Respect Your Mom! – le-se no cartaz em foco nestas imagens...
... Mas… nao e’ o direito a ser-se respeitada pelo/as seus/suas filho/as um direito naturalmente adquirido por qualquer mae?! Porque entao a necessidade (convenhamos que in extremis e um tanto caricaturalmente neste caso) de se conquistar esse direito atraves de manifestacoes de rua?
A minha mae, que, malgre tout, em grande medida julgo merecer o titulo - com tudo o que ele comporta de positivo e de negativo - de feministe avant la lettre (e… nao, apesar de usar oculos, ela nao teve que ler o “Segundo Sexo” da De Beauvoir para o ser… e’ que… para o bem ou para o mal, a minha mae nasceu Mulher… e tanto ela como os seus 'deuses', cuidaram de que toda a sua progenitura nascesse nessa condicao… algo que alguem designou “condicao feminina”…), em certa ocasiao, fez reverberar por muito tempo em nossa casa esta curta, mas incisiva, conjugacao de palavras: "direitos adquiridos"! Tinha-as proferido repetidamente enquanto, andando compassadamente para a frente e para tras, calcava com uns certos sapatos de salto alto [... por sinal, os mesmos que eu calçara para uma homenagem conjunta da UEA e da UNAP, na sede desta em Luanda, a Agostinho Neto, em que eu e a Paula Tavares fomos "encarregues" de ler dois dos seus poemas - eu apresentei (nao, nao "declamei" porque nao tenho o menor geito para tal arte), se estou bem lembrada (e nao me lembro mesmo de qual foi o que ficou a cargo da Paula Tavares), o poema Criar; ... por sinal, ainda os mesmos que eu calçara na sessao solene de abertura do primeiro congresso do "Movimento da Claridade", em 1988, no Mindelo, Cabo Verde, onde, a seguir a minha breve e humilde intervencao, Mario Pinto de Andrade - aquele que havia, a seu tempo, frequentado alguns dos mesmos circulos de Sartre e Simone de Beauvoir - levantou-se do seu lugar e veio apertar-me a mao e dar-me um abraco, como o unico Angolano presente para alem de mim, num gesto saudado comovidamente pela assistencia, que incluia o entao Presidente de Cabo Verde, Aristides Pereira...] o chao de uma reparticao publica em Portugal que lhe tentara negar alguns de tais direitos enquanto funcionaria publica durante muitos anos…
A Constituicao dos EUA (tomada apenas a titulo de exemplo, porque outras constituicoes, proclamacoes, convencoes, resolucoes, declaracoes, acordos, protocolos e decisoes em todo o mundo, tanto a nivel nacional como internacional, poderiam aqui ser usados com o mesmo efeito…) proclama ha’ mais de dois seculos a “igualdade de direitos entre todos os seus cidadaos”, na base do principio de que “todos os homens nascem iguais” (… e nao, nao diz nada sobre se esses “homens” incluem ou nao as “mulheres”, nem se estas foram ou nao "feitas a partir da costela de Adao"…). Mais proclama tal Constituicao o direito a vida como um “direito inalienavel de todos os homens” (… va’ la’, entendamo-lo complacentemente como querendo significar “(seres) humanos”…). E esses direitos fundamentais sao complementados por varios outros na sua Bill of Rights (ou "Carta de Direitos"... e ja' que passamos por 'Adao e Eva', convem notar-se que a Bill of Rights e' integrada pelos primeiros 10 Amendments a Constituicao, que e' como quem diz pelos seus "10 Mandamentos".
- No entanto, ao longo dos seculos desde a sua adopcao, tais proclamacoes nao impediram os EUA de continuarem a aplicar a pena de morte em alguns dos seus estados, ou de fazerem e promoverem guerras dentro e fora das suas fronteiras, violando assim, entre outros, o direito a vida…
- No entanto, mais de um seculo depois de tais proclamacoes, as mulheres brancas continuavam a lutar pela conquista do seu direito ao voto…
- No entanto, ao longo dos mais de dois seculos que se seguiram a tais proclamacoes, os negros nos EUA continuaram a ter que lutar pelo seu direito a liberdade, contra a escravidao, o espancamento, o linchamento, ou o segregacionismo e pela conquista dos seus direitos civicos e politicos, incluindo o direito ao voto, entretanto ja' conquistado pelas mulheres brancas…
- No entanto, quase tres seculos depois de tais proclamacoes, as mulheres negras (...‘pobres e insignificantes, verdes e doentes criaturas rejeitadas, vomitos que se deveriam suicidar em grande estilo ou serem esquartejadas a catanada’ que, ademais, ‘nao nasceram mulheres e ainda nao sabem, porque nao leram De Beauvoir, como se fazer mulheres, pelo que lhes convem saberem sempre o que lhes espera'?...) continuam a ter, na sua esmagadora maioria, um estatuto familiar, social e economico inferior ao da esmagadora maioria das mulheres brancas… E tais mulheres negras continuam (e nao so’ nos EUA…) a ter que lutar de varias formas pela conquista do direito a igualdade (ou, no minimo, equidade ou paridade) de estatuto e tratamento nao so’ em relacao aos homens de todas as racas (e nao… nao necessaria, nem exclusivamente, atraves de “quotas” ou de qualquer outro tipo do que alguem designou “discriminacao positiva” - como alias ja' o afirmei repetidamente em varios lugares como, por exemplo, nos comentarios a este e a este posts), como tambem em relacao as mulheres brancas (yes, not all women are "the niggers of the world"!)…
- No entanto, quase tres seculos depois de tais proclamacoes, mulheres de todas as racas, em todo o mundo, continuam a lutar pelo direito a igualdade de oportunidades em todas as esferas da vida social e por salarios e direitos laborais iguais aos dos homens…
Ora, porque tudo isso?
Simplesmente porque nunca existiu coisa alguma no mundo chamada “direito natural”… Todos os “direitos” em sociedade teem que ser “conquistados”! E mesmo depois de conquistados teem que ser transformados em direitos de facto e nao apenas de jure – dai que se tenha que falar em “direitos e garantias” e, logo de seguida, em "implementacao" dessas garantias…
So’ nao o percebe quem sempre teve “direitos dados de bandeja” – geralmente por via do p(h)oder que lhes e’ conferido, seja pela raca, cor de pele, casta, credo, etnia ou genero, seja pelo seu estatuto social, economico ou politico –, que, muito leviana e ligeiramente, diga-se, tomam como “direitos naturais” de “todo o mundo”…
Mas… talvez se perceba numa certa Africa (e num certo mundo) ainda!
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Sex, Lies & Stereotypes
Bocas Intelectualoides
Mulheres de Domingo
Poder no Feminino
A Orgia
*[A proposito desta boutade - ou, talvez melhor dito, desta blonde joke (mais uma!) que li num certo tugurio de patetices alegres: "Igualdade por direito e não conquistada!"]
... Mas… nao e’ o direito a ser-se respeitada pelo/as seus/suas filho/as um direito naturalmente adquirido por qualquer mae?! Porque entao a necessidade (convenhamos que in extremis e um tanto caricaturalmente neste caso) de se conquistar esse direito atraves de manifestacoes de rua?
A minha mae, que, malgre tout, em grande medida julgo merecer o titulo - com tudo o que ele comporta de positivo e de negativo - de feministe avant la lettre (e… nao, apesar de usar oculos, ela nao teve que ler o “Segundo Sexo” da De Beauvoir para o ser… e’ que… para o bem ou para o mal, a minha mae nasceu Mulher… e tanto ela como os seus 'deuses', cuidaram de que toda a sua progenitura nascesse nessa condicao… algo que alguem designou “condicao feminina”…), em certa ocasiao, fez reverberar por muito tempo em nossa casa esta curta, mas incisiva, conjugacao de palavras: "direitos adquiridos"! Tinha-as proferido repetidamente enquanto, andando compassadamente para a frente e para tras, calcava com uns certos sapatos de salto alto [... por sinal, os mesmos que eu calçara para uma homenagem conjunta da UEA e da UNAP, na sede desta em Luanda, a Agostinho Neto, em que eu e a Paula Tavares fomos "encarregues" de ler dois dos seus poemas - eu apresentei (nao, nao "declamei" porque nao tenho o menor geito para tal arte), se estou bem lembrada (e nao me lembro mesmo de qual foi o que ficou a cargo da Paula Tavares), o poema Criar; ... por sinal, ainda os mesmos que eu calçara na sessao solene de abertura do primeiro congresso do "Movimento da Claridade", em 1988, no Mindelo, Cabo Verde, onde, a seguir a minha breve e humilde intervencao, Mario Pinto de Andrade - aquele que havia, a seu tempo, frequentado alguns dos mesmos circulos de Sartre e Simone de Beauvoir - levantou-se do seu lugar e veio apertar-me a mao e dar-me um abraco, como o unico Angolano presente para alem de mim, num gesto saudado comovidamente pela assistencia, que incluia o entao Presidente de Cabo Verde, Aristides Pereira...] o chao de uma reparticao publica em Portugal que lhe tentara negar alguns de tais direitos enquanto funcionaria publica durante muitos anos…
A Constituicao dos EUA (tomada apenas a titulo de exemplo, porque outras constituicoes, proclamacoes, convencoes, resolucoes, declaracoes, acordos, protocolos e decisoes em todo o mundo, tanto a nivel nacional como internacional, poderiam aqui ser usados com o mesmo efeito…) proclama ha’ mais de dois seculos a “igualdade de direitos entre todos os seus cidadaos”, na base do principio de que “todos os homens nascem iguais” (… e nao, nao diz nada sobre se esses “homens” incluem ou nao as “mulheres”, nem se estas foram ou nao "feitas a partir da costela de Adao"…). Mais proclama tal Constituicao o direito a vida como um “direito inalienavel de todos os homens” (… va’ la’, entendamo-lo complacentemente como querendo significar “(seres) humanos”…). E esses direitos fundamentais sao complementados por varios outros na sua Bill of Rights (ou "Carta de Direitos"... e ja' que passamos por 'Adao e Eva', convem notar-se que a Bill of Rights e' integrada pelos primeiros 10 Amendments a Constituicao, que e' como quem diz pelos seus "10 Mandamentos".
- No entanto, ao longo dos seculos desde a sua adopcao, tais proclamacoes nao impediram os EUA de continuarem a aplicar a pena de morte em alguns dos seus estados, ou de fazerem e promoverem guerras dentro e fora das suas fronteiras, violando assim, entre outros, o direito a vida…
- No entanto, mais de um seculo depois de tais proclamacoes, as mulheres brancas continuavam a lutar pela conquista do seu direito ao voto…
- No entanto, ao longo dos mais de dois seculos que se seguiram a tais proclamacoes, os negros nos EUA continuaram a ter que lutar pelo seu direito a liberdade, contra a escravidao, o espancamento, o linchamento, ou o segregacionismo e pela conquista dos seus direitos civicos e politicos, incluindo o direito ao voto, entretanto ja' conquistado pelas mulheres brancas…
- No entanto, quase tres seculos depois de tais proclamacoes, as mulheres negras (...‘pobres e insignificantes, verdes e doentes criaturas rejeitadas, vomitos que se deveriam suicidar em grande estilo ou serem esquartejadas a catanada’ que, ademais, ‘nao nasceram mulheres e ainda nao sabem, porque nao leram De Beauvoir, como se fazer mulheres, pelo que lhes convem saberem sempre o que lhes espera'?...) continuam a ter, na sua esmagadora maioria, um estatuto familiar, social e economico inferior ao da esmagadora maioria das mulheres brancas… E tais mulheres negras continuam (e nao so’ nos EUA…) a ter que lutar de varias formas pela conquista do direito a igualdade (ou, no minimo, equidade ou paridade) de estatuto e tratamento nao so’ em relacao aos homens de todas as racas (e nao… nao necessaria, nem exclusivamente, atraves de “quotas” ou de qualquer outro tipo do que alguem designou “discriminacao positiva” - como alias ja' o afirmei repetidamente em varios lugares como, por exemplo, nos comentarios a este e a este posts), como tambem em relacao as mulheres brancas (yes, not all women are "the niggers of the world"!)…
- No entanto, quase tres seculos depois de tais proclamacoes, mulheres de todas as racas, em todo o mundo, continuam a lutar pelo direito a igualdade de oportunidades em todas as esferas da vida social e por salarios e direitos laborais iguais aos dos homens…
Ora, porque tudo isso?
Simplesmente porque nunca existiu coisa alguma no mundo chamada “direito natural”… Todos os “direitos” em sociedade teem que ser “conquistados”! E mesmo depois de conquistados teem que ser transformados em direitos de facto e nao apenas de jure – dai que se tenha que falar em “direitos e garantias” e, logo de seguida, em "implementacao" dessas garantias…
So’ nao o percebe quem sempre teve “direitos dados de bandeja” – geralmente por via do p(h)oder que lhes e’ conferido, seja pela raca, cor de pele, casta, credo, etnia ou genero, seja pelo seu estatuto social, economico ou politico –, que, muito leviana e ligeiramente, diga-se, tomam como “direitos naturais” de “todo o mundo”…
Mas… talvez se perceba numa certa Africa (e num certo mundo) ainda!
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The Burden of The Black Woman
Mulheres a Preto e Branco
Sex, Lies & Stereotypes
Bocas Intelectualoides
Mulheres de Domingo
Poder no Feminino
A Orgia
*[A proposito desta boutade - ou, talvez melhor dito, desta blonde joke (mais uma!) que li num certo tugurio de patetices alegres: "Igualdade por direito e não conquistada!"]
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