? (privilegio)”; “serao ainda tais ‘diferencas reais ou imaginarias’ que fazem com que a agenda dos autores das mais estridentes “homilias” ditas “anti-racistas” no pais contenham pouco mais do que apenas um “single issue”: a mencao da raca no BI – nao se vendo o seu empenho, ainda que pretenso, em quaisquer outras causas anti-racistas que afectam, contemporanea ou historicamente, directa ou indirectamente, real ou imaginariamente, a que seria suposto ser a ‘nossa consciencia colectiva’ enquanto seres humanos (valorização generalizada e definitiva de diferenças reais ou imaginárias – supostamente induzidas pela mencao da raca no BI e efectivamente institucionalizadas pela presuncao da falta generalizada e definitiva de capacidade, educacao, competencia, profissionalismo, etica, moral, cultura, e mesmo ‘elegancia’, dos ‘de raca negra’ (comprovando que, efectivamente, “é mais fácil desintegrar um átomo do que um preconceito”) – em proveito do acusador e em detrimento da vítima a fim de justificar uma agressão ou um privilégio)?”

E os meus botoes, reais e imaginarios, respondem-me zombateiramente: “e’ pedido a alguem o BI a entrada de discotecas e outros locais de lazer?”; “em que base e’ que o tal ‘alguem de raca nao negra’ previu que pudesses ser barrada a entrada da tal empresa onde tinhas entrevista previamente marcada com o teu conhecido PCA?”; “a admissao de empregados nas tais empresas que referes e’ determinada exclusivamente pelo que o seu BI contem?”; “e nao te lembras dos actos ostensivamente discriminatorios e de exclusao social praticados contra a generalidade dos ‘compatriotas de raca negra’ e sem ‘nomes sonantes’ no BI, que eram publicamente apelidados de “lixo de Angola”, no tempo em que o nosso doutor exercia funcoes na ‘nossa embaixada’ em Portugal – um tempo em que a raca nao constava dos nossos BIs – ao mesmo tempo que o 'nosso' embaixador naquele pais, no auge das manifestacoes da opiniao publica contra os actos de racismo praticados contra os negros la' residentes, afirmava publicamente 'nao acreditar que houvesse racismo em Portugal', quando naquelas circunstancias poderia diplomaticamente remeter-se apenas ao silencio?“; “frankamente, nao ves ke essa e’ uma falsa kestao com os termos completamente invertidos pelo acusador, e beneficiador do status quo, em detrimento da vitima?”…

Bom, tendo eu vivido e trabalhado nos ultimos anos predominantemente em dois paises:

- Um, a Inglaterra, no qual nao existe BI e a maioria dos cidadaos se opoem resolutamente a sua adopcao, mas onde, no entanto, a mencao, ainda que nao obrigatoria e a titulo confidencial, da raca, da etnicidade e do genero em determinados formularios de acesso (que nao preclude, de modo nenhum, a competicao) a oportunidades, seja de emprego ou servicos publicos de educacao, saude e habitacao, se tem revelado um efectivo, embora ainda nao perfeito, instrumento de monitorizacao e implementacao das existentes politicas de igualdade de direitos e oportunidades entre todos os cidadaos legitimos, independentemente da sua origem ou qualquer outro factor discriminante;

- Outro, a Africa do Sul post-apartheid, cognominado "a nacao arco-iris” em celebracao da sua diversidade etnico-cultural e racial, onde existe BI e neste e’ indicada a raca dos individuos (embora apenas por codigos numericos), sem que, no entanto, essa se tenha constituido numa “questao de maior”, se e’ que alguma vez foi sequer uma questao, entre os diversos grupos, maioritarios ou minoritarios, que coabitam nesta sociedade – a “questao de maior” para as minorias aqui tem sido a “accao afirmativa” a favor da maioria (a qual, no entanto, se tem revelado “discriminatoria e excludente” mais no seu imaginario do que na realidade social; tal como, alias, as “manias de perseguicao” das minorias racicas angolanas se teem revelado na pratica…), mas mesmo essa questao eles aqui teem enderecado de forma racional atraves, inclusive, de partidos politicos que a elegeram como seu “single issue”...

… Envidentemente ke vejo ke, em Angola, essa e’ uma falsa kestao!

Acontece, porem, que, ao contrario do que se passa na Inglaterra e na Africa do Sul, as minorias racicas em Angola, o que se deve tambem em alguma medida a precaridade do sistema democratico no pais, ainda estao longe de um grau de emancipacao cultural e politica que lhes permita, de moto proprio, assumirem-se descomplexadamente como tal e lutarem democraticamente pelo que consideram ser “seus direitos” – parece que a (ex)FpD e’ o primeiro partido politico no pais a encaminhar-se claramente nessa direccao, embora nao o tenha (ainda) assumido abertamente –, preferindo, em geral, viver a sombra de uma bananeira utopica, pretensamente plantada no pais pelo “homem novo que veio da mata, o qual tera’ erradicado a catanada a discriminacao racial contra a maioria dos nacionais e que so’ essa coisa da raca no BI veio trazer de volta”, muito provavelmente porque tal sombra esconde a realidade nua e crua: o tapete vermelho de privilegios sociais que nunca lhes foi retirado de debaixo dos pes desde o fim “oficial” do colonialismo... sob pena de quem sequer "se atrevesse a sonhar" com tal possibilidade ser "sumariamente executado", real ou virtualmente!

E, antes que os meus botoes voltem a zombar de mim, devo esclarecer o seguinte: nao faco a menor ideia de quais foram os fundamentos da inclusao da raca no BI em Angola e, para mim, para todos os efeitos praticos, efectivos e reais, isso sempre foi completamente irrelevante. Mais esclareco que considero que tal inclusao nao e’ em si mesma um acto necessariamente discriminatorio, uma vez que trata de forma igual os principais ‘grupos racicos’ existentes no pais (note-se que falo em ‘grupos racicos’, tal como eles sao geralmente entendidos em Angola, nao em ‘grupos etnicos’, o que permite que algumas minorias consideradas marginalizadas, como os Khoisan ou os albinos de ‘raca negra’ sejam integrados naqueles) e, se quisermos ‘parabolizar’ ainda mais a questao, poderiamos ate’ dizer que ela constitui a assumpcao e instituicao da tal “diversidade cultural numa sociedade pluriracial e multietnica, assumindo e respeitando as diferencas”, que o autor aparentemente pretende defender.

Discriminatorio e excludente seria se apenas a um ou a outro grupo fosse imposto tal quesito. Mas, mais importante do que isso, o factor operativo na pratica do racismo nao e’ a simples alusao a ‘raca’, mas o que os individuos fazem da dita – qualquer que seja a definicao, ou negacao, que se lhe atribua. Dito de outro modo, a mencao da raca no BI apenas tem um efeito discriminatorio se na sociedade em que ele e’ usado estiverem em actuacao, sem qualquer escrutinio politico ou social pelos cidadaos, factores objectivos e subjectivos que permitam a discriminacao e intolerancia racial e a exclusao social nelas baseada (essa a principal razao, por exemplo, da oposicao dos Britanicos a sua introducao naquele pais, por ter sido proposta pelo governo no post-Setembro 11, no contexto da "guerra contra o terrorismo"...) – e toda a evidencia indica que tais factores nao so’ existem na sociedade angolana, como operam predominantemente em desfavor da maioria negra.

Ora, o que alguns paises do mundo actual, e em particular os que acima menciono, compreenderam a custa de muitas lutas anti-racistas durante decadas, e’ que nao e’ apenas um documento que substancia o status economico, social, etnico, racial ou cultural do seu titular e que incluir ou nao a raca no BI, o qual, ademais, contem a foto do titular, nao e’ mais do que uma redundancia (no caso da inclusao) ou operacao cosmetica (no caso da omissao ou remocao). O que esses paises adquiriram como ‘consciencia colectiva’ atraves de tais lutas, foi que o racismo e’ muito mais do que “skin-deep”, isto e’, e’ um fenomeno psicologico, socio-cultural e historico muito mais profundo e complexo do que apenas a designacao da cor da pele dos individuos, o qual apenas politicas anti-discriminatorias eficazmente monitorizadas podem contrariar de forma efectiva, sendo que tal monitorizacao podera’ eventualmente implicar a mencao da raca em alguns documentos, se tal for considerado, de forma responsavel, socialmente util e pertinente num determinado contexto historico e demografico, desde que o sistema politico vigente contenha mecanismos impeditivos de que tal mencao seja usada em detrimento de quem quer que seja – o que idealmente deveria ser o caso em Angola, a menos que tenhamos que admitir que estamos efectivamente perante “um estado racista”. E enquanto tais politicas forem totalmente inexistentes, ou puramente ignoradas em Angola, e’-me, envidentemente, kompletamente indiferente ke o elemento ‘raca’ seja, ou nao, retirado do BI.

Mas, mais importante do que tudo isso, para mim o racismo, tal como todas as outras formas de discriminacao, nao e’, nunca foi, uma questao teorica – e’ uma questao pratica, uma realidade vivida frente aos nossos olhos, com efeitos imediatos e inter-geracionais e que, consequentemente, exige medidas praticas, nao teoricas, para a sua erradicacao. E cada vez mais me convenco de que apenas quem o tenha, real e efectivamente, sofrido na pele e na alma, vendo a sua vida quotidiana e perspectivas futuras completamente por ele afectadas, e o tenha honestamente decidido enfrentar – e nao escamotear como quem tenta tapar o sol com a peneira ou com uma mascara a fim de perpetuar os privilegios para o usufruto dos quais julga ter nascido, assim agredindo insensivelmente da forma mais violenta e atroz as verdadeiras vitimas das piores formas de racismo, discriminacao e exclusao social –, e’ capaz de o compreender na sua totalidade e profundidade e contra ele eficaz, descomplexada e construtivamente lutar, a bem das geracoes futuras.


*Tenho perfeita nocao de que, com isto, estou, mais uma vez, a entrar de cabeca num territorio minadissimo e que so’ me tem trazido dissabores pessoais desde que me vi forcada, por variadissimas razoes, a entrar no “debate racial” em Angola (que, quanto a mim, nao tem sido sequer um “debate” digno desse nome, ficando-se invariavelmente pelo arremessar de armas mais ou menos legitimadas pelo poder do estado – aqui entendido como o executor das vontades, preferencias e interesses da maioria economica, social e cultural, que nao coincide necessariamente com a maioria racial – contra quem “se atreva” a questionar o discurso ideologico-propagandistico, subsidiario de um certo lusotropicalismo, instituido para la’ dos respectivos BIs). Neste caso, de forma ainda mais ‘kamikaze’ do que o habitual, por mencionar particularidades pessoais do autor cujo texto aqui discuto… Valer-me-ha’ de alguma coisa dizer que tal mencao e’ tao legitima e pertinente quanto a que ele faz das origens de Crummell ou do por ele malfadado (e, atrevo-me a dizer, mal percebido) Panafricanismo? Muito provavelmente nao, mas, ainda assim (e mesmo guardando entre os meus botoes reais o 'aviso' contido na frase "(...) sou animal político o bastante para reconhecer, que há lugares em que a verdade prejudica mais do que ajuda”...), disponho-me a incorrer em todos os riscos inerentes a este meu (mais um!) atrevimento…
... KUMO ENVIDENTEMENTE!

Le-se aqui, entre outros ‘preciosismos’ de um "distinto compatriota" (embora seja pouco provavel que ele me considere sua compatriota, mas adiante…), [cujo BI angolano contera' os seguintes elementos: negro, angolano, nascido e criado em Portugal (um pais onde o racismo e’ supostamente apenas ‘imaginario’) ate' 1975, filho de um cabindense embarcadico e de uma caboverdiana e, tanto quanto julgo saber, (va-se la’ saber por forca de que ‘diferencas reais ou imaginarias’, mas admitamos que tambem apenas acidentalmente) casado com uma mulher branca (ou, apressemo-nos a dize-lo, ‘sem raca’, porque isso e’, evidentemente, ‘coisa real ou imaginaria’)]*, a proposito da questao da mencao da raca no BI em Angola, isto: “Ora, o racismo é precisamente entendido como sendo ‘a valorização generalizada e definitiva de diferenças reais ou imaginárias em proveito do acusador e em detrimento da vítima a fim de justificar uma agressão ou um privilégio’ [MEMMI (1993): 72].”

Pois eu ca’ pergunto aos meus reais e imaginarios botoes: “serao tais ‘diferencas reais ou imaginarias’ responsaveis pela barragem a entrada, em certos locais de Luanda e outras capitais provinciais (discotecas, restaurantes, hoteis e mesmo empresas), de determinados grupos de cidadaos nacionais com base na cor da sua pele? (agressao)”; “terao sido tais ‘diferencas reais ou imaginarias’ que fizeram com que, so’ para dar um pequeno exemplo, durante a minha recente estada em Luanda, tendo eu marcado pessoalmente por telefone uma entrevista com o PCA de uma determinada empresa (digamos apenas que ‘de raca nao negra’), o qual conheco de longa data – ele deveria, portanto, estar a minha espera – alguem (tambem ‘de raca nao negra’), nao obstante saber desse facto, manifestasse uma aflitiva preocupacao de que eu pudesse ser “barrada” na recepcao da tal empresa, coisa que nem sequer em algum momento me tinha passado pela cabeca?... nao que eu estivesse exactamente vestida, ou geralmente apresentada, como uma mendiga ou criminosa…(agressao)”; “serao tambem as mesmas ‘diferencas reais ou imaginarias’ que determinam a composicao racial dos empregados (constituida maioritariamente, senao exclusivamente, por individuos digamos que ‘de raca nao negra’) em grande parte das empresas e, mais particularmente, nas bancarias e petroliferas baseadas em Angola (veja-se, por exemplo, esta noticia)? (privilegio)”; “serao ainda tais ‘diferencas reais ou imaginarias’ que fazem com que a agenda dos autores das mais estridentes “homilias” ditas “anti-racistas” no pais contenham pouco mais do que apenas um “single issue”: a mencao da raca no BI – nao se vendo o seu empenho, ainda que pretenso, em quaisquer outras causas anti-racistas que afectam, contemporanea ou historicamente, directa ou indirectamente, real ou imaginariamente, a que seria suposto ser a ‘nossa consciencia colectiva’ enquanto seres humanos (valorização generalizada e definitiva de diferenças reais ou imaginárias – supostamente induzidas pela mencao da raca no BI e efectivamente institucionalizadas pela presuncao da falta generalizada e definitiva de capacidade, educacao, competencia, profissionalismo, etica, moral, cultura, e mesmo ‘elegancia’, dos ‘de raca negra’ (comprovando que, efectivamente, “é mais fácil desintegrar um átomo do que um preconceito”) – em proveito do acusador e em detrimento da vítima a fim de justificar uma agressão ou um privilégio)?”

E os meus botoes, reais e imaginarios, respondem-me zombateiramente: “e’ pedido a alguem o BI a entrada de discotecas e outros locais de lazer?”; “em que base e’ que o tal ‘alguem de raca nao negra’ previu que pudesses ser barrada a entrada da tal empresa onde tinhas entrevista previamente marcada com o teu conhecido PCA?”; “a admissao de empregados nas tais empresas que referes e’ determinada exclusivamente pelo que o seu BI contem?”; “e nao te lembras dos actos ostensivamente discriminatorios e de exclusao social praticados contra a generalidade dos ‘compatriotas de raca negra’ e sem ‘nomes sonantes’ no BI, que eram publicamente apelidados de “lixo de Angola”, no tempo em que o nosso doutor exercia funcoes na ‘nossa embaixada’ em Portugal – um tempo em que a raca nao constava dos nossos BIs – ao mesmo tempo que o 'nosso' embaixador naquele pais, no auge das manifestacoes da opiniao publica contra os actos de racismo praticados contra os negros la' residentes, afirmava publicamente 'nao acreditar que houvesse racismo em Portugal', quando naquelas circunstancias poderia diplomaticamente remeter-se apenas ao silencio?“; “frankamente, nao ves ke essa e’ uma falsa kestao com os termos completamente invertidos pelo acusador, e beneficiador do status quo, em detrimento da vitima?”…

Bom, tendo eu vivido e trabalhado nos ultimos anos predominantemente em dois paises:

- Um, a Inglaterra, no qual nao existe BI e a maioria dos cidadaos se opoem resolutamente a sua adopcao, mas onde, no entanto, a mencao, ainda que nao obrigatoria e a titulo confidencial, da raca, da etnicidade e do genero em determinados formularios de acesso (que nao preclude, de modo nenhum, a competicao) a oportunidades, seja de emprego ou servicos publicos de educacao, saude e habitacao, se tem revelado um efectivo, embora ainda nao perfeito, instrumento de monitorizacao e implementacao das existentes politicas de igualdade de direitos e oportunidades entre todos os cidadaos legitimos, independentemente da sua origem ou qualquer outro factor discriminante;

- Outro, a Africa do Sul post-apartheid, cognominado "a nacao arco-iris” em celebracao da sua diversidade etnico-cultural e racial, onde existe BI e neste e’ indicada a raca dos individuos (embora apenas por codigos numericos), sem que, no entanto, essa se tenha constituido numa “questao de maior”, se e’ que alguma vez foi sequer uma questao, entre os diversos grupos, maioritarios ou minoritarios, que coabitam nesta sociedade – a “questao de maior” para as minorias aqui tem sido a “accao afirmativa” a favor da maioria (a qual, no entanto, se tem revelado “discriminatoria e excludente” mais no seu imaginario do que na realidade social; tal como, alias, as “manias de perseguicao” das minorias racicas angolanas se teem revelado na pratica…), mas mesmo essa questao eles aqui teem enderecado de forma racional atraves, inclusive, de partidos politicos que a elegeram como seu “single issue”...

… Envidentemente ke vejo ke, em Angola, essa e’ uma falsa kestao!

Acontece, porem, que, ao contrario do que se passa na Inglaterra e na Africa do Sul, as minorias racicas em Angola, o que se deve tambem em alguma medida a precaridade do sistema democratico no pais, ainda estao longe de um grau de emancipacao cultural e politica que lhes permita, de moto proprio, assumirem-se descomplexadamente como tal e lutarem democraticamente pelo que consideram ser “seus direitos” – parece que a (ex)FpD e’ o primeiro partido politico no pais a encaminhar-se claramente nessa direccao, embora nao o tenha (ainda) assumido abertamente –, preferindo, em geral, viver a sombra de uma bananeira utopica, pretensamente plantada no pais pelo “homem novo que veio da mata, o qual tera’ erradicado a catanada a discriminacao racial contra a maioria dos nacionais e que so’ essa coisa da raca no BI veio trazer de volta”, muito provavelmente porque tal sombra esconde a realidade nua e crua: o tapete vermelho de privilegios sociais que nunca lhes foi retirado de debaixo dos pes desde o fim “oficial” do colonialismo... sob pena de quem sequer "se atrevesse a sonhar" com tal possibilidade ser "sumariamente executado", real ou virtualmente!

E, antes que os meus botoes voltem a zombar de mim, devo esclarecer o seguinte: nao faco a menor ideia de quais foram os fundamentos da inclusao da raca no BI em Angola e, para mim, para todos os efeitos praticos, efectivos e reais, isso sempre foi completamente irrelevante. Mais esclareco que considero que tal inclusao nao e’ em si mesma um acto necessariamente discriminatorio, uma vez que trata de forma igual os principais ‘grupos racicos’ existentes no pais (note-se que falo em ‘grupos racicos’, tal como eles sao geralmente entendidos em Angola, nao em ‘grupos etnicos’, o que permite que algumas minorias consideradas marginalizadas, como os Khoisan ou os albinos de ‘raca negra’ sejam integrados naqueles) e, se quisermos ‘parabolizar’ ainda mais a questao, poderiamos ate’ dizer que ela constitui a assumpcao e instituicao da tal “diversidade cultural numa sociedade pluriracial e multietnica, assumindo e respeitando as diferencas”, que o autor aparentemente pretende defender.

Discriminatorio e excludente seria se apenas a um ou a outro grupo fosse imposto tal quesito. Mas, mais importante do que isso, o factor operativo na pratica do racismo nao e’ a simples alusao a ‘raca’, mas o que os individuos fazem da dita – qualquer que seja a definicao, ou negacao, que se lhe atribua. Dito de outro modo, a mencao da raca no BI apenas tem um efeito discriminatorio se na sociedade em que ele e’ usado estiverem em actuacao, sem qualquer escrutinio politico ou social pelos cidadaos, factores objectivos e subjectivos que permitam a discriminacao e intolerancia racial e a exclusao social nelas baseada (essa a principal razao, por exemplo, da oposicao dos Britanicos a sua introducao naquele pais, por ter sido proposta pelo governo no post-Setembro 11, no contexto da "guerra contra o terrorismo"...) – e toda a evidencia indica que tais factores nao so’ existem na sociedade angolana, como operam predominantemente em desfavor da maioria negra.

Ora, o que alguns paises do mundo actual, e em particular os que acima menciono, compreenderam a custa de muitas lutas anti-racistas durante decadas, e’ que nao e’ apenas um documento que substancia o status economico, social, etnico, racial ou cultural do seu titular e que incluir ou nao a raca no BI, o qual, ademais, contem a foto do titular, nao e’ mais do que uma redundancia (no caso da inclusao) ou operacao cosmetica (no caso da omissao ou remocao). O que esses paises adquiriram como ‘consciencia colectiva’ atraves de tais lutas, foi que o racismo e’ muito mais do que “skin-deep”, isto e’, e’ um fenomeno psicologico, socio-cultural e historico muito mais profundo e complexo do que apenas a designacao da cor da pele dos individuos, o qual apenas politicas anti-discriminatorias eficazmente monitorizadas podem contrariar de forma efectiva, sendo que tal monitorizacao podera’ eventualmente implicar a mencao da raca em alguns documentos, se tal for considerado, de forma responsavel, socialmente util e pertinente num determinado contexto historico e demografico, desde que o sistema politico vigente contenha mecanismos impeditivos de que tal mencao seja usada em detrimento de quem quer que seja – o que idealmente deveria ser o caso em Angola, a menos que tenhamos que admitir que estamos efectivamente perante “um estado racista”. E enquanto tais politicas forem totalmente inexistentes, ou puramente ignoradas em Angola, e’-me, envidentemente, kompletamente indiferente ke o elemento ‘raca’ seja, ou nao, retirado do BI.

Mas, mais importante do que tudo isso, para mim o racismo, tal como todas as outras formas de discriminacao, nao e’, nunca foi, uma questao teorica – e’ uma questao pratica, uma realidade vivida frente aos nossos olhos, com efeitos imediatos e inter-geracionais e que, consequentemente, exige medidas praticas, nao teoricas, para a sua erradicacao. E cada vez mais me convenco de que apenas quem o tenha, real e efectivamente, sofrido na pele e na alma, vendo a sua vida quotidiana e perspectivas futuras completamente por ele afectadas, e o tenha honestamente decidido enfrentar – e nao escamotear como quem tenta tapar o sol com a peneira ou com uma mascara a fim de perpetuar os privilegios para o usufruto dos quais julga ter nascido, assim agredindo insensivelmente da forma mais violenta e atroz as verdadeiras vitimas das piores formas de racismo, discriminacao e exclusao social –, e’ capaz de o compreender na sua totalidade e profundidade e contra ele eficaz, descomplexada e construtivamente lutar, a bem das geracoes futuras.


*Tenho perfeita nocao de que, com isto, estou, mais uma vez, a entrar de cabeca num territorio minadissimo e que so’ me tem trazido dissabores pessoais desde que me vi forcada, por variadissimas razoes, a entrar no “debate racial” em Angola (que, quanto a mim, nao tem sido sequer um “debate” digno desse nome, ficando-se invariavelmente pelo arremessar de armas mais ou menos legitimadas pelo poder do estado – aqui entendido como o executor das vontades, preferencias e interesses da maioria economica, social e cultural, que nao coincide necessariamente com a maioria racial – contra quem “se atreva” a questionar o discurso ideologico-propagandistico, subsidiario de um certo lusotropicalismo, instituido para la’ dos respectivos BIs). Neste caso, de forma ainda mais ‘kamikaze’ do que o habitual, por mencionar particularidades pessoais do autor cujo texto aqui discuto… Valer-me-ha’ de alguma coisa dizer que tal mencao e’ tao legitima e pertinente quanto a que ele faz das origens de Crummell ou do por ele malfadado (e, atrevo-me a dizer, mal percebido) Panafricanismo? Muito provavelmente nao, mas, ainda assim (e mesmo guardando entre os meus botoes reais o 'aviso' contido na frase "(...) sou animal político o bastante para reconhecer, que há lugares em que a verdade prejudica mais do que ajuda”...), disponho-me a incorrer em todos os riscos inerentes a este meu (mais um!) atrevimento…

Tuesday 9 June 2009

COISAS QUE SE PODEM VER NA TV ANGOLANA

in Novo Jornal, ed. 72 - Caderno Mutamba
in Novo Jornal, ed. 72 - Caderno Mutamba

Monday 8 June 2009

'XENOFOBIA' IN SOUTH AFRICA: WHAT'S THE NEWS?


A year after these events, this is how African refugees in South Africa (Cape Town in this case) were fighting this morning for a place in a queue to get "legal papers". A DRC national was stabbed in the process.

[Read more here]

A year after these events, this is how African refugees in South Africa (Cape Town in this case) were fighting this morning for a place in a queue to get "legal papers". A DRC national was stabbed in the process.

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Saturday 6 June 2009

Continental Rifts: Muxima At The Museum


Alfredo Jaar, Muxima (2005), still from digital film

Continental Rifts is an art exhibition currently on show at the Fowler Museum in LA.
"It explores time-based media — video, film, and related photography — and considers ways in which new media lend themselves to the representation of complex identity negotiations resulting from transnational movement, shifting notions of “home” and “abroad,” and deep emotional attachments and divides. The works raise the question “Whose Africa?” by considering issues of geology, geography, botany, war, memory, exile, and loss. In the process, national and continental boundaries become blurred as lived experience and remembered pasts defy such arbitrary divides."

It features, among other works, Muxima, 2005, by Alfredo Jaar, who was born in Chile and in recent years has worked in Rwanda and Angola:
"In ten exquisitely composed and luminous "cantos" shot in Angola on a musical ground of the popular song Muxima ("My Soul"), Alfredo Jaar renders visions of inseparable horror and beauty. Close-up frames annihilate any possible distance from the subjects' predicament amidst vestiges of colonialism and war, oil drilling and the progress of AIDS, all contained and countered by rituals of daily life, the promise of youth, gestures of grace, the dignified gaze of elders, and nature's vast continuity."

More details here , here and here.

{You can listen to the song Muxima here}

Alfredo Jaar, Muxima (2005), still from digital film

Continental Rifts is an art exhibition currently on show at the Fowler Museum in LA.
"It explores time-based media — video, film, and related photography — and considers ways in which new media lend themselves to the representation of complex identity negotiations resulting from transnational movement, shifting notions of “home” and “abroad,” and deep emotional attachments and divides. The works raise the question “Whose Africa?” by considering issues of geology, geography, botany, war, memory, exile, and loss. In the process, national and continental boundaries become blurred as lived experience and remembered pasts defy such arbitrary divides."

It features, among other works, Muxima, 2005, by Alfredo Jaar, who was born in Chile and in recent years has worked in Rwanda and Angola:
"In ten exquisitely composed and luminous "cantos" shot in Angola on a musical ground of the popular song Muxima ("My Soul"), Alfredo Jaar renders visions of inseparable horror and beauty. Close-up frames annihilate any possible distance from the subjects' predicament amidst vestiges of colonialism and war, oil drilling and the progress of AIDS, all contained and countered by rituals of daily life, the promise of youth, gestures of grace, the dignified gaze of elders, and nature's vast continuity."

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{You can listen to the song Muxima here}

Friday 5 June 2009

NZINGA: “PRIMEIRA GOVERNADORA ANGOLANA DE LUANDA”

Apesar do vasto acervo bibliografico existente sobre a Rainha Nzinga, ha’ aspectos da sua vida e trajectoria politica menos conhecidos do grande publico, mesmo do angolano, entre o qual me incluo. Paralelamente a esse insuficiente conhecimento, verifica-se actualmente uma certa tendencia para o denegrimento do seu legado historico, na base da qual se teem desenvolvido alguns discursos que sistematicamente a pretendem retratar como “nada mais do que uma escravocrata negra, que vendeu o seu proprio povo aos europeus no trafico negreiro”. Tais discursos teem servido de suporte, entre outros posicionamentos politicos por alguns sectores da sociedade angolana, para a oposicao a colocacao da sua estatua no Largo do Kinaxixi, no centro de Luanda.

Sendo a Historia uma disciplina bastante susceptivel as motivacoes ideologicas, intencoes politicas, interpretacoes subjectivas e especulacoes varias, tanto de quem a le como de quem a escreve, parecem haver quase tantas versoes da vida de Nzinga quanto autores dessas mesmas versoes (isto ja’ colocando de parte as versoes romanceadas e as que sao puramente do dominio da fantasia e da lenda). E, sendo aparentemente precarias e pouco sistematizadas as fontes de literatura oral de origem angolana sobre a sua historia, as versoes tidas por mais fidedignas e usadas como “fontes primarias” pela maioria dos investigadores teem sido geralmente os relatos e correspondencia de missionarios ao servico da “evangelizacao” pela Igreja Catolica (dentre os quais se destacam os padres Antonio Brasio, Antonio de Gaeta e Geovanni Cavazzi), viajantes varios, administradores e embaixadores portugueses e holandeses residentes temporariamente ou enviados em missao a corte de Nzinga em varias ocasioes durante o seu reinado.

Sera’, portanto, apenas natural que tanto uns como outros (embora uns mais que outros) tenham enfatizado, sem contudo prestarem muita atencao a sua contextualizacao temporal, geografica, demografica ou cultural, nos seus relatos, “actos barbaricos” alegadamente praticados por Nzinga quando em alianca militar circunstancial com os chamados “jagas”, por um lado como suporte e vindicacao da sua “missao civilizadora” (“bem sucedida”, segundo algumas dessas fontes, com a conversao, e mais tarde reconversao, de Nzinga ao Catolicismo) e, por outro lado, como atenuante discursivo e justificativo moral para o trafico transatlantico de escravos pelos europeus que, segundo alguns, “apenas deu continuidade a uma pratica ja’ endemica na regiao” e da qual Nzinga seria uma “insaciavel adepta”.

Nao sendo especialista nessa materia, nao me proponho aqui dissecar tais versoes – tarefa a que, alias, varios competentes e renomados historiadores (tais como David Birmingham, Beatrix Heintze e John Thornton, entre outros) se venhem ha’ muito dedicando. Pareceu-me, porem, pertinente que o tema fosse abordado, ainda que sucintamente, neste blog, que, sendo dedicado a Luanda, tem apresentado a figura de Nzinga como uma referencia. E, com esse fito, das varias escolhas possiveis entre a diversa bibliografia existente sobre a Soberana Angolana, decidi traduzir e trazer para aqui uma versao sumarizada da biografia da Rainha Nzinga Mbandi (subtitulos e observacoes em italico de minha autoria), incluida na Encyclopedia of World Biography (2004), onde se pode ler algo muito pouco divulgado, a atribuir-se total credibilidade a essa fonte: ela tera’ sido a primeira Governadora Angolana de Luanda!

@ LUANDA AZUL - LUANDA BLUES
Apesar do vasto acervo bibliografico existente sobre a Rainha Nzinga, ha’ aspectos da sua vida e trajectoria politica menos conhecidos do grande publico, mesmo do angolano, entre o qual me incluo. Paralelamente a esse insuficiente conhecimento, verifica-se actualmente uma certa tendencia para o denegrimento do seu legado historico, na base da qual se teem desenvolvido alguns discursos que sistematicamente a pretendem retratar como “nada mais do que uma escravocrata negra, que vendeu o seu proprio povo aos europeus no trafico negreiro”. Tais discursos teem servido de suporte, entre outros posicionamentos politicos por alguns sectores da sociedade angolana, para a oposicao a colocacao da sua estatua no Largo do Kinaxixi, no centro de Luanda.

Sendo a Historia uma disciplina bastante susceptivel as motivacoes ideologicas, intencoes politicas, interpretacoes subjectivas e especulacoes varias, tanto de quem a le como de quem a escreve, parecem haver quase tantas versoes da vida de Nzinga quanto autores dessas mesmas versoes (isto ja’ colocando de parte as versoes romanceadas e as que sao puramente do dominio da fantasia e da lenda). E, sendo aparentemente precarias e pouco sistematizadas as fontes de literatura oral de origem angolana sobre a sua historia, as versoes tidas por mais fidedignas e usadas como “fontes primarias” pela maioria dos investigadores teem sido geralmente os relatos e correspondencia de missionarios ao servico da “evangelizacao” pela Igreja Catolica (dentre os quais se destacam os padres Antonio Brasio, Antonio de Gaeta e Geovanni Cavazzi), viajantes varios, administradores e embaixadores portugueses e holandeses residentes temporariamente ou enviados em missao a corte de Nzinga em varias ocasioes durante o seu reinado.

Sera’, portanto, apenas natural que tanto uns como outros (embora uns mais que outros) tenham enfatizado, sem contudo prestarem muita atencao a sua contextualizacao temporal, geografica, demografica ou cultural, nos seus relatos, “actos barbaricos” alegadamente praticados por Nzinga quando em alianca militar circunstancial com os chamados “jagas”, por um lado como suporte e vindicacao da sua “missao civilizadora” (“bem sucedida”, segundo algumas dessas fontes, com a conversao, e mais tarde reconversao, de Nzinga ao Catolicismo) e, por outro lado, como atenuante discursivo e justificativo moral para o trafico transatlantico de escravos pelos europeus que, segundo alguns, “apenas deu continuidade a uma pratica ja’ endemica na regiao” e da qual Nzinga seria uma “insaciavel adepta”.

Nao sendo especialista nessa materia, nao me proponho aqui dissecar tais versoes – tarefa a que, alias, varios competentes e renomados historiadores (tais como David Birmingham, Beatrix Heintze e John Thornton, entre outros) se venhem ha’ muito dedicando. Pareceu-me, porem, pertinente que o tema fosse abordado, ainda que sucintamente, neste blog, que, sendo dedicado a Luanda, tem apresentado a figura de Nzinga como uma referencia. E, com esse fito, das varias escolhas possiveis entre a diversa bibliografia existente sobre a Soberana Angolana, decidi traduzir e trazer para aqui uma versao sumarizada da biografia da Rainha Nzinga Mbandi (subtitulos e observacoes em italico de minha autoria), incluida na
Encyclopedia of World Biography (2004), onde se pode ler algo muito pouco divulgado, a atribuir-se total credibilidade a essa fonte: ela tera’ sido a primeira Governadora Angolana de Luanda!

@ LUANDA AZUL - LUANDA BLUES

Monday 1 June 2009

FUTEBOIS, INVEJA, COMPLEXOS E O PAIS REAL




in SA - Ed. 317, pg. 48
(Clique nas imagens para as ampliar)



in SA - Ed. 317, pg. 48
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NOW FOR SOME NEWS: GM FILES FOR BANKRUPTCY