Saturday 31 January 2009

MOMBASA: II. CIDADE VELHA

No trajecto de quase uma hora a partir de Stellenbosch, as pessoas que me acompanharam ao aeroporto para a minha viagem a Mombasa engajaram-me numa interessantissima conversa sobre os chamados ‘descobrimentos’, durante a qual foram discutidos, entre outros aspectos, o ‘pioneirismo’ dos portugueses naquela odisseia norte-ocidental e o lugar nela tomado por Vasco da Gama – o que no fim me levou a cantar-lhes as estrofes iniciais da cancao que Masekela lhe dedicou e que elas nao conheciam. Mal sabia eu, ou elas, o que me esperava em Mombasa
Entre outras coisas, a tentativa estranhamente frustrada de fotografar a cabeca de Vasco da Gama encimando a entrada principal do Porto Antigo de Mombasa, construido pelos portugueses… Nao faco a minima ideia das razoes tecnicas pelas quais ela pura e simplesmente se recusou a aparecer nas repetidas tentativas que fiz de a capturar com a camara. A unica explicacao ‘racional’ que me ocorre e’ que o fantasma do Vasco da Gama, que parece continuar a habitar pelo menos a Old Town de Mombasa (e nao so’… ha’ ate’ um Vasco da Gama Beach Hotel algures na cidade), nao tem achado muita piada a cancao do Masekela que por este blog tenho por vezes passado (como agora…) e me tera’, por isso, declarado guilty by association!
Mas, anyway, se quiserem ter uma ideia de como ela se parece, (re)vejam esta mascara Bakongo, que tambem aqui (re)postei em varias ocasioes – nao difere muito...


Aproximacao ao Porto Antigo a partir do (proximo) Forte Jesus.

A ‘Praca da Republica’ local: construida a volta do Porto Antigo, aqui se situam algumas das mais antigas reparticoes governamentais do estado moderno nesta parte do mundo.


Placa indicando (em kiSwahili) a Rua Principal da Cidade Velha e vista parcial do edificio em que esta’ colocada.

Ruas tipicas da Cidade Velha. Ao centro, um monumento ao espirito de boas-vindas da cidade, situado no seu largo central (entre o Forte Jesus e a Rua Principal), representado por uma cafeteira e chavenas do (bom) café Kenyano.


Entradas tipicas de edificios da Cidade Velha: uma habitacional, outra (encimada por um poster de Barack Obama) comercial.

Duas portas, situadas lado a lado no mesmo edificio, na Rua Principal: uma, disse-me um connoisseur local, que tambem me disse que "aqui, ao contrario de outros sitios, todas as racas sao iguais", e’ de traca Bantu, a outra de traca Indiana. Deixo aqui um desafio: sabera’ alguem qual delas sera’ qual e porque?
No trajecto de quase uma hora a partir de Stellenbosch, as pessoas que me acompanharam ao aeroporto para a minha viagem a Mombasa engajaram-me numa interessantissima conversa sobre os chamados ‘descobrimentos’, durante a qual foram discutidos, entre outros aspectos, o ‘pioneirismo’ dos portugueses naquela odisseia norte-ocidental e o lugar nela tomado por Vasco da Gama – o que no fim me levou a cantar-lhes as estrofes iniciais da cancao que Masekela lhe dedicou e que elas nao conheciam. Mal sabia eu, ou elas, o que me esperava em Mombasa
Entre outras coisas, a tentativa estranhamente frustrada de fotografar a cabeca de Vasco da Gama encimando a entrada principal do Porto Antigo de Mombasa, construido pelos portugueses… Nao faco a minima ideia das razoes tecnicas pelas quais ela pura e simplesmente se recusou a aparecer nas repetidas tentativas que fiz de a capturar com a camara. A unica explicacao ‘racional’ que me ocorre e’ que o fantasma do Vasco da Gama, que parece continuar a habitar pelo menos a Old Town de Mombasa (e nao so’… ha’ ate’ um Vasco da Gama Beach Hotel algures na cidade), nao tem achado muita piada a cancao do Masekela que por este blog tenho por vezes passado (como agora…) e me tera’, por isso, declarado guilty by association!
Mas, anyway, se quiserem ter uma ideia de como ela se parece, (re)vejam esta mascara Bakongo, que tambem aqui (re)postei em varias ocasioes – nao difere muito...


Aproximacao ao Porto Antigo a partir do (proximo) Forte Jesus.

A ‘Praca da Republica’ local: construida a volta do Porto Antigo, aqui se situam algumas das mais antigas reparticoes governamentais do estado moderno nesta parte do mundo.


Placa indicando (em kiSwahili) a Rua Principal da Cidade Velha e vista parcial do edificio em que esta’ colocada.

Ruas tipicas da Cidade Velha. Ao centro, um monumento ao espirito de boas-vindas da cidade, situado no seu largo central (entre o Forte Jesus e a Rua Principal), representado por uma cafeteira e chavenas do (bom) café Kenyano.


Entradas tipicas de edificios da Cidade Velha: uma habitacional, outra (encimada por um poster de Barack Obama) comercial.

Duas portas, situadas lado a lado no mesmo edificio, na Rua Principal: uma, disse-me um connoisseur local, que tambem me disse que "aqui, ao contrario de outros sitios, todas as racas sao iguais", e’ de traca Bantu, a outra de traca Indiana. Deixo aqui um desafio: sabera’ alguem qual delas sera’ qual e porque?

Wednesday 28 January 2009

MOMBASA: I. SERENITY

Serena Beach
Praia Serena
Mombasa
Serena Beach
Praia Serena
Mombasa

JAMBO!

Sunday 25 January 2009

OLHARES DIVERSOS (X)



O EQUIVOCO MATA PORQUE AS INOCÊNCIAS CONTINUAM

Por Eugénio Monteiro Ferreira
04/02/2009

Tentando mostrar porventura que os exercícios intelectuais não são para todos, isto é , tentando demonstrar que não podem ter a opinião livre dos habituais situacionistas que, consoante os tempos vão mudando, eles e elas mudam logo de ideias em nome do actualismo, nomeadamente quando passam a ter alguma visibilidade, Inocência Mata lembrou-se de retirar da "gaveta" do seu pensamento o mais "puro" e felizmente curto, discurso estruturalmente racista. Que, como é bom desde logo ver, tem o seu caminho bloqueado pela história, devido ao simples facto de, após a análise científica se impôr, certamente que todo o situacionista, dependendo logicamente da perspectiva dominante do lugar geográfico que pretende sobrevalorizar, admitirá que o facciosismo é, por vezes bem menos temerário, bem mais performativo na sua ideologia, e bem menos idealista quanto ao processo histórico concreto. Diz a Catedrática num texto sobre a eleição de Barak Obama que "a realidade concreta, histórica, é que as pessoas são discriminadas pelas suas diferenças fenotípicas". Começa mal o texto e começa mal o seu mal-estar por causa disso mesmo porventura, pois não se sente bem certamente quem pretende, ainda hoje, encobrir uma ideologia que defende o anti-racismo teórico. Senão vejamos.

1º A professora doutora sabe que não pode afirmar "realidade concreta, histórica", porque está a confundir o dia de hoje com o dia de ontem e os dias dos séculos anteriores. Se tal é propositado ou não só a sua própria prática o poderá demonstrar. E está a confundir os dias porque sabe muito bem que nem a realidade moçambicana é igual à realidade angolana, nem tão pouco a realidade estadunidense é equivalente à realidade japonesa, a um plano; tão pouco a história do apartheid pode ser idêntica à história das relações entre africanos e europeus de origem em São Tomé, por um lado, no Princípe, por outro, a outro plano. É certamente motivo de mal-estar falar em "realidade africana" e logo confundir Angola e Moçambique, colocando à moda do nacionalismo do MPLA e da Frelimo, ambos os países no "mesmo saco". Mesmo na literatura, tivesse estudado a realidade de ambos os espaços sociais em profundidade, e tinha chegado á conclusão, simples, de que não eram só os vários componentes de naturalidade angolana e moçambicana que eram diferentes entre si, eram os próprios colonos e era a própria minoria branca que era completamente diferente no seu modo de ser e lidar com a "questão rácica". Não o admitir, é sintomático de quem é pelo menos ignorante do processo histórico de ambos os países.

2º Barak Hussein Obama é mulato, palavra "feia" na origem mas nem por isso historicamente verdadeira. E porquê? Porque é filho de um homem negro e de uma mulher branca. Como muito bem é sabido a relação entre os iniciais elementos do comércio longínquo - que se transformou em comércio escravista históriamente - levou a que o nacionalismo "rácico" e de cor da pele se andasse a defender pelo mundo em nome da "Mãe África". Essa foi a justificação emepelista para em vez de lutar contra o colonialismo em 1975 tivesse incentivado a luta contra os Colonizadores em Angola, contra aqueles, milhares, que "fabricaram mulatos" e nem sequer os perfilharam, etc. Ou seja, mesmo não se aceitando, compreende- se o juizo de valor contra o Pai "Europeu". Ora , como muito bem se sabe, não é bem a mesma coisa ser colonialista e ser colono, filho de colono ou até ...descendente de filho de colono. Nem academica, nem socialmente. Se se insiste em que Barak Obama é negro e não mulato, é porque não se entende de todo que, no caso concreto, é a "Mãe América" (ou Mãe Europa?) que deve ser sobrevalorizada e não o Pai "Africano". Ou então há manipulação de dados. Num rasgo individualista, no entanto com a pretensão legítima de conhecer a realidade objectiva gostaria de compreender qual a razão pela qual o meu filho é conhecido nas ruas periféricas da casa familiar em Luanda como Pula ou como Branco e Barak Obama é Negro? Será por causa daquela impossibilidade da ciência em "atingir" o facto de as "pessoas" e as "coisas" serem aquilo que os outros pensam ou entendem que elas são? Ou será que nos dias que correm os Catedráticos se andam a guiar cientificamente por critérios desses ou por categorias dessas ?

3º Certamente porque haverá muitas formas de pensar e muitas formas de julgar, a ciência, a prática científica, não deve ir atrás de noções sistematicamente situacionistas, do género ser "fascista" no tempo do fascismo, ser democrata no tempo dos democratas, ser racista no tempo do racismo, nem tão pouco ir atrás de hábitos regionalizados neste mundo que é só um. Por isso, do sopé da minha não academicidade, venho implorar a quem de direito... ou de mérito, que me dê umas explicações, pagas é claro pois certamente por divida histórica o merecerá, sobre a questão "racial" dado haver quem, no seu afâ de defender até aos limites os "seus", ao mesmo tempo que os "outros" ainda não sairam de uma fase de atacar os "seus" deles, confunde no pequeno texto, simultaneamente política, discriminação social, e história.

Finalmente, porque acredito que "o grande perigo de uma ideia repetida até à exaustão é ela começar a acreditar-se verdadeira" há que defintivamente não pretender igualdade naquilo que só a partir de agora, historicamente, vai ser possível: o paralelismo entre África e Europa. E porquê? Porque as "memórias de tempos de discriminação biológica, interdição cultural e proscrição política" são mesmo apagáveis. Sejam eles de longo termo ou de pequeno e médio termo. Por exemplo, em Angola, um dirigente do MPLA, dizia há tempos atrás que os angolanos tinham feito mais em 4 anos do que os portugueses (ou os colonos ?) durante o colonialismo. Será que não conta a afectação de recursos respectivos para se comparar o trabalho dos "colonos" , dos "naturais da terra" , dos "angolenses" e dos " indigenas" se comparados com o parasitismo da classe dominante actual ... de mãos dadas com o estrangeiro eficaz (quando havia uma administração competentissima de gente da terra antes da independência) , e em cadeia, de todo o tipo de produção sequente por parte dos trabalhadores actuais? O racismo estrutural de quem considera Barak Obama como negro é da parte de quem, catedrático inclusivé, não consegue ultrapassar a diferença artificial entre "brancos" e "não brancos", construida pelos apartheids deste mundo, utilizando a nacionalidade portuguesa e porventura tendo ajudado, historicamente, a que, ao nível dos poderes de decisão política directa, um país multirracial como Angola se transformasse num pais de negros com muitos brancos lá dentro; e Portugal se transforme, a custo, num país multirracial ... À revelia, inclusivé da história catedrática, pois, felizmente, foi a competência e o mérito que acabaram sempre, até hoje, por vir ao de cima na aventura que é a história da Humanidade.

(Sobre Obama, a «questão racial» e o esplendor do equívoco, Inocência Mata,
Angolense 24 a 31 de Janeiro, 2009)
***

Post (longo) relacionado:
*****

Series (de 'direito' e de 'merito') relacionadas:

"OBAMA"
"OBAMA vs CLINTON"


O EQUIVOCO MATA PORQUE AS INOCÊNCIAS CONTINUAM

Por Eugénio Monteiro Ferreira
04/02/2009

Tentando mostrar porventura que os exercícios intelectuais não são para todos, isto é , tentando demonstrar que não podem ter a opinião livre dos habituais situacionistas que, consoante os tempos vão mudando, eles e elas mudam logo de ideias em nome do actualismo, nomeadamente quando passam a ter alguma visibilidade, Inocência Mata lembrou-se de retirar da "gaveta" do seu pensamento o mais "puro" e felizmente curto, discurso estruturalmente racista. Que, como é bom desde logo ver, tem o seu caminho bloqueado pela história, devido ao simples facto de, após a análise científica se impôr, certamente que todo o situacionista, dependendo logicamente da perspectiva dominante do lugar geográfico que pretende sobrevalorizar, admitirá que o facciosismo é, por vezes bem menos temerário, bem mais performativo na sua ideologia, e bem menos idealista quanto ao processo histórico concreto. Diz a Catedrática num texto sobre a eleição de Barak Obama que "a realidade concreta, histórica, é que as pessoas são discriminadas pelas suas diferenças fenotípicas". Começa mal o texto e começa mal o seu mal-estar por causa disso mesmo porventura, pois não se sente bem certamente quem pretende, ainda hoje, encobrir uma ideologia que defende o anti-racismo teórico. Senão vejamos.

1º A professora doutora sabe que não pode afirmar "realidade concreta, histórica", porque está a confundir o dia de hoje com o dia de ontem e os dias dos séculos anteriores. Se tal é propositado ou não só a sua própria prática o poderá demonstrar. E está a confundir os dias porque sabe muito bem que nem a realidade moçambicana é igual à realidade angolana, nem tão pouco a realidade estadunidense é equivalente à realidade japonesa, a um plano; tão pouco a história do apartheid pode ser idêntica à história das relações entre africanos e europeus de origem em São Tomé, por um lado, no Princípe, por outro, a outro plano. É certamente motivo de mal-estar falar em "realidade africana" e logo confundir Angola e Moçambique, colocando à moda do nacionalismo do MPLA e da Frelimo, ambos os países no "mesmo saco". Mesmo na literatura, tivesse estudado a realidade de ambos os espaços sociais em profundidade, e tinha chegado á conclusão, simples, de que não eram só os vários componentes de naturalidade angolana e moçambicana que eram diferentes entre si, eram os próprios colonos e era a própria minoria branca que era completamente diferente no seu modo de ser e lidar com a "questão rácica". Não o admitir, é sintomático de quem é pelo menos ignorante do processo histórico de ambos os países.

2º Barak Hussein Obama é mulato, palavra "feia" na origem mas nem por isso historicamente verdadeira. E porquê? Porque é filho de um homem negro e de uma mulher branca. Como muito bem é sabido a relação entre os iniciais elementos do comércio longínquo - que se transformou em comércio escravista históriamente - levou a que o nacionalismo "rácico" e de cor da pele se andasse a defender pelo mundo em nome da "Mãe África". Essa foi a justificação emepelista para em vez de lutar contra o colonialismo em 1975 tivesse incentivado a luta contra os Colonizadores em Angola, contra aqueles, milhares, que "fabricaram mulatos" e nem sequer os perfilharam, etc. Ou seja, mesmo não se aceitando, compreende- se o juizo de valor contra o Pai "Europeu". Ora , como muito bem se sabe, não é bem a mesma coisa ser colonialista e ser colono, filho de colono ou até ...descendente de filho de colono. Nem academica, nem socialmente. Se se insiste em que Barak Obama é negro e não mulato, é porque não se entende de todo que, no caso concreto, é a "Mãe América" (ou Mãe Europa?) que deve ser sobrevalorizada e não o Pai "Africano". Ou então há manipulação de dados. Num rasgo individualista, no entanto com a pretensão legítima de conhecer a realidade objectiva gostaria de compreender qual a razão pela qual o meu filho é conhecido nas ruas periféricas da casa familiar em Luanda como Pula ou como Branco e Barak Obama é Negro? Será por causa daquela impossibilidade da ciência em "atingir" o facto de as "pessoas" e as "coisas" serem aquilo que os outros pensam ou entendem que elas são? Ou será que nos dias que correm os Catedráticos se andam a guiar cientificamente por critérios desses ou por categorias dessas ?

3º Certamente porque haverá muitas formas de pensar e muitas formas de julgar, a ciência, a prática científica, não deve ir atrás de noções sistematicamente situacionistas, do género ser "fascista" no tempo do fascismo, ser democrata no tempo dos democratas, ser racista no tempo do racismo, nem tão pouco ir atrás de hábitos regionalizados neste mundo que é só um. Por isso, do sopé da minha não academicidade, venho implorar a quem de direito... ou de mérito, que me dê umas explicações, pagas é claro pois certamente por divida histórica o merecerá, sobre a questão "racial" dado haver quem, no seu afâ de defender até aos limites os "seus", ao mesmo tempo que os "outros" ainda não sairam de uma fase de atacar os "seus" deles, confunde no pequeno texto, simultaneamente política, discriminação social, e história.

Finalmente, porque acredito que "o grande perigo de uma ideia repetida até à exaustão é ela começar a acreditar-se verdadeira" há que defintivamente não pretender igualdade naquilo que só a partir de agora, historicamente, vai ser possível: o paralelismo entre África e Europa. E porquê? Porque as "memórias de tempos de discriminação biológica, interdição cultural e proscrição política" são mesmo apagáveis. Sejam eles de longo termo ou de pequeno e médio termo. Por exemplo, em Angola, um dirigente do MPLA, dizia há tempos atrás que os angolanos tinham feito mais em 4 anos do que os portugueses (ou os colonos ?) durante o colonialismo. Será que não conta a afectação de recursos respectivos para se comparar o trabalho dos "colonos" , dos "naturais da terra" , dos "angolenses" e dos " indigenas" se comparados com o parasitismo da classe dominante actual ... de mãos dadas com o estrangeiro eficaz (quando havia uma administração competentissima de gente da terra antes da independência) , e em cadeia, de todo o tipo de produção sequente por parte dos trabalhadores actuais? O racismo estrutural de quem considera Barak Obama como negro é da parte de quem, catedrático inclusivé, não consegue ultrapassar a diferença artificial entre "brancos" e "não brancos", construida pelos apartheids deste mundo, utilizando a nacionalidade portuguesa e porventura tendo ajudado, historicamente, a que, ao nível dos poderes de decisão política directa, um país multirracial como Angola se transformasse num pais de negros com muitos brancos lá dentro; e Portugal se transforme, a custo, num país multirracial ... À revelia, inclusivé da história catedrática, pois, felizmente, foi a competência e o mérito que acabaram sempre, até hoje, por vir ao de cima na aventura que é a história da Humanidade.

(Sobre Obama, a «questão racial» e o esplendor do equívoco, Inocência Mata,
Angolense 24 a 31 de Janeiro, 2009)
***

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Series (de 'direito' e de 'merito') relacionadas:

"OBAMA"
"OBAMA vs CLINTON"

Wednesday 21 January 2009

PORTUGAL X BRASIL...

Sera' que apenas eu reparei que Portugal (6649) finalmente (!) ultrapassou o Brasil (6636) no Neopod deste blog?

Alguem se lembra desta conversa?


[Obrigada a todos os visitantes de ambos os paises!]

INAUGURAL PICTURES*

Chegamos agora da inauguracao foi impressionante milhares de pessoas, todas a racas e nacionalidades. Vimos o Presidente fazer o juramento emocao indiscritivel.




Estava extremamente frio, mas o entusiasmo geral aqueceu as almas.





Quando da introducao do Presidente e a sua esposa os gritos de alegria foram contagiantes e quando da apresentacao de Bush os Booos foram impressionantes.



Dia de extrema alegria esperanca para os Americanos de todas as racas. Finalmente America decidiu assumir a sua posicao de lideranca e nao do "Bully" mundial!


[*Por Alex Santana, correspondente especial em Washington D.C.]
Chegamos agora da inauguracao foi impressionante milhares de pessoas, todas a racas e nacionalidades. Vimos o Presidente fazer o juramento emocao indiscritivel.




Estava extremamente frio, mas o entusiasmo geral aqueceu as almas.





Quando da introducao do Presidente e a sua esposa os gritos de alegria foram contagiantes e quando da apresentacao de Bush os Booos foram impressionantes.



Dia de extrema alegria esperanca para os Americanos de todas as racas. Finalmente America decidiu assumir a sua posicao de lideranca e nao do "Bully" mundial!


[*Por Alex Santana, correspondente especial em Washington D.C.]

Tuesday 20 January 2009

THERE HE IS!



Watch the video/Read the transcript of Obama's Inaugural Speech here.

THERE HE GOES...



Free file hosting by Ripway.com
Now's The Time [Miles Davis/Charlie Parker]


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Now's The Time [Miles Davis/Charlie Parker]

ON OBAMA'S INAUGURATION DAY (II)

A Little Tour of Washington…
Before The Inauguration*

Quinton and Douglas


Two typical Americans they had just left their office for a few minutes to go to the terrace to witness the stage being set-up where President Elect Barack Obama will deliver his speech.

Both proud of their achievement; bringing an intelligent African-American man into the top position of the Executive Branch of the United States of America’s government.

Many Americans are very proud and showing off particularly to Europeans that when they want they execute, without hesitation. Lately, some European residents have been teasing them by repeating Churchill’s quote “You can always count on Americans to do the right thing after they have tried everything else”. The “everything else” means Bush and his Iraq war.

Now, it is Europe’s turn to show how open minded they can be, and express the diversity of the population at all social levels and institutions particularly Portugal one of the World’s first Colonizer’s!

Portable-potties


I had never seen so many portable-potties at once. They are all over around the Capitol and Smithsonian area. In the preparation for the Inauguration, these were what impressed me the most. Everyday of last week, I saw huge long trucks carrying them. I wonder how the area will smell after the event.

Capitol 

Just imagine that tomorrow this area will be crowded with perhaps a couple million of people.

Leaving Washington D.C.

Entering Virginia. Ahead the memorial created in memory of the 11/09/2001 attack Pentagon victims.

Pentagon Memorial for September 11 victims

A 184 people died on September 11, 2001 at the Pentagon in Virginia.

[*By Alex Santana, my special correspondent in Washington D.C.]

A Little Tour of Washington…
Before The Inauguration*

Quinton and Douglas


Two typical Americans they had just left their office for a few minutes to go to the terrace to witness the stage being set-up where President Elect Barack Obama will deliver his speech.

Both proud of their achievement; bringing an intelligent African-American man into the top position of the Executive Branch of the United States of America’s government.

Many Americans are very proud and showing off particularly to Europeans that when they want they execute, without hesitation. Lately, some European residents have been teasing them by repeating Churchill’s quote “You can always count on Americans to do the right thing after they have tried everything else”. The “everything else” means Bush and his Iraq war.

Now, it is Europe’s turn to show how open minded they can be, and express the diversity of the population at all social levels and institutions particularly Portugal one of the World’s first Colonizer’s!

Portable-potties


I had never seen so many portable-potties at once. They are all over around the Capitol and Smithsonian area. In the preparation for the Inauguration, these were what impressed me the most. Everyday of last week, I saw huge long trucks carrying them. I wonder how the area will smell after the event.

Capitol 

Just imagine that tomorrow this area will be crowded with perhaps a couple million of people.

Leaving Washington D.C.

Entering Virginia. Ahead the memorial created in memory of the 11/09/2001 attack Pentagon victims.

Pentagon Memorial for September 11 victims

A 184 people died on September 11, 2001 at the Pentagon in Virginia.

[*By Alex Santana, my special correspondent in Washington D.C.]

ON OBAMA'S INAUGURATION DAY (I)

THE GREAT MELTING POT*

The Mixed Families in Washington D.C.


Acceptance is the right attitude. The baptism of baby Zachy at St Mathews Catholic Church in Washington D.C. Peruvian mom and American dad.

There is a growing concern within the white American community regarding the fact that as the Latino population grows in a few years they might become a minority.

The positive attitude is to fully embrace this change and honor the ‘melting pot’ expression so often used to by the white Americans to defend the position that they have an extremely diverse and open minded society.

In the US all white blacked mixed people are considered African-Americans
(The politically correct expression) and Latinos are Latinos/Hispanics not really white!

Stella and Adam

They got married last July from his small hometown in the heart of the Country the first time Adam saw an African-American person in real life was when he was already an adult in College!

When he fell in Love with Stella his parents were very concerned as all they had in their minds were the negative TV stereotypes about “blacks”. After meeting Stella and her family all prejudice was gone.

Most Adam’s friends are white and Stella’s friends are black. So, at the wedding ceremony was very interesting to see about 8 white best men and all bride’s maids black. All those white young fellows seem to have had there first really close contact with African American girls at that event, by their interaction, I believe that the number of mixed families in that Iowa little Town will start rising very soon.

Family Night-out!

Left Mark-Jan
Didi
Alex
Huntz
Arjan
Graca
Ian
Mario
Right Alexander.

[*By Alex Santana, my special correspondent in Washington D.C.]

THE GREAT MELTING POT*

The Mixed Families in Washington D.C.


Acceptance is the right attitude. The baptism of baby Zachy at St Mathews Catholic Church in Washington D.C. Peruvian mom and American dad.

There is a growing concern within the white American community regarding the fact that as the Latino population grows in a few years they might become a minority.

The positive attitude is to fully embrace this change and honor the ‘melting pot’ expression so often used to by the white Americans to defend the position that they have an extremely diverse and open minded society.

In the US all white blacked mixed people are considered African-Americans
(The politically correct expression) and Latinos are Latinos/Hispanics not really white!

Stella and Adam

They got married last July from his small hometown in the heart of the Country the first time Adam saw an African-American person in real life was when he was already an adult in College!

When he fell in Love with Stella his parents were very concerned as all they had in their minds were the negative TV stereotypes about “blacks”. After meeting Stella and her family all prejudice was gone.

Most Adam’s friends are white and Stella’s friends are black. So, at the wedding ceremony was very interesting to see about 8 white best men and all bride’s maids black. All those white young fellows seem to have had there first really close contact with African American girls at that event, by their interaction, I believe that the number of mixed families in that Iowa little Town will start rising very soon.

Family Night-out!

Left Mark-Jan
Didi
Alex
Huntz
Arjan
Graca
Ian
Mario
Right Alexander.

[*By Alex Santana, my special correspondent in Washington D.C.]

Sunday 18 January 2009

BACK IN MADIBALAND

I've just arrived and will be based down here for a while, working on something that will make my blogging a bit less regular.
But I'll try to keep you posted as and whenever I can.

Free file hosting by Ripway.com

[I'm playing Masekela's Abangoma here because that's to me what best encapsulates the spirit of the land at the moment, but my next door neighbour is actually playing Miles and Coltrane on Kind of Blue, which is only appropriate because I can hear Coltrane in Abangoma...]

I've just arrived and will be based down here for a while, working on something that will make my blogging a bit less regular.
But I'll try to keep you posted as and whenever I can.

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[I'm playing Masekela's Abangoma here because that's to me what best encapsulates the spirit of the land at the moment, but my next door neighbour is actually playing Miles and Coltrane on Kind of Blue, which is only appropriate because I can hear Coltrane in Abangoma...]

Friday 16 January 2009

'DESEMBRULHANDO A CRISE' (II)

Desde o primeiro numero desta serie, pode-se seguramente dizer que “a crise vai bem, obrigada”: alguns dos maiores gigantes do fordismo nos EUA e na Europa (em particular na industria automovel, incluindo a iconica Ford) seguiram-se aos ‘tigres de papel’ de Wall Street e da City de Londres na longa ‘bicha’ de pedintes de dinheiros publicos; os poderes publicos, por seu lado, nao se teem poupado a alargar os cordoes a bolsa para, por um lado, atender aos pedintes dos sectores produtivo e especulativo e, por outro, conceder todos os estimulos possiveis e imaginaveis, tanto fiscais como crediticios, aos deprimidos consumidores e, por via disso, foram descendo as taxas de juro ate’ ao nivel zero ou, numa outra analise, a linha de passe entre a recessao e a depressao.

Enquanto isso, varios operadores em todos os sectores economicos continuaram a afundar-se – com alguns casos de policia e tragicos suicidios pelo meio – e a generalidade dos consumidores continuaram a nao impedir que grandes nomes da ‘high/main street’ (do que a Woolworths – uma cadeia retalhista com mais de um seculo de existencia no mercado Britanico – tem sido nas ultimas semanas o caso mais emblematico) continuem a falir. Estaremos, assim, numa situacao que nos permite visualizar em termos praticos e reais aquilo que, em termos teoricos, e’ definido em macroeconomia como a “armadilha da liquidez”, ou seja, uma situacao em que, por mais barato que seja o dinheiro, as politicas monetaria e fiscal se demonstram incapazes por si sos de estimular a producao e o consumo e, consequentemente, o crescimento economico.

Essa situacao, porem, poder-se-ia restringir ao ocidente, nao estivessemos nos numa economia globalizada (globalizadora?) e nao fossem as restricoes impostas pela OPEP aos paises produtores de petroleo (Angola) que os deixam em nao tao ‘bons espiritos’ quanto em condicoes normais seria de prever, particularmente quando estes estao sobremaneira depedentes de, por um lado, emprestimos estrangeiros e, por outro, aplicacoes financeiras que, na actual conjuntura, se apresentam tao vulneraveis quanto quaisquer outras nas pracas financeiras internacionais. A tal ponto que, quando o estudo de viabilidade do recem-projectado Fundo Soberano Angolano estiver concluido, talvez ja’ nao haja fundos assim tao disponiveis para o instituir e manter… Ha’, contudo, neste contexto, uma noticia geralmente animadora: a China, neste momento maior parceiro economico de Angola, acaba de ascender a posicao de terceira maior economia mundial, depois dos EUA e do Japao, tendo destronado a Alemanha daquela posicao. Ate’ que ponto sera’ esta uma noticia particularmente animadora para Angola? Questao a acompanhar nos proximos tempos. Por agora, voltemos brevemente ao primeiro numero desta serie, que assim terminei:

Essa, do meu ponto de vista, a essencia da crise que se vem desenrolando aos nossos olhos. Se ha’ uma licao basica a retirar dela, e’ que nenhuma economia se pode dar ao luxo de perder o equilibrio essencial entre o sector de bens (e servicos) e o sector das financas, ou seja, entre a economia real e a economia monetaria. Este ‘lembrete’ torna-se particularmente relevante para algumas das questoes que levantei, bastante antes desta crise, no meu artigo “Politica, Futebol e Algumas Consideracoes sobre a Actual Conjuntura Economica Angolana”. A elas voltarei.

E, aqui volto a elas, como prometido. Nao directamente, mas atraves do economista no pensamento de quem se estruturou sobremaneira a minha formacao basica em Economia, John Maynard Keynes {ele que, tendo dito que “os homens praticos que acreditam estar imunes a qualquer influencia intelectual, sao normalmente escravos de um qualquer economista defunto” (tenho ca’ para mim que ele deveria estar a pensar no economista entao ja' defunto Karl Marx…), tem suscitado recentemente afirmacoes que o creditam como o unico economista (defunto) a quem recorrer neste momento em busca de solucoes para a actual crise, pelo facto de a sua analise de recessoes e depressoes economicas continuar a ser a fundacao da moderna macroeconomia, ou que, tendo ele famosamente afirmado que "no longo prazo (do ciclo historico-economico) estamos todos mortos", verifica-se agora que neste momento ele esta tudo menos morto , ao ponto de ter sido referido como o homem do ano - passado, que, pelo menos no que diz respeito a crise economica, continua neste ano que agora se inicia}, usando duas citacoes, que me parecem fulcrais no ambito da analise que sugeri naquele meu artigo do inicio de 2006, de uma celebre carta aberta que ele enderecou, em 1933, ao entao Presidente Roosevelt dos EUA, oferecendo o seu technical advice para a recuperacao da Grande Depressao que se vivia naqueles dias:

“(…) O objectivo da recuperacao e’ aumentar o produto nacional e colocar mais homens a trabalhar. No sistema economico do mundo moderno, o produto e’ primariamente para venda; e o volume do produto depende da quantidade do poder de compra, comparada com o custo primario da producao que se espera colocar no mercado. Genericamente falando, portanto, um aumento do produto nao se pode verificar a menos que opere um ou outro de tres factores. Os individuos devem ser induzidos a gastar mais dos seus rendimentos existentes; ou o mundo empresarial deve ser induzido, seja atraves de um aumento da confianca nas expectativas ou de uma mais baixa taxa de juro, a criar adicionais rendimentos correntes nas maos dos seus empregados, o que acontece quando ou o capital fixo, ou o capital operacional do pais esta’ a ser incrementado; ou a autoridade publica tem que ser chamada para ajudar a criar rendimentos correntes adicionais atraves de despesa ou de dinheiro emprestado ou imprimido. Em maus tempos nao se pode esperar que o primeiro factor funcione a uma escala suficiente. O segundo factor entrara’ em accao como a segunda onda de ataque a recessao depois da vaga ter sido contrariada pela despesa publica. E’, portanto, apenas do terceiro factor que se pode esperar o maior impulso inicial.”

Ora, como vimos nos paragrafos iniciais deste post, este diagnostico de Keynes e’ claramente evidenciado pela presente crise economica, nao apenas ocidental, mas global, incluindo o mercado domestico da China, apesar da sua recente ascensao a categoria de terceira potencia mundial -, sendo que, a par do consenso que se reune a volta da necessidade de conceder estimulos a economia, decorre neste momento um debate bastante interessante sobre os limites desses estimulos e as melhores vias para os tornarem mais eficazes. Vejamos entao qual a prescricao de Keynes:

“(…) Assim, como primordial incentivador no primeiro estagio da tecnica de recuperacao, eu ponho uma enfase avassaladora no aumento do poder de compra nacional, resultante da despesa governamental, que seja financiado por emprestimos e nao por tributacao dos rendimentos presentes. Nada mais conta em comparacao com isto. Numa situacao de expansao economica, a inflacao pode ser causada pela permissao de que o credito ilimitado apoie o entusiasmo excitado dos especuladores empresariais. Mas numa recessao, a despesa crediticia governamental e’ a unica forma segura de se garantir rapidamente um aumento do produto a precos crescentes. E’ por isso que uma guerra causa sempre uma intensa actividade industrial. No passado, o financiamento ortodoxo via uma guerra como a unica legitima desculpa para a criacao de emprego atraves da despesa governamental. Voce, Sr. Presidente, tendo deixado de lado tal pensamento, e’ livre de utilizar nos interesses da paz e da prosperidade a tecnica a qual ate’ agora apenas foi permitido servir os propositos da guerra e da destruicao.”

Nao se aplica isto bem a Angola, meus caros leitores? Eu diria que sim, especialmente tendo em conta o que ele diz num outro paragrafo da mesma carta quanto as areas em que a despesa publica se deveria aplicar, “(…) devera’ ser dada preferencia aquelas que poderao mais rapidamente madurar em grande escala, como por exemplo a reabilitacao das condicoes fisicas das linhas ferreas” (ao que poderiamos acrescentar outras obras publicas e investimentos em infra-estruturas, como a construcao de habitacoes e a reabilitacao de estradas, etc.). Mas diria tambem algo mais: que o diagnostico e prescricao de Keynes – onde ele diz, nomeadamente, que “o objectivo da recuperacao e’ aumentar o produto nacional e colocar mais homens a trabalhar” e que “eu ponho uma enfase avassaladora no aumento do poder de compra nacional” e, ja' agora, ao que ele tambem disse num outro contexto: "a politica monetaria e cambial de um pais devera’ ser inteiramente subordinada ao objectivo do aumento da producao e do emprego ao nivel certo" -, referem-se estritamente ao produto, ao emprego e ao poder de compra dos nacionais. Aplicar-se-ha’ isto inteiramente a Angola? Esse e’, do meu (humilde, il faut le dire…), ponto de vista, o prublema que ainda estamos kum ele
Desde o primeiro numero desta serie, pode-se seguramente dizer que “a crise vai bem, obrigada”: alguns dos maiores gigantes do fordismo nos EUA e na Europa (em particular na industria automovel, incluindo a iconica Ford) seguiram-se aos ‘tigres de papel’ de Wall Street e da City de Londres na longa ‘bicha’ de pedintes de dinheiros publicos; os poderes publicos, por seu lado, nao se teem poupado a alargar os cordoes a bolsa para, por um lado, atender aos pedintes dos sectores produtivo e especulativo e, por outro, conceder todos os estimulos possiveis e imaginaveis, tanto fiscais como crediticios, aos deprimidos consumidores e, por via disso, foram descendo as taxas de juro ate’ ao nivel zero ou, numa outra analise, a linha de passe entre a recessao e a depressao.

Enquanto isso, varios operadores em todos os sectores economicos continuaram a afundar-se – com alguns casos de policia e tragicos suicidios pelo meio – e a generalidade dos consumidores continuaram a nao impedir que grandes nomes da ‘high/main street’ (do que a Woolworths – uma cadeia retalhista com mais de um seculo de existencia no mercado Britanico – tem sido nas ultimas semanas o caso mais emblematico) continuem a falir. Estaremos, assim, numa situacao que nos permite visualizar em termos praticos e reais aquilo que, em termos teoricos, e’ definido em macroeconomia como a “armadilha da liquidez”, ou seja, uma situacao em que, por mais barato que seja o dinheiro, as politicas monetaria e fiscal se demonstram incapazes por si sos de estimular a producao e o consumo e, consequentemente, o crescimento economico.

Essa situacao, porem, poder-se-ia restringir ao ocidente, nao estivessemos nos numa economia globalizada (globalizadora?) e nao fossem as restricoes impostas pela OPEP aos paises produtores de petroleo (Angola) que os deixam em nao tao ‘bons espiritos’ quanto em condicoes normais seria de prever, particularmente quando estes estao sobremaneira depedentes de, por um lado, emprestimos estrangeiros e, por outro, aplicacoes financeiras que, na actual conjuntura, se apresentam tao vulneraveis quanto quaisquer outras nas pracas financeiras internacionais. A tal ponto que, quando o estudo de viabilidade do recem-projectado Fundo Soberano Angolano estiver concluido, talvez ja’ nao haja fundos assim tao disponiveis para o instituir e manter… Ha’, contudo, neste contexto, uma noticia geralmente animadora: a China, neste momento maior parceiro economico de Angola, acaba de ascender a posicao de terceira maior economia mundial, depois dos EUA e do Japao, tendo destronado a Alemanha daquela posicao. Ate’ que ponto sera’ esta uma noticia particularmente animadora para Angola? Questao a acompanhar nos proximos tempos. Por agora, voltemos brevemente ao primeiro numero desta serie, que assim terminei:

Essa, do meu ponto de vista, a essencia da crise que se vem desenrolando aos nossos olhos. Se ha’ uma licao basica a retirar dela, e’ que nenhuma economia se pode dar ao luxo de perder o equilibrio essencial entre o sector de bens (e servicos) e o sector das financas, ou seja, entre a economia real e a economia monetaria. Este ‘lembrete’ torna-se particularmente relevante para algumas das questoes que levantei, bastante antes desta crise, no meu artigo “Politica, Futebol e Algumas Consideracoes sobre a Actual Conjuntura Economica Angolana”. A elas voltarei.

E, aqui volto a elas, como prometido. Nao directamente, mas atraves do economista no pensamento de quem se estruturou sobremaneira a minha formacao basica em Economia, John Maynard Keynes {ele que, tendo dito que “os homens praticos que acreditam estar imunes a qualquer influencia intelectual, sao normalmente escravos de um qualquer economista defunto” (tenho ca’ para mim que ele deveria estar a pensar no economista entao ja' defunto Karl Marx…), tem suscitado recentemente afirmacoes que o creditam como o unico economista (defunto) a quem recorrer neste momento em busca de solucoes para a actual crise, pelo facto de a sua analise de recessoes e depressoes economicas continuar a ser a fundacao da moderna macroeconomia, ou que, tendo ele famosamente afirmado que "no longo prazo (do ciclo historico-economico) estamos todos mortos", verifica-se agora que neste momento ele esta tudo menos morto , ao ponto de ter sido referido como o homem do ano - passado, que, pelo menos no que diz respeito a crise economica, continua neste ano que agora se inicia}, usando duas citacoes, que me parecem fulcrais no ambito da analise que sugeri naquele meu artigo do inicio de 2006, de uma celebre carta aberta que ele enderecou, em 1933, ao entao Presidente Roosevelt dos EUA, oferecendo o seu technical advice para a recuperacao da Grande Depressao que se vivia naqueles dias:

“(…) O objectivo da recuperacao e’ aumentar o produto nacional e colocar mais homens a trabalhar. No sistema economico do mundo moderno, o produto e’ primariamente para venda; e o volume do produto depende da quantidade do poder de compra, comparada com o custo primario da producao que se espera colocar no mercado. Genericamente falando, portanto, um aumento do produto nao se pode verificar a menos que opere um ou outro de tres factores. Os individuos devem ser induzidos a gastar mais dos seus rendimentos existentes; ou o mundo empresarial deve ser induzido, seja atraves de um aumento da confianca nas expectativas ou de uma mais baixa taxa de juro, a criar adicionais rendimentos correntes nas maos dos seus empregados, o que acontece quando ou o capital fixo, ou o capital operacional do pais esta’ a ser incrementado; ou a autoridade publica tem que ser chamada para ajudar a criar rendimentos correntes adicionais atraves de despesa ou de dinheiro emprestado ou imprimido. Em maus tempos nao se pode esperar que o primeiro factor funcione a uma escala suficiente. O segundo factor entrara’ em accao como a segunda onda de ataque a recessao depois da vaga ter sido contrariada pela despesa publica. E’, portanto, apenas do terceiro factor que se pode esperar o maior impulso inicial.”

Ora, como vimos nos paragrafos iniciais deste post, este diagnostico de Keynes e’ claramente evidenciado pela presente crise economica, nao apenas ocidental, mas global, incluindo o mercado domestico da China, apesar da sua recente ascensao a categoria de terceira potencia mundial -, sendo que, a par do consenso que se reune a volta da necessidade de conceder estimulos a economia, decorre neste momento um debate bastante interessante sobre os limites desses estimulos e as melhores vias para os tornarem mais eficazes. Vejamos entao qual a prescricao de Keynes:

“(…) Assim, como primordial incentivador no primeiro estagio da tecnica de recuperacao, eu ponho uma enfase avassaladora no aumento do poder de compra nacional, resultante da despesa governamental, que seja financiado por emprestimos e nao por tributacao dos rendimentos presentes. Nada mais conta em comparacao com isto. Numa situacao de expansao economica, a inflacao pode ser causada pela permissao de que o credito ilimitado apoie o entusiasmo excitado dos especuladores empresariais. Mas numa recessao, a despesa crediticia governamental e’ a unica forma segura de se garantir rapidamente um aumento do produto a precos crescentes. E’ por isso que uma guerra causa sempre uma intensa actividade industrial. No passado, o financiamento ortodoxo via uma guerra como a unica legitima desculpa para a criacao de emprego atraves da despesa governamental. Voce, Sr. Presidente, tendo deixado de lado tal pensamento, e’ livre de utilizar nos interesses da paz e da prosperidade a tecnica a qual ate’ agora apenas foi permitido servir os propositos da guerra e da destruicao.”

Nao se aplica isto bem a Angola, meus caros leitores? Eu diria que sim, especialmente tendo em conta o que ele diz num outro paragrafo da mesma carta quanto as areas em que a despesa publica se deveria aplicar, “(…) devera’ ser dada preferencia aquelas que poderao mais rapidamente madurar em grande escala, como por exemplo a reabilitacao das condicoes fisicas das linhas ferreas” (ao que poderiamos acrescentar outras obras publicas e investimentos em infra-estruturas, como a construcao de habitacoes e a reabilitacao de estradas, etc.). Mas diria tambem algo mais: que o diagnostico e prescricao de Keynes – onde ele diz, nomeadamente, que “o objectivo da recuperacao e’ aumentar o produto nacional e colocar mais homens a trabalhar” e que “eu ponho uma enfase avassaladora no aumento do poder de compra nacional” e, ja' agora, ao que ele tambem disse num outro contexto: "a politica monetaria e cambial de um pais devera’ ser inteiramente subordinada ao objectivo do aumento da producao e do emprego ao nivel certo" -, referem-se estritamente ao produto, ao emprego e ao poder de compra dos nacionais. Aplicar-se-ha’ isto inteiramente a Angola? Esse e’, do meu (humilde, il faut le dire…), ponto de vista, o prublema que ainda estamos kum ele

PRUDENCE!

Wednesday 14 January 2009

IN SEARCH OF A BRAZILIAN OBAMA


The current issue of Jungle Drums, a Brazilian magazine published in London, in Portuguese and English, features an interesting piece about the feasibility in the foreseeable future of a Black candidate being elected President of Brazil, as Barack Obama just was in the US.

*****

A corrente edicao do magazine brasileiro Jungle Drums, publicado em Londres, em Portugues e Ingles, contem uma interessante materia sobre a fisibilidade da eleicao, num futuro mais ou menos previsivel, de um presidente negro no Brasil, a semelhanca da recente eleicao de Barack Obama nos EUA. Eis alguns destaques:

(...)
No Brasil, surgiu também um sentimento paradoxal de inveja boa: ao mesmo tempo em que aplaudiram a vitória histórica de Obama, negros brasileiros também sonham ver o tabu racial quebrado num país em que negros e pardos formam quase metade da população - 49,7% de acordo com as estatísticas oficiais.

Mas será que a eleição de um presidente negro no Brasil nos próximos anos é algo mais do que um sonho? Embora os Estados Unidos tenham uma história marcada por intensos conflitos raciais e ainda abriguem organizações declaradamente racistas, em especial no Sul do país, intelectuais negros brasileiros não acreditam, a princípio, que o Brasil, apesar de sua tão decantada democracia racial e de sua miscigenação, possa ter a sua versão de Obama.

Para a historiadora Wania Santanna, tal hipótese é impossível a curto prazo. Em médio prazo, uma possibilidade, e em longo prazo só vai ocorrer caso o racismo seja discutido seriamente, sobretudo pela adoção de ações afirmativas a favor dos negros, além de políticas governamentais específicas, como as cotas em universidades públicas.

Nei Lopes, compositor e autor de 23 livros sobre temas afro-brasileiros, afirma que o Brasil está pelo menos 40 anos atrasado em relação aos Estados Unidos no que diz respeito aos direitos civis: “Lá a questão (do racismo) foi sempre colocada abertamente, sem hipocrisia. A segregação fez com que os negros se conscientizassem e procurassem seu caminho. Aqui, nós fomos sempre iludidos com essa mentira de “país mestiço” e de harmonia racial e cultural. E aí nada se resolveu até hoje”.

A segregação nos Estados Unidos fez com que os negros americanos criassem suas próprias universidades, suas próprias empresas. Dessa forma, os negros americanos conquistaram seu espaço e criaram seu próprio mercado. Lopes afirma que no Brasil, “a ‘boa convivência’ reservou para nós apenas o samba e o futebol”. Uma solução poderia estar na educação. Com o mesmo nível de escolaridade, as chances seriam tecnicamente iguais para todos no mercado de trabalho e, futuramente, na política. Entretanto, Santanna afirma que nem mesmo os negros mais escolarizados têm igualdade de oportunidades e às vezes vêem brancos notadamente menos preparados ocuparem cargos mais altos.

David Raimundo dos Santos, diretor da Educafro, entidade que mantém cursos pré-vestibulares gratuitos para negros e carentes, concorda quando se diz que o mito da democracia racial prejudica a ascensão da comunidade negra brasileira.

De acordo com o educador, “o povo dos EUA assume o seu racismo. O povo brasileiro tem um racismo hipócrita. É um racismo mais cruel, pois engana a vítima, criando a falsa imagem de que está tudo bem. No entanto, faz um estrago muito mais avassalador”. Para ele, a hipocrisia racial brasileira multiplica o efeito do racismo, neutralizando as iniciativas das lideranças anti-racistas, pois passa para o povo negro e branco a imagem de que os racistas são os militantes afro que denunciam esta realidade.

Santos considera um contra-senso que se aceite a globalização das multinacionais, mas não a de idéias que deram certo como a das cotas em universidades. Entretanto, acredita que o Brasil possa ter um presidente negro: “Já temos várias lideranças capazes. O problema é que a classe dominante eurodescendente não dá espaço. Mas nem as mulheres, apesar de terem leis, têm espaços. É muito sério o domínio de um grupo humano sobre os outros”.

A questão principal, entretanto, não é política, mas social. Lopes afirma que “no Brasil, até hoje ainda tem gente que acredita em democracia racial; nós mesmos somos culpados pelo nosso atraso. Para se acabar com o racismo, é preciso primeiro admitir que, embora o conceito de ‘raça’ seja furado, o racismo existe”. Mais do que eleger um presidente negro, o Brasil precisa entender a comunidade negra como parte da sociedade.
(...)


N.B.: Alguns dos meus pontos de vista, bem como os de alguns amigos deste blog, sobre a questao do racismo no Brasil, podem ser encontrados, entre outros, nos comentarios a este post.

The current issue of Jungle Drums, a Brazilian magazine published in London, in Portuguese and English, features an interesting piece about the feasibility in the foreseeable future of a Black candidate being elected President of Brazil, as Barack Obama just was in the US.

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A corrente edicao do magazine brasileiro Jungle Drums, publicado em Londres, em Portugues e Ingles, contem uma interessante materia sobre a fisibilidade da eleicao, num futuro mais ou menos previsivel, de um presidente negro no Brasil, a semelhanca da recente eleicao de Barack Obama nos EUA. Eis alguns destaques:

(...)
No Brasil, surgiu também um sentimento paradoxal de inveja boa: ao mesmo tempo em que aplaudiram a vitória histórica de Obama, negros brasileiros também sonham ver o tabu racial quebrado num país em que negros e pardos formam quase metade da população - 49,7% de acordo com as estatísticas oficiais.

Mas será que a eleição de um presidente negro no Brasil nos próximos anos é algo mais do que um sonho? Embora os Estados Unidos tenham uma história marcada por intensos conflitos raciais e ainda abriguem organizações declaradamente racistas, em especial no Sul do país, intelectuais negros brasileiros não acreditam, a princípio, que o Brasil, apesar de sua tão decantada democracia racial e de sua miscigenação, possa ter a sua versão de Obama.

Para a historiadora Wania Santanna, tal hipótese é impossível a curto prazo. Em médio prazo, uma possibilidade, e em longo prazo só vai ocorrer caso o racismo seja discutido seriamente, sobretudo pela adoção de ações afirmativas a favor dos negros, além de políticas governamentais específicas, como as cotas em universidades públicas.

Nei Lopes, compositor e autor de 23 livros sobre temas afro-brasileiros, afirma que o Brasil está pelo menos 40 anos atrasado em relação aos Estados Unidos no que diz respeito aos direitos civis: “Lá a questão (do racismo) foi sempre colocada abertamente, sem hipocrisia. A segregação fez com que os negros se conscientizassem e procurassem seu caminho. Aqui, nós fomos sempre iludidos com essa mentira de “país mestiço” e de harmonia racial e cultural. E aí nada se resolveu até hoje”.

A segregação nos Estados Unidos fez com que os negros americanos criassem suas próprias universidades, suas próprias empresas. Dessa forma, os negros americanos conquistaram seu espaço e criaram seu próprio mercado. Lopes afirma que no Brasil, “a ‘boa convivência’ reservou para nós apenas o samba e o futebol”. Uma solução poderia estar na educação. Com o mesmo nível de escolaridade, as chances seriam tecnicamente iguais para todos no mercado de trabalho e, futuramente, na política. Entretanto, Santanna afirma que nem mesmo os negros mais escolarizados têm igualdade de oportunidades e às vezes vêem brancos notadamente menos preparados ocuparem cargos mais altos.

David Raimundo dos Santos, diretor da Educafro, entidade que mantém cursos pré-vestibulares gratuitos para negros e carentes, concorda quando se diz que o mito da democracia racial prejudica a ascensão da comunidade negra brasileira.

De acordo com o educador, “o povo dos EUA assume o seu racismo. O povo brasileiro tem um racismo hipócrita. É um racismo mais cruel, pois engana a vítima, criando a falsa imagem de que está tudo bem. No entanto, faz um estrago muito mais avassalador”. Para ele, a hipocrisia racial brasileira multiplica o efeito do racismo, neutralizando as iniciativas das lideranças anti-racistas, pois passa para o povo negro e branco a imagem de que os racistas são os militantes afro que denunciam esta realidade.

Santos considera um contra-senso que se aceite a globalização das multinacionais, mas não a de idéias que deram certo como a das cotas em universidades. Entretanto, acredita que o Brasil possa ter um presidente negro: “Já temos várias lideranças capazes. O problema é que a classe dominante eurodescendente não dá espaço. Mas nem as mulheres, apesar de terem leis, têm espaços. É muito sério o domínio de um grupo humano sobre os outros”.

A questão principal, entretanto, não é política, mas social. Lopes afirma que “no Brasil, até hoje ainda tem gente que acredita em democracia racial; nós mesmos somos culpados pelo nosso atraso. Para se acabar com o racismo, é preciso primeiro admitir que, embora o conceito de ‘raça’ seja furado, o racismo existe”. Mais do que eleger um presidente negro, o Brasil precisa entender a comunidade negra como parte da sociedade.
(...)


N.B.: Alguns dos meus pontos de vista, bem como os de alguns amigos deste blog, sobre a questao do racismo no Brasil, podem ser encontrados, entre outros, nos comentarios a este post.

MAMBORRO': A SAGA DE UM PIONEIRO ANGOLANO




Ou "Recordando Pio"...




Mamborró foi um dos principais nomes na década de 80 e 90 em Angola
. Por essa razão, transcrever a sua trajectória é um desafio de grandes obstáculos. “Vi a minha vida próximo do fim, mas graças ao apoio da sociedade civil angolana, consegui salvar-me. Muito obrigado aos angolanos de Cabinda ao Cunene e do Mar ao Leste!”. Estas foram as primeiras palavras expressas por Mamborró, no início da nossa conversa.*

José Machado Jorge sofre de diabetes por isso está proibido de beber, fumar e perder noites. Chá e a água são as companheiras inseparáveis de agora.
É filho de Felismina José da Costa e de José Manuel Machado Jorge, é o terceiro de seis irmãos. Nasceu a 7 de Agosto de 1970, na Rua C, na vila da Gabela, província do Kwanza-Sul. Tinha tudo para seguir a carreira de desportista, de empresário ou mesmo de piloto de aeronaves. Mas aos nove anos, sentiu que tinha verdadeiramente queda para a música. Mesmo assim, por causa da timidez, fugia quando era convidado a cantar em actos públicos. Foi a partir do primo Nando Borró, que já cantava no agrupamento Sagrada Esperança, que ele descobriu a forma de enfrentar a multidão. Nando Borró sempre foi um empreendedor, com valioso faro artístico. Decidiu introduzir o primo, como bailarino, num grupo de dança e música de grande sucesso, na Gabela.
Mas Mamborró queria mesmo chegar ao topo da música. Daí que durante um festival infantil, onde os membros do júri eram provenientes de Luanda, Nando Borró inscreveu o primo como um dos concorrentes do festival infantil. Mamborró conquistou o segundo lugar entre dezenas de candidatos.
Pela voz segura e pela sua maneira de dançar, Dionísio Rocha, um dos integrantes do júri, decidiu deixar-lhe o endereço e um convite. “Quando fores a Luanda, aparece”.

À procura do Dionísio

Depois do concurso, durante meses, Mamborró passou a ser uma estrela musical da Gabela. O sucesso levou-o a recordar o convite de Dionísio Rocha. Contra a vontade dos pais, partiu para Luanda, onde já se encontrava a morar uma irmã mais velha. Mas o objectivo era localizar Dionísio Rocha, para se tornar num músico de verdade.
Mamborró chegou a Luanda e minutos depois de pousar as malas, procurou imediatamente o endereço de Dionísio Rocha. Não foi difícil localizá-lo. Dionísio Rocha ensinou-lhe o caminho da RNA, onde encontraria as pessoas indicadas. Mamborró perdeu-se e não conseguiu localizar as instalações da rádio. Desgostoso com o sucedido, decidiu fazer uma segunda tentativa.
Na sua convivência com os novos amigos no Bairro Prenda, conheceu o músico infantil Maranax que lhe deu as instruções precisas para chegar à RNA. Desta vez teve êxito. Pela mão de Artur Arriscado foi fazer um teste de voz em companhia de vários concorrentes como Joséca, Ângelo Ramos, hoje Boss, entre outros nomes da música em Angola. Com a canção “Quando Passo pelas Ruas”, Mamborró deixou toda a gente de boca aberta e foi aceite.
Alguns meses depois passou a ser uma figura emblemática da música infanto-juvenil do país, o que o levou a ganhar o apelido de Mamborró. Partiu para uma carreira notável que o levou, em 1987, a conquistar o Top dos Mais Queridos e o título do melhor cantor do Top dos Cinco. Depois de um ano de glórias, sucessos e inúmeros espectáculos, José Manuel Machado Jorge foi chamado para o serviço militar obrigatório.

Músico na recruta

Aos 18 anos, Mamborró era visto como um dos pilares da música em Angola. Mas nem com isso ficou isento do cumprimento do serviço militar obrigatório. Em 1988 foi para Menongue. As dramáticas notícias vindas do campo de batalha levaram-no a pensar no pior. Mas por força do amor à pátria desprezou o medo e enfrentou os dissabores da recruta na Escola Primeiro-tenente Marcolino.
“Justamente por ser o famoso Mamborró, fui chamado para a tropa. Fiz a minha parte como patriota”. E, logo no ano seguinte, depois do juramento da bandeira fui transferido para a direcção política em Luanda.

Brasil e regresso dramático

A necessidade de se aperfeiçoar cada vez mais no domínio da música, levou Mamborró a estabelecer contactos para ­conseguir uma bolsa de estudo. Solicitou ajuda ao então comandante da direcção política. O pedido foi aceite e partiu para o Brasil, onde estudou durante três anos violão e canto. Mas nem tudo foi bom para Mamborró. Os atrasos no pagamento da bolsa levaram-no a desistir do curso. O pouco apoio para a sua sobrevivência vinha do jornalista João Melo, que na época trabalhava no Brasil. “Esta pessoa esteve presente na minha formação”. Em Agosto de 1993, por causa das dívidas, decidiu abandonar o Brasil e regressar.
Já em Angola, as mudanças políticas que se operaram no país, levaram à desvalorização da música angolana. Mamborró deixou de ser o ídolo e o nome esfumou-se no meio dos enormes problemas sociais que o país vivia na época. Passou a viver autênticas odisseias em cada acção do seu dia a dia.

Mamborró responde

Como foi a sua reintegração em Angola?

Muito difícil. Primeiro fui taxista e depois trabalhei no Terminal Aéreo Militar (TAM), como motorista. O Zecax disse-me que um dia eu abandonaria essa actividade, acabei por abandonar. No TAM passei a oficial de operações. Trabalhei seis anos nessa situação. Mas nunca pensei em desistir da música. Há pessoas que dizem que usei drogas, é mentira. Nunca cheguei a esse ponto. Apenas bebia muito. Hoje, vivo da música e sou relações públicas da empresa do meu promotor Manuel Dias dos Santos (Kito).

Quando é que decidiu regressar à música?

Não tive quem que me ajudasse a gravar um disco. Bati portas, enviei cartas para várias instituições, mas nunca obtive respostas satisfatórias. Talvez por causa dos 16 anos que fiquei inactivo. Num belo dia, caminhava com destino a Ilha de Luanda, encontrei-me com o Kito dos Santos, um companheiro e compadre de longos anos. Reconheceu-me e, depois de vários minutos de conversa, disse que me apoiaria. Tirou-me da fossa. É um pai para mim, atendendo à vida que eu levava: cigarro, bebida e perdas de noites consecutivas. Agora só penso na música e no curso superior de Sociologia. Sei que vou a tempo.

A fama deu para conquistar muitas mulheres?

Não é verdade. Se assim fosse teria muitos filhos, mas veja que só tenho cinco, com três mulheres apenas. Elas é que me moldaram para este mundo, pois que fui sempre uma pessoa tímida. Mas ao longo do sucesso apareceram muitas Belinhas Chuchus, Guidas e Nonôs. Foi uma fase que já passou. Hoje eu é que corro atrás delas. Chamo por elas e já ninguém liga o Mamborró.

Aconteceu comigo

José Manuel Machado Jorge ou Mamborró, como é conhecido nas lides artísticas, aos 38 anos, tem guardado na sua trajectória de vida, vários momentos. Mas o realce recai para a solidariedade e carinho dos velhos tempos, enquanto cantor do programa radiofónico “Piô-piô” e o bom senso que o salvou das vicissitudes que viveu recentemente, depois do seu internamento num dos hospitais na Namíbia. “Muito obrigado Angola”, diz Mamborró.

*Entrevista de Jornal de Angola

[Ouca-o Aqui]



Ou
"Recordando Pio"...




Mamborró foi um dos principais nomes na década de 80 e 90 em Angola
. Por essa razão, transcrever a sua trajectória é um desafio de grandes obstáculos. “Vi a minha vida próximo do fim, mas graças ao apoio da sociedade civil angolana, consegui salvar-me. Muito obrigado aos angolanos de Cabinda ao Cunene e do Mar ao Leste!”. Estas foram as primeiras palavras expressas por Mamborró, no início da nossa conversa.*

José Machado Jorge sofre de diabetes por isso está proibido de beber, fumar e perder noites. Chá e a água são as companheiras inseparáveis de agora.
É filho de Felismina José da Costa e de José Manuel Machado Jorge, é o terceiro de seis irmãos. Nasceu a 7 de Agosto de 1970, na Rua C, na vila da Gabela, província do Kwanza-Sul. Tinha tudo para seguir a carreira de desportista, de empresário ou mesmo de piloto de aeronaves. Mas aos nove anos, sentiu que tinha verdadeiramente queda para a música. Mesmo assim, por causa da timidez, fugia quando era convidado a cantar em actos públicos. Foi a partir do primo Nando Borró, que já cantava no agrupamento Sagrada Esperança, que ele descobriu a forma de enfrentar a multidão. Nando Borró sempre foi um empreendedor, com valioso faro artístico. Decidiu introduzir o primo, como bailarino, num grupo de dança e música de grande sucesso, na Gabela.
Mas Mamborró queria mesmo chegar ao topo da música. Daí que durante um festival infantil, onde os membros do júri eram provenientes de Luanda, Nando Borró inscreveu o primo como um dos concorrentes do festival infantil. Mamborró conquistou o segundo lugar entre dezenas de candidatos.
Pela voz segura e pela sua maneira de dançar, Dionísio Rocha, um dos integrantes do júri, decidiu deixar-lhe o endereço e um convite. “Quando fores a Luanda, aparece”.

À procura do Dionísio

Depois do concurso, durante meses, Mamborró passou a ser uma estrela musical da Gabela. O sucesso levou-o a recordar o convite de Dionísio Rocha. Contra a vontade dos pais, partiu para Luanda, onde já se encontrava a morar uma irmã mais velha. Mas o objectivo era localizar Dionísio Rocha, para se tornar num músico de verdade.
Mamborró chegou a Luanda e minutos depois de pousar as malas, procurou imediatamente o endereço de Dionísio Rocha. Não foi difícil localizá-lo. Dionísio Rocha ensinou-lhe o caminho da RNA, onde encontraria as pessoas indicadas. Mamborró perdeu-se e não conseguiu localizar as instalações da rádio. Desgostoso com o sucedido, decidiu fazer uma segunda tentativa.
Na sua convivência com os novos amigos no Bairro Prenda, conheceu o músico infantil Maranax que lhe deu as instruções precisas para chegar à RNA. Desta vez teve êxito. Pela mão de Artur Arriscado foi fazer um teste de voz em companhia de vários concorrentes como Joséca, Ângelo Ramos, hoje Boss, entre outros nomes da música em Angola. Com a canção “Quando Passo pelas Ruas”, Mamborró deixou toda a gente de boca aberta e foi aceite.
Alguns meses depois passou a ser uma figura emblemática da música infanto-juvenil do país, o que o levou a ganhar o apelido de Mamborró. Partiu para uma carreira notável que o levou, em 1987, a conquistar o Top dos Mais Queridos e o título do melhor cantor do Top dos Cinco. Depois de um ano de glórias, sucessos e inúmeros espectáculos, José Manuel Machado Jorge foi chamado para o serviço militar obrigatório.

Músico na recruta

Aos 18 anos, Mamborró era visto como um dos pilares da música em Angola. Mas nem com isso ficou isento do cumprimento do serviço militar obrigatório. Em 1988 foi para Menongue. As dramáticas notícias vindas do campo de batalha levaram-no a pensar no pior. Mas por força do amor à pátria desprezou o medo e enfrentou os dissabores da recruta na Escola Primeiro-tenente Marcolino.
“Justamente por ser o famoso Mamborró, fui chamado para a tropa. Fiz a minha parte como patriota”. E, logo no ano seguinte, depois do juramento da bandeira fui transferido para a direcção política em Luanda.

Brasil e regresso dramático

A necessidade de se aperfeiçoar cada vez mais no domínio da música, levou Mamborró a estabelecer contactos para ­conseguir uma bolsa de estudo. Solicitou ajuda ao então comandante da direcção política. O pedido foi aceite e partiu para o Brasil, onde estudou durante três anos violão e canto. Mas nem tudo foi bom para Mamborró. Os atrasos no pagamento da bolsa levaram-no a desistir do curso. O pouco apoio para a sua sobrevivência vinha do jornalista João Melo, que na época trabalhava no Brasil. “Esta pessoa esteve presente na minha formação”. Em Agosto de 1993, por causa das dívidas, decidiu abandonar o Brasil e regressar.
Já em Angola, as mudanças políticas que se operaram no país, levaram à desvalorização da música angolana. Mamborró deixou de ser o ídolo e o nome esfumou-se no meio dos enormes problemas sociais que o país vivia na época. Passou a viver autênticas odisseias em cada acção do seu dia a dia.

Mamborró responde

Como foi a sua reintegração em Angola?

Muito difícil. Primeiro fui taxista e depois trabalhei no Terminal Aéreo Militar (TAM), como motorista. O Zecax disse-me que um dia eu abandonaria essa actividade, acabei por abandonar. No TAM passei a oficial de operações. Trabalhei seis anos nessa situação. Mas nunca pensei em desistir da música. Há pessoas que dizem que usei drogas, é mentira. Nunca cheguei a esse ponto. Apenas bebia muito. Hoje, vivo da música e sou relações públicas da empresa do meu promotor Manuel Dias dos Santos (Kito).

Quando é que decidiu regressar à música?

Não tive quem que me ajudasse a gravar um disco. Bati portas, enviei cartas para várias instituições, mas nunca obtive respostas satisfatórias. Talvez por causa dos 16 anos que fiquei inactivo. Num belo dia, caminhava com destino a Ilha de Luanda, encontrei-me com o Kito dos Santos, um companheiro e compadre de longos anos. Reconheceu-me e, depois de vários minutos de conversa, disse que me apoiaria. Tirou-me da fossa. É um pai para mim, atendendo à vida que eu levava: cigarro, bebida e perdas de noites consecutivas. Agora só penso na música e no curso superior de Sociologia. Sei que vou a tempo.

A fama deu para conquistar muitas mulheres?

Não é verdade. Se assim fosse teria muitos filhos, mas veja que só tenho cinco, com três mulheres apenas. Elas é que me moldaram para este mundo, pois que fui sempre uma pessoa tímida. Mas ao longo do sucesso apareceram muitas Belinhas Chuchus, Guidas e Nonôs. Foi uma fase que já passou. Hoje eu é que corro atrás delas. Chamo por elas e já ninguém liga o Mamborró.

Aconteceu comigo

José Manuel Machado Jorge ou Mamborró, como é conhecido nas lides artísticas, aos 38 anos, tem guardado na sua trajectória de vida, vários momentos. Mas o realce recai para a solidariedade e carinho dos velhos tempos, enquanto cantor do programa radiofónico “Piô-piô” e o bom senso que o salvou das vicissitudes que viveu recentemente, depois do seu internamento num dos hospitais na Namíbia. “Muito obrigado Angola”, diz Mamborró.

*Entrevista de Jornal de Angola

[Ouca-o Aqui]

Friday 9 January 2009

DIA INTERNACIONAL DOS POVOS BANTU


O Centro Internacional das Civilizações Bantu (CICIBA) decidiu institucionalizar o 8 de Janeiro como Dia Internacional dos Povos Bantu, em referência à data da assinatura, em Libreville, em 1983, da convenção que criou a instituição.

A informação foi dada pelo historiador Simão Souindoula, que participou em vários encontros de concertação do centro a convite do vice Primeiro-Ministro do Gabão, Paul Mba Abessole, nos quais foram debatidos temas relacionados com o actual estado a comunidade Bantu, em África e no mundo.

“Os Bantu ocupam hoje um terço do continente africano. Estão fixados em algumas áreas da Ásia Meridional, Médio Oriente, Américas e Caraíbas, em consequência do tráfico negreiro, realizado nas regiões do Golfo Pérsico e Oceano Índico e as suas culturas têm influenciado igualmente o modo de vida de alguns destes povos”, explicou.

[in Jornal de Angola]

O Centro Internacional das Civilizações Bantu (CICIBA) decidiu institucionalizar o 8 de Janeiro como Dia Internacional dos Povos Bantu, em referência à data da assinatura, em Libreville, em 1983, da convenção que criou a instituição.

A informação foi dada pelo historiador Simão Souindoula, que participou em vários encontros de concertação do centro a convite do vice Primeiro-Ministro do Gabão, Paul Mba Abessole, nos quais foram debatidos temas relacionados com o actual estado a comunidade Bantu, em África e no mundo.

“Os Bantu ocupam hoje um terço do continente africano. Estão fixados em algumas áreas da Ásia Meridional, Médio Oriente, Américas e Caraíbas, em consequência do tráfico negreiro, realizado nas regiões do Golfo Pérsico e Oceano Índico e as suas culturas têm influenciado igualmente o modo de vida de alguns destes povos”, explicou.

[in Jornal de Angola]

O QUE NOSOTROS ANDAMOS PR'AQUI A PERDER... (11)

Wednesday 7 January 2009

ANALIA DE VICTORIA PEREIRA (R.I.P.)

Nunca tive o prazer de a conhecer pessoalmente.
Nunca sequer a vi, ouvi, ou pude observar a sua actuacao politica.


Mas acredito nas razoes de quem a apelidou "Mama Coragem".


Afinal nao tera' sido facil ser-se a primeira e unica mulher lider de um partido politico em Angola e ter-se a coragem de se candidatar a Presidencia da Republica, no estagio da vida politica do pais em que o fez.


PAZ A SUA ALMA!
Nunca tive o prazer de a conhecer pessoalmente.
Nunca sequer a vi, ouvi, ou pude observar a sua actuacao politica.


Mas acredito nas razoes de quem a apelidou "Mama Coragem".


Afinal nao tera' sido facil ser-se a primeira e unica mulher lider de um partido politico em Angola e ter-se a coragem de se candidatar a Presidencia da Republica, no estagio da vida politica do pais em que o fez.


PAZ A SUA ALMA!

JUST POETRY (IV)



TESTAMENTO


À prostituta mais nova
Do bairro mais velho e escuro,
Deixo os meus brincos, lavrados
Em cristal, límpido e puro...
E àquela virgem esquecida
Rapariga sem ternura,
Sonhando algures uma lenda,
Deixo o meu vestido branco,
O meu vestido de noiva,
Todo tecido de renda...
Este meu rosário antigo
Ofereço-o àquele amigo
Que não acredita em Deus...
E os livros, rosários meus
Das contas de outro sofrer,
São para os homens humildes,
Que nunca souberam ler.
Quanto aos meus poemas loucos,
Esses, que são de dor
Sincera e desordenada...
Esses, que são de esperança,
Desesperada mas firme,
Deixo-os a ti, meu amor...
Para que, na paz da hora,
Em que a minha alma venha
Beijar de longe os teus olhos,
Vás por essa noite fora...
Com passos feitos de lua,
Oferecê-los às crianças
Que encontrares em cada rua...
(Alda Lara)


[Talvez nao me importasse de ser aquela prostituta... Porque, sem que alguma vez o tenha sido na minha vida, receberia em testamento um legado mais digno do que aquele que algu(ma)ns me querem forcosamente imputar em vida. Mas, durmo tranquila, porque sei que deixarei ao meu filho o legado de uma vida sacrificada, mas levada digna e honradamente de cabeca erguida, a serenidade de uma consciencia limpa e de uma alma impoluta e o amor que nunca se vendeu em nenhum bairro velho e escuro, que nunca se vendeu em lugar algum!
Ah, e tambem a inocencia, verdade e honestidade dos meus poemas.]


TESTAMENTO


À prostituta mais nova
Do bairro mais velho e escuro,
Deixo os meus brincos, lavrados
Em cristal, límpido e puro...
E àquela virgem esquecida
Rapariga sem ternura,
Sonhando algures uma lenda,
Deixo o meu vestido branco,
O meu vestido de noiva,
Todo tecido de renda...
Este meu rosário antigo
Ofereço-o àquele amigo
Que não acredita em Deus...
E os livros, rosários meus
Das contas de outro sofrer,
São para os homens humildes,
Que nunca souberam ler.
Quanto aos meus poemas loucos,
Esses, que são de dor
Sincera e desordenada...
Esses, que são de esperança,
Desesperada mas firme,
Deixo-os a ti, meu amor...
Para que, na paz da hora,
Em que a minha alma venha
Beijar de longe os teus olhos,
Vás por essa noite fora...
Com passos feitos de lua,
Oferecê-los às crianças
Que encontrares em cada rua...
(Alda Lara)


[Talvez nao me importasse de ser aquela prostituta... Porque, sem que alguma vez o tenha sido na minha vida, receberia em testamento um legado mais digno do que aquele que algu(ma)ns me querem forcosamente imputar em vida. Mas, durmo tranquila, porque sei que deixarei ao meu filho o legado de uma vida sacrificada, mas levada digna e honradamente de cabeca erguida, a serenidade de uma consciencia limpa e de uma alma impoluta e o amor que nunca se vendeu em nenhum bairro velho e escuro, que nunca se vendeu em lugar algum!
Ah, e tambem a inocencia, verdade e honestidade dos meus poemas.]

Monday 5 January 2009

PERSONAGENS (I)





O "MINION"


(1)
Estava eu muito bem descansada no meu kubiko do Kinaxixi, quando me batem a porta. Era ele, com a filha. Vinha da casa da estranged wife, ali a dois passos, e dizia que procurava um pouco de paz... Arranjei-lhes um lugar confortavel para dormir na sala, ate’ que ele se sentiu suficientemente “pacificado” para ir a sua vida… Para meu supremo choque, boquiabertismo e asco, com base nesse episodio, ouvi-o uma vez dizer, ja’ nao sei a que proposito: “eu so’ nao fui para a cama contigo porque nao quis!”… Creio que, na altura, fiquei simplesmente sem palavras! Sobretudo porque o conheci como "amigo" deste personagem!...

(2)
Estava eu a preparar-me para o teste de Economia do Desenvolvimento (ED) que teria na semana seguinte (… nao podia simplesmente deixar os meus creditos por maos alheias – afinal eu era a melhor aluna do ano naquela cadeira, a tal onde se estuda(va) "macroeconomia a prova de balas", o que quer que isso seja...), quando ouco tocar a campanhia da minha casa em Lisboa. Vou abrir. Era ele, acompanhado da filha. Deixei-os entrar. Dizia que, “sendo eu a unica pessoa amiga que tinha, vinha pedir-me asilo para os dois porque ja’ nao aguentava aquela francesa…”.

Deixei-os entrar. Depois de o ouvir mais um pouco, disse-lhe terminantemente: “desculpa, mas vou levar-te a casa”. Coloquei a filha a dormir no quarto do meu filho, que tambem ja’ estava a dormir aquela hora avancada da noite, chamei um taxi (que paguei) e fui acompanha-lo ate’ a porta de casa. A francesa ouviu tocar, veio a porta, mas antes de a abrir perguntou quem era, ao que ele respondeu apenas por si. Ela: “tu viens pour me battre?!”. Eu retorqui por mim: “nao, eu estou aqui com ele”… Ela abriu, ele entrou, eu voltei para a minha casa. Mas ja’ nao consegui estudar naquela noite.
A filha foi retornada a casa no dia seguinte.
O teste de ED? Correu bem, gracas a Deus!
(Nao que ele me tivesse perguntado...)



(3)
Anos mais tarde, numa outra casa minha em Lisboa, ela bate-me a porta. Recebo-a com a maior das simpatias e afabilidades – afinal ele tinha-me confidenciado que ela tinha feito de mim os maiores elogios: “que eu era uma das mulheres que ela mais respeitava… que dentre todos os angolanos que tinha recebido em sua casa em Paris eu era a mais autentica”… Mas, a paginas tantas, ela comeca a rodear pela casa e, ao dar-se conta que havia uma outra entrada/saida pelo quintal, diz que “isto e’ optimo para deixar fugir amantes”… Coisa que nunca sequer me passara pela cabeca! Obviamente, tinha vindo apenas a procura do seu amavel mari, que por sinal eu ja’ nao via ha’ muito tempo… e que jamais tinha sido “meu amante”!
Fiquei, tambem dessa vez, sem palavras, mas continuei amavel ate' que ela se despediu e saiu... pela porta do quintal.

(4)
Alguns anos depois, ele aparece-me na mesma casa em Lisboa. Desta vez nao vinha com a filha, que creio ja’ se encontrava de volta a Luanda na altura. Vinha de Paris e dizia que tinha deixado a francesa com esta frase: “vou para casa das mulheres que te fazem mais ciumes: a CM em Paris e a (eu) em Lisboa!”… Nao foi exactamente a frase que me chocou, mas a realizacao de que nem sequer lhe passava pela cabeca (e se passava, ele estava-se pura e simplesmente nas tintas!) o quanto era ofensivo para mim saber-me usada para chantagens emocionais em conflitos domesticos com os quais nada tinha, nem nunca tive, ou quis ter, a haver…



Mas, mais uma vez, faltaram-me as palavras para expressar o ultraje. Nao o deixei, no entanto, ficar muito tempo. E, apesar de, enquanto la’ esteve, as vezes desfilar a minha frente de forma pateticamente provocadora de peito nu, nunca fui para a cama com ele! Nunca me atraiu a esse ponto, nunca foi um dos muito poucos a quem dei esse privilegio durante toda a minha vida… gracas a Deus!

E, ja' agora, aproveito para deixar aqui registado que nessa categoria se encontram todos os individuos a quem aqui me referi, por uma razao ou por outra, em algumas das notas de rodape' a serie "Ecos da Imprensa Angolana" - grande parte das quais decidi retirar para evitar mais mal-entendidos...

(5)
Mais recentemente, regressou a Luanda e, entre outras coisas, virou ‘colunista’ com ares mui afectados de Paris… Em pouco tempo, deu para ver que continua pateticamente hipocrita, machista, ridiculo, piquinininho, mesquinho, complexado, recalcado, intriguista, difamador, fantasista, pervertido, depravado e… a delirar com a ideia de que eu alguma vez possa ter sido uma mulher ao seu alcance. Mas a realidade, obviamente, acaba sempre por bater-lhe a porta e, frustrado com o esvair-se do seu sonho gravido de mentiras, vira cao raivoso que morde a mao que tantas vezes o amparou… seguindo os principios que os meus ancestrais me ensinaram, como mae, por pena da filha dele, de cuja mae era bastante amiga, apenas por isso.

Pois essa mao decidiu agora, ainda que apenas em pequenos e parciais snapshots como estes, enfiar-lhe um pouco da verdade pelos olhos adentro – a ver se eles nunca mais voltam a perde-la de vista!




POST RELACIONADO:

A "Minha Amiga"





O "MINION"


(1)
Estava eu muito bem descansada no meu kubiko do Kinaxixi, quando me batem a porta. Era ele, com a filha. Vinha da casa da estranged wife, ali a dois passos, e dizia que procurava um pouco de paz... Arranjei-lhes um lugar confortavel para dormir na sala, ate’ que ele se sentiu suficientemente “pacificado” para ir a sua vida… Para meu supremo choque, boquiabertismo e asco, com base nesse episodio, ouvi-o uma vez dizer, ja’ nao sei a que proposito: “eu so’ nao fui para a cama contigo porque nao quis!”… Creio que, na altura, fiquei simplesmente sem palavras! Sobretudo porque o conheci como "amigo" deste personagem!...

(2)
Estava eu a preparar-me para o teste de Economia do Desenvolvimento (ED) que teria na semana seguinte (… nao podia simplesmente deixar os meus creditos por maos alheias – afinal eu era a melhor aluna do ano naquela cadeira, a tal onde se estuda(va) "macroeconomia a prova de balas", o que quer que isso seja...), quando ouco tocar a campanhia da minha casa em Lisboa. Vou abrir. Era ele, acompanhado da filha. Deixei-os entrar. Dizia que, “sendo eu a unica pessoa amiga que tinha, vinha pedir-me asilo para os dois porque ja’ nao aguentava aquela francesa…”.

Deixei-os entrar. Depois de o ouvir mais um pouco, disse-lhe terminantemente: “desculpa, mas vou levar-te a casa”. Coloquei a filha a dormir no quarto do meu filho, que tambem ja’ estava a dormir aquela hora avancada da noite, chamei um taxi (que paguei) e fui acompanha-lo ate’ a porta de casa. A francesa ouviu tocar, veio a porta, mas antes de a abrir perguntou quem era, ao que ele respondeu apenas por si. Ela: “tu viens pour me battre?!”. Eu retorqui por mim: “nao, eu estou aqui com ele”… Ela abriu, ele entrou, eu voltei para a minha casa. Mas ja’ nao consegui estudar naquela noite.
A filha foi retornada a casa no dia seguinte.
O teste de ED? Correu bem, gracas a Deus!
(Nao que ele me tivesse perguntado...)



(3)
Anos mais tarde, numa outra casa minha em Lisboa, ela bate-me a porta. Recebo-a com a maior das simpatias e afabilidades – afinal ele tinha-me confidenciado que ela tinha feito de mim os maiores elogios: “que eu era uma das mulheres que ela mais respeitava… que dentre todos os angolanos que tinha recebido em sua casa em Paris eu era a mais autentica”… Mas, a paginas tantas, ela comeca a rodear pela casa e, ao dar-se conta que havia uma outra entrada/saida pelo quintal, diz que “isto e’ optimo para deixar fugir amantes”… Coisa que nunca sequer me passara pela cabeca! Obviamente, tinha vindo apenas a procura do seu amavel mari, que por sinal eu ja’ nao via ha’ muito tempo… e que jamais tinha sido “meu amante”!
Fiquei, tambem dessa vez, sem palavras, mas continuei amavel ate' que ela se despediu e saiu... pela porta do quintal.

(4)
Alguns anos depois, ele aparece-me na mesma casa em Lisboa. Desta vez nao vinha com a filha, que creio ja’ se encontrava de volta a Luanda na altura. Vinha de Paris e dizia que tinha deixado a francesa com esta frase: “vou para casa das mulheres que te fazem mais ciumes: a CM em Paris e a (eu) em Lisboa!”… Nao foi exactamente a frase que me chocou, mas a realizacao de que nem sequer lhe passava pela cabeca (e se passava, ele estava-se pura e simplesmente nas tintas!) o quanto era ofensivo para mim saber-me usada para chantagens emocionais em conflitos domesticos com os quais nada tinha, nem nunca tive, ou quis ter, a haver…



Mas, mais uma vez, faltaram-me as palavras para expressar o ultraje. Nao o deixei, no entanto, ficar muito tempo. E, apesar de, enquanto la’ esteve, as vezes desfilar a minha frente de forma pateticamente provocadora de peito nu, nunca fui para a cama com ele! Nunca me atraiu a esse ponto, nunca foi um dos muito poucos a quem dei esse privilegio durante toda a minha vida… gracas a Deus!

E, ja' agora, aproveito para deixar aqui registado que nessa categoria se encontram todos os individuos a quem aqui me referi, por uma razao ou por outra, em algumas das notas de rodape' a serie "Ecos da Imprensa Angolana" - grande parte das quais decidi retirar para evitar mais mal-entendidos...

(5)
Mais recentemente, regressou a Luanda e, entre outras coisas, virou ‘colunista’ com ares mui afectados de Paris… Em pouco tempo, deu para ver que continua pateticamente hipocrita, machista, ridiculo, piquinininho, mesquinho, complexado, recalcado, intriguista, difamador, fantasista, pervertido, depravado e… a delirar com a ideia de que eu alguma vez possa ter sido uma mulher ao seu alcance. Mas a realidade, obviamente, acaba sempre por bater-lhe a porta e, frustrado com o esvair-se do seu sonho gravido de mentiras, vira cao raivoso que morde a mao que tantas vezes o amparou… seguindo os principios que os meus ancestrais me ensinaram, como mae, por pena da filha dele, de cuja mae era bastante amiga, apenas por isso.

Pois essa mao decidiu agora, ainda que apenas em pequenos e parciais snapshots como estes, enfiar-lhe um pouco da verdade pelos olhos adentro – a ver se eles nunca mais voltam a perde-la de vista!




POST RELACIONADO:

A "Minha Amiga"

Friday 2 January 2009

HELEN SUZMAN (R.I.P.)





Helen Suzman, the most prominent white anti-apartheid campaigner in the South African parliament, died yesterday aged 91.
She was also an Economic Historian with whom, except in what it relates to parliamentary politics, I shared this phrase: "it was the study of the migrant labour system that first brought me into politics."

Further Readings:

Helen Suzman’s Life and Work

A report by the Helen Suzman Foundation on post-apartheid South Africa





Helen Suzman, the most prominent white anti-apartheid campaigner in the South African parliament, died yesterday aged 91.
She was also an Economic Historian with whom, except in what it relates to parliamentary politics, I shared this phrase: "it was the study of the migrant labour system that first brought me into politics."

Further Readings:

Helen Suzman’s Life and Work

A report by the Helen Suzman Foundation on post-apartheid South Africa