Saturday, 28 August 2010

Eu (tambem) Tenho Um Sonho...

Para assinalar a passagem de mais um aniversario do historico discurso de Martin Luther King, Jr. "I Have a Dream" ("Eu Tenho Um Sonho" - versao em portugues aqui), parece-me oportuno trazer para aqui uma carta sua dirigida a Deolinda Rodrigues em 1959.

Recebi-a por e-mail, nao me sendo possivel identificar a autoria do texto introdutorio, mas tendo conhecimento da passagem de Deolinda Rodrigues pelos EUA e das suas relacoes com instituicoes religiosas ligadas a luta pelos direitos civicos naquele pais, creio na sua autenticidade.

Infelizmente, passadas cinco decadas desde essa correspondencia, nao so' o Sonho de Luther King continua por se concretizar completamente nos EUA, como os ideais de dignificacao da Mulher Angolana, simbolizados na luta e sacrificio de Deolinda Rodrigues, entre outras martires da causa da independencia de Angola, continuam por se realizar na sua plenitude.

Pelo que, o (meu) Sonho, particularmente no que diz respeito aos direitos inalienaveis a vida, a liberdade e a busca de felicidade referidos por Martin Luther King, Jr. no seu "Dream", (tambem) continua vivo (por entre Sabores & Odores mais ou menos amargos)...


Aqui ficam o texto introdutorio e a carta:


Deolinda Rodrigues entrou para a História de Angola como mártir da luta armada de libertação nacional. Mas até à sua morte ela foi uma combatente da liberdade, dirigente do movimento revolucionário angolano e uma activista incansável dos direitos humanos. Esteve sempre na primeira linha no terreno da luta ao lado dos seus camaradas angolanos e teve contactos com figuras de relevo mundial, como o grande líder negro da luta pelos direitos civis nos Estados Unidos.

A grande líder revolucionária trocou correspondência com Martin Luther King no final dos anos 50, altura em que ele liderava no Alabama a luta contra a segregação racial e pelos direitos civis dos negros americanos. Na carta que a seguir publicamos, Luther King faz afirmações premonitórias. Sobretudo no que se refere à “vitória certa” dos angolanos, assim que tivessem um líder a quem seguir. Esse líder na altura da troca de correspondência estava preso. Era o jovem médico Agostinho Neto que apenas três anos depois guiou o povo angolano pelo “caminho das estrelas” até à liberdade e a independência nacional.

No dia 21 de Julho de 1959, da cidade de Montgmoery, no Alabama, Martin Luther King escrevia à heroína angolana:



Senhorita Deolinda Rodrigues

Muito lhe agradeço pela sua muito amável carta, de data recente. Li cada linha que me escreveu com grande interesse. É realmente encorajador saber do seu interesse na libertação do povo do seu país. Estou bastante contente em receber informação em primeira-mão sobre a situação em Angola. Tive notícias a partir de outras pessoas que vivem fora do país, mas não há nada melhor do que receber notícia em primeira-mão.

Parece que os portugueses são as pessoas mais lentas a largar mão das suas possessões em territórios estrangeiros. É lamentável que lhes falte a visão para se aperceberem do que está traçado para esses territórios. É sempre trágico ver um indivíduo ou uma nação tentando impedir ou parar uma irresistível onda.

Criar uma liderança

Não sei se posso dar-lhe alguma sugestão concreta sobre o que fazer na vossa particular situação, pois muitas vezes é necessário ver com os próprios olhos antes de poder dar uma resposta definitiva. Direi, contudo, que o primeiro passo para corrigir a situação é criar uma verdadeira liderança no seu País. Alguma entidade ou algumas poucas entidades devem posicionar-se como símbolos do vosso movimento para a independência.

Logo que tal símbolo seja encontrado não é difícil conseguir que as pessoas o sigam e quanto mais o opressor procurar deter e derrotar esse símbolo, tanto mais ele consolidará o movimento. Seria maravilhoso regressar ao seu país com esta ideia na mente:

A liberdade nunca é alcançada sem sofrimento e sacrifício. Só se conquista com trabalho persistente e incansáveis esforços de pessoas dedicadas.

A senhorita Deolinda Rodrigues deve também saber que aquilo que vem acontecendo noutros países de África terá inevitavelmente repercussões no seu país. Será impossível Angola permanecer em África, sem ser afectada por aquilo que acontece na Nigéria, no Quénia e na Rodésia (referia-se à Zâmbia, então chamada Rodésia do Norte). Portanto, a vossa verdadeira esperança reside no facto de que a independência será uma realidade em toda a África, dentro dos próximos anos.

Dirijo à senhorita Deolinda Rodrigues as minhas orações e os melhores votos de bênçãos de Deus, em tudo o que estiverem a fazer. Espero que os seus estudos continuem de maneira a serem frutíferos e compensadores. Em encomenda separada envio-lhe um exemplar do meu livro “Stride Toward Freedom”. Queira aceitá-lo como oferta minha. Espero que lhe venha a ser útil este meu humilde trabalho.

Muito sinceramente, me subscrevo

Martin Luther King, Jr.




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Still Dreaming After All These (40) Years
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Recebi-a por e-mail, nao me sendo possivel identificar a autoria do texto introdutorio, mas tendo conhecimento da passagem de Deolinda Rodrigues pelos EUA e das suas relacoes com instituicoes religiosas ligadas a luta pelos direitos civicos naquele pais, creio na sua autenticidade.

Infelizmente, passadas cinco decadas desde essa correspondencia, nao so' o Sonho de Luther King continua por se concretizar completamente nos EUA, como os ideais de dignificacao da Mulher Angolana, simbolizados na luta e sacrificio de Deolinda Rodrigues, entre outras martires da causa da independencia de Angola, continuam por se realizar na sua plenitude.

Pelo que, o (meu) Sonho, particularmente no que diz respeito aos direitos inalienaveis a vida, a liberdade e a busca de felicidade referidos por Martin Luther King, Jr. no seu "Dream", (tambem) continua vivo (por entre Sabores & Odores mais ou menos amargos)...


Aqui ficam o texto introdutorio e a carta:


Deolinda Rodrigues entrou para a História de Angola como mártir da luta armada de libertação nacional. Mas até à sua morte ela foi uma combatente da liberdade, dirigente do movimento revolucionário angolano e uma activista incansável dos direitos humanos. Esteve sempre na primeira linha no terreno da luta ao lado dos seus camaradas angolanos e teve contactos com figuras de relevo mundial, como o grande líder negro da luta pelos direitos civis nos Estados Unidos.

A grande líder revolucionária trocou correspondência com Martin Luther King no final dos anos 50, altura em que ele liderava no Alabama a luta contra a segregação racial e pelos direitos civis dos negros americanos. Na carta que a seguir publicamos, Luther King faz afirmações premonitórias. Sobretudo no que se refere à “vitória certa” dos angolanos, assim que tivessem um líder a quem seguir. Esse líder na altura da troca de correspondência estava preso. Era o jovem médico Agostinho Neto que apenas três anos depois guiou o povo angolano pelo “caminho das estrelas” até à liberdade e a independência nacional.

No dia 21 de Julho de 1959, da cidade de Montgmoery, no Alabama, Martin Luther King escrevia à heroína angolana:



Senhorita Deolinda Rodrigues

Muito lhe agradeço pela sua muito amável carta, de data recente. Li cada linha que me escreveu com grande interesse. É realmente encorajador saber do seu interesse na libertação do povo do seu país. Estou bastante contente em receber informação em primeira-mão sobre a situação em Angola. Tive notícias a partir de outras pessoas que vivem fora do país, mas não há nada melhor do que receber notícia em primeira-mão.

Parece que os portugueses são as pessoas mais lentas a largar mão das suas possessões em territórios estrangeiros. É lamentável que lhes falte a visão para se aperceberem do que está traçado para esses territórios. É sempre trágico ver um indivíduo ou uma nação tentando impedir ou parar uma irresistível onda.

Criar uma liderança

Não sei se posso dar-lhe alguma sugestão concreta sobre o que fazer na vossa particular situação, pois muitas vezes é necessário ver com os próprios olhos antes de poder dar uma resposta definitiva. Direi, contudo, que o primeiro passo para corrigir a situação é criar uma verdadeira liderança no seu País. Alguma entidade ou algumas poucas entidades devem posicionar-se como símbolos do vosso movimento para a independência.

Logo que tal símbolo seja encontrado não é difícil conseguir que as pessoas o sigam e quanto mais o opressor procurar deter e derrotar esse símbolo, tanto mais ele consolidará o movimento. Seria maravilhoso regressar ao seu país com esta ideia na mente:

A liberdade nunca é alcançada sem sofrimento e sacrifício. Só se conquista com trabalho persistente e incansáveis esforços de pessoas dedicadas.

A senhorita Deolinda Rodrigues deve também saber que aquilo que vem acontecendo noutros países de África terá inevitavelmente repercussões no seu país. Será impossível Angola permanecer em África, sem ser afectada por aquilo que acontece na Nigéria, no Quénia e na Rodésia (referia-se à Zâmbia, então chamada Rodésia do Norte). Portanto, a vossa verdadeira esperança reside no facto de que a independência será uma realidade em toda a África, dentro dos próximos anos.

Dirijo à senhorita Deolinda Rodrigues as minhas orações e os melhores votos de bênçãos de Deus, em tudo o que estiverem a fazer. Espero que os seus estudos continuem de maneira a serem frutíferos e compensadores. Em encomenda separada envio-lhe um exemplar do meu livro “Stride Toward Freedom”. Queira aceitá-lo como oferta minha. Espero que lhe venha a ser útil este meu humilde trabalho.

Muito sinceramente, me subscrevo

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