Saturday 7 August 2010

ARIA by GROVER WASHINGTON, JR [R]*



*[Retomo hoje este post - first published 11/01/07 - por duas razoes: i) me parecer apropriado numa altura em que a musica, nas suas mais diversas vertentes, parece estar na ordem do dia em alguns circulos blogosfericos e jornalisticos (em particular depois da mais recente edicao do Luanda International Jazz Festival); ii) ja' me ser possivel colocar aqui as faixas do album originalmente mencionadas.]



“I started as a classical musician, and this album is something I’ve wanted to make for years. In many ways, I feel I’ve now come full circle in my music.”
- Grover Washington, Jr. -



Este e’ um daqueles albums que, para mim, tem a caracteristica particular de apelar tanto pelo seu conteudo, como pelas circunstancias da sua publicacao em 2000, pouco depois do falecimento subito e precoce de Grover Washington, Jr. em Dezembro de 1999, aos 56 anos de idade. Por isso trago-o aqui ao Spirited Sounds.

Grover, que recebeu a sua primeira licao de saxofone do seu pai, definia a sua musica como “pequenas estorias sem palavras”. Mas, para mim, nunca antes deste Aria tinha tal definicao sido tao bem expressa na sua carreira musical (que contou entre os seus pontos altos com uma celebre ‘jam session’ com o ex-Presidente Bill Clinton e alguns dos maiores nomes do Jazz como Herbie Hancock e Wynton Marsalis).

O album e’ composto totalmente de arias de algumas das mais conhecidas obras do reportorio operatico, mas sem a sua oratoria: precisamente, pequenas estorias sem palavras… Confesso que nunca fui uma particular apreciadora do genero operatico (talvez pelas mesmas razoes porque nunca fui uma particular apreciadora dos consagrados musicais londrinos...) e que foram sempre as arias que funcionaram como o “canto da sereia” para me atrair a qualquer opera – a este proposito, lembro-me de em 1991 ter ido, no que foi a minha primeira e unica ida a opera, ao New York Metropolitan Opera (onde, como se nao bastasse ser praticamente a unica negra, tive o "descaramento" de ir de jeans…) assistir a “La Traviatta”, tendo saido de la' menos entusiasmada do que era suposto …



Pois este album (do qual infelizmente nao posso colocar aqui nenhuma das peças... o que tambem tem o seu lado positivo porque podemos ouvir, em sua substituicao, algumas das arias incluidas no album nas suas versoes cantadas) tem a particularidade de funcionar perfeitamente para mim: abre precisamente com o perfeito canto da sereia, uma das minhas arias preferidas, ‘Je Crois Entendre Encore’, do “Les Pecheurs de Perles” de Bizet. Aprendi a cantar de cor essa aria (uma das duas que sei cantar de cor; a outra e’ a popular ‘Nesum Dorma’ de Puccini) ha varios anos, ouvindo e acompanhando a versao, em Italiano, do Ney Matogrosso no seu album “Pescador de Perolas” (1986) …



[Je Crois Entendre Encore - from Bizet's The Pearlfishers]


Depois, ha' uma em particular que, em qualquer circunstancia, nao posso contornar, just for the sheer pleasure of listening to it, esta:


[E Lucevan Le Stelle - from Puccini's Tosca]


Mas ha outra razao que me faz trazer Aria a este espaco: a relacao, algo polemica, entre o dito “Jazz” e a dita “Musica Classica”. A questao e’ sempre: onde, quando e como se separam as aguas entre os dois, para alem dos evidentes “marcadores” da improvisacao no primeiro e da rigorosa codificacao no segundo? Nao sei se alguem ja conseguiu dar uma resposta convincente a essa questao (vide, por exemplo, o que disse Nina Simone sobre o assunto…), mas, como dizem os Ingleses, “the proof is in the pudding”!


[My Man's Gone Now - from Gershwin's Porgy & Bess]

E o 'pudding' podem ser varias das obras do Miles ou, mais obviamente ainda, muitas das dos manos Wynton e Branford Marsalis… Anyway, oucamos como soam duas das arias da opera 'Porgy and Bess' nas suas versoes "jazzisticas" (a comecar por uma interpretacao do Grover nao incluida em Aria - a que vem incluida e' o My Man's Gone Now. A versao cantada do I Loves You Porgy pela Nina tambem pode ser ouvida atraves do link acima) e depois vejamos o que teem a dizer os experts:


“As Grover Washington, Jr. sees it, the lines between jazz soloist and opera singer are not as clear-cut as one might imagine. Opera is a musical genre that depends on narration, and Grover views his role as soloist -- be it here, or on one of his many celebrated jazz recordings -- as an impassioned narrator. In both cases, Grover says, "You're just trying to tell a story."


[Pourquoi Me Reveiller? - from Massenet's Werther]

Consider the case of Werther, an opera by Massenet, based on a novel by Goethe. Werther is the quintessential Romantic hero, and nowhere in the opera does Massenet come closer to Goethe's Romantic ideal than in "Pourquoi me reveiller?" ("Why do you wake me?"), an aria full of foreboding and sorrow. In Grover's hands, and supported by Robert Freedman's fine and spacious arrangement, the blues within the aria are revealed.


[O Mio Babbino Caro - from Puccini's Gianni Schicchi]

Grover is the ideal narrator for the stories on Aria. Performing here on soprano, alto, tenor and baritone saxophones, Grover draws upon his artistry as a melodist to capture the emotion and spirit of a dozen of opera's most beautiful arias, from Puccini's "O mio babbino caro" (Gianni Schicchi) to Delibes' "Flower Duet" (Lakme), all with a sensibility that is very much of our day.


[Flower Duet - from Delibes' Lakme']

And yet Aria is not simply a crossing over, any more than Miles Davis' and Gil Evans' exploration of Gershwin's Porgy and Bess was simply a cooled-up version of the opera. In Aria, Grover Washington, Jr. takes the rich breadth of feeling inherent in twelve extraordinary tunes, not so much translating them into the jazz idiom as revealing them for what they are -- gorgeous, transcendent melodies that speak as clearly through the bell of a saxophone as through the human voice.” (Jackson Braider)

“Grover's brilliant career had its foundation in the fusion of genres. Along with his inimitable sound and style, his music was most celebrated for its signature synthesis of jazz and rhythm & blues. Aria marked a fusion of another kind for Grover, one both new and natural to him, and one he was eager to share. Sadly, it was the last album he was to make, completed just four months to the day before his untimely death.


[Vissi d'Arte - from Puccini's Tosca]

While the album may strike many listeners as an unexpected departure, it in fact completes a circle which began when Grover first studied music -- classical music -- at Buffalo's Wurlitzer School of Music. Classical music remained his first love. (…) Genres aside, Grover's music was always essentially about one thing -- heart. It was the (un)common denominator that defined his life's work. Puccini's magnificent soprano aria from his opera Tosca begins, "Vissi d'arte, vissi d'amore" ("I lived for art, I lived for love"). Grover Washington, Jr. did just that.” (Laraine Perri)



*[Retomo hoje este post - first published 11/01/07 - por duas razoes: i) me parecer apropriado numa altura em que a musica, nas suas mais diversas vertentes, parece estar na ordem do dia em alguns circulos blogosfericos e jornalisticos (em particular depois da mais recente edicao do Luanda International Jazz Festival); ii) ja' me ser possivel colocar aqui as faixas do album originalmente mencionadas.]



“I started as a classical musician, and this album is something I’ve wanted to make for years. In many ways, I feel I’ve now come full circle in my music.”
- Grover Washington, Jr. -



Este e’ um daqueles albums que, para mim, tem a caracteristica particular de apelar tanto pelo seu conteudo, como pelas circunstancias da sua publicacao em 2000, pouco depois do falecimento subito e precoce de Grover Washington, Jr. em Dezembro de 1999, aos 56 anos de idade. Por isso trago-o aqui ao Spirited Sounds.

Grover, que recebeu a sua primeira licao de saxofone do seu pai, definia a sua musica como “pequenas estorias sem palavras”. Mas, para mim, nunca antes deste Aria tinha tal definicao sido tao bem expressa na sua carreira musical (que contou entre os seus pontos altos com uma celebre ‘jam session’ com o ex-Presidente Bill Clinton e alguns dos maiores nomes do Jazz como Herbie Hancock e Wynton Marsalis).

O album e’ composto totalmente de arias de algumas das mais conhecidas obras do reportorio operatico, mas sem a sua oratoria: precisamente, pequenas estorias sem palavras… Confesso que nunca fui uma particular apreciadora do genero operatico (talvez pelas mesmas razoes porque nunca fui uma particular apreciadora dos consagrados musicais londrinos...) e que foram sempre as arias que funcionaram como o “canto da sereia” para me atrair a qualquer opera – a este proposito, lembro-me de em 1991 ter ido, no que foi a minha primeira e unica ida a opera, ao New York Metropolitan Opera (onde, como se nao bastasse ser praticamente a unica negra, tive o "descaramento" de ir de jeans…) assistir a “La Traviatta”, tendo saido de la' menos entusiasmada do que era suposto …



Pois este album (do qual infelizmente nao posso colocar aqui nenhuma das peças... o que tambem tem o seu lado positivo porque podemos ouvir, em sua substituicao, algumas das arias incluidas no album nas suas versoes cantadas) tem a particularidade de funcionar perfeitamente para mim: abre precisamente com o perfeito canto da sereia, uma das minhas arias preferidas, ‘Je Crois Entendre Encore’, do “Les Pecheurs de Perles” de Bizet. Aprendi a cantar de cor essa aria (uma das duas que sei cantar de cor; a outra e’ a popular ‘Nesum Dorma’ de Puccini) ha varios anos, ouvindo e acompanhando a versao, em Italiano, do Ney Matogrosso no seu album “Pescador de Perolas” (1986) …



[Je Crois Entendre Encore - from Bizet's The Pearlfishers]


Depois, ha' uma em particular que, em qualquer circunstancia, nao posso contornar, just for the sheer pleasure of listening to it, esta:


[E Lucevan Le Stelle - from Puccini's Tosca]


Mas ha outra razao que me faz trazer Aria a este espaco: a relacao, algo polemica, entre o dito “Jazz” e a dita “Musica Classica”. A questao e’ sempre: onde, quando e como se separam as aguas entre os dois, para alem dos evidentes “marcadores” da improvisacao no primeiro e da rigorosa codificacao no segundo? Nao sei se alguem ja conseguiu dar uma resposta convincente a essa questao (vide, por exemplo, o que disse Nina Simone sobre o assunto…), mas, como dizem os Ingleses, “the proof is in the pudding”!


[My Man's Gone Now - from Gershwin's Porgy & Bess]

E o 'pudding' podem ser varias das obras do Miles ou, mais obviamente ainda, muitas das dos manos Wynton e Branford Marsalis… Anyway, oucamos como soam duas das arias da opera 'Porgy and Bess' nas suas versoes "jazzisticas" (a comecar por uma interpretacao do Grover nao incluida em Aria - a que vem incluida e' o My Man's Gone Now. A versao cantada do I Loves You Porgy pela Nina tambem pode ser ouvida atraves do link acima) e depois vejamos o que teem a dizer os experts:


“As Grover Washington, Jr. sees it, the lines between jazz soloist and opera singer are not as clear-cut as one might imagine. Opera is a musical genre that depends on narration, and Grover views his role as soloist -- be it here, or on one of his many celebrated jazz recordings -- as an impassioned narrator. In both cases, Grover says, "You're just trying to tell a story."


[Pourquoi Me Reveiller? - from Massenet's Werther]

Consider the case of Werther, an opera by Massenet, based on a novel by Goethe. Werther is the quintessential Romantic hero, and nowhere in the opera does Massenet come closer to Goethe's Romantic ideal than in "Pourquoi me reveiller?" ("Why do you wake me?"), an aria full of foreboding and sorrow. In Grover's hands, and supported by Robert Freedman's fine and spacious arrangement, the blues within the aria are revealed.


[O Mio Babbino Caro - from Puccini's Gianni Schicchi]

Grover is the ideal narrator for the stories on Aria. Performing here on soprano, alto, tenor and baritone saxophones, Grover draws upon his artistry as a melodist to capture the emotion and spirit of a dozen of opera's most beautiful arias, from Puccini's "O mio babbino caro" (Gianni Schicchi) to Delibes' "Flower Duet" (Lakme), all with a sensibility that is very much of our day.


[Flower Duet - from Delibes' Lakme']

And yet Aria is not simply a crossing over, any more than Miles Davis' and Gil Evans' exploration of Gershwin's Porgy and Bess was simply a cooled-up version of the opera. In Aria, Grover Washington, Jr. takes the rich breadth of feeling inherent in twelve extraordinary tunes, not so much translating them into the jazz idiom as revealing them for what they are -- gorgeous, transcendent melodies that speak as clearly through the bell of a saxophone as through the human voice.” (Jackson Braider)

“Grover's brilliant career had its foundation in the fusion of genres. Along with his inimitable sound and style, his music was most celebrated for its signature synthesis of jazz and rhythm & blues. Aria marked a fusion of another kind for Grover, one both new and natural to him, and one he was eager to share. Sadly, it was the last album he was to make, completed just four months to the day before his untimely death.


[Vissi d'Arte - from Puccini's Tosca]

While the album may strike many listeners as an unexpected departure, it in fact completes a circle which began when Grover first studied music -- classical music -- at Buffalo's Wurlitzer School of Music. Classical music remained his first love. (…) Genres aside, Grover's music was always essentially about one thing -- heart. It was the (un)common denominator that defined his life's work. Puccini's magnificent soprano aria from his opera Tosca begins, "Vissi d'arte, vissi d'amore" ("I lived for art, I lived for love"). Grover Washington, Jr. did just that.” (Laraine Perri)

No comments: