Thursday, 5 June 2008

ECOS DA IMPRENSA ANGOLANA (13)

Slowly but surely, a tragedia do 27 de Maio de 1977 comeca a fazer o seu caminho para as 'headlines':

No SA, Miguel Francisco, a.k.a. ‘Michel’ (dir.), autor do livro “Nuvem Negra”, endereca uma carta aberta ao escritor e deputado do MPLA Joao Melo (esq.):

Endereço-lhe esta modesta carta reagindo ao artigo que Vossa Excelência escreveu, publicado no Jornal de Angola, na edição do dia 26 do mês em curso, no habitual espaço intitulado «Palavras à Solta» (um espaço que só indivíduos da vossa estirpe política têm o privilégio de nele publicar as suas ideias, porque indivíduos como eu jamais conseguem fazê-lo), cuja epígrafe é: «O 27 e o 28 de Maio» , certamente em alusão aos tristes acontecimentos do dia 27 de Maio de 1977.
(…)
Fique desde já sabendo que eu, Miguel Francisco, vulgarmente conhecido por «Michel», autor do livro «Nuvem Negra», que relata apenas as situações duramente vividas naquele
terrível inferno, não integro nenhum grupo estruturado, e nem sequer recebo ordens de nenhuma direcção para falsear os acontecimentos que se seguiram àquele fatídico dia 27 de Maio.
(…)
Francamente! Se Vossa Excelência diz que há manipulação do número de vítimas é porque sabe qual é o número exacto (ou pelo menos aproximado) delas, logo, é porque
participou no massacre, ainda que indirectamente. Então porquê que não vem a público dizer quantas foram?
(…)
Quanto ao resto que escreveu no artigo, não comento. Sou de opinião que promova um debate público na União de Escritores Angolanos, enquanto escritor, naqueles vossos debates «Maka à Quarta-feira». Convide também os seus companheiros: o Nudunduma e o Pepetela, já que todos vós pertencestes à tristemente célebre «Comissão de Lágrimas».
[Aqui]

Wilson Dada, na sua Kuluna, escreve sobre “a preservacao da memoria, a homenagem merecida e a celebracao da amizade” durante o almoco anual evocativo do 27 de Maio:

Os organizadores já são suficientemente conhecidos e os objectivos da iniciativa igualmente. O contexto também, embora os mais novos na sua esmagadora maioria o desconheçam por razões fáceis de entender. Vivemos num país onde a história ainda é ministrada nas nossas escolas como uma disciplina de formação e condicionamento político-ideológico dos nossos jovens.
(… )
A comunicação social (estatal e privada) primou pela sua ausência, tendo a cobertura do evento ficado a cargo do seu organizador que está aqui exactamente a dar-vos notícias frescas do mesmo em primeira-mão em mais um rigoroso exclusivo deste colunista.
O ano passado o almoço foi marcado pelo lançamento do livro do Michel (Nuvem Negra) que este ano voltou a vender mais alguns books no "local do crime" conjuntamente com o Azevedo (Fias Ndombe) com a sua Maria Lixívia, uma novela que também tem muito a ver com o passado que estávamos ali a evocar.

O 'kulunista' evoca tambem “o passado e as omissões de uma história mal contada” a proposito do ja' referido artigo de Joao Melo…

No texto que o João Melo (JM) assinou na passada segunda-feira no Jornal de Angola sobre "O 27 e o 28 de Maio" há uma referência histórica feita por ele que me chamou particularmente a atenção. Em causa está uma omissão que é sintomática da forma como determinadas figuras e factos do passado são tratados no presente por determinados autores que depois acusam os outros de serem revisionistas.
A omissão está relacionada com a transmissão da ideia segundo a qual Nito Alves terá sido o único alto dirigente do MPLA da época a manifestar indisponibilidade para qualquer acordo com a Revolta Activa (RA) no sentido da sua reintegração como era desejo da maior parte dos membros que integravam aquela tendência do MPLA.
Com base numa breve investigação que a propósito realizei sobre o assunto, tendo como fontes elementos afectos à própria Revolta Activa cheguei a outras conclusões.

… e termina com “A necessidade de um breve esclarecimento: O Ernesto Bartolomeu, a TPA e a Censura”, em referencia a um seu artigo aqui publicado:

Foi com alguma surpresa que o nosso sócio e sósia, o RS, viu nas colunas do semanário "A Capital" o seu nome citado pelo Ernesto Bartolomeu (EB) como tendo sido de algum modo responsável pelo processo disciplinar que lhe foi instaurado e que culminou com o seu afastamento (esperemos que temporário) dos ecrãs da TPA.
(…)
A surpresa já referida e que está na origem deste esclarecimento tem a ver com o facto de, na entrevista concedida por EB, ter sido passada a ideia de que eu teria escrito no Angolense que ele disse que havia censura na TPA. Desde já e é bom que fique claro, no meu texto não há nada que aponte nessa direcção, sendo portanto falso que eu lhe tenha atribuído uma tal expressão.
[Aqui]

No Agora, uma entrevista com o Presidente da FNLA, Ngola Kabango:

Não há dúvidas de que a FNLA está a atravessar momentos difíceis e que é preciso envidarmos esforços para encontrarmos soluções. Mas, gostaria de fazer um pequeno historial sobre a situação. O presidente Holden Roberto, já nos últimos dias da sua vida, impulsionou o processo preparatório do congresso de 2007 e nós estávamos com ele para que a grande família preparasse o conclave e se reunisse. Infelizmente, tanto ele como nós, não fomos compreendidos pelos nossos irmãos.
(…)
Não estamos parados, estamos a trabalhar, pese embora as nossas mensagens passem com dificuldades, sobretudo nos órgãos de comunicação social estatais. Prova disso, temos agendada para o dia 30 a reunião do conselho político nacional que vai aprovar o programa de Governo e a estratégia eleitoral. Se, por um lado, estamos à procura de soluções para a crise interna, do outro estamos a trabalhar internamente e em todo o território nacional, obviamente, com grandes dificuldades porque a FNLA tem as suas verbas bloqueadas e até hoje não recebeu os subsídios que foram atribuídos aos fiscais credenciados.
[Aqui]

Voltando ao SA, Luis Kandjimbo apresenta-nos um “breve enquadramento historico e sociologico” da geracao literaria de 80:

Grande parte dos autores pertencentes a esta geração nasceu no período compreendido entre 1955 e 1965, durante o qual ocorreram factos de relevância histórica e sociológica. É o período das independências políticas em África e da continuação das resistências contra o colonialismo, através da luta armada, como são os casos de Angola, Guiné Bissau, Moçambique.
(…)
É nesse ambiente que ocorre a socialização da Geração de 80, a que denomino por Geração das Incertezas. Ela realiza a sua formação em circunstâncias marcadas por profundas incertezas do ponto de vista ontológico, além das experiências graves e catastróficas como a guerra. Esta geração alcança a maturidade em fins da década de 70, afirma-se na década de 80 com a publicação de livros, participação em concursos literários, a que se junta uma intensa e eufórica actividade associativa nos principais centros urbanos de Angola.
[Aqui]

Finalmente, no Novo Jornal, uma entrevista com Maria Joao Ganga:

Maria João Ganga está a concluir uma curta metragem - Restos de lixo. Na verdade, trata-se do argumento de uma peça de teatro transposta aos ecrãs, num espelho fiel de uma "sociedade doente". Mulher do Teatro, mas sobretudo do Elinga, apaixonada pela sétima arte, escalpeliza aqui também o seu pensamento sobre o cinema angolano.
"Restos de lixo", conta a história de um louco que encontra uma caixa de música dentro de um contentor de lixo... no seu imaginário, ele crê ter encontrado a bonequinha da caixa de música.
[Aqui]
Slowly but surely, a tragedia do 27 de Maio de 1977 comeca a fazer o seu caminho para as 'headlines':

No SA, Miguel Francisco, a.k.a. ‘Michel’ (dir.), autor do livro “Nuvem Negra”, endereca uma carta aberta ao escritor e deputado do MPLA Joao Melo (esq.):

Endereço-lhe esta modesta carta reagindo ao artigo que Vossa Excelência escreveu, publicado no Jornal de Angola, na edição do dia 26 do mês em curso, no habitual espaço intitulado «Palavras à Solta» (um espaço que só indivíduos da vossa estirpe política têm o privilégio de nele publicar as suas ideias, porque indivíduos como eu jamais conseguem fazê-lo), cuja epígrafe é: «O 27 e o 28 de Maio» , certamente em alusão aos tristes acontecimentos do dia 27 de Maio de 1977.
(…)
Fique desde já sabendo que eu, Miguel Francisco, vulgarmente conhecido por «Michel», autor do livro «Nuvem Negra», que relata apenas as situações duramente vividas naquele
terrível inferno, não integro nenhum grupo estruturado, e nem sequer recebo ordens de nenhuma direcção para falsear os acontecimentos que se seguiram àquele fatídico dia 27 de Maio.
(…)
Francamente! Se Vossa Excelência diz que há manipulação do número de vítimas é porque sabe qual é o número exacto (ou pelo menos aproximado) delas, logo, é porque
participou no massacre, ainda que indirectamente. Então porquê que não vem a público dizer quantas foram?
(…)
Quanto ao resto que escreveu no artigo, não comento. Sou de opinião que promova um debate público na União de Escritores Angolanos, enquanto escritor, naqueles vossos debates «Maka à Quarta-feira». Convide também os seus companheiros: o Nudunduma e o Pepetela, já que todos vós pertencestes à tristemente célebre «Comissão de Lágrimas».
[Aqui]

Wilson Dada, na sua Kuluna, escreve sobre “a preservacao da memoria, a homenagem merecida e a celebracao da amizade” durante o almoco anual evocativo do 27 de Maio:

Os organizadores já são suficientemente conhecidos e os objectivos da iniciativa igualmente. O contexto também, embora os mais novos na sua esmagadora maioria o desconheçam por razões fáceis de entender. Vivemos num país onde a história ainda é ministrada nas nossas escolas como uma disciplina de formação e condicionamento político-ideológico dos nossos jovens.
(… )
A comunicação social (estatal e privada) primou pela sua ausência, tendo a cobertura do evento ficado a cargo do seu organizador que está aqui exactamente a dar-vos notícias frescas do mesmo em primeira-mão em mais um rigoroso exclusivo deste colunista.
O ano passado o almoço foi marcado pelo lançamento do livro do Michel (Nuvem Negra) que este ano voltou a vender mais alguns books no "local do crime" conjuntamente com o Azevedo (Fias Ndombe) com a sua Maria Lixívia, uma novela que também tem muito a ver com o passado que estávamos ali a evocar.

O 'kulunista' evoca tambem “o passado e as omissões de uma história mal contada” a proposito do ja' referido artigo de Joao Melo…

No texto que o João Melo (JM) assinou na passada segunda-feira no Jornal de Angola sobre "O 27 e o 28 de Maio" há uma referência histórica feita por ele que me chamou particularmente a atenção. Em causa está uma omissão que é sintomática da forma como determinadas figuras e factos do passado são tratados no presente por determinados autores que depois acusam os outros de serem revisionistas.
A omissão está relacionada com a transmissão da ideia segundo a qual Nito Alves terá sido o único alto dirigente do MPLA da época a manifestar indisponibilidade para qualquer acordo com a Revolta Activa (RA) no sentido da sua reintegração como era desejo da maior parte dos membros que integravam aquela tendência do MPLA.
Com base numa breve investigação que a propósito realizei sobre o assunto, tendo como fontes elementos afectos à própria Revolta Activa cheguei a outras conclusões.

… e termina com “A necessidade de um breve esclarecimento: O Ernesto Bartolomeu, a TPA e a Censura”, em referencia a um seu artigo aqui publicado:

Foi com alguma surpresa que o nosso sócio e sósia, o RS, viu nas colunas do semanário "A Capital" o seu nome citado pelo Ernesto Bartolomeu (EB) como tendo sido de algum modo responsável pelo processo disciplinar que lhe foi instaurado e que culminou com o seu afastamento (esperemos que temporário) dos ecrãs da TPA.
(…)
A surpresa já referida e que está na origem deste esclarecimento tem a ver com o facto de, na entrevista concedida por EB, ter sido passada a ideia de que eu teria escrito no Angolense que ele disse que havia censura na TPA. Desde já e é bom que fique claro, no meu texto não há nada que aponte nessa direcção, sendo portanto falso que eu lhe tenha atribuído uma tal expressão.
[Aqui]

No Agora, uma entrevista com o Presidente da FNLA, Ngola Kabango:

Não há dúvidas de que a FNLA está a atravessar momentos difíceis e que é preciso envidarmos esforços para encontrarmos soluções. Mas, gostaria de fazer um pequeno historial sobre a situação. O presidente Holden Roberto, já nos últimos dias da sua vida, impulsionou o processo preparatório do congresso de 2007 e nós estávamos com ele para que a grande família preparasse o conclave e se reunisse. Infelizmente, tanto ele como nós, não fomos compreendidos pelos nossos irmãos.
(…)
Não estamos parados, estamos a trabalhar, pese embora as nossas mensagens passem com dificuldades, sobretudo nos órgãos de comunicação social estatais. Prova disso, temos agendada para o dia 30 a reunião do conselho político nacional que vai aprovar o programa de Governo e a estratégia eleitoral. Se, por um lado, estamos à procura de soluções para a crise interna, do outro estamos a trabalhar internamente e em todo o território nacional, obviamente, com grandes dificuldades porque a FNLA tem as suas verbas bloqueadas e até hoje não recebeu os subsídios que foram atribuídos aos fiscais credenciados.
[Aqui]

Voltando ao SA, Luis Kandjimbo apresenta-nos um “breve enquadramento historico e sociologico” da geracao literaria de 80:

Grande parte dos autores pertencentes a esta geração nasceu no período compreendido entre 1955 e 1965, durante o qual ocorreram factos de relevância histórica e sociológica. É o período das independências políticas em África e da continuação das resistências contra o colonialismo, através da luta armada, como são os casos de Angola, Guiné Bissau, Moçambique.
(…)
É nesse ambiente que ocorre a socialização da Geração de 80, a que denomino por Geração das Incertezas. Ela realiza a sua formação em circunstâncias marcadas por profundas incertezas do ponto de vista ontológico, além das experiências graves e catastróficas como a guerra. Esta geração alcança a maturidade em fins da década de 70, afirma-se na década de 80 com a publicação de livros, participação em concursos literários, a que se junta uma intensa e eufórica actividade associativa nos principais centros urbanos de Angola.
[Aqui]

Finalmente, no Novo Jornal, uma entrevista com Maria Joao Ganga:

Maria João Ganga está a concluir uma curta metragem - Restos de lixo. Na verdade, trata-se do argumento de uma peça de teatro transposta aos ecrãs, num espelho fiel de uma "sociedade doente". Mulher do Teatro, mas sobretudo do Elinga, apaixonada pela sétima arte, escalpeliza aqui também o seu pensamento sobre o cinema angolano.
"Restos de lixo", conta a história de um louco que encontra uma caixa de música dentro de um contentor de lixo... no seu imaginário, ele crê ter encontrado a bonequinha da caixa de música.
[Aqui]

1 comment:

Koluki said...

Nota de Rodape'

De facto, um dos aspectos mais perturbadores do silencio de morte que se gerou a volta do 27 de Maio, ou mais precisamente do “28 de Maio”, como lhe chama Joao Melo (JM), e’ a IGNORANCIA que a maior parte de nos (ainda) tem sobre quem foi quem, quem fez o que, e porque que o fez, naqueles nefastos acontecimentos – como ressalta da eloquente carta de “Michel” (que nao conheco pessoalmente), autor de “Nuvem Negra” (que ainda nao li). Isso mesmo no caso dos que, como eu, tiveram familiares directos e amigos muito proximos entre os mortos ou, no melhor dos casos, entre os sobreviventes dos “campos de reeducacao”.

Por exemplo, eu apenas tive conhecimento da existencia da chamada “Comissao das Lagrimas” por volta de finais da decada de 90 (depois de ter conhecido pessoalmente grande parte dos seus integrantes atraves da UEA, da qual me tornei membro em 1985) e so’ muito recentemente comecei a ter conhecimento de alguns dos nomes que a constituiram (incluindo o de JM). E se isto e’ assim em relacao a um grupo que teve um papel tao proeminente naquela tragedia, o que dizer de actores menos conhecidos? Com alguns dos quais nos relacionamos inocentemente, pontual ou permanentemente, ao longo dos anos? Em relacao a alguns dos quais ainda nao sabemos “tudo” o que porventura deveriamos saber?

Evidentemente, alguns deles, senao todos (como alias se vem verificando em alguns dos pronunciamentos publicos que aos poucos veem sendo feitos), dirao que eles tambem nao sabiam de “toda a verdade”. E, de facto, ninguem pode ter a pretensao de a saber toda, particularmente quando os principais protagonistas dos acontecimentos daquele dia e do ‘day after’ ja’ levaram as “suas verdades” para as respectivas covas, mausoleus, ou valas comuns.

Mas creio ainda ser legitimo pretender-se, com a contribuicao de todos os que sabem “algumas verdades”, que a VERDADE, qualquer que ela seja e tanto quanto pode existir integralmente (nao necessariamente “absolutamente”) em algum contexto, seja de algum modo reconstituida e ‘put to rest’ tao definitivamente quanto possivel. O processo de cicatrizacao das feridas ainda abertas e da reconciliacao, a meu ver sempre possivel (ate’ porque a “ignorancia popular generalizada” propiciada pelo manto de silencio destes 30 anos tambem, paradoxalmente e ainda que por vezes com resultados perversos, para isso contribuiu), assim o exige.