Tuesday 6 February 2007

AINDA O 4 DE FEVEREIRO

«Gentios ultrapassaram os poetas na luta de libertação de Angola»

Este o destaque de uma entrevista com Jaime Araújo Júnior, representante da FNLA em Portugal, publicada no “Notícias Lusófonas” no passado 03/02/07. Aqui ficam alguns extractos:

Notícias Lusófonas – A FNLA e o MPLA têm-se travado de razões relativamente ao início da luta armada contra o regime colonial. Afinal de contas, foi a 4 de Fevereiro ou a 15 de Março de 1961 que a mesma começou?

Jaime Araújo – A primeira acção armada foi a do 4 de Fevereiro já longamente programado pela UPA, aliás quem liderou esta acção foi o próprio Monsenhor Cónego Manuel Joaquim Mendes das Neves que era vice-presidente da UPA desde os idos de 1956/7. Foi ele que liderou a acção a par de outros nacionalistas que hoje integram o MPLA, mas que na altura eram militantes da UPA. Não se pode ocultar os factos retirando o valor histórico que tem o 4 de Fevereiro. O valor histórico do 4 de Fevereiro vem sendo retirado por estar a ser partidarizado. O líder do 4 de Fevereiro, Monsenhor Cónego Manuel das Neves, é um elemento aglutinador ao contrário dos outros.

NL – Quem são os “outros”?

JA – Os outros são os líderes partidários que não têm a coragem de se sentar à mesa para dirimirem questões pessoais e ideológicas e colocarem o interesse nacional acima de tudo. O interesse nacional obriga a que se tenha o 4 de Fevereiro como um marco aglutinador e não uma data que divida os angolanos como tem sido até agora.

NL – Disse há bocado que os “gentios” estiveram a frente da luta de libertação nacional. Quem são os “gentios” afinal?

JA – Os “gentios” são aqueles que mais sofrem e têm a capacidade de transformar o seu sofrimento num programa imediato de reivindicação. Independentemente do seu sofrimento sempre foram a frente. Foi assim no 4 de Fevereiro, foi assim no 15 de Março. A frente foram os “gentios” ou pelo menos considerados como tal por não terem estudado no Liceu Salvador Correia, no Diogo Cão ou ainda por não terem andado na cidade de Luanda.

NL – Os "gentios" são os da UPA/FNLA?

JA – Dizem uns que são, embora eu veja lá muita gente letrada. Mas são estes "gentios" que ainda hoje reivindicam que é a escola que deve ir ter com os alunos e não o inverso. Os actuais líderes sabem disso porque são homens que tiveram que percorrer inúmeros quilómetros para ir a escola. É bom que eles acordem e que apliquem o princípio "a escola junto de quem necessita". Ainda hoje são estes "gentios" que estão a reclamar isso porque não estão a escrever poesias nem livros nas grandes cidades, estão a reivindicar permanentemente por aquilo que lhes faz falta.

NL – Quando invoca a poesia está a falar de quem?

JA – Os poetas fazem parte do nosso património cultural nacional. Mas não podemos, face ao sofrimento, passar o tempo na poesia postergando a realidade para planos secundários. Primeiro a reivindicação para comer, para escola, hospital e depois então podemos perder o tempo na poesia. Porque nós, angolanos, somos bons na poesia. A poesia faz falta. Mas que seja como complemento quando ainda há imensa dor para resolver.

NL – Que lugares ocupam os "gentios" no contexto actual em Angola uma vez que sempre se antecederam na luta de libertação em relação aos poetas?

JA – Também não queríamos ter agora gentios no poder, se tomar a palavra à letra. Mas muitos deles não eram de tal modo "gentios" de todo que foram levados para o poder pelo MPLA para postos elevados.

NL – As reclamações dos "gentios" continuam actuais passados 30 anos de independência?

JA – Os "gentios" ainda continuam a clamar por liberdade. A liberdade continua a ser o elemento fundamental a reclamar em Angola. A liberdade de poder reivindicar e o poder perceber que ela, a reivindicação, tem fundamento. É que até hoje não há reivindicação em Angola em que o poder tenha reconhecido nela algum fundamento. E isso é a denegação da liberdade.

NL – Há um grande divórcio entre o povo e o poder?

JA – Isso é visível quando os ministros não conseguem passear na cidade capital sem guarda-costas. Os ministros não conseguem passear pelas ruas de Luanda com tranquilidade. Até as pessoas que assumem o poder em Angola não têm liberdade.

NL – Sei que militou na UPA, hoje FNLA. Uma pergunta: insere-se no grupo dos "gentios" que sempre reivindicou melhores condições para Angola e para os angolanos?

JA – Não tenho, nem nunca tive medo dos "gentios". Convivi sempre com eles. As pessoas valem como pessoas. Tinha 17 anos e no quintal da minha casa eu tinha uma escola para ensinar os serventes das casas do meu bairro, Vila-Alice. Todos os serventes do bairro iam a minha casa aprender e eu ensinava-os. Nunca tive problemas com os "gentios". Tive sempre problemas com os poetas. Não sei ler, nem entendo muito bem a poesia. Mas eles que fiquem calmos que também fazem falta à nação.

Ler entrevista completa aqui.

Fotos: Monumento ao 4 de Fevereiro, Luanda (Angola Press)

«Gentios ultrapassaram os poetas na luta de libertação de Angola»

Este o destaque de uma entrevista com Jaime Araújo Júnior, representante da FNLA em Portugal, publicada no “Notícias Lusófonas” no passado 03/02/07. Aqui ficam alguns extractos:

Notícias Lusófonas – A FNLA e o MPLA têm-se travado de razões relativamente ao início da luta armada contra o regime colonial. Afinal de contas, foi a 4 de Fevereiro ou a 15 de Março de 1961 que a mesma começou?

Jaime Araújo – A primeira acção armada foi a do 4 de Fevereiro já longamente programado pela UPA, aliás quem liderou esta acção foi o próprio Monsenhor Cónego Manuel Joaquim Mendes das Neves que era vice-presidente da UPA desde os idos de 1956/7. Foi ele que liderou a acção a par de outros nacionalistas que hoje integram o MPLA, mas que na altura eram militantes da UPA. Não se pode ocultar os factos retirando o valor histórico que tem o 4 de Fevereiro. O valor histórico do 4 de Fevereiro vem sendo retirado por estar a ser partidarizado. O líder do 4 de Fevereiro, Monsenhor Cónego Manuel das Neves, é um elemento aglutinador ao contrário dos outros.

NL – Quem são os “outros”?

JA – Os outros são os líderes partidários que não têm a coragem de se sentar à mesa para dirimirem questões pessoais e ideológicas e colocarem o interesse nacional acima de tudo. O interesse nacional obriga a que se tenha o 4 de Fevereiro como um marco aglutinador e não uma data que divida os angolanos como tem sido até agora.

NL – Disse há bocado que os “gentios” estiveram a frente da luta de libertação nacional. Quem são os “gentios” afinal?

JA – Os “gentios” são aqueles que mais sofrem e têm a capacidade de transformar o seu sofrimento num programa imediato de reivindicação. Independentemente do seu sofrimento sempre foram a frente. Foi assim no 4 de Fevereiro, foi assim no 15 de Março. A frente foram os “gentios” ou pelo menos considerados como tal por não terem estudado no Liceu Salvador Correia, no Diogo Cão ou ainda por não terem andado na cidade de Luanda.

NL – Os "gentios" são os da UPA/FNLA?

JA – Dizem uns que são, embora eu veja lá muita gente letrada. Mas são estes "gentios" que ainda hoje reivindicam que é a escola que deve ir ter com os alunos e não o inverso. Os actuais líderes sabem disso porque são homens que tiveram que percorrer inúmeros quilómetros para ir a escola. É bom que eles acordem e que apliquem o princípio "a escola junto de quem necessita". Ainda hoje são estes "gentios" que estão a reclamar isso porque não estão a escrever poesias nem livros nas grandes cidades, estão a reivindicar permanentemente por aquilo que lhes faz falta.

NL – Quando invoca a poesia está a falar de quem?

JA – Os poetas fazem parte do nosso património cultural nacional. Mas não podemos, face ao sofrimento, passar o tempo na poesia postergando a realidade para planos secundários. Primeiro a reivindicação para comer, para escola, hospital e depois então podemos perder o tempo na poesia. Porque nós, angolanos, somos bons na poesia. A poesia faz falta. Mas que seja como complemento quando ainda há imensa dor para resolver.

NL – Que lugares ocupam os "gentios" no contexto actual em Angola uma vez que sempre se antecederam na luta de libertação em relação aos poetas?

JA – Também não queríamos ter agora gentios no poder, se tomar a palavra à letra. Mas muitos deles não eram de tal modo "gentios" de todo que foram levados para o poder pelo MPLA para postos elevados.

NL – As reclamações dos "gentios" continuam actuais passados 30 anos de independência?

JA – Os "gentios" ainda continuam a clamar por liberdade. A liberdade continua a ser o elemento fundamental a reclamar em Angola. A liberdade de poder reivindicar e o poder perceber que ela, a reivindicação, tem fundamento. É que até hoje não há reivindicação em Angola em que o poder tenha reconhecido nela algum fundamento. E isso é a denegação da liberdade.

NL – Há um grande divórcio entre o povo e o poder?

JA – Isso é visível quando os ministros não conseguem passear na cidade capital sem guarda-costas. Os ministros não conseguem passear pelas ruas de Luanda com tranquilidade. Até as pessoas que assumem o poder em Angola não têm liberdade.

NL – Sei que militou na UPA, hoje FNLA. Uma pergunta: insere-se no grupo dos "gentios" que sempre reivindicou melhores condições para Angola e para os angolanos?

JA – Não tenho, nem nunca tive medo dos "gentios". Convivi sempre com eles. As pessoas valem como pessoas. Tinha 17 anos e no quintal da minha casa eu tinha uma escola para ensinar os serventes das casas do meu bairro, Vila-Alice. Todos os serventes do bairro iam a minha casa aprender e eu ensinava-os. Nunca tive problemas com os "gentios". Tive sempre problemas com os poetas. Não sei ler, nem entendo muito bem a poesia. Mas eles que fiquem calmos que também fazem falta à nação.

Ler entrevista completa aqui.

Fotos: Monumento ao 4 de Fevereiro, Luanda (Angola Press)

5 comments:

Anonymous said...

Desculpe a insistência. Já tenho essa pergunta colocada num comentário ao " O IMAGINÁRIO BANTU DA LITERATURA ANGOLONA (II) ,sobre a frase : ...será manifestamente abusivo que uma minoria social e linguísticamente híbrida se pretenda assumir...perguntava eu se havia nomes que representassem essa minoria?
Por gentileza, tou curioso.
Kimangola http://kimangola.blogspot.com/2007/02/os-princpios.html

Koluki said...

Kimangola,

Eu nao posso, nao devo e nem quero responder por outros (neste caso o entrevistado ou o entrevistador) ou tentar justificar a sua linha de raciocinio. Portanto, desculpe-me se insisto na resposta que dei a sua pergunta em relacao ao artigo a que se refere e que podera ler, ou reler, aqui.
No que toca particularmente a esta entrevista, se seguir o link ao 'Noticias Lusofonas, onde a entrevista esta publicada na integra, verificara' que o entrevistador insiste nessa questao e sugere, creio que aleatoriamente, dois nomes, que o entrevistado confirma... O que tambem me deixa a questao sobre se o tera feito por sugestao, ou se teria mais, ou outros, nomes em mente...
Espero que isso satisfaca a sua curiosidade.
Mas, noto que essa questao das minorias sociais e linguisticas lhe interessa muito e, ja agora, tambem me deixa curiosa: tem alguma tese sobre isso que pretenda discutir? Se for o caso, manifesto-lhe desde ja o meu interesse e disponibilidade para trocar pontos de vista consigo e com outros amigos que porventura tambem estejam interessados nessa questao.

Um abraco!

KImdaMagna said...

Agradeço e registo o comentário.Da razão em querer saber algo mais sobre aquelas ditas minorias, é pura e únicamente de indole da curiosidade/conhecimento para poder catologar os meus pensamentos,criando assim ícones de referência quando me quizer recordar de uma dada época da nossa história. Pessoalmente não entendo que os nossos problemas (humanos)sejam resolvidos centrando a discussão sobre grupos(minoritários ou maioritários) quer sejam de ordem linguística, económica ,tribal,nacinal ou o que for.
A grupos torço sempre o nariz, pois já constatei a sua entropia "genética". Defeito de formação/informação? Seja, continuarei então "defeituoso".
Convido-a a visitar http://kimang.blogspot.com/2007/02/o-eu-e-o-poder.html , não tanto pelo texto, mas sim pela foto do menino que lá figura.
Aquela expressão é a minha resposta
ao que penso quando teimamos sempre em dividir; tristeza /desilusão.
Assim estudarei melhor o assunto, consultando as tuas dicas.
Obrigado.

Anonymous said...

Caro amigo,

Eu compreendo o seu interesse neste tipo de questoes, que, talvez por razoes nao inteiramente coincidentes, partilho.
Concordo em absoluto que os nossos problemas humanos nao se resolvem centrando as discussoes em grupos, sejam eles de que tipo forem. Porem, talvez por defeito de formacao/informacao (sou Historiadora Economica por formacao) nao acredito na resolucao dos problemas humanos, sejam eles de origem economica, politica, racial, etnica ou outra, atraves da negacao da existencia das divisoes que esses problemas induzem na(s) nossa(s) sociedade(s). Nao acredito, simplesmente, em "varrer o lixo para debaixo do tapete"...
Ja houve uma altura da minha vida em que, talvez por ser mais ingenua e credula, nao acreditava em "solidariedades de grupos" e em qualquer um me sentia disponivel para entrar... apenas para bater com a cabeca repetidamente nos muros de alguns desses grupos (aparentemente muito "humanamente intencionados"...) ate', literalmente, perder os sentidos!
Isso aconteceu-me em Angola e em Portugal... ate'que me mudei para o UK e descobri que aqui, embora haja grupos com os seus muros e ate' muralhas, nao ha assunto que nao possa ser discutido abertamente... Ainda ha tabus, mas e' extremamente dificil descobrir o um ou dois que ainda restam... E dessa (i)materia e' feita, malgre' tout, a sociedade mais diversificada e harmoniosa do ocidente... e ela nao so me ajudou a recuperar os sentidos, como continua a fazer-me muito bem ao espirito.
Mas, tentando manter um pouco a ligacao com o tema deste artigo, porque nao reflectirmos sobre quantas divisoes sociais e grupais e, acima de tudo, vidas humanas, teriam sido poupadas se Portugal tivesse concedido a independencia, tal como as outras potencias coloniais o fizeram, em 1960, assim evitando "factos historicos" como o 4 de Fevereiro? Considere-se apenas que talvez a UNITA nunca tivesse existido... mesmo porque Savimbi antes de fundar a UNITA em 1966 militou sucessivamente na UPA e no MPLA...
Resumindo, acho que a Humanidade so se pode realizar plenamente se conseguir ser madura o suficiente, racional o suficiente e "humana" o suficiente, para reconhecer que nao e' ignorando as divisoes, nao e' abafando os sentimentos dos que se veem excluidos pelas logicas de quaisquer grupos, que as divisoes deixarao de existir... e, enquanto essas divisoes existirem, os conflitos, potenciais ou reais, continuarao a afrontar essa mesma Humanidade.
Quanto a expressao do menino na foto, esta' muito bem apanhada! Fiquei curiosa agora sobre o que lhe tera' provocado tal expressao...

Obrigada tambem pela sua contribuicao para um pouco de "revolver" das aguas por aqui!

Anonymous said...

Um amigo Americano branco, que apesar de ser advogado (pessoa bem letrada)em Washington D.C. ate me ter conhecido nao sabia que Angola existia como todos outros amigos e amigas nos E.U.A. Depois de lhe ter apresentado este blogg comecou a interessar-se mais por Angola. Esse amogp ontem convidou-me para jantar durante a conversa perguntou-me se para alem do portugues, frances e do ingles eu falavaque outra/s lingua/s. Eu respondi, que nao. Ele muito surpreso e confuso exclamou, "mas Angola tem outras linguas nao?!! eu vi na internet..."

Eu senti uma mistura de tristeza e um pouco de vergonha os mesmos sentimentos que me invadem sempre que essa pergunta e outras do genero me sao feitas por amigos e colegas aqui nos EUA.

Normalmente, respondo o seguinte - infelizmente, os Angolanos foram muito bem colonizados (assumindo a colonizacao como algo negativo) porconseguinte, muitas pessoas da minha geracao nunca aprenderam nenhuma das nossas linguas reais, nem as nossas tradicoes porque os nossos pais nao nos deixavam aprender, com medo que isso fosse a prejudicar o nosso progresso social e em certos casos nem eles proprios aprenderam muito bem. E a exclamacao inevitavel a que ja estou acostumada, vem logo a seguir da parte deles... "uau, que tristeza!" e su so digo - e verdade que tristeza!


Angolanos "letrados" vs. "nao letrados" que grupo deveria ficar no poder. Dado o que a historia ja nos ensinou sera esta a perspectiva mais correcta para debatermos sobre questao? Sera que e desta forma que queremos definir as nossas relacoes sociais?

Sem um dialgo aberto e sem preconceitos sobre o impacto da colonizacao, sera que algum dia seremos capazes de ultrapassar os obstaculos e desenvolver uma lideranca com uma visao objectiva dos problemas dos Angolanos com capacidade de entender, respeitar e criar um quadro de harmonia/paz dos interesses divergentes entre os varios grupos da nossa sociedade?

O negro foi por muito tempo considerado inferior pela minoria branca, durante o periodo da colonizacao. Alguns por esforco proprio e/ou ajuda dos colonizadores tornaram-se eventualmente assimilados/"letrados", portanto uma nova classe dentro do grupo da negritude.

Muitos desses Angolanos "letrados" subiram ao poder e o que fizeram de mais notorio foi criar um sistema acelerado de destruicao da dignidade de Angola e dos restantes Angolanos os chamados gentios que nao tiveram o "privelegio" se assim o poderemos chamar de se tornarem "assimilados"/"letrados".

Penso que poderia ser util tentarmos entender primeiro o porque que os Angolanos logicamente melhor credenciados uma vez no poder decidiram tornar os recursos de todos como seus pessoais e assumiram uma postura de "superioridade" perante os restantes Angolanos. No fundo tornaram-se os novos colonizadores utilizando o poder de uma forma muito mais nefasta que os colonizadores anteriores.

Porque e que penso que deveremos alterar a perspectiva do debate. No fundo a razao pela qual nos deixamos perder como nacao foi exactamente por termos acreditado e continuarmos a acreditar que por falar portugues aportuguesado, por comer funge com faca e garfo ou que por nao gostarmos de funge, ou porque por termos estudarmos no liceu Salvador Correia ou porque ate ja tinhamos empregados ou comiamos papa cerelac no tempo colonial ou porque entre as nossas relacoes sociais temos muitos brancos somos melhores que os restante Angolanos. No fundo muitos de nos acredita que quanto mais parecidos com os portugueses nos tornarmos melhor! Enquanto conscientemente ou inconscientemente tivermos na cabeca que o ideal para o Angolano e de ser "assimilado", poderemos ter letrados, gentios ou combinacao de ambos no poder e Angola nao ira prosperar, porque os valores que seguimos como ideais estao errados!

Nao e falta de letrados nem o grande numero de gentios que nos destroi o nosso problema maior e a vergonha tao imensa de sermos Africanos. O facto de muitos Angolanos particularmente entre os assimilados nao entenderem que os aspectos positivos se os existirem da assimilacao estao altamente inflacionados!

Finalmente, os poetas nao tem que ser politicos. E queria agradecer a todos os poetas Angolanos pelo desempenho correcto do seu papel atraves da sua arte. E isso que queremos uma Angola "colorida", em que as qualidades e as contribuicoes positivas de todos sejam destacadas e respeitadas.

Quanto aos "politicos" Angolanos acho que deveriam utilizar todo e mais algum do seu tempo disponivel a aperfeicoar sua propria arte, que e a que se tem demonstrado mais pobre na nossa sociedade. Angola comecara a progredir no dia em que os politicos que cresceram na Vila Alice com empregados, ou na Vila do Tomboco com ranho a cair do nariz entenderem que nao passam de meros "serventes" da nacao, e nao o contrario!