Friday 6 August 2010

Olhares Diversos (XX)

A Probidade e o Erro

Por Jose' Ribeiro


A Lei da Probidade foi saudada por toda a gente, até por aqueles que não têm uma conduta proba e honrada. Alguns sectores da nossa sociedade aplaudiram a medida porque, dizem, vai haver maior controlo dos dinheiros públicos e vão diminuir os casos de corrupção. É tudo verdade, mas apenas uma ínfima parte do que deve ser a dimensão dessa verdade.



A probidade aplica-se a todos os cidadãos, é um pressuposto e, em rigor, se todos fôssemos probos e honrados, a lei não tinha sequer razão de ser. Mas não é apenas desonesto aquele que esbanja fundos públicos ou se serve dos bens do Estado em proveito próprio. Esse é o fim da linha. Pelo meio há gestos e atitudes que marcam a fronteira entre quem é probo e não o é, entre quem vive no interior das fronteiras da honra e da dignidade e quem se coloca deliberadamente fora desse espaço que é o habitat das pessoas bem formadas e com princípios.

Não é probo aquele que se refugia no “errar é humano” para justificar a sua incompetência ou até deslealdade. Porque o erro tem uma escala de valores. Um automobilista estaciona mal a sua viatura e o agente de trânsito pode perfeitamente perdoar-lhe esse erro. Mas se for apanhado em excesso de velocidade, o erro já não merece perdão, porque pode causar graves prejuízos a quem errou e a terceiros que são inocentes. O erro de estacionamento proibido é pago com uma multa. O erro de excesso de velocidade muitas vezes é pago com a vida. Já não há margem para corrigi-lo.

O erro vive de mãos dadas com os jornalistas, por isso é que o rigor é um critério distintivo do jornalismo. Errar no jornalismo pode criar gravíssimos problemas à sociedade ou pode ser apenas um “fait-divers”. Mas, em qualquer caso, exige-se de todos os profissionais o exercício permanente de um grande rigor, para reduzir a zero a margem de erro. Pior estão os que trabalham em situações de alto risco. O mínimo erro pode custar-lhes amputações e até a morte. Esses dificilmente ficam em condições de invocar o “errar é humano”.

Faltar dias seguidos ao trabalho sem qualquer justificação é desonesto. Mais desonesto ainda é depois justificar essas faltas com falsificações. A probidade, nestes casos, é desrespeitada. Há trabalhadores de empresas que só são vistos no dia em que vão ao banco levantar o salário. Não são probos nem trabalhadores. Os que têm responsabilidades que não assumem e estão investidos em cargos que não exercem são desonestos, ainda que as benesses dos cargos dêem fatos e gravatas, carros e moradias, que garantem uma imagem pública de respeitabilidade. Viver à custa do trabalho alheio não é probo, não é honesto e revela uma chocante falta de princípios. Até revela falta de patriotismo, porque nesta fase o nosso país precisa muito de quem trabalhe e não de quem ande a parasitar o Orçamento de Estado.

O nosso país tem em vigor a Lei da Probidade. Espero que todos os angolanos a cumpram e vivam em conformidade e no respeito pelos princípios da honra e da dignidade. Ser mau profissional é pouco ou nada probo. Ser mau cidadão é indecoroso e condenável. Fazer das nossas repartições públicas e das nossas empresas espaços de lazer ou caixas de financiamento de vícios privados, sobretudo de quem nem sequer apresenta públicas virtudes, cai sob a alçada da lei.

A deslealdade para com os nossos colegas, chefes e até para com os nossos governantes, é uma desonestidade. Não é probo aquele que a troco de umas avenças ou de “comissões” atenta contra o seu país, seja em que sector da vida nacional for. E há empresários que o fazem. Existem profissionais – incluindo no jornalismo – que se arrogam de fazer render deslealdades e desonras, a troco de nada. Vender a honra é sempre um mau negócio. Porque quem a compra não pode fazer nada com ela e quem a vende fica irremediavelmente mais pobre, ainda que confortado com um prato de lentilhas que depressa desaparece na voragem dos dias.

Angola precisa de probidade e de honra, a todos os níveis. Ninguém pense que a Lei da Probidade só se aplica aos políticos ou aos titulares dos órgãos de soberania. Nem pensar. Aplica-se a todos, desde o mais humilde funcionário do Estado ao representante da sociedade civil e da Igreja. É altura de todos fazermos um balanço das nossas vidas. Os que concluírem que deram tudo pelo engrandecimento do país e fizeram o que podiam pelo bem comum são probos e nem sequer precisam de pensar na Lei da Probidade. Os que não encontrarem nas suas vidas motivos de que se orgulhem pelo que fizeram pela sociedade e pelo país é melhor começarem a cumprir a lei.

Ainda vamos a tempo de sermos cidadãos de corpo inteiro.


[Aqui]
A Probidade e o Erro

Por Jose' Ribeiro


A Lei da Probidade foi saudada por toda a gente, até por aqueles que não têm uma conduta proba e honrada. Alguns sectores da nossa sociedade aplaudiram a medida porque, dizem, vai haver maior controlo dos dinheiros públicos e vão diminuir os casos de corrupção. É tudo verdade, mas apenas uma ínfima parte do que deve ser a dimensão dessa verdade.



A probidade aplica-se a todos os cidadãos, é um pressuposto e, em rigor, se todos fôssemos probos e honrados, a lei não tinha sequer razão de ser. Mas não é apenas desonesto aquele que esbanja fundos públicos ou se serve dos bens do Estado em proveito próprio. Esse é o fim da linha. Pelo meio há gestos e atitudes que marcam a fronteira entre quem é probo e não o é, entre quem vive no interior das fronteiras da honra e da dignidade e quem se coloca deliberadamente fora desse espaço que é o habitat das pessoas bem formadas e com princípios.

Não é probo aquele que se refugia no “errar é humano” para justificar a sua incompetência ou até deslealdade. Porque o erro tem uma escala de valores. Um automobilista estaciona mal a sua viatura e o agente de trânsito pode perfeitamente perdoar-lhe esse erro. Mas se for apanhado em excesso de velocidade, o erro já não merece perdão, porque pode causar graves prejuízos a quem errou e a terceiros que são inocentes. O erro de estacionamento proibido é pago com uma multa. O erro de excesso de velocidade muitas vezes é pago com a vida. Já não há margem para corrigi-lo.

O erro vive de mãos dadas com os jornalistas, por isso é que o rigor é um critério distintivo do jornalismo. Errar no jornalismo pode criar gravíssimos problemas à sociedade ou pode ser apenas um “fait-divers”. Mas, em qualquer caso, exige-se de todos os profissionais o exercício permanente de um grande rigor, para reduzir a zero a margem de erro. Pior estão os que trabalham em situações de alto risco. O mínimo erro pode custar-lhes amputações e até a morte. Esses dificilmente ficam em condições de invocar o “errar é humano”.

Faltar dias seguidos ao trabalho sem qualquer justificação é desonesto. Mais desonesto ainda é depois justificar essas faltas com falsificações. A probidade, nestes casos, é desrespeitada. Há trabalhadores de empresas que só são vistos no dia em que vão ao banco levantar o salário. Não são probos nem trabalhadores. Os que têm responsabilidades que não assumem e estão investidos em cargos que não exercem são desonestos, ainda que as benesses dos cargos dêem fatos e gravatas, carros e moradias, que garantem uma imagem pública de respeitabilidade. Viver à custa do trabalho alheio não é probo, não é honesto e revela uma chocante falta de princípios. Até revela falta de patriotismo, porque nesta fase o nosso país precisa muito de quem trabalhe e não de quem ande a parasitar o Orçamento de Estado.

O nosso país tem em vigor a Lei da Probidade. Espero que todos os angolanos a cumpram e vivam em conformidade e no respeito pelos princípios da honra e da dignidade. Ser mau profissional é pouco ou nada probo. Ser mau cidadão é indecoroso e condenável. Fazer das nossas repartições públicas e das nossas empresas espaços de lazer ou caixas de financiamento de vícios privados, sobretudo de quem nem sequer apresenta públicas virtudes, cai sob a alçada da lei.

A deslealdade para com os nossos colegas, chefes e até para com os nossos governantes, é uma desonestidade. Não é probo aquele que a troco de umas avenças ou de “comissões” atenta contra o seu país, seja em que sector da vida nacional for. E há empresários que o fazem. Existem profissionais – incluindo no jornalismo – que se arrogam de fazer render deslealdades e desonras, a troco de nada. Vender a honra é sempre um mau negócio. Porque quem a compra não pode fazer nada com ela e quem a vende fica irremediavelmente mais pobre, ainda que confortado com um prato de lentilhas que depressa desaparece na voragem dos dias.

Angola precisa de probidade e de honra, a todos os níveis. Ninguém pense que a Lei da Probidade só se aplica aos políticos ou aos titulares dos órgãos de soberania. Nem pensar. Aplica-se a todos, desde o mais humilde funcionário do Estado ao representante da sociedade civil e da Igreja. É altura de todos fazermos um balanço das nossas vidas. Os que concluírem que deram tudo pelo engrandecimento do país e fizeram o que podiam pelo bem comum são probos e nem sequer precisam de pensar na Lei da Probidade. Os que não encontrarem nas suas vidas motivos de que se orgulhem pelo que fizeram pela sociedade e pelo país é melhor começarem a cumprir a lei.

Ainda vamos a tempo de sermos cidadãos de corpo inteiro.


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