Monday, 22 September 2008

'LINHA DE PASSE'


Ontem voltamos ao Odeon de Camden para ver esse filme brasileiro que se estreou aqui em Londres este fim de semana. Ja’ la’ nao ia, ou a qualquer outra sala de cinema, desde “The Last King of Scotland”. Mas, ao contrario daquela vez, nao foi necessario comprar os bilhetes com muita antecedencia e os espectadores presentes nao terao ocupado mais do que 1% da capacidade da sala.
Cada vez tenho menos paciencia para a boa meia hora, ou mais, de publicidade e ‘trailers’ antes do inicio do filme propriamente dito, mas ocupamo-la com ‘small talk’ sobre a tempestade que vai pela economia em geral e pelos mercados financeiros em particular, local e globalmente. Nao, o membro da tribo que trabalha na City de Londres, num dos maiores bancos britanicos (ainda) nao perdeu o emprego, apesar dos milhares de despedimentos que se teem verificado nas ultimas semanas no sector bancario e um pouco por toda a economia deste pais. Parece que o sistema financeiro global ainda esta’ a balancar no ‘fio da navalha’, ou na ‘linha de passe’, entre a profunda recessao e aquela coisa que os economistas bem avisados evitam pronunciar, pelo menos publicamente, porque parece ter o dom de se revelar uma ‘self-fulfilling prophecy’: a pura Depressao.
A este proposito, lembro-me que quando a crise se comecou a acentuar no ano passado, lutei aqui com o dilema de falar em “fears of a recession” ou “of a depression”, acabando por optar pela segunda por me parecer retratar melhor a realidade (sendo que na altura a maior parte dos observadores e analistas economicos hesitavam sequer falar em "recessao"). E, desde entao, a economia mundial nao tem feito outra coisa senao passar a linha entre a recessao e a depressao, que apenas nao se revela (ainda) tao profunda quanto a dos anos 30 devido ao desenvolvimento, entretanto, de mecanismos mais sofisticados de ‘salvamento’ dos sistemas financeiros e a actual globalizacao da economia, que permite, por exemplo, que investidores do Japao e do UK se aprestem rapidamente a adquirir partes do Lehman Brothers, que o FED Americano no seu papel actual de 'salva-vidas' nao pode impedir que se afundasse, entre tantos outros naufragos a atender com uma 'boia de salvacao' que avalia em cerca de USD 700 bi que parece nao saber ainda muito bem onde ir buscar... Economia global essa, onde neste momento apenas os maiores exportadores liquidos de petroleo, Angola incluida, parecem andar em bons espiritos...

Mas, entretanto, o filme comecou e... nao acabou. E’, o filme nao teve fim, nao teve ‘the end’, nao teve ‘closure’ dos varios dramas sobre os quais se deteve. Ou melhor, teve-o, mas apenas implicitamente. O que talvez o tenha tornado mais interessante, mas tambem menos satisfatorio, pelo menos do meu ponto de vista, ou apenas da minha francamente ma’ disposicao de ontem (de facto, no regresso a casa acabei por ter que admitir que talvez me esteja a tornar rapidamente uma ‘grumpy old lady’...).
Enfim, pareceu-me mais um longo episodio de telenovela do que um filme propriamente dito, com varios ‘sketches’ a volta do quotidiano de uma familia composta por mae solteira, gravida de crianca de ‘pai desconhecido’, e seus quatro filhos de pais diferentes, nos arredores de Sao Paulo. Em linhas gerais, eu diria que e’ um filme sobre a ‘linha de passagem’ entre a pobreza absoluta e a relativa, entre a necessidade e a moralidade, entre a normalidade e a marginalidade, entre o sagrado e o profano e entre os sonhos possiveis e a realidade impossivel, com o futebol e as suas linhas de passe como ‘campo de fundo’. E sem ‘soundtrack’ (ou eu e’ que nao me dei conta dele?), o que tambem o torna interessante, mas tao cinzento quanto julgo ser Sao Paulo.
E mais nao digo, para nao estragar o apetite a quem ainda nao o viu e o queira ver. Apenas que e’ realizado por Walter Salles (“Estacao Central” e “Motorcycle Diaries”) e que a sua principal protagonista, Sandra Corveloni, ganhou pelo seu papel neste filme o premio de Melhor Actriz Feminina do ultimo festival de Cannes.

Ontem voltamos ao Odeon de Camden para ver esse filme brasileiro que se estreou aqui em Londres este fim de semana. Ja’ la’ nao ia, ou a qualquer outra sala de cinema, desde “
The Last King of Scotland”. Mas, ao contrario daquela vez, nao foi necessario comprar os bilhetes com muita antecedencia e os espectadores presentes nao terao ocupado mais do que 1% da capacidade da sala.
Cada vez tenho menos paciencia para a boa meia hora, ou mais, de publicidade e ‘trailers’ antes do inicio do filme propriamente dito, mas ocupamo-la com ‘small talk’ sobre a tempestade que vai pela economia em geral e pelos mercados financeiros em particular, local e globalmente. Nao, o membro da tribo que trabalha na City de Londres, num dos maiores bancos britanicos (ainda) nao perdeu o emprego, apesar dos milhares de despedimentos que se teem verificado nas ultimas semanas no sector bancario e um pouco por toda a economia deste pais. Parece que o sistema financeiro global ainda esta’ a balancar no ‘fio da navalha’, ou na ‘linha de passe’, entre a profunda recessao e aquela coisa que os economistas bem avisados evitam pronunciar, pelo menos publicamente, porque parece ter o dom de se revelar uma ‘self-fulfilling prophecy’: a pura Depressao.
A este proposito, lembro-me que quando a crise se comecou a acentuar no ano passado, lutei aqui com o dilema de falar em “fears of a recession” ou “of a depression”, acabando por optar pela segunda por me parecer retratar melhor a realidade (sendo que na altura a maior parte dos observadores e analistas economicos hesitavam sequer falar em "recessao"). E, desde entao, a economia mundial nao tem feito outra coisa senao passar a linha entre a recessao e a depressao, que apenas nao se revela (ainda) tao profunda quanto a dos anos 30 devido ao desenvolvimento, entretanto, de mecanismos mais sofisticados de ‘salvamento’ dos sistemas financeiros e a actual globalizacao da economia, que permite, por exemplo, que investidores do Japao e do UK se aprestem rapidamente a adquirir partes do Lehman Brothers, que o FED Americano no seu papel actual de 'salva-vidas' nao pode impedir que se afundasse, entre tantos outros naufragos a atender com uma 'boia de salvacao' que avalia em cerca de USD 700 bi que parece nao saber ainda muito bem onde ir buscar... Economia global essa, onde neste momento apenas os maiores exportadores liquidos de petroleo, Angola incluida, parecem andar em bons espiritos...

Mas, entretanto, o filme comecou e... nao acabou. E’, o filme nao teve fim, nao teve ‘the end’, nao teve ‘closure’ dos varios dramas sobre os quais se deteve. Ou melhor, teve-o, mas apenas implicitamente. O que talvez o tenha tornado mais interessante, mas tambem menos satisfatorio, pelo menos do meu ponto de vista, ou apenas da minha francamente ma’ disposicao de ontem (de facto, no regresso a casa acabei por ter que admitir que talvez me esteja a tornar rapidamente uma ‘grumpy old lady’...).
Enfim, pareceu-me mais um longo episodio de telenovela do que um filme propriamente dito, com varios ‘sketches’ a volta do quotidiano de uma familia composta por mae solteira, gravida de crianca de ‘pai desconhecido’, e seus quatro filhos de pais diferentes, nos arredores de Sao Paulo. Em linhas gerais, eu diria que e’ um filme sobre a ‘linha de passagem’ entre a pobreza absoluta e a relativa, entre a necessidade e a moralidade, entre a normalidade e a marginalidade, entre o sagrado e o profano e entre os sonhos possiveis e a realidade impossivel, com o futebol e as suas linhas de passe como ‘campo de fundo’. E sem ‘soundtrack’ (ou eu e’ que nao me dei conta dele?), o que tambem o torna interessante, mas tao cinzento quanto julgo ser Sao Paulo.
E mais nao digo, para nao estragar o apetite a quem ainda nao o viu e o queira ver. Apenas que e’ realizado por Walter Salles (“Estacao Central” e “Motorcycle Diaries”) e que a sua principal protagonista, Sandra Corveloni, ganhou pelo seu papel neste filme o premio de Melhor Actriz Feminina do ultimo festival de Cannes.

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