Texto da apresentacao do livro, lancado a semana passada em Luanda, pelo escritor e tambem sociologo Artur Pestana (Pepetela):
O Doutor Paulo de Carvalho há muito nos habituou ao rigor e constância com que trata assuntos da sociedade angolana, desde os órgãos de comunicação social e seu impacto, ao consumo e às diferenciações sociais. Chamo a atenção neste sentido para o trabalho desempenhado durante muitos anos na análise dos estabelecimentos comerciais e publicada regularmente na imprensa, com evidentes dificuldades impostas por terceiros, mas que a sua audácia e determinação conseguiram superar, o que levou a melhorias (talvez nem sempre admitidas pelos proprietários) dos próprios estabelecimentos inventariados. Trabalho persistente, muitas vezes mal compreendido, porventura suscitando reacções negativas, mas de extrema importância, pela sua isenção, rigor e coragem.
Não é pois um principiante no estudo sociológico de terreno, antes alia o trabalho académico e teórico à pesquisa sistemática da realidade angolana. E o resultado de anos de investigação e de trabalho de rua está bem patente na sua tese de doutoramento apresentada agora em livro, «Exclusão Social em Angola – O caso dos deficientes físicos de Luanda», numa feliz edição da Kilombelombe, editora que já nos habituou a tratar obras científicas de qualidade comprovada. O trabalho está organizado em duas partes, desdobrada cada uma em vários capítulos.
Por se tratar de tese académica, principia pela discussão dos conceitos que mais interessam o seu propósito, em particular o conceito de pobreza e o de exclusão social. Contrariamente ao preconceito existente por parte de algum público em relação a este tipo de obras, esta introdução teórica não é maçadora, antes escrita de forma clara, concisa, necessária. Em seguida o autor faz uma análise o mais exaustiva possível da exclusão social em Angola, usando os mais variados elementos que pôde colectar até pouco tempo depois do fim da guerra civil. Alguns elementos serão até contraditórios, por serem provenientes das mais diversas fontes, muitas delas bastante parcelares e recolhidos em condições difíceis. Consegue porém brindar-nos assim com uma descrição da situação angolana, em termos de pobreza, que é simplesmente a mais completa que conheço.
[…]
São assim atirados para as ruas, para a mendicidade, pessoas que poderiam trabalhar em ofícios para os quais foram preparados. Poderíamos ir buscar muitos mais exemplos para ilustrar a conclusão a que Paulo de Carvalho chega: ele estudou os excluídos dos excluídos, os que a nossa má consciência faz esquecer, sombras na noite que recusamos olhar de frente, pois todos sabemos ser responsáveis de alguma forma por esta injustiça que grassa ao nosso lado. Se a grande maioria da população de Luanda sofre de exclusão social, de pobreza, de injustiças por parte de quem tem embora um grão de poder ou influência, os deficientes físicos ainda sofrem mais e se podem defender menos, mesmo com todo o seu engenho e criatividade para criar alternativas de sobrevivência.
Este livro pode ajudar a que a sociedade angolana, particularmente os que têm alguma voz para a agitar, tome definitivamente consciência de que convive com um vulcão. Se esse vulcão explodir um dia, não foi por falta de aviso. Sobretudo os poderes públicos a todos os níveis teriam o maior interesse em conhecer este livro, pois se o papel dos sociólogos não é, decididamente, o de propor políticas, acaba sempre por sugerir temas de reflexão que de alguma forma influenciam determinadas escolhas. Basta que os decisores políticos saibam interpretar os dados fornecidos pelos cientistas sociais.
O Dr. Paulo de Carvalho, com o seu trabalho abnegado e inteligente de recolha e análise, tem contribuído enormemente para nos avisar sobre a sociedade que vamos criando e indicando os perigos que fervilham neste caldeirão de Luanda. Espero que continue nessa senda com toda a coragem necessária. Sempre haverá alguns ouvidos atentos.
O Doutor Paulo de Carvalho há muito nos habituou ao rigor e constância com que trata assuntos da sociedade angolana, desde os órgãos de comunicação social e seu impacto, ao consumo e às diferenciações sociais. Chamo a atenção neste sentido para o trabalho desempenhado durante muitos anos na análise dos estabelecimentos comerciais e publicada regularmente na imprensa, com evidentes dificuldades impostas por terceiros, mas que a sua audácia e determinação conseguiram superar, o que levou a melhorias (talvez nem sempre admitidas pelos proprietários) dos próprios estabelecimentos inventariados. Trabalho persistente, muitas vezes mal compreendido, porventura suscitando reacções negativas, mas de extrema importância, pela sua isenção, rigor e coragem.
Não é pois um principiante no estudo sociológico de terreno, antes alia o trabalho académico e teórico à pesquisa sistemática da realidade angolana. E o resultado de anos de investigação e de trabalho de rua está bem patente na sua tese de doutoramento apresentada agora em livro, «Exclusão Social em Angola – O caso dos deficientes físicos de Luanda», numa feliz edição da Kilombelombe, editora que já nos habituou a tratar obras científicas de qualidade comprovada. O trabalho está organizado em duas partes, desdobrada cada uma em vários capítulos.
Por se tratar de tese académica, principia pela discussão dos conceitos que mais interessam o seu propósito, em particular o conceito de pobreza e o de exclusão social. Contrariamente ao preconceito existente por parte de algum público em relação a este tipo de obras, esta introdução teórica não é maçadora, antes escrita de forma clara, concisa, necessária. Em seguida o autor faz uma análise o mais exaustiva possível da exclusão social em Angola, usando os mais variados elementos que pôde colectar até pouco tempo depois do fim da guerra civil. Alguns elementos serão até contraditórios, por serem provenientes das mais diversas fontes, muitas delas bastante parcelares e recolhidos em condições difíceis. Consegue porém brindar-nos assim com uma descrição da situação angolana, em termos de pobreza, que é simplesmente a mais completa que conheço.
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São assim atirados para as ruas, para a mendicidade, pessoas que poderiam trabalhar em ofícios para os quais foram preparados. Poderíamos ir buscar muitos mais exemplos para ilustrar a conclusão a que Paulo de Carvalho chega: ele estudou os excluídos dos excluídos, os que a nossa má consciência faz esquecer, sombras na noite que recusamos olhar de frente, pois todos sabemos ser responsáveis de alguma forma por esta injustiça que grassa ao nosso lado. Se a grande maioria da população de Luanda sofre de exclusão social, de pobreza, de injustiças por parte de quem tem embora um grão de poder ou influência, os deficientes físicos ainda sofrem mais e se podem defender menos, mesmo com todo o seu engenho e criatividade para criar alternativas de sobrevivência.
Este livro pode ajudar a que a sociedade angolana, particularmente os que têm alguma voz para a agitar, tome definitivamente consciência de que convive com um vulcão. Se esse vulcão explodir um dia, não foi por falta de aviso. Sobretudo os poderes públicos a todos os níveis teriam o maior interesse em conhecer este livro, pois se o papel dos sociólogos não é, decididamente, o de propor políticas, acaba sempre por sugerir temas de reflexão que de alguma forma influenciam determinadas escolhas. Basta que os decisores políticos saibam interpretar os dados fornecidos pelos cientistas sociais.
O Dr. Paulo de Carvalho, com o seu trabalho abnegado e inteligente de recolha e análise, tem contribuído enormemente para nos avisar sobre a sociedade que vamos criando e indicando os perigos que fervilham neste caldeirão de Luanda. Espero que continue nessa senda com toda a coragem necessária. Sempre haverá alguns ouvidos atentos.
[Texto integral aqui]
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