Monday, 12 February 2007

"THE LAST KING OF SCOTLAND"

Ontem, finalmente, conseguimos ver “The Last King of Scotland”, no Odeon de Camden, depois de termos “batido com o nariz na porta” no Sabado, porque as sessoes estavam esgotadas. Com o advento dos ‘multimedia’, cada vez menos gente vai ao cinema e ninguem espera encontrar filme algum, seja em que dia ou horas for, completamente esgotado. Mas isso tem estado a acontecer sucessivamente com este filme aqui em Londres. Conseguimos os bilhetes, mas os melhores lugares que conseguimos foram na primeira fila, isto e’, na pior fila para se ver um filme.

Ja’ vi melhores filmes sobre Africa e os Africanos, ja’ vi melhores filmes sobre a politica, a ditadura e os ditadores em Africa, ja’ vi melhores filmes sobre as relacoes amorosas, ou simplesmente sexuais, entre Europeus e Africanas… mas nao vi filmes muito melhores sobre a relacao entre dois seres humanos de caracteristicas tao diametralmente opostas, sob todos os pontos de vista, como a relacao entre Idi Amin (Forest Whitaker) e o seu “medico e conselheiro privado”, Nicholas Garrigan (James McAvoy), embora baseada numa estoria completamente ficcionada. Relacao ainda mais valorizada pelas eximias representacoes dos dois actores.

E apenas isso, quanto a mim, impede que ”The Last King of Scotland” resvale para a longa serie de filmes sobre Africa que pouco mais conseguem ser do que colagens, mais ou menos bem conseguidas cinematograficamente, de cliches e estereotipos baseados em personagens ou episodios historicos. Isso e o facto de, tendo visitado o Uganda ha cerca de um ano atras, visita durante a qual fiz uma longa viagem de autocarro pelo interior do pais, ter reconhecido nas paisagens e habitats naturais, humanos e animais mostrados no filme (incluindo a enorme “ave de rapina”, cujo nome desconheco, que vi, repetidamente em varios locais, pela primeira e unica vez no Uganda), o “pais real” retratado, o que e’ sempre reconfortante perante a quantidade de filmes sobre pais A filmados em pais B, ou estudio C, quantas vezes em continentes completamente diferentes.


De volta a casa, a noticia: Forest Whitaker tinha acabado de ganhar o Bafta para melhor actor do ano, o que o coloca numa posicao mais proxima de concretizar a expectativa assim expressa ha' dias por um apresentador da ex-Jazz FM (agora ‘downgraded’ para Smooth FM, mas que continua a ser a minha radio preferida, a excepcao das Quartas e Sabados quando vira uma radio quase exclusivamente de futebol e com relatos quase exclusivamente dos jogos do Chelsea…): “if there’s any justice in the world, which rarely is, Whitaker should win the Oscar”. Com ele no podium de ‘bests’, a minha favorita British Dame, Helen Mirren, que ganhou o Bafta para melhor actriz pela sua representacao de Elizabeth II em “The Queen”. Parecem estar encontrados, merecidamente, o Rei e a Rainha dos Oscars deste ano…

Apenas uma nota ‘a margem: um dos episodios historicos mais dramaticos, nem sequer tocados superficialmente neste filme (para la’ do poder das imagens e do "assustado" conselho alegadamente dado por Garrigan a Amin: "pare com isso, senao a economia vai ficar de joelhos"), e’ a expulsao de cerca de 50,000 Indianos do Uganda, ordenada por Idi Amin em 1972. O episodio e’ apresentado sem qualquer contextualizacao historica, como se fosse um dado adquirido que todos os espectadores, independentemente das suas posicoes politicas ou ideologicas, estariam a par do seu ‘background’ ou ‘further developments'. Isto fez-me lembrar da explicacao que um colega Ugandes, aquando da minha visita ao seu pais, me deu para o total dominio do comercio (predominantemente de quinquilharias de pouco ou nenhum valor utilitario), mesmo nas mais reconditas zonas rurais do pais, por Indianos: “nao era o caso de as comunidades locais nao terem capacidade para se dedicarem ao comercio de produtos importados, ou dos seus proprios produtos, para aliviarem os seus proprios niveis de pobreza, mas o regresso em massa, em condicoes priviligiadas, dos Indianos ao pais (que para la' comecaram a emigrar inicialmente, sob patrocinio Britanico, quando tanto a India como o Uganda eram colonias do UK), tinha sido parte de um ‘deal’ entre o actual presidente Museveni e as instituicoes de Bretton Woods, como condicao para a concessao de ajuda financeira por parte destas ao pais”… Ainda mais 'a margem, lembro-me de, aquando da “Maka na Sanzala Global” por causa dos ataques racistas contra a actriz Indiana Shilpa Shetty no programa Big Brother UK, ter lido em alguns sites de opiniao comentarios, principalmente por Ugandeses e Kenianos, que afirmavam nao nutrir qualquer simpatia pela situacao da Shilpa por causa do racismo que os Indianos praticam contra os negros nos seus proprios paises…


Curiosamente, hoje Shilpa voltou as primeiras paginas dos tabloides Londrinos depois de alguns dias de ausencia, desta vez ela propria acusada de racismo por ter apresentado e participado num ‘sketch’ do seu show numa cadeia televisiva Indiana que recriava os “minstreis” (actores pintados de preto dizendo piadas supostamente hilariantes, mas consideradas profundamente ofensivas pelas comunidades negras). Ora, este tipo de shows e imagens (tradicionalmente parte dos tristemente celebres “Minstrel Shows” no Ocidente) foram banidos da TV Britanica em 1978, depois de grandes controversias e manifestacoes de repudio no UK, por finalmente terem sido oficialmente classificados como “obscenamente racistas”… O que me leva de volta ao “Last King of Scotland” porque nao pude deixar de reparar na quantidade de ‘black make-up’ que lhe foi aplicado para tornar Whitaker tao “preto” como Idi Amin… O que me transporta a um outro filme que vale a pena ver: “Bamboozled”, de Spike Lee, uma brilhante satira sobre os “Minstrel Shows” nos EUA.


P.S.: O “Grazing in the Grass” do Bra Masekela pareceu-me um pouco deslocado no filme, mas como boa musica vai sempre bem com quaisquer imagens, soube-me bem ouvi-lo.

Ontem, finalmente, conseguimos ver “The Last King of Scotland”, no Odeon de Camden, depois de termos “batido com o nariz na porta” no Sabado, porque as sessoes estavam esgotadas. Com o advento dos ‘multimedia’, cada vez menos gente vai ao cinema e ninguem espera encontrar filme algum, seja em que dia ou horas for, completamente esgotado. Mas isso tem estado a acontecer sucessivamente com este filme aqui em Londres. Conseguimos os bilhetes, mas os melhores lugares que conseguimos foram na primeira fila, isto e’, na pior fila para se ver um filme.

Ja’ vi melhores filmes sobre Africa e os Africanos, ja’ vi melhores filmes sobre a politica, a ditadura e os ditadores em Africa, ja’ vi melhores filmes sobre as relacoes amorosas, ou simplesmente sexuais, entre Europeus e Africanas… mas nao vi filmes muito melhores sobre a relacao entre dois seres humanos de caracteristicas tao diametralmente opostas, sob todos os pontos de vista, como a relacao entre Idi Amin (Forest Whitaker) e o seu “medico e conselheiro privado”, Nicholas Garrigan (James McAvoy), embora baseada numa estoria completamente ficcionada. Relacao ainda mais valorizada pelas eximias representacoes dos dois actores.

E apenas isso, quanto a mim, impede que ”The Last King of Scotland” resvale para a longa serie de filmes sobre Africa que pouco mais conseguem ser do que colagens, mais ou menos bem conseguidas cinematograficamente, de cliches e estereotipos baseados em personagens ou episodios historicos. Isso e o facto de, tendo visitado o Uganda ha cerca de um ano atras, visita durante a qual fiz uma longa viagem de autocarro pelo interior do pais, ter reconhecido nas paisagens e habitats naturais, humanos e animais mostrados no filme (incluindo a enorme “ave de rapina”, cujo nome desconheco, que vi, repetidamente em varios locais, pela primeira e unica vez no Uganda), o “pais real” retratado, o que e’ sempre reconfortante perante a quantidade de filmes sobre pais A filmados em pais B, ou estudio C, quantas vezes em continentes completamente diferentes.


De volta a casa, a noticia: Forest Whitaker tinha acabado de ganhar o Bafta para melhor actor do ano, o que o coloca numa posicao mais proxima de concretizar a expectativa assim expressa ha' dias por um apresentador da ex-Jazz FM (agora ‘downgraded’ para Smooth FM, mas que continua a ser a minha radio preferida, a excepcao das Quartas e Sabados quando vira uma radio quase exclusivamente de futebol e com relatos quase exclusivamente dos jogos do Chelsea…): “if there’s any justice in the world, which rarely is, Whitaker should win the Oscar”. Com ele no podium de ‘bests’, a minha favorita British Dame, Helen Mirren, que ganhou o Bafta para melhor actriz pela sua representacao de Elizabeth II em “The Queen”. Parecem estar encontrados, merecidamente, o Rei e a Rainha dos Oscars deste ano…

Apenas uma nota ‘a margem: um dos episodios historicos mais dramaticos, nem sequer tocados superficialmente neste filme (para la’ do poder das imagens e do "assustado" conselho alegadamente dado por Garrigan a Amin: "pare com isso, senao a economia vai ficar de joelhos"), e’ a expulsao de cerca de 50,000 Indianos do Uganda, ordenada por Idi Amin em 1972. O episodio e’ apresentado sem qualquer contextualizacao historica, como se fosse um dado adquirido que todos os espectadores, independentemente das suas posicoes politicas ou ideologicas, estariam a par do seu ‘background’ ou ‘further developments'. Isto fez-me lembrar da explicacao que um colega Ugandes, aquando da minha visita ao seu pais, me deu para o total dominio do comercio (predominantemente de quinquilharias de pouco ou nenhum valor utilitario), mesmo nas mais reconditas zonas rurais do pais, por Indianos: “nao era o caso de as comunidades locais nao terem capacidade para se dedicarem ao comercio de produtos importados, ou dos seus proprios produtos, para aliviarem os seus proprios niveis de pobreza, mas o regresso em massa, em condicoes priviligiadas, dos Indianos ao pais (que para la' comecaram a emigrar inicialmente, sob patrocinio Britanico, quando tanto a India como o Uganda eram colonias do UK), tinha sido parte de um ‘deal’ entre o actual presidente Museveni e as instituicoes de Bretton Woods, como condicao para a concessao de ajuda financeira por parte destas ao pais”… Ainda mais 'a margem, lembro-me de, aquando da “Maka na Sanzala Global” por causa dos ataques racistas contra a actriz Indiana Shilpa Shetty no programa Big Brother UK, ter lido em alguns sites de opiniao comentarios, principalmente por Ugandeses e Kenianos, que afirmavam nao nutrir qualquer simpatia pela situacao da Shilpa por causa do racismo que os Indianos praticam contra os negros nos seus proprios paises…


Curiosamente, hoje Shilpa voltou as primeiras paginas dos tabloides Londrinos depois de alguns dias de ausencia, desta vez ela propria acusada de racismo por ter apresentado e participado num ‘sketch’ do seu show numa cadeia televisiva Indiana que recriava os “minstreis” (actores pintados de preto dizendo piadas supostamente hilariantes, mas consideradas profundamente ofensivas pelas comunidades negras). Ora, este tipo de shows e imagens (tradicionalmente parte dos tristemente celebres “Minstrel Shows” no Ocidente) foram banidos da TV Britanica em 1978, depois de grandes controversias e manifestacoes de repudio no UK, por finalmente terem sido oficialmente classificados como “obscenamente racistas”… O que me leva de volta ao “Last King of Scotland” porque nao pude deixar de reparar na quantidade de ‘black make-up’ que lhe foi aplicado para tornar Whitaker tao “preto” como Idi Amin… O que me transporta a um outro filme que vale a pena ver: “Bamboozled”, de Spike Lee, uma brilhante satira sobre os “Minstrel Shows” nos EUA.


P.S.: O “Grazing in the Grass” do Bra Masekela pareceu-me um pouco deslocado no filme, mas como boa musica vai sempre bem com quaisquer imagens, soube-me bem ouvi-lo.

2 comments:

Anonymous said...

Hi there!

Nice blog you have here. I saw Bamboozzled a couple of years back on DVD but couldn’t really understand much of it ‘>) so it was useful to follow your link and find out more about it. I’m much more clarified now.
I can understand a bit of Portuguese because of a few Angolan friends I had in Namibia when I lived there. I’m South African and always like to find more info about Southern Africa, but it’s difficult to find it in languages other than English for the non-English speaking countries of the region. Could you possibly post more articles on Angola in English?

Thanks.

And, yes, I also think Forrester should win the Oscar!

Koluki said...

Hi!

Thanks for visit and comment.
Yes, language can be a real issue at times for Southern African countries. But in general I guess people understand each other well.
I'll do my best to meet your request re articles on Angola.

Thanks!