...E SOBERANO!
1. A medida que vou percorrendo as colunas dos semanarios Luandenses neste rescaldo das eleicoes legislativas, comeca a ser perturbador o numero de vozes, ainda que minoritarias, que atribuem os seus resultados a um “voto emocional” ou a um “eleitorado imaturo para a democracia”… Nao se darao conta, tais vozes, do quanto elas proprias revelam emotividade e imaturidade politico-democratica nos seus pronunciamentos?
2. Sejamos claros: a democracia e’ isso mesmo – a expressao da vontade popular atraves do voto. Se o partido que recebeu maioritariamente tal voto vier a desrespeitar a vontade popular nele expressa, particularmente pelo nao cumprimento das promessas na base das quais o obteve, ou se as instituicoes supra-partidarias responsaveis por implementar a ordem politica e as politicas determinadas pela vontade popular expressa em tal voto nao o fizerem, ai sim, estar-se-ha perante um sistema democratico imaturo e irracional (e isto nao deixa de ser verdade apesar de toda a mitologia que tem os politicos como especialistas em fazer promessas que raramente cumprem). Quanto mais nao seja porque, findos os quatro anos da legislatura instituida por estas eleicoes, tal partido desrespeitador e instituicoes incumpridoras correm o risco de virem a ser penalizados pelo mesmo povo que agora neles votou. Tao simples quanto isso.
3. E esse talvez seja o unico elemento ‘simples’ do processo democratico. Porque tudo o resto, e em particular os julgamentos da capacidade do povo exercer o seu direito de voto e atraves dele expressar a sua vontade de forma lucida, responsavel e racional, e’ deveras complicado e, no limite, pode ate’ revelar-se um exercicio absurdo. Sim, e’ um absurdo considerar-se que a maioria de todo um povo, atraves de mais de 80% dos votos validos expressos, toma decisoes sobre a sua propria vida quotidiana e o seu proprio futuro apenas com base em emocoes. Mais do que isso: revela um profundo desprezo pelo povo e a mais basica falta de sentido democratico.
4. Efectivamente, apenas um certo raciocinio totalitario e’ capaz de concluir facilmente que se a maioria nao vota naquele(s) que se auto-considera(m) o(s) melhor(es) e’ porque e’ “irracional” ou “nao sabe o que e’ bom para si propria”… E quando as vozes que assim se expressam sao afectas a forcas politicas perdedoras nas urnas, entao elas tornam-se particularmente perturbadoras, porque demonstram que tais forcas nao so’ nao mereceram desta vez a maioria dos votos, como muito provavelmente tambem nao a merecerao no futuro, por nao terem sabido respeitar a vontade popular e, acima de tudo, por evidenciarem assim uma preocupante e imatura incapacidade de aprenderem com os seus proprios erros e de os corrigirem. Quando se diz, como numa dessas colunas, que “o povo esta’ cansado de verdades, so’ quer promessas”, quem e’ que se julga detentor de uma qualquer “verdade” em nome do povo? Quem e’ que se considera no direito de julgar o povo pelas promessas em que decide acreditar ou nao?
5. Muito se tem feito das irregularidades verificadas durante a campanha e durante o proprio acto eleitoral. Mas tudo parece indicar, quer pelas avaliacoes dos observadores nacionais e internacionais, quer pela aceitacao pela generalidade da oposicao dos resultados eleitorais, que tais irregularidades nao foram de monta suficiente para invalidarem ou descridibilizarem o processo eleitoral no seu todo. Muito se tem feito tambem da disparidade de meios materiais, financeiros e mediaticos entre o partido no poder e os partidos da oposicao. Eu propria a mencionei aqui como um factor importante na formacao das decisoes de voto. Mas tera’ ela sido determinante dessas decisoes a uma taxa superior a 80%, num pais com uma, embora ainda de circulacao restrita fora da capital, imprensa privada e tendencialmente independente, uma esclarecida e expressiva sociedade civil, uma cada vez maior expansao da internet e de redes televisivas internacionais e, nao menos importante, um fenomeno que em todas as sociedades se revela invariavelmente um poderosissimo formador de opiniao: um numero significativo de artistas populares, com destaque para musicos e poetas, difundindo ao longo dos anos por todo o pais mensagens de contestacao politica e reivindicacao social? Nao me parece.
6. E’ um facto inegavel que a educacao civica para o exercicio da democracia ainda e’ bastante precaria no nosso pais. O proprio conceito de democracia e’ ainda uma relativa novidade para a maioria dos cidadaos Angolanos e a sua pratica efectiva uma completa novidade para todo o pais. Mas o que as vozes criticas da capacidade de decisao do povo revelam e’ que nao e’ apenas o povo que ainda carece dessa educacao, mas todo o pais e particularmente os donos de tais vozes. Porque uma coisa e’ admitir-se, como o fiz aqui, que o grau de sofrimento, brutalizacao e traumatizacao a que grande parte do povo Angolano foi sujeito ao longo nao apenas das ultimas decadas, mas de seculos, teve impactos materiais, psicologicos e espirituais consideraveis nas suas vidas e tende a fazer aumentar a sua desconfianca em relacao a forcas politicas ainda nao testadas no exercicio governativo, outra coisa e’ considera-lo por isso incapaz de tomar, particularmente se atraves do voto individual e secreto, decisoes logicas e racionais (note-se que a logica e a razao nao sao atributos exclusivos da erudicao e do bem-estar, objectiva ou subjectivamente considerados).
7. Senao vejamos: e’ emocional e imaturo um povo que vem gerindo a sua vida e garantindo a sua sobrevivencia ao longo de decadas, sem qualquer rede de apoio social por parte do estado? Que produz uma das economias informais mais funcionais e eficientes do mundo? Que cria um mercado que, como o Roque Santeiro, apesar de tambem funcionar como um viveiro de marginalidade e insalubridade, no essencial consegue ser o principal, senao unico para a maioria da populacao da capital e nao so’, determinante dos sistemas de rendimentos e precos, incluindo das taxas de cambio, durante decadas? Que produz resilientes zungueiras, kinguilas, kandongueiros e roboteiros, em vez de simplesmente alimentar as estatisticas do desemprego e engrossar as esquinas e largos da mendicidade? Que tanto quanto ve as suas precarias habitacoes demolidas, se demonstra capaz de as reconstruir, e’ certo que na generalidade dos casos de forma anarquica, mas tambem de forma razoavelmente planificada e organizada? Sera’ crivel que tal povo, tendo obtido, depois de quase duas decadas sem essa possibilidade, a oportunidade de escolher quem julga capaz de lhe conceder e a quem julga dever exigir, sob pena de o penalizar nas urnas daqui a quatro anos, a tal rede social de apoio de que se viu privado ao longo das decadas em que esteve praticamente entregue a si proprio e aos seus proprios recursos para sobreviver, faca tal escolha irracionalmente? Nao creio.
8. E sejamos tambem claros em relacao a um ponto essencial: o que esta’ em jogo em quaisquer eleicoes gerais, em qualquer parte do mundo, mesmo nas sociedades mais desenvolvidas e com elevada maturidade democratica, sao as necessidades basicas e primarias da maioria da populacao, isto e’, o emprego, a saude, a alimentacao, a habitacao, a educacao e a seguranca social. E’ tanto assim nas actuais eleicoes presidenciais Americanas (no caso destas, apesar da guerra no Iraque constituir um factor de decisao eleitoral de primeira ordem), como o foi nas recentes eleicoes gerais Zimbabweanas (no caso destas, apesar de questoes de ordem historica e racial constituirem tambem factores de decisao eleitoral de primeira ordem). E sao apenas os relativos deficits de satisfacao dessas necessidades basicas, consoante o nivel de desenvolvimento de cada sociedade, que determinam o seu peso relativo em relacao a questoes e necessidades de ordem mais secundaria, ou terciaria, nas decisoes de voto. [*]
9. Assim, quanto maiores forem as necessidades basicas numa determinada sociedade e quanto maiores forem os segmentos populacionais afectados por tais necessidades, maior sera’ a tendencia para uma convergencia das decisoes de voto em direccao a partidos que nao representem apenas, ou primordialmente, interesses e necessidades minoritarios, por mais legitimos que esses sejam. E nao ha’ nada de irracional nisso. Antes pelo contrario, o inverso se-lo-ia: nomeadamente se, em vez de decidir priorizar proactivamente a satisfacao das suas necessidades objectivas mais prementes, a maioria decidisse, como alguns parecem ter esperado, priorizar a penalizacao retroactiva dos detentores do poder pelos seus erros e falhas do passado, mesmo que as forcas politicas alternativas nao lhe oferecam grandes garantias de que nao iriam incorrer nos mesmos erros e falhas ou noutros piores ainda – isso sim, seria uma decisao emocional, imatura e irracional. Mais: nao e’ ao povo que cabe, em detrimento da sua propria vontade e das suas necessidades objectivas, assegurar atraves do voto a diversidade ou a alteridade do sistema politico. Em democracia, e’ aos partidos que cabe essa responsabilidade (ate' porque para isso sao pagos atraves do erario publico, isto e', com o dinheiro do povo) na exacta medida em que se saibam organizar, apresentar e projectar, madura, racional e logicamente, como merecedores do voto popular.
10. Em geito de conclusao, cito de uma das colunas que tenho vindo a comentar: “Depois de ter ouvido uma senhora expressar-se relativamente ao processo de campanha com a seguinte frase: "o povo está cansado de verdades,...só quer promessas". Acrescentando que este trocadilho estava a correr pela cidade, eu reflicto sobre ele aqui porque interpretei-o como um reflexo de um mecanismo de defesa psicológico de negação da realidade que acontece muitas vezes em seres humanos imaturos ou que tenham experimentado grande dor ou sofrimento. A tendência a negar sensações dolorosas é tão antiga quanto o próprio sentimento de dor. Em psicologia dizemos que a capacidade de negar pares desagradáveis da realidade é a contrapartida da "realização alucinatória dos desejos", neste sentido, as promessas poderão ser interpretadas como sendo os desejos concretizados.”
1. A medida que vou percorrendo as colunas dos semanarios Luandenses neste rescaldo das eleicoes legislativas, comeca a ser perturbador o numero de vozes, ainda que minoritarias, que atribuem os seus resultados a um “voto emocional” ou a um “eleitorado imaturo para a democracia”… Nao se darao conta, tais vozes, do quanto elas proprias revelam emotividade e imaturidade politico-democratica nos seus pronunciamentos?
2. Sejamos claros: a democracia e’ isso mesmo – a expressao da vontade popular atraves do voto. Se o partido que recebeu maioritariamente tal voto vier a desrespeitar a vontade popular nele expressa, particularmente pelo nao cumprimento das promessas na base das quais o obteve, ou se as instituicoes supra-partidarias responsaveis por implementar a ordem politica e as politicas determinadas pela vontade popular expressa em tal voto nao o fizerem, ai sim, estar-se-ha perante um sistema democratico imaturo e irracional (e isto nao deixa de ser verdade apesar de toda a mitologia que tem os politicos como especialistas em fazer promessas que raramente cumprem). Quanto mais nao seja porque, findos os quatro anos da legislatura instituida por estas eleicoes, tal partido desrespeitador e instituicoes incumpridoras correm o risco de virem a ser penalizados pelo mesmo povo que agora neles votou. Tao simples quanto isso.
3. E esse talvez seja o unico elemento ‘simples’ do processo democratico. Porque tudo o resto, e em particular os julgamentos da capacidade do povo exercer o seu direito de voto e atraves dele expressar a sua vontade de forma lucida, responsavel e racional, e’ deveras complicado e, no limite, pode ate’ revelar-se um exercicio absurdo. Sim, e’ um absurdo considerar-se que a maioria de todo um povo, atraves de mais de 80% dos votos validos expressos, toma decisoes sobre a sua propria vida quotidiana e o seu proprio futuro apenas com base em emocoes. Mais do que isso: revela um profundo desprezo pelo povo e a mais basica falta de sentido democratico.
4. Efectivamente, apenas um certo raciocinio totalitario e’ capaz de concluir facilmente que se a maioria nao vota naquele(s) que se auto-considera(m) o(s) melhor(es) e’ porque e’ “irracional” ou “nao sabe o que e’ bom para si propria”… E quando as vozes que assim se expressam sao afectas a forcas politicas perdedoras nas urnas, entao elas tornam-se particularmente perturbadoras, porque demonstram que tais forcas nao so’ nao mereceram desta vez a maioria dos votos, como muito provavelmente tambem nao a merecerao no futuro, por nao terem sabido respeitar a vontade popular e, acima de tudo, por evidenciarem assim uma preocupante e imatura incapacidade de aprenderem com os seus proprios erros e de os corrigirem. Quando se diz, como numa dessas colunas, que “o povo esta’ cansado de verdades, so’ quer promessas”, quem e’ que se julga detentor de uma qualquer “verdade” em nome do povo? Quem e’ que se considera no direito de julgar o povo pelas promessas em que decide acreditar ou nao?
5. Muito se tem feito das irregularidades verificadas durante a campanha e durante o proprio acto eleitoral. Mas tudo parece indicar, quer pelas avaliacoes dos observadores nacionais e internacionais, quer pela aceitacao pela generalidade da oposicao dos resultados eleitorais, que tais irregularidades nao foram de monta suficiente para invalidarem ou descridibilizarem o processo eleitoral no seu todo. Muito se tem feito tambem da disparidade de meios materiais, financeiros e mediaticos entre o partido no poder e os partidos da oposicao. Eu propria a mencionei aqui como um factor importante na formacao das decisoes de voto. Mas tera’ ela sido determinante dessas decisoes a uma taxa superior a 80%, num pais com uma, embora ainda de circulacao restrita fora da capital, imprensa privada e tendencialmente independente, uma esclarecida e expressiva sociedade civil, uma cada vez maior expansao da internet e de redes televisivas internacionais e, nao menos importante, um fenomeno que em todas as sociedades se revela invariavelmente um poderosissimo formador de opiniao: um numero significativo de artistas populares, com destaque para musicos e poetas, difundindo ao longo dos anos por todo o pais mensagens de contestacao politica e reivindicacao social? Nao me parece.
6. E’ um facto inegavel que a educacao civica para o exercicio da democracia ainda e’ bastante precaria no nosso pais. O proprio conceito de democracia e’ ainda uma relativa novidade para a maioria dos cidadaos Angolanos e a sua pratica efectiva uma completa novidade para todo o pais. Mas o que as vozes criticas da capacidade de decisao do povo revelam e’ que nao e’ apenas o povo que ainda carece dessa educacao, mas todo o pais e particularmente os donos de tais vozes. Porque uma coisa e’ admitir-se, como o fiz aqui, que o grau de sofrimento, brutalizacao e traumatizacao a que grande parte do povo Angolano foi sujeito ao longo nao apenas das ultimas decadas, mas de seculos, teve impactos materiais, psicologicos e espirituais consideraveis nas suas vidas e tende a fazer aumentar a sua desconfianca em relacao a forcas politicas ainda nao testadas no exercicio governativo, outra coisa e’ considera-lo por isso incapaz de tomar, particularmente se atraves do voto individual e secreto, decisoes logicas e racionais (note-se que a logica e a razao nao sao atributos exclusivos da erudicao e do bem-estar, objectiva ou subjectivamente considerados).
7. Senao vejamos: e’ emocional e imaturo um povo que vem gerindo a sua vida e garantindo a sua sobrevivencia ao longo de decadas, sem qualquer rede de apoio social por parte do estado? Que produz uma das economias informais mais funcionais e eficientes do mundo? Que cria um mercado que, como o Roque Santeiro, apesar de tambem funcionar como um viveiro de marginalidade e insalubridade, no essencial consegue ser o principal, senao unico para a maioria da populacao da capital e nao so’, determinante dos sistemas de rendimentos e precos, incluindo das taxas de cambio, durante decadas? Que produz resilientes zungueiras, kinguilas, kandongueiros e roboteiros, em vez de simplesmente alimentar as estatisticas do desemprego e engrossar as esquinas e largos da mendicidade? Que tanto quanto ve as suas precarias habitacoes demolidas, se demonstra capaz de as reconstruir, e’ certo que na generalidade dos casos de forma anarquica, mas tambem de forma razoavelmente planificada e organizada? Sera’ crivel que tal povo, tendo obtido, depois de quase duas decadas sem essa possibilidade, a oportunidade de escolher quem julga capaz de lhe conceder e a quem julga dever exigir, sob pena de o penalizar nas urnas daqui a quatro anos, a tal rede social de apoio de que se viu privado ao longo das decadas em que esteve praticamente entregue a si proprio e aos seus proprios recursos para sobreviver, faca tal escolha irracionalmente? Nao creio.
8. E sejamos tambem claros em relacao a um ponto essencial: o que esta’ em jogo em quaisquer eleicoes gerais, em qualquer parte do mundo, mesmo nas sociedades mais desenvolvidas e com elevada maturidade democratica, sao as necessidades basicas e primarias da maioria da populacao, isto e’, o emprego, a saude, a alimentacao, a habitacao, a educacao e a seguranca social. E’ tanto assim nas actuais eleicoes presidenciais Americanas (no caso destas, apesar da guerra no Iraque constituir um factor de decisao eleitoral de primeira ordem), como o foi nas recentes eleicoes gerais Zimbabweanas (no caso destas, apesar de questoes de ordem historica e racial constituirem tambem factores de decisao eleitoral de primeira ordem). E sao apenas os relativos deficits de satisfacao dessas necessidades basicas, consoante o nivel de desenvolvimento de cada sociedade, que determinam o seu peso relativo em relacao a questoes e necessidades de ordem mais secundaria, ou terciaria, nas decisoes de voto. [*]
9. Assim, quanto maiores forem as necessidades basicas numa determinada sociedade e quanto maiores forem os segmentos populacionais afectados por tais necessidades, maior sera’ a tendencia para uma convergencia das decisoes de voto em direccao a partidos que nao representem apenas, ou primordialmente, interesses e necessidades minoritarios, por mais legitimos que esses sejam. E nao ha’ nada de irracional nisso. Antes pelo contrario, o inverso se-lo-ia: nomeadamente se, em vez de decidir priorizar proactivamente a satisfacao das suas necessidades objectivas mais prementes, a maioria decidisse, como alguns parecem ter esperado, priorizar a penalizacao retroactiva dos detentores do poder pelos seus erros e falhas do passado, mesmo que as forcas politicas alternativas nao lhe oferecam grandes garantias de que nao iriam incorrer nos mesmos erros e falhas ou noutros piores ainda – isso sim, seria uma decisao emocional, imatura e irracional. Mais: nao e’ ao povo que cabe, em detrimento da sua propria vontade e das suas necessidades objectivas, assegurar atraves do voto a diversidade ou a alteridade do sistema politico. Em democracia, e’ aos partidos que cabe essa responsabilidade (ate' porque para isso sao pagos atraves do erario publico, isto e', com o dinheiro do povo) na exacta medida em que se saibam organizar, apresentar e projectar, madura, racional e logicamente, como merecedores do voto popular.
10. Em geito de conclusao, cito de uma das colunas que tenho vindo a comentar: “Depois de ter ouvido uma senhora expressar-se relativamente ao processo de campanha com a seguinte frase: "o povo está cansado de verdades,...só quer promessas". Acrescentando que este trocadilho estava a correr pela cidade, eu reflicto sobre ele aqui porque interpretei-o como um reflexo de um mecanismo de defesa psicológico de negação da realidade que acontece muitas vezes em seres humanos imaturos ou que tenham experimentado grande dor ou sofrimento. A tendência a negar sensações dolorosas é tão antiga quanto o próprio sentimento de dor. Em psicologia dizemos que a capacidade de negar pares desagradáveis da realidade é a contrapartida da "realização alucinatória dos desejos", neste sentido, as promessas poderão ser interpretadas como sendo os desejos concretizados.”
Nao sera’ mais realista e factual o caso de algumas vozes afectas a partidos perdedores nestas eleicoes estarem agora, com o argumento da “imaturidade e emotividade dos eleitores”, a reflectir um mecanismo de defesa psicológico de negação da realidade que acontece muitas vezes em seres humanos imaturos ou que tenham experimentado grande dor ou sofrimento? Nao estarao elas precisamente a manifestar uma tendencia a negar sensações dolorosas, nomeadamente a da derrota eleitoral? Nao estarao elas a revelar exactamente uma capacidade de negar pares desagradáveis da realidade, nomeadamente a perspectiva de extincao de alguns desses partidos devido aos seus resultados eleitorais quase nulos, em grande medida por alguns deles se terem sobrevalorizado a si proprios e subestimado outros e a dada altura terem tomado a sua propria auto-avaliacao como sendo os seus desejos concretizados, sendo por isso a sua reaccao a realidade dos resultados eleitorais efectivos a contrapartida da realização alucinatória dos seus desejos?
Sejamos, pois, todos tao maduros e racionais como o povo sempre soube ser: respeite-mo-lo e as suas decisoes, por muito que elas desagradem a uns ou a outros, porque ele e’ o unico soberano em democracia!
[*] P.S.: Veja-se o que afirmou Barack Obama, mais de um ano depois destas consideracoes terem sido aqui tecidas, a este proposito:
In the last several election cycles, there has been a much stronger tendency for women to vote around bread and butter issues. It has to do with the fact that they're the ones balancing the budgets and trying to figure out how to make enough money - keep food on the table. One of the things that Michelle and I always talk about is that I have no idea how to buy clothes for my girls. I don't know what they cost. And that's probably not untypical. So that's something that Michelle has to think about and budget for. What that means, then, is that the issues of the economy are ones that women are going to particularly feel and be concerned about.
[Referencia daqui]
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