Friday 5 June 2009

NZINGA: “PRIMEIRA GOVERNADORA ANGOLANA DE LUANDA”

Apesar do vasto acervo bibliografico existente sobre a Rainha Nzinga, ha’ aspectos da sua vida e trajectoria politica menos conhecidos do grande publico, mesmo do angolano, entre o qual me incluo. Paralelamente a esse insuficiente conhecimento, verifica-se actualmente uma certa tendencia para o denegrimento do seu legado historico, na base da qual se teem desenvolvido alguns discursos que sistematicamente a pretendem retratar como “nada mais do que uma escravocrata negra, que vendeu o seu proprio povo aos europeus no trafico negreiro”. Tais discursos teem servido de suporte, entre outros posicionamentos politicos por alguns sectores da sociedade angolana, para a oposicao a colocacao da sua estatua no Largo do Kinaxixi, no centro de Luanda.

Sendo a Historia uma disciplina bastante susceptivel as motivacoes ideologicas, intencoes politicas, interpretacoes subjectivas e especulacoes varias, tanto de quem a le como de quem a escreve, parecem haver quase tantas versoes da vida de Nzinga quanto autores dessas mesmas versoes (isto ja’ colocando de parte as versoes romanceadas e as que sao puramente do dominio da fantasia e da lenda). E, sendo aparentemente precarias e pouco sistematizadas as fontes de literatura oral de origem angolana sobre a sua historia, as versoes tidas por mais fidedignas e usadas como “fontes primarias” pela maioria dos investigadores teem sido geralmente os relatos e correspondencia de missionarios ao servico da “evangelizacao” pela Igreja Catolica (dentre os quais se destacam os padres Antonio Brasio, Antonio de Gaeta e Geovanni Cavazzi), viajantes varios, administradores e embaixadores portugueses e holandeses residentes temporariamente ou enviados em missao a corte de Nzinga em varias ocasioes durante o seu reinado.

Sera’, portanto, apenas natural que tanto uns como outros (embora uns mais que outros) tenham enfatizado, sem contudo prestarem muita atencao a sua contextualizacao temporal, geografica, demografica ou cultural, nos seus relatos, “actos barbaricos” alegadamente praticados por Nzinga quando em alianca militar circunstancial com os chamados “jagas”, por um lado como suporte e vindicacao da sua “missao civilizadora” (“bem sucedida”, segundo algumas dessas fontes, com a conversao, e mais tarde reconversao, de Nzinga ao Catolicismo) e, por outro lado, como atenuante discursivo e justificativo moral para o trafico transatlantico de escravos pelos europeus que, segundo alguns, “apenas deu continuidade a uma pratica ja’ endemica na regiao” e da qual Nzinga seria uma “insaciavel adepta”.

Nao sendo especialista nessa materia, nao me proponho aqui dissecar tais versoes – tarefa a que, alias, varios competentes e renomados historiadores (tais como David Birmingham, Beatrix Heintze e John Thornton, entre outros) se venhem ha’ muito dedicando. Pareceu-me, porem, pertinente que o tema fosse abordado, ainda que sucintamente, neste blog, que, sendo dedicado a Luanda, tem apresentado a figura de Nzinga como uma referencia. E, com esse fito, das varias escolhas possiveis entre a diversa bibliografia existente sobre a Soberana Angolana, decidi traduzir e trazer para aqui uma versao sumarizada da biografia da Rainha Nzinga Mbandi (subtitulos e observacoes em italico de minha autoria), incluida na Encyclopedia of World Biography (2004), onde se pode ler algo muito pouco divulgado, a atribuir-se total credibilidade a essa fonte: ela tera’ sido a primeira Governadora Angolana de Luanda!

@ LUANDA AZUL - LUANDA BLUES
Apesar do vasto acervo bibliografico existente sobre a Rainha Nzinga, ha’ aspectos da sua vida e trajectoria politica menos conhecidos do grande publico, mesmo do angolano, entre o qual me incluo. Paralelamente a esse insuficiente conhecimento, verifica-se actualmente uma certa tendencia para o denegrimento do seu legado historico, na base da qual se teem desenvolvido alguns discursos que sistematicamente a pretendem retratar como “nada mais do que uma escravocrata negra, que vendeu o seu proprio povo aos europeus no trafico negreiro”. Tais discursos teem servido de suporte, entre outros posicionamentos politicos por alguns sectores da sociedade angolana, para a oposicao a colocacao da sua estatua no Largo do Kinaxixi, no centro de Luanda.

Sendo a Historia uma disciplina bastante susceptivel as motivacoes ideologicas, intencoes politicas, interpretacoes subjectivas e especulacoes varias, tanto de quem a le como de quem a escreve, parecem haver quase tantas versoes da vida de Nzinga quanto autores dessas mesmas versoes (isto ja’ colocando de parte as versoes romanceadas e as que sao puramente do dominio da fantasia e da lenda). E, sendo aparentemente precarias e pouco sistematizadas as fontes de literatura oral de origem angolana sobre a sua historia, as versoes tidas por mais fidedignas e usadas como “fontes primarias” pela maioria dos investigadores teem sido geralmente os relatos e correspondencia de missionarios ao servico da “evangelizacao” pela Igreja Catolica (dentre os quais se destacam os padres Antonio Brasio, Antonio de Gaeta e Geovanni Cavazzi), viajantes varios, administradores e embaixadores portugueses e holandeses residentes temporariamente ou enviados em missao a corte de Nzinga em varias ocasioes durante o seu reinado.

Sera’, portanto, apenas natural que tanto uns como outros (embora uns mais que outros) tenham enfatizado, sem contudo prestarem muita atencao a sua contextualizacao temporal, geografica, demografica ou cultural, nos seus relatos, “actos barbaricos” alegadamente praticados por Nzinga quando em alianca militar circunstancial com os chamados “jagas”, por um lado como suporte e vindicacao da sua “missao civilizadora” (“bem sucedida”, segundo algumas dessas fontes, com a conversao, e mais tarde reconversao, de Nzinga ao Catolicismo) e, por outro lado, como atenuante discursivo e justificativo moral para o trafico transatlantico de escravos pelos europeus que, segundo alguns, “apenas deu continuidade a uma pratica ja’ endemica na regiao” e da qual Nzinga seria uma “insaciavel adepta”.

Nao sendo especialista nessa materia, nao me proponho aqui dissecar tais versoes – tarefa a que, alias, varios competentes e renomados historiadores (tais como David Birmingham, Beatrix Heintze e John Thornton, entre outros) se venhem ha’ muito dedicando. Pareceu-me, porem, pertinente que o tema fosse abordado, ainda que sucintamente, neste blog, que, sendo dedicado a Luanda, tem apresentado a figura de Nzinga como uma referencia. E, com esse fito, das varias escolhas possiveis entre a diversa bibliografia existente sobre a Soberana Angolana, decidi traduzir e trazer para aqui uma versao sumarizada da biografia da Rainha Nzinga Mbandi (subtitulos e observacoes em italico de minha autoria), incluida na
Encyclopedia of World Biography (2004), onde se pode ler algo muito pouco divulgado, a atribuir-se total credibilidade a essa fonte: ela tera’ sido a primeira Governadora Angolana de Luanda!

@ LUANDA AZUL - LUANDA BLUES

4 comments:

umBhalane said...

"apresentado a figura de Nzinga como uma referencia"

Quando vi a imagem de Nzinga neste sítio, ao tempo, fui procurar quem era.

E fascinou-me essa figura histórica.

Li algo, mas registei na memória o seu nome e participação na história comum de Angola e Portugal.

E o que mais me marcou na altura, revelador da sua forte personalidade, foi aquele episódio em que, na sua qualidade de embaixatriz de seu irmão, em audiência perante o mandante português, e na falta de uma cadeira onde se assentasse (havia/haveria 2 almofadas) logo uma aia a um seu simples olhar, se vergou em forma de assento e se dispôs para Nzinga se sentar.

Perante o espanto e indisposição de João de Sousa, que assim constatou o erro diplomático que cometeu.

Agora, perante o que se diz e escreve sobre o envolvimento de Nzinga com o esclavagismo, urgência impôs-se.

Fiz uma pequena pesquisa, e encontrei uma obra:

JINGA – Rainha de Matanda

de J.M.Cerqueira D’Azevedo

Não li nenhuma referência à prática de tráfego de escravos por Jinga N’Gola M’Bandi, Rainha de Matanda.

Faleceu a 18 de Dezembro de 1663.

Koluki said...

Muito obrigada por enriquecer este texto com a sua excelente contribuicao e mais uma referencia bibliografica. Mesmo!
E', era assim a nossa Rainha...

umBhalane said...

Economia e sociedade em Angola
na época da Rainha Jinga
Século XVII

Eduardo Parreira
Temas de sociologia
1997
Editorial Estampa

Muito, muito,...interessante.

Koluki said...

Obrigada, umBhalane. Esta por acaso ja' conhecia. E' das obras mais referenciadas em Angola sobre o tema.