Friday 27 August 2010

Mocambique: Relendo Samora pelo pincel de Naguib (I)

Num fim de tarde dedicado ao lazer, entre as tensas sessoes de trabalho das 'Reunioes Internacionais sobre Recursos Hidricos Partilhados', que tiveram lugar em Maputo em Novembro de 2003 (algumas imagens das quais podem ser vistas no slideshow deste post), o meu colega e amigo mocambicano Luis de Almeida levou-me a visitar uma exposicao de Naguib, no seu Espaco Artistico (Academia de Arte) - Galeria Joe Braganca.

Trata-se de um espaco de fazer inveja a qualquer artista, em qualquer parte do mundo - tanto pela sua localizacao, junto a Marginal da cidade, como pela concepcao espacial e arquitectonica - que logo me fez pensar, e disse-o na altura ao Luis, do quanto "o meu artista" da Humbi-Humbi em Luanda gostaria de o ter... [E isto transporta-me a uma certa tarde de domingo em Luanda, em que, com um certo poeta errante que ja' por aqui me vi compelida a designar "O Incrivel Svengali", nos dirigiamos, de maos dadas, a uma exposicao do Mestre Malangatana* na galeria da UNAP. Ao aproximarmo-nos do local, o Malangatana, que estava parado no largo em frente, ao ver-nos comecou a dirigir-se a nos e, falando para o poeta mas olhando para mim, disse sorridente: "estas muito bonito hoje!"]

Bom, regressando a Maputo e ao Espaco Artistico, eu e o Luis encontramos la' o Naguib, tambem em momento de lazer com a familia, que nos pediu que estivessemos a vontade apesar de, aquela hora, o espaco ja' estar encerrado ao publico. De la' trouxe o catalogo da sua exposicao patente na altura, "Samora Machel: Pensamento, Enxada e Sacrificio - Frases de Samora pelo pincel de Naguib", que contem tambem uma reportagem fotografica da visita de Samora a primeira exposicao individual de Naguib, em 1986, entitulada "Grito de Paz".

Nao me sendo possivel de momento, por razoes tecnicas, reproduzir aqui as imagens do catalogo, recorro a outras (representativas da obra de Naguib nos anos que se seguiram aquela exposicao de 2003) que, com a devida venia, fui tomar de emprestimo ao blog de Ricardo Riso, com quem ja' tivemos antes algum intercambio (aqui e aqui). Mas as frases de Samora que aqui reproduzo sao retiradas do catalogo.



Australírica numa variação de nyau, 2004


Promover a emancipacao da mulher, recuperar a sua dignidade, uma das fontes principais da batalha para uma autentica libertacao do nosso povo.


Exaltação lírica nas margens do Zambeze I, 2005


A emancipacao da mulher nao e' um acto de caridade, nao resulta duma posicao humanitaria ou de compaixao. No seio da sociedade, ela aparece como o ser mais oprimido, mais humilhado, mais explorado. Ela e' explorada ate' pelo explorado, batida pelo homem rasgado pela palmatoria, humilhada pelo homem esmagado pela bota do patrao e do colono.


Exaltação lírica nas margens do Zambeze II, 2005


O poder, as facilidades que rodeiam os governantes podem corromper facilmente o homem mais firme. Por isso queremos que vivam modestamente e com o povo. Nao facam da tarefa recebida um privilegio ou veiculo de acumular bens ou distribuir favores.


Efabulírica com todas as claves, 2004


O ignorante e' incompetente. O incompetente julga saber tudo.


Reinventário de manhã para amar sem medo III, 2005


Dominar a tecnica e a ciencia e' estudar e nao imitar.


Exaltação lírica nas margens do Zambeze III, 2005


A luta contra o subdesenvolvimento e' uma batalha cultural.


*[No inicio do catalogo, e' reproduzida uma carta de Naguib a Luis (Carlos Patraquim), entitulada "A Minha Sincera Opiniao", relativa a sua obra ate' entao, onde se podem ler os seguintes extractos: "(...) Foi uma investigacao literaria e nao vivida; tentei nao confundir-me com o Malangatana fazendo corpos inteiros, num emaranhado de espacos subdivididos por cores. Nao me agradou e como consequencia deixo os vazios 'as escuras, como estava a minha mente no momento." (sobre "Pranto de Mae Africa"); "(...) Gostaria de dar a cada obra mais profundidade tecnica que nao a encontro ca', nem no Malangatana. Onde ir beber isso ainda nao sei. E, e' claro, sem me esquecer da Luz que a meu ver ainda e' fraca." (sobre "Grito de Paz"); "(...) Portanto, recebi muitos louvores e felicitacoes, mas acabo de assumir uma carga bem pesada. Em suma, para nao te roubar mais tempo, tenho a dizer-te que so' me resta um caminho: trabalhar dez vezes mais. Percebes? Um abraco. Naguib - Maputo, 24 Abril/86."
Num fim de tarde dedicado ao lazer, entre as tensas sessoes de trabalho das 'Reunioes Internacionais sobre Recursos Hidricos Partilhados', que tiveram lugar em Maputo em Novembro de 2003 (algumas imagens das quais podem ser vistas no slideshow deste post), o meu colega e amigo mocambicano Luis de Almeida levou-me a visitar uma exposicao de Naguib, no seu Espaco Artistico (Academia de Arte) - Galeria Joe Braganca.

Trata-se de um espaco de fazer inveja a qualquer artista, em qualquer parte do mundo - tanto pela sua localizacao, junto a Marginal da cidade, como pela concepcao espacial e arquitectonica - que logo me fez pensar, e disse-o na altura ao Luis, do quanto "o meu artista" da Humbi-Humbi em Luanda gostaria de o ter... [E isto transporta-me a uma certa tarde de domingo em Luanda, em que, com um certo poeta errante que ja' por aqui me vi compelida a designar "O Incrivel Svengali", nos dirigiamos, de maos dadas, a uma exposicao do Mestre Malangatana* na galeria da UNAP. Ao aproximarmo-nos do local, o Malangatana, que estava parado no largo em frente, ao ver-nos comecou a dirigir-se a nos e, falando para o poeta mas olhando para mim, disse sorridente: "estas muito bonito hoje!"]

Bom, regressando a Maputo e ao Espaco Artistico, eu e o Luis encontramos la' o Naguib, tambem em momento de lazer com a familia, que nos pediu que estivessemos a vontade apesar de, aquela hora, o espaco ja' estar encerrado ao publico. De la' trouxe o catalogo da sua exposicao patente na altura, "Samora Machel: Pensamento, Enxada e Sacrificio - Frases de Samora pelo pincel de Naguib", que contem tambem uma reportagem fotografica da visita de Samora a primeira exposicao individual de Naguib, em 1986, entitulada "Grito de Paz".

Nao me sendo possivel de momento, por razoes tecnicas, reproduzir aqui as imagens do catalogo, recorro a outras (representativas da obra de Naguib nos anos que se seguiram aquela exposicao de 2003) que, com a devida venia, fui tomar de emprestimo ao blog de Ricardo Riso, com quem ja' tivemos antes algum intercambio (aqui e aqui). Mas as frases de Samora que aqui reproduzo sao retiradas do catalogo.



Australírica numa variação de nyau, 2004


Promover a emancipacao da mulher, recuperar a sua dignidade, uma das fontes principais da batalha para uma autentica libertacao do nosso povo.


Exaltação lírica nas margens do Zambeze I, 2005


A emancipacao da mulher nao e' um acto de caridade, nao resulta duma posicao humanitaria ou de compaixao. No seio da sociedade, ela aparece como o ser mais oprimido, mais humilhado, mais explorado. Ela e' explorada ate' pelo explorado, batida pelo homem rasgado pela palmatoria, humilhada pelo homem esmagado pela bota do patrao e do colono.


Exaltação lírica nas margens do Zambeze II, 2005


O poder, as facilidades que rodeiam os governantes podem corromper facilmente o homem mais firme. Por isso queremos que vivam modestamente e com o povo. Nao facam da tarefa recebida um privilegio ou veiculo de acumular bens ou distribuir favores.


Efabulírica com todas as claves, 2004


O ignorante e' incompetente. O incompetente julga saber tudo.


Reinventário de manhã para amar sem medo III, 2005


Dominar a tecnica e a ciencia e' estudar e nao imitar.


Exaltação lírica nas margens do Zambeze III, 2005


A luta contra o subdesenvolvimento e' uma batalha cultural.


*[No inicio do catalogo, e' reproduzida uma carta de Naguib a Luis (Carlos Patraquim), entitulada "A Minha Sincera Opiniao", relativa a sua obra ate' entao, onde se podem ler os seguintes extractos: "(...) Foi uma investigacao literaria e nao vivida; tentei nao confundir-me com o Malangatana fazendo corpos inteiros, num emaranhado de espacos subdivididos por cores. Nao me agradou e como consequencia deixo os vazios 'as escuras, como estava a minha mente no momento." (sobre "Pranto de Mae Africa"); "(...) Gostaria de dar a cada obra mais profundidade tecnica que nao a encontro ca', nem no Malangatana. Onde ir beber isso ainda nao sei. E, e' claro, sem me esquecer da Luz que a meu ver ainda e' fraca." (sobre "Grito de Paz"); "(...) Portanto, recebi muitos louvores e felicitacoes, mas acabo de assumir uma carga bem pesada. Em suma, para nao te roubar mais tempo, tenho a dizer-te que so' me resta um caminho: trabalhar dez vezes mais. Percebes? Um abraco. Naguib - Maputo, 24 Abril/86."

1 comment:

umBhalane said...

Tudo uma beleza - belo post, belas imagens, bela Dona.

Obrigado por tudo isso.