Ordem no circo musical da banda
Depois de termos aqui, muito recentemente, manifestado a nossa "intolerância" em relação ao kuduro, num apontamento dedicado ao sublime projecto Kapossoka, Ismael Mateus juntou-se a nós com o seu Voto na Matéria para colocar a necessária ordem no nosso circo musical. Fê-lo esta semana no SA de forma magistral. "Somos muito mais do que uns gritos ao microfone, uns acordes de sintetizador e uns coros desafinados. Valemos muito mais do que isso e temos mais riqueza cultural do que isso"- assim escreveu IM. Plenamente de acordo nesta discordância com a promoção do tal de kuduro como sendo a nossa nova bandeira. Não é nada disso, camaradas!
Reginaldo Silva, Aqui
Uma estranha obsessão oficial pelo kuduro
Temos assistido a manifestações particulares de apoio ao kuduro feitas por figuras do Estado e de grande representação politica nacional. Não há, obviamente, nada contra isso. Cada um gosta e ouve o que quiser. Temos, porém, já mais reservas quando começamos a ouvir tantas palavras oficiais de incentivo a esse género musical. A comissária de Angola na Expo Shangai, Albina Assis, fez um rasgado elogio ao kuduro como música angolana do momento, justificando a opção de o levado àquele palco de amostra da cultura angolana. O adido cultural de Angola no Brasil idem aspas ,falando do que realmente mais ‹‹se vende›› de música angolana naquele país. Temos também assistido a uma certa cumplicidade ‹‹oficial›› do ministério da Cultura, de críticos e sobretudo dos canais de televisão do Estado. (…) Mais do que os receios da entronizaçao do semba como símbolo único da música angolana, estamos hoje perante algo maior que é a vulgarização consumista da música angolana. Sentimos nas estaçoes públicas de rádio e de televisao e nos meios de decisao oficial uma tendência para o descompromisso com a cultura angolana, o que nos deixa verdadeiramente preocupados.
Ismael Mateus, in SA#373
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E, com a devida venia ao amigo Fernando Ribeiro de A Materia do Tempo:
Kuduro
Kamussekele [Dog Murras, feat. Bonga]
3 comments:
Ja’ agora, deixo aqui este extracto (deste meu post: http://koluki.blogspot.com/2010/02/1960-2010-year-of-africa-50-years-on-ii.html) notando que, para mim, e’ fundamental que quando se fazem afirmacoes como “temos que nos deixar dos semba, kizomba e kuduro, pois so’ assim progrediremos”, em particular quando se diz ser contra o “eurocentrismo” e/ou a “globalizacao”, se defina muito clara o precisamente o que se entende culturalmente por “progresso”!:
“Lutamos contra todo este sistema de alienacao”?
Quando hoje isso e’ taxado por certos “clarividentes novo-jornaleiros a quem o quarto p(h)oder subiu a cabeca” de “monstro racial e tara tribal”? Quando hoje “temos que nos deixar dos semba, kizomba e kuduro, pois so’ assim progrediremos”?
A este proposito, devo dizer que, nao sendo aderente incondicional ou acritica dos novos estilos musicais angolanos, como o kuduro, mesmo porque ainda nao os conheco suficientemente (e, ja' agora, tambem nunca ainda os dancei), entendo e valorizo a forma como alguns dos novos artistas de que aos poucos vou tomando conhecimento, os teem usado como musica de intervencao, protesto e afirmacao cultural nacional.
Apenas uma breve nota sobre esse Kamussekele do Dog Murras, "abrilhantado" pelo Bonga:
Continuando na senda de exploracao das possiveis origens (a este proposito, vejam-se especialmente os comentarios ao post 'Casa da Musica' cujo link se encontra na lista dos 'posts relacionados' acima) do Kuduro na musica tradicional do carnaval angolano (e.g. a Kazukuta), nomeadamente o de Luanda, tenho para mim que esse Kamussekele e' talvez a melhor expressao dessas origens... Atente-se nas percussoes!
Nao creio que alguem que seja adepto incondicional do Kabocomeu possa deixar de reconhecer isso...
Claro que nao pretendo com isso invalidar a hipotese de que possa haver outras "formas" de kuduro menos consonantes com esta rendicao daquele que e' talvez o maior icone do Kuduro (Dog Murras) e daquele que e' certamente o melhor percussionista angolano contemporaneo (Bonga).
E, nessa medida, sugeriria que a ter que falar-se em "progresso" relativamente ao "semba, kizomba e kuduro", essa e' realmente, quanto a mim, a (ou uma das) via(s) de progresso musical endogenamente consistente(s) com a cultura angolana...
Uma outra nota que me parece digna de realce, e' que, na boa tradicao da musica carnavalesca de Luanda com as suas "conversas e provocacoes de escarnio e mal-dizer", o que temos neste Kamussekele e' praticamente equivalente ao espirito de "xacota"
que tivemos numa certa "Cidralia": ...#roubou
o bacalhau da Alfandega, para mamar mais os seus amigos#...)
"A onda em si mesma não me parece grave; grave afigura-se-me o apoio de sectores que deveriam ter algum cuidado e o paternalismo com que a onda tem sido acarinhada e promovida a patamares preocupantes. As pessoas sem memória são como navegadores sem bússola. Trata-se das piores maldições que existem. Em 1974, 1975 e 1976, para silenciar um grupo de intelectuais descontentes, um esforçado mas modesto professor primário foi promovido a Teórico do Marxismo, mas deixar-nos-ia em 1977."
Jeronimo Belo (in NJ, sobre a "actual onda de Kuduro")
Ver tambem:
http://koluki.blogspot.com/2010/07/2010-luanda-international-jazz-festival.html
http://koluki.blogspot.com/p/sobre-o-novo-jornal.html
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