Thursday, 13 May 2010

SOBRE O NOVO JORNAL

Numa altura em que, a volta do Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, recentemente comemorado, essa liberdade fundamental tem sido tema privilegiado nos media angolanos, ha’ questoes a ela relativas que se me afiguram dificeis de contornar. Como, por exemplo:

E’ o Novo Jornal (NJ) um projecto editorial “demasiado independente”?

(I couldn’t disagree more!)

Claro que a “independencia” e’ sempre um conceito bastante relativo e no caso da imprensa esse relativismo manifesta-se com especial acuidade – particularmente num pais como Angola que, apesar de teoricamente “viver em regime democratico” ha’ ja’ 18 anos, na pratica ainda nao atingiu a maioridade institucional democratica e tem passos ainda bastante largos a dar em direccao a “verdadeira democracia”. E, nao sendo este um conceito ‘intrinsecamente relativo’, ele pode ser, e tem sido, tambem frequentemente ‘relativizado’ em diversos contextos, mas, pelo menos no contexto angolano, parece que cada vez mais se vai alargando o consenso sobre aquilo a que nos referimos quando falamos em “democracia”.

Tem-se entao que, particularmente no caso angolano, a “independencia editorial” e’, de modo geral, 'relativizada' em relacao ao “poder” – entenda-se aqui o “poder politico”. Mas ha’ outros poderes, nao menos importantes, em jogo na sociedade, nomeadamente o social, o economico e o cultural, que se reflectem e corporizam numa estrategia editorial e que, em ultima analise, acabam por adquirir uma dimensao politica - e', alias, nessa medida que se fala em "quarto poder". E se ao NJ se pode conceder alguma “independencia” em relacao ao “poder politico”, tal “independencia” nao lhe sera’ exclusiva, nem “nova” – de facto, no panorama editorial angolano, poder-se-ha’ dizer que, salvo algumas excepcoes bem identificadas, qualquer projecto editorial “nao estatal” (e aqui pode-se igualmente falar em “nao governamental”, uma vez que em Angola o estado ainda se confunde bastante com o governo…) tende a ser, em alguma medida, “independente” em relacao ao “poder politico".

Dito isso, tentemos entao escrutinizar a “independencia” do NJ e respectiva estrategia editorial:

O NJ aparece num contexto em que, tomando, pelo menos provisoriamente, como um dado a "independencia politica" da generalidade dos titulos da imprensa privada (e aqui impoe-se um novo parentesis para notar que o "privado" e', tambem ele, particularmente no caso angolano, um conceito "bastante relativo"!), as estrategias editoriais, tal como acontece noutros paises, comecam a reflectir de forma cada vez mais clara e definida a estratificacao socio-economica e cultural da sociedade angolana e tendem a dirigir-se cada vez mais a particulares segmentos do publico, ou nichos do mercado.

Assim, o NJ vem-se afirmando desde o inicio como um projecto dirigido particularmente a um extracto social que pode, em tracos gerais, ser caracterizado como economicamente afluente, socialmente influente e culturalmente dominante (e seria hipocrita pretender aqui ignorar, escamotear, ou minimizar o facto de ele se confundir largamente com o extracto dito "crioulo" da sociedade angolana). Logo, um segmento "politicamente poderoso", ainda que possa conter franjas ocasionalmente "oposicionistas" (digamos que, mais por razoes "culturais" e/ou "classicistas" do que stricto sensu "politicas"). Nao e', portanto, um projecto cuja estrategia editorial seja "politicamente independente" desse extracto social...


{Continue lendo aqui}

Numa altura em que, a volta do Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, recentemente comemorado, essa liberdade fundamental tem sido tema privilegiado nos media angolanos, ha’ questoes a ela relativas que se me afiguram dificeis de contornar. Como, por exemplo:

E’ o Novo Jornal (NJ) um projecto editorial “demasiado independente”?

(I couldn’t disagree more!)

Claro que a “independencia” e’ sempre um conceito bastante relativo e no caso da imprensa esse relativismo manifesta-se com especial acuidade – particularmente num pais como Angola que, apesar de teoricamente “viver em regime democratico” ha’ ja’ 18 anos, na pratica ainda nao atingiu a maioridade institucional democratica e tem passos ainda bastante largos a dar em direccao a “verdadeira democracia”. E, nao sendo este um conceito ‘intrinsecamente relativo’, ele pode ser, e tem sido, tambem frequentemente ‘relativizado’ em diversos contextos, mas, pelo menos no contexto angolano, parece que cada vez mais se vai alargando o consenso sobre aquilo a que nos referimos quando falamos em “democracia”.

Tem-se entao que, particularmente no caso angolano, a “independencia editorial” e’, de modo geral, 'relativizada' em relacao ao “poder” – entenda-se aqui o “poder politico”. Mas ha’ outros poderes, nao menos importantes, em jogo na sociedade, nomeadamente o social, o economico e o cultural, que se reflectem e corporizam numa estrategia editorial e que, em ultima analise, acabam por adquirir uma dimensao politica - e', alias, nessa medida que se fala em "quarto poder". E se ao NJ se pode conceder alguma “independencia” em relacao ao “poder politico”, tal “independencia” nao lhe sera’ exclusiva, nem “nova” – de facto, no panorama editorial angolano, poder-se-ha’ dizer que, salvo algumas excepcoes bem identificadas, qualquer projecto editorial “nao estatal” (e aqui pode-se igualmente falar em “nao governamental”, uma vez que em Angola o estado ainda se confunde bastante com o governo…) tende a ser, em alguma medida, “independente” em relacao ao “poder politico".

Dito isso, tentemos entao escrutinizar a “independencia” do NJ e respectiva estrategia editorial:

O NJ aparece num contexto em que, tomando, pelo menos provisoriamente, como um dado a "independencia politica" da generalidade dos titulos da imprensa privada (e aqui impoe-se um novo parentesis para notar que o "privado" e', tambem ele, particularmente no caso angolano, um conceito "bastante relativo"!), as estrategias editoriais, tal como acontece noutros paises, comecam a reflectir de forma cada vez mais clara e definida a estratificacao socio-economica e cultural da sociedade angolana e tendem a dirigir-se cada vez mais a particulares segmentos do publico, ou nichos do mercado.

Assim, o NJ vem-se afirmando desde o inicio como um projecto dirigido particularmente a um extracto social que pode, em tracos gerais, ser caracterizado como economicamente afluente, socialmente influente e culturalmente dominante (e seria hipocrita pretender aqui ignorar, escamotear, ou minimizar o facto de ele se confundir largamente com o extracto dito "crioulo" da sociedade angolana). Logo, um segmento "politicamente poderoso", ainda que possa conter franjas ocasionalmente "oposicionistas" (digamos que, mais por razoes "culturais" e/ou "classicistas" do que stricto sensu "politicas"). Nao e', portanto, um projecto cuja estrategia editorial seja "politicamente independente" desse extracto social...


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