Regresso a este album de Memorias de Ruy Mingas (2006), ja' antes aquipassado, para dele repescar algumas perolas, pelo que nelas sobrevive de semba, por entre as generosas infusoes ("expansoes/amplificacoes" do proprio semba?) de jazz, samba e outras sonoridades musicais - se se comparar (especialmente quem conheca as suas versoes originais) cada uma das outras com o Xi Amye' ou mesmo o Pe' de Maracuja', compreender-se-ha' o que pretendo dizer...
A ultima nao faz parte deste album, embora traga muito boa memoria de cancoes de roda da infancia:
# banana podre nao tem fortuna, frutata', frutata'... entra aqui, sai ali, frutata', frutata'...#,
Makezu [Viriato da Cruz]
Birin Birin [Carlos "Liceu" Vieira Dias]
Nguidifangana [Mario Antonio de Oliveira]
Xi Amye' [Ruy Mingas]
Pe' de Maracuja' [Ernesto Lara Filho]
Morro da Maianga [Mario Antonio de Oliveira]
Regresso a este album de Memorias de Ruy Mingas (2006), ja' antes aquipassado, para dele repescar algumas perolas, pelo que nelas sobrevive de semba, por entre as generosas infusoes ("expansoes/amplificacoes" do proprio semba?) de jazz, samba e outras sonoridades musicais - se se comparar (especialmente quem conheca as suas versoes originais) cada uma das outras com o Xi Amye' ou mesmo o Pe' de Maracuja', compreender-se-ha' o que pretendo dizer...
A ultima nao faz parte deste album, embora traga muito boa memoria de cancoes de roda da infancia:
# banana podre nao tem fortuna, frutata', frutata'... entra aqui, sai ali, frutata', frutata'...#,
Maria Eugénia Neto – Literatura Ballet Tradicional Kilandukilu – Dança João Morgado – Música Investigação em Ciências Humanas – Vladimiro Fortuna, pela obra Angolanos na Formação dos Estados Unidos da América Mendes Ribeiro (pintor) – Artes Plásticas Vozes de África (Huambo) – Teatro Tomás Ferreira (realizador) – Cinema e Audiovisuais
O destaque deste blog vai para o vencedor na categoria de Música, atribuído a João Morgado, a.k.a. Joãozinho dos Tambores, percussionista com uma carreira de mais de meio século.
Destaque igualmente para a categoria de Dança, em que se consagra o Grupo Ballet Tradicional Kilandukilu - um grupo que ja' foi objecto de um post neste blog, que mereceu eco no Global Voices on Line.
Vencedores
Maria Eugénia Neto – Literatura Ballet Tradicional Kilandukilu – Dança João Morgado – Música Investigação em Ciências Humanas – Vladimiro Fortuna, pela obra Angolanos na Formação dos Estados Unidos da América Mendes Ribeiro (pintor) – Artes Plásticas Vozes de África (Huambo) – Teatro Tomás Ferreira (realizador) – Cinema e Audiovisuais
O destaque deste blog vai para o vencedor na categoria de Música, atribuído a João Morgado, a.k.a. Joãozinho dos Tambores, percussionista com uma carreira de mais de meio século.
Destaque igualmente para a categoria de Dança, em que se consagra o Grupo Ballet Tradicional Kilandukilu - um grupo que ja' foi objecto de um post neste blog, que mereceu eco no Global Voices on Line.
“Apos a independencia, o Estado passou a financiar os grupos e fixou a data do Carnaval a 27 de Marco, dia do aniversario da Vitoria (em 76) das FAPLA sobre as tropas sul-africanas.” Assim reza uma historia a qual voltarei mais tarde neste post.
Mas, por agora, falemos de datas: 4 de Fevereiro, ou 15 de Marco? 2 de Marco, ou… outra data qualquer? 27 de Marco, “dia do aniversario da Vitoria (em 76) das FAPLA sobre as tropas sul-africanas”, ou 25 de Maio (em 91), dia da assinatura do acordo de retirada das forcas cubanas na sequencia da batalha do Kuito Kwanavale?
Certo, certo, e porque o 4 de Abril parece que tambem ja’ mudou para o 5 de Marco, parece que as unicas datas certas do pos-Dipanda que temos, para alem do proprio 11 de Novembro, sao o 23 de Janeiro e o 27 de Maio… Essas datas, infelizmente, por muito que se as queira enterrar na 'bruma da memoria', de certeza que nunca poderao ser mudadas (mesmo porque ha' sempre alguem pronto a lembrar-nos delas ainda que "apenas por entre os dentes, em silencio"...), para o bem ou para o mal… E isso ao contrario do Carnaval, cuja data, de ha’ uns anos a esta parte, voltou a ser mudada para o dia que tradicionalmente lhe e' reservado.
E e’ essa palavra, “tradicionalmente”, que me faz voltar ao Carnaval depois de este ano o ter ja’ assinalado aqui. E tudo porque o Carnaval deste ano me deixou muito kafusa entre as nocoes de 'tradicao' e 'modernidade'...
Entao nao e’ que o vencedor do ano passado, o Unidos de Caxinde (UC), da Associacao Cha' de Caxinde dirigida por Jacques dos Santos, este ano ficou em oitavo lugar, ou seja, a um passo de ser relegado para o segundo escalao, e decidiu, na semana que ontem terminou, nao mais voltar a competir no Carnaval de Luanda?! Mas nao, desenganem-se os que comecaram ja’ a pensar em “mau perder”: aparentemente e’ tudo so’ mesmo em nome da 'modernidade' e… do 'respeito pelas instituicoes'! Mas o 'respeito pelas instituicoes' nao implica de algum modo o respeito pela 'tradicao' e suas instituicoes? Estou mesmo kafusa!
E pode la’ haver mais modernidade do que uma Segunda Marginalnovinha em folha para inaugurar com o desfile de Carnaval, na data certa, no pos-Dipanda?
E mais kafusa ainda fico quando me dizem que e’ tudo por culpa da Delegacao Provincial da Cultura de Luanda de que aqui se fala… Mas, na altura nao os aplaudiram todos e todas (embora tenham feito vista grossa e assobiado pro lado perante certos corpos semi-nus e respectivas bundonas klassiko-kulturais sendo paradeados em publico exactamente naquela mesma altura...)? Ou estariam, em ambos os casos, so' a fingir? E o que e’ que eles fizeram ali senao proibir a "exibicao de bundas em publico"? E isso estara’ muito longe da "exibicao de mini-saias e ‘pernoes’" (... como cantava o Mestre Geraldo: oh mini-saia brinca na areia, mulher e' bessangana, mulher e' de respeito, brinca rebita...) que supostamente (tambem?) representariam a 'modernidade' do UC, em vez das damas com aquelas “saias compridas tipo varina” dos tempos do kaprandanda que “nao deixam ver nada” e os cavalheiros vestidos segundo a "estetica do pinguim" sob o sol escaldante?! Nao... estou mesmo kafusa!
Nao deixo, no entanto, de lamentar essa dramatica decisao, aparentemente in extremis , do UC. Nao necessariamente pela 'modernidade' em nome da qual se manifestam, uma vez que, como venho repetindo, estou bastante kafusa sobre o que isso possa significar no contexto do Carnaval Angolano, mas pela diversidade que, obviamente, se perde com a saida de um grupo que, pelos ecosque me vao chegando, se tornou tao proeminente no Carnaval de Luanda durante a ultima decada. E sentindo-me tao frequentemente entre os excluidos e rejeitados de toda a ordem e natureza, nao posso, em nome do conceito de cidadania e seus respectivos direitos, deixar de sentir simpatia por quem tambem assim se sinta em quaisquer circunstancias.
Porem, porque e’ (foi) Carnaval, espero que nao me levem a mal por sugerir aos membros do UC que 'sigam o leader' (a.k.a. Banda Desenhada) e vao paradear toda a sua 'modernidade' no Carnaval de Benguela… ou, ja' agora, em Portugal, onde abriram recentemente uma "delegacao"... ali e’ que talvez ninguem mesmo lhes vai levar a mal!
Entretanto...
Numa segunda abordagem, porem, talvez a principal razao de eu estar tao kafusa nao tenha bem a ver com a decisao dos UC, mas mais com o facto de eu ter pensado, como aquiexpressei, que "progresso" (ou, se se preferir, "modernidade") em termos de "semba, kizomba e kuduro", especialmente se em comparacao com outras formas de expressao desses generos, poderia (tambem e por exemplo) significar o que ouve nesse Kamusekele do Dog Murras com o Kota Bonga, utilizando sons, ritmos e o espirito do Carnaval tradicional de Luanda... E nao e' que esse mesmo Kamusekele so' me trouxe bwerere' do bwe' do bwe' de makas de sanzala aki pro mo kubiku, com ameacas de morte e tudo?!
[Kamusekele - Dog Murras, feat. Bonga]
Mas afinale parece que, tal como a decisao dos UC, nem tudo o que parece nas reaccoes e atitudes intolerantes dos "absolutamente alergicos" ao kuduro (e... aparentemente, a este blog! - como se eu o tivesse inventado ou fosse a sua maior aficcionada e propagandista e, ultimamente, tambem dos tais de melindros, kambwas e sei eu la' mais o que!...) e': porque a maka deles parece ter tudo a ver, apenas e tao so', com a letra desse Kamusekele... a qual, quanto a mim, constitui, nada mais nada menos, do que um bom exemplo de "critica social" que, paradoxal e ironicamente, alguns dos seus maiores depredadores dizem praticar, apelidando-a de "musica sem conteudo"! Mas, e mais uma vez nao me levem a mal porque de Carnaval se trata, la' diz o ditado: "quem se ofendeu, carapuca lhe serviu"!
So' que, enquanto eu aqui sou bombardeada sem apelo nem agravo com obuses no meu quintal por causa da musica dele, o Dog Murras passou este Carnaval, bem como os dos ultimos anos, na maior la' pras bandas do Brasil, abrilhantando o Carnaval da Bahia com os sons do Carnaval de Luanda, como aquise pode verificar... Ja' viram?!
Mas, voltando ao Carnaval de Luanda, uma coisa que gostei particularmente de saber foi do desfile dos kanukos, onde, segundo esta noticia, "o prémio correspondente à classe C (infantil) foi atribuído à canção “Defesa da tradição”, do grupo União Cassules dos Jovens da Cacimba, pelo carácter explícito das mensagens apelativas, aproximando o ritmo expressivo do Carnaval à tradição musical angolana, enaltecendo, desta forma, as origens sócio-culturais do Carnaval angolano."
Bom, o que eu e os ndengues do meu bairro (na altura B.O./Sao Paulo - o qual, alias, tanto quanto julgo saber, tambem foi, se e' que ja' nao e', o de Jacques dos Santos do UC acima mencionado...) nao dariamos para podermos ir tambem desfilar "oficialmente" na Marginal! ... Naqueles nossos tempos, nas vesperas do Carnaval, era um corre-corre para arranjarmos nas despensas das nossas maes 'massa estrelinha' e 'massa cotovelo', mais feijoes de varios tipos, cores e tamanhos e aquelas sementes vermelhas e castanhas que iamos coleccionando ao longo do ano quando iamos a praia da floresta da Ilha ou ao Mussulo, mais algumas missangas de varias cores que desenrascavamos no mercado de Sao Paulo para fazermos os nossos colares e pulseiras; mais saias feitas de rafia ou sacos de sarapilheira, desfiados da meia-perna para baixo e uns tops tambem do mesmo material ou de panos de cores garridas, com turbantes na cabeca a condizer e as caras pintadas das cores e geitos da nossa criatividade, com muito vermelho e branco a mistura...
Mas ali nao havia bem competicao, nem juri: ganhava o grupo que conseguisse amealhar mais kitari dos mais-velhos pelas ruas em que desfilavamos - um pouco como fazem os miudos do ocidente no seu Halloween.
Entao, escolhiamos os nossos principe e princesa e saiamos em grupos pelo bairro afora pra brinkar o nosso karnaval, a bater os nossos batukitos bem aquecidos e as nossas latas e garrafas bem pintadas e decoradas, a soprar os nossos apitos e cornetas e a dikanzar os nossos bordoes bem trabalhados e os nossos chocalhos, todos bem ritmados e animados atras do Mayado, que era o nosso maskarado 'a Tchinganji ou Mukixi:
Tam-taram-tam-tam... mayado! Tam-tam-taram-tam-tam... mayado! Pao com gin-gu-ba... mayado! Tam-tam-taram-tam-tam... mayado! Pao com gin-gu-ba... mayado! Tam-tam-taram-tam-tam... Mayado!!!
A 'Tradicao'
“O semba e’ uma adaptacao do kazukuta. O meu pai transpos os ritmos kimbundus para a viola. Tinha conhecimento das musicas portuguesas e brasileiras. Transpos muita coisa em tom menor.” - Carlitos Vieira Dias
Em Luanda e noutras cidades (Malange, Benguela) o Carnaval e’ desde o seculo XIX a festa popular por excelencia onde os africanos se mascaram de figuras portuguesas e dancam pantomimas alegoricas. Nos anos 40, nos grupos carnavalescos dos musseques, ganham forca as percussoes e a dikanza, ao lado da corneta, dos apitos e dos chocalhos. As dancas sao dizanda, varina, kabetula, cidralia, maringa, kazukuta, njimba. O carnaval foi proibido de 61 a 68.
[Na Rua de Sao Paulo - Kabokomeu]
Apos a independencia, o Estado passou a financiar os grupos e fixou a data do carnaval a 27 de Marco, dia do aniversario da vitoria (em 76) das FAPLA sobre as tropas sul-africanas. Uniao Operaria Kabokomeu foi fundado em Janeiro de 1952, por operarios do Sambizanga. Uniao Mundo da Ilha juntou em 1968 varios grupos da Ilha de Luanda. Na Rua de Sao Paulo e’ um kazukuta, danca baseada em pantomima. Amanha Vamos a Procura da Chave e’ uma varina. Se bem que gravadas em 1978, estas duas musicas sao representativas do carnaval dos anos 50-60. Mas as letras, no contexto politico do pos-independencia, expressam o apoio popular a Agostinho Neto, Presidente da Republica.
[Amanha Vamos a Procura da Chave - Uniao Mundo da Ilha]
A rebita apareceu no final do seculo XIX nos saloes de uma elite negra e mulata das cidades (Luanda, Benguela). A danca de origem europeia (quadrille ou contre danse) foi africanizada. Toca-se com concerina e dikanza. As damas sao trajadas de panos africanos, com penteados kindumba, os cavalheiros de fato, a rigor, com chapeu de coco. Os apitos e as ordens (com algumas palavras em frances) do “comandante”, dao o sinal das viragens, acompanhadas de palmas e umbigadas. O nome tradicional e’ massemba, a palavra rebita aparece mais tarde. Mestre Geraldo, grande mestre de rebita e chefe de grupos carnavalescos, introduziu percussoes dos pescadores da Ilha de Luanda, tornando-a mais popular. Mini Saia, muito celebre, e’ uma mistura de varina e massemba.
[Mini Saia - Mestre Geraldo Morgado]
[Extractos de textos de Jorge Macedo, Artur Arriscado, João Chagas, Gilberto Junior e Ariel de Bigault, in Angola 60’s – Buda Musique 1999]
Finalmente, se me e' permitido, gostaria de regressar ao meu Carnaval.
Como afirmei em algumas ocasioes (e.g. aqui), tenho por principio fundamental nao falar, menos ainda tentar explicar, (d)os meus poemas, mesmo quando confrontada, como tem sido norma desde a publicacao do meu primeiro, e ate' agora, unico livro, com a sua total deturpacao, manipulacao, ou indevida interpretacao/apropriacao - voluntaria e conscientemente ou nao. Dito isso, tenho vindo ultimamente a abrir algumas excepcoes, como foi o caso aqui, aqui, aquie aqui.
Fa-lo-ei agora tambem um pouco em relacao a esse poema em que tentei recriar a atmosfera do Carnaval.
Sempre entendi o Carnaval (em qualquer parte do mundo) como uma manifestacao de algo assim como o "festival da carne" - uma festa pagã destinada inicialmente a dar vazao a tudo (ou quase) quanto era proibido pela religiao ao longo do resto do ano (dai o "prazer 'imedido' na exorcisao das teias do armario"); uma especie de "teatro do absurdo", uma expressao de "transgressao" daquilo que vai contra a norma estabelecida, "anormal" portanto (e.g. "despir o nu e agasalhar o mal vestido" - algo expresso na exuberancia das vestes de Carnaval mesmo pelos que durante o resto do ano mal teem com que se vestir, podendo para tanto chegar a "despir o nu" -, ou "qualquer ovo que se machuca e se espalha lentamente pelo corpo", ou ainda "um aperto de maos, de costas, para dar mais prazer"). Tudo isso, porem, com um prazo limitado de que os folioes nao se lembram "senao a despedida", i.e., apenas quando e' tempo de "varrer as cinzas".
Enfim, uma festa destinada a "chocar", a provocar "choque(s)" no sistema social - e, nessa medida, ele tera' evoluido do chocar com o sistema religioso ao chocar com o sistema politico, "entre a calma do ocio - o dolce fare niente, o nao trabalhar, dos dias de Carnaval, que e' tambem um acto contra a 'norma' - e o desprezo da revolta" [contra o(s) sistema(s)].
E tudo isso para que a norma, o(s) sistema(s), enfim, os "valores e principios" estabelecidos, se possam manter (e reproduzir-se) quando tudo regressa a normalidade do resto do ano - dai a "tempestade que nunca desabara'" apesar do "vento rasteiro, sibilino": Carnaval.
Mas o tema do Carnaval foi apenas um pretexto para escrever sobre outras coisas que na altura se estavam a passar na minha vida, ao regressar a Luanda com o meu filho de Lisboa, depois de ter passado pelo Carnaval do Rio com o falecido pai dele em 1983. Mas essas sao outras historias.
“Apos a independencia, o Estado passou a financiar os grupos e fixou a data do Carnaval a 27 de Marco, dia do aniversario da Vitoria (em 76) das FAPLA sobre as tropas sul-africanas.” Assim reza uma historia a qual voltarei mais tarde neste post.
Mas, por agora, falemos de datas: 4 de Fevereiro, ou 15 de Marco? 2 de Marco, ou… outra data qualquer? 27 de Marco, “dia do aniversario da Vitoria (em 76) das FAPLA sobre as tropas sul-africanas”, ou 25 de Maio (em 91), dia da assinatura do acordo de retirada das forcas cubanas na sequencia da batalha do Kuito Kwanavale?
Certo, certo, e porque o 4 de Abril parece que tambem ja’ mudou para o 5 de Marco, parece que as unicas datas certas do pos-Dipanda que temos, para alem do proprio 11 de Novembro, sao o 23 de Janeiro e o 27 de Maio… Essas datas, infelizmente, por muito que se as queira enterrar na 'bruma da memoria', de certeza que nunca poderao ser mudadas (mesmo porque ha' sempre alguem pronto a lembrar-nos delas ainda que "apenas por entre os dentes, em silencio"...), para o bem ou para o mal… E isso ao contrario do Carnaval, cuja data, de ha’ uns anos a esta parte, voltou a ser mudada para o dia que tradicionalmente lhe e' reservado.
E e’ essa palavra, “tradicionalmente”, que me faz voltar ao Carnaval depois de este ano o ter ja’ assinalado aqui. E tudo porque o Carnaval deste ano me deixou muito kafusa entre as nocoes de 'tradicao' e 'modernidade'...
Entao nao e’ que o vencedor do ano passado, o Unidos de Caxinde (UC), da Associacao Cha' de Caxinde dirigida por Jacques dos Santos, este ano ficou em oitavo lugar, ou seja, a um passo de ser relegado para o segundo escalao, e decidiu, na semana que ontem terminou, nao mais voltar a competir no Carnaval de Luanda?! Mas nao, desenganem-se os que comecaram ja’ a pensar em “mau perder”: aparentemente e’ tudo so’ mesmo em nome da 'modernidade' e… do 'respeito pelas instituicoes'! Mas o 'respeito pelas instituicoes' nao implica de algum modo o respeito pela 'tradicao' e suas instituicoes? Estou mesmo kafusa!
E pode la’ haver mais modernidade do que uma Segunda Marginalnovinha em folha para inaugurar com o desfile de Carnaval, na data certa, no pos-Dipanda?
E mais kafusa ainda fico quando me dizem que e’ tudo por culpa da Delegacao Provincial da Cultura de Luanda de que aqui se fala… Mas, na altura nao os aplaudiram todos e todas (embora tenham feito vista grossa e assobiado pro lado perante certos corpos semi-nus e respectivas bundonas klassiko-kulturais sendo paradeados em publico exactamente naquela mesma altura...)? Ou estariam, em ambos os casos, so' a fingir? E o que e’ que eles fizeram ali senao proibir a "exibicao de bundas em publico"? E isso estara’ muito longe da "exibicao de mini-saias e ‘pernoes’" (... como cantava o Mestre Geraldo: oh mini-saia brinca na areia, mulher e' bessangana, mulher e' de respeito, brinca rebita...) que supostamente (tambem?) representariam a 'modernidade' do UC, em vez das damas com aquelas “saias compridas tipo varina” dos tempos do kaprandanda que “nao deixam ver nada” e os cavalheiros vestidos segundo a "estetica do pinguim" sob o sol escaldante?! Nao... estou mesmo kafusa!
Nao deixo, no entanto, de lamentar essa dramatica decisao, aparentemente in extremis , do UC. Nao necessariamente pela 'modernidade' em nome da qual se manifestam, uma vez que, como venho repetindo, estou bastante kafusa sobre o que isso possa significar no contexto do Carnaval Angolano, mas pela diversidade que, obviamente, se perde com a saida de um grupo que, pelos ecosque me vao chegando, se tornou tao proeminente no Carnaval de Luanda durante a ultima decada. E sentindo-me tao frequentemente entre os excluidos e rejeitados de toda a ordem e natureza, nao posso, em nome do conceito de cidadania e seus respectivos direitos, deixar de sentir simpatia por quem tambem assim se sinta em quaisquer circunstancias.
Porem, porque e’ (foi) Carnaval, espero que nao me levem a mal por sugerir aos membros do UC que 'sigam o leader' (a.k.a. Banda Desenhada) e vao paradear toda a sua 'modernidade' no Carnaval de Benguela… ou, ja' agora, em Portugal, onde abriram recentemente uma "delegacao"... ali e’ que talvez ninguem mesmo lhes vai levar a mal!
Entretanto...
Numa segunda abordagem, porem, talvez a principal razao de eu estar tao kafusa nao tenha bem a ver com a decisao dos UC, mas mais com o facto de eu ter pensado, como aquiexpressei, que "progresso" (ou, se se preferir, "modernidade") em termos de "semba, kizomba e kuduro", especialmente se em comparacao com outras formas de expressao desses generos, poderia (tambem e por exemplo) significar o que ouve nesse Kamusekele do Dog Murras com o Kota Bonga, utilizando sons, ritmos e o espirito do Carnaval tradicional de Luanda... E nao e' que esse mesmo Kamusekele so' me trouxe bwerere' do bwe' do bwe' de makas de sanzala aki pro mo kubiku, com ameacas de morte e tudo?!
[Kamusekele - Dog Murras, feat. Bonga]
Mas afinale parece que, tal como a decisao dos UC, nem tudo o que parece nas reaccoes e atitudes intolerantes dos "absolutamente alergicos" ao kuduro (e... aparentemente, a este blog! - como se eu o tivesse inventado ou fosse a sua maior aficcionada e propagandista e, ultimamente, tambem dos tais de melindros, kambwas e sei eu la' mais o que!...) e': porque a maka deles parece ter tudo a ver, apenas e tao so', com a letra desse Kamusekele... a qual, quanto a mim, constitui, nada mais nada menos, do que um bom exemplo de "critica social" que, paradoxal e ironicamente, alguns dos seus maiores depredadores dizem praticar, apelidando-a de "musica sem conteudo"! Mas, e mais uma vez nao me levem a mal porque de Carnaval se trata, la' diz o ditado: "quem se ofendeu, carapuca lhe serviu"!
So' que, enquanto eu aqui sou bombardeada sem apelo nem agravo com obuses no meu quintal por causa da musica dele, o Dog Murras passou este Carnaval, bem como os dos ultimos anos, na maior la' pras bandas do Brasil, abrilhantando o Carnaval da Bahia com os sons do Carnaval de Luanda, como aquise pode verificar... Ja' viram?!
Mas, voltando ao Carnaval de Luanda, uma coisa que gostei particularmente de saber foi do desfile dos kanukos, onde, segundo esta noticia, "o prémio correspondente à classe C (infantil) foi atribuído à canção “Defesa da tradição”, do grupo União Cassules dos Jovens da Cacimba, pelo carácter explícito das mensagens apelativas, aproximando o ritmo expressivo do Carnaval à tradição musical angolana, enaltecendo, desta forma, as origens sócio-culturais do Carnaval angolano."
Bom, o que eu e os ndengues do meu bairro (na altura B.O./Sao Paulo - o qual, alias, tanto quanto julgo saber, tambem foi, se e' que ja' nao e', o de Jacques dos Santos do UC acima mencionado...) nao dariamos para podermos ir tambem desfilar "oficialmente" na Marginal! ... Naqueles nossos tempos, nas vesperas do Carnaval, era um corre-corre para arranjarmos nas despensas das nossas maes 'massa estrelinha' e 'massa cotovelo', mais feijoes de varios tipos, cores e tamanhos e aquelas sementes vermelhas e castanhas que iamos coleccionando ao longo do ano quando iamos a praia da floresta da Ilha ou ao Mussulo, mais algumas missangas de varias cores que desenrascavamos no mercado de Sao Paulo para fazermos os nossos colares e pulseiras; mais saias feitas de rafia ou sacos de sarapilheira, desfiados da meia-perna para baixo e uns tops tambem do mesmo material ou de panos de cores garridas, com turbantes na cabeca a condizer e as caras pintadas das cores e geitos da nossa criatividade, com muito vermelho e branco a mistura...
Mas ali nao havia bem competicao, nem juri: ganhava o grupo que conseguisse amealhar mais kitari dos mais-velhos pelas ruas em que desfilavamos - um pouco como fazem os miudos do ocidente no seu Halloween.
Entao, escolhiamos os nossos principe e princesa e saiamos em grupos pelo bairro afora pra brinkar o nosso karnaval, a bater os nossos batukitos bem aquecidos e as nossas latas e garrafas bem pintadas e decoradas, a soprar os nossos apitos e cornetas e a dikanzar os nossos bordoes bem trabalhados e os nossos chocalhos, todos bem ritmados e animados atras do Mayado, que era o nosso maskarado 'a Tchinganji ou Mukixi:
Tam-taram-tam-tam... mayado! Tam-tam-taram-tam-tam... mayado! Pao com gin-gu-ba... mayado! Tam-tam-taram-tam-tam... mayado! Pao com gin-gu-ba... mayado! Tam-tam-taram-tam-tam... Mayado!!!
A 'Tradicao'
“O semba e’ uma adaptacao do kazukuta. O meu pai transpos os ritmos kimbundus para a viola. Tinha conhecimento das musicas portuguesas e brasileiras. Transpos muita coisa em tom menor.” - Carlitos Vieira Dias
Em Luanda e noutras cidades (Malange, Benguela) o Carnaval e’ desde o seculo XIX a festa popular por excelencia onde os africanos se mascaram de figuras portuguesas e dancam pantomimas alegoricas. Nos anos 40, nos grupos carnavalescos dos musseques, ganham forca as percussoes e a dikanza, ao lado da corneta, dos apitos e dos chocalhos. As dancas sao dizanda, varina, kabetula, cidralia, maringa, kazukuta, njimba. O carnaval foi proibido de 61 a 68.
[Na Rua de Sao Paulo - Kabokomeu]
Apos a independencia, o Estado passou a financiar os grupos e fixou a data do carnaval a 27 de Marco, dia do aniversario da vitoria (em 76) das FAPLA sobre as tropas sul-africanas. Uniao Operaria Kabokomeu foi fundado em Janeiro de 1952, por operarios do Sambizanga. Uniao Mundo da Ilha juntou em 1968 varios grupos da Ilha de Luanda. Na Rua de Sao Paulo e’ um kazukuta, danca baseada em pantomima. Amanha Vamos a Procura da Chave e’ uma varina. Se bem que gravadas em 1978, estas duas musicas sao representativas do carnaval dos anos 50-60. Mas as letras, no contexto politico do pos-independencia, expressam o apoio popular a Agostinho Neto, Presidente da Republica.
[Amanha Vamos a Procura da Chave - Uniao Mundo da Ilha]
A rebita apareceu no final do seculo XIX nos saloes de uma elite negra e mulata das cidades (Luanda, Benguela). A danca de origem europeia (quadrille ou contre danse) foi africanizada. Toca-se com concerina e dikanza. As damas sao trajadas de panos africanos, com penteados kindumba, os cavalheiros de fato, a rigor, com chapeu de coco. Os apitos e as ordens (com algumas palavras em frances) do “comandante”, dao o sinal das viragens, acompanhadas de palmas e umbigadas. O nome tradicional e’ massemba, a palavra rebita aparece mais tarde. Mestre Geraldo, grande mestre de rebita e chefe de grupos carnavalescos, introduziu percussoes dos pescadores da Ilha de Luanda, tornando-a mais popular. Mini Saia, muito celebre, e’ uma mistura de varina e massemba.
[Mini Saia - Mestre Geraldo Morgado]
[Extractos de textos de Jorge Macedo, Artur Arriscado, João Chagas, Gilberto Junior e Ariel de Bigault, in Angola 60’s – Buda Musique 1999]
Finalmente, se me e' permitido, gostaria de regressar ao meu Carnaval.
Como afirmei em algumas ocasioes (e.g. aqui), tenho por principio fundamental nao falar, menos ainda tentar explicar, (d)os meus poemas, mesmo quando confrontada, como tem sido norma desde a publicacao do meu primeiro, e ate' agora, unico livro, com a sua total deturpacao, manipulacao, ou indevida interpretacao/apropriacao - voluntaria e conscientemente ou nao. Dito isso, tenho vindo ultimamente a abrir algumas excepcoes, como foi o caso aqui, aqui, aquie aqui.
Fa-lo-ei agora tambem um pouco em relacao a esse poema em que tentei recriar a atmosfera do Carnaval.
Sempre entendi o Carnaval (em qualquer parte do mundo) como uma manifestacao de algo assim como o "festival da carne" - uma festa pagã destinada inicialmente a dar vazao a tudo (ou quase) quanto era proibido pela religiao ao longo do resto do ano (dai o "prazer 'imedido' na exorcisao das teias do armario"); uma especie de "teatro do absurdo", uma expressao de "transgressao" daquilo que vai contra a norma estabelecida, "anormal" portanto (e.g. "despir o nu e agasalhar o mal vestido" - algo expresso na exuberancia das vestes de Carnaval mesmo pelos que durante o resto do ano mal teem com que se vestir, podendo para tanto chegar a "despir o nu" -, ou "qualquer ovo que se machuca e se espalha lentamente pelo corpo", ou ainda "um aperto de maos, de costas, para dar mais prazer"). Tudo isso, porem, com um prazo limitado de que os folioes nao se lembram "senao a despedida", i.e., apenas quando e' tempo de "varrer as cinzas".
Enfim, uma festa destinada a "chocar", a provocar "choque(s)" no sistema social - e, nessa medida, ele tera' evoluido do chocar com o sistema religioso ao chocar com o sistema politico, "entre a calma do ocio - o dolce fare niente, o nao trabalhar, dos dias de Carnaval, que e' tambem um acto contra a 'norma' - e o desprezo da revolta" [contra o(s) sistema(s)].
E tudo isso para que a norma, o(s) sistema(s), enfim, os "valores e principios" estabelecidos, se possam manter (e reproduzir-se) quando tudo regressa a normalidade do resto do ano - dai a "tempestade que nunca desabara'" apesar do "vento rasteiro, sibilino": Carnaval.
Mas o tema do Carnaval foi apenas um pretexto para escrever sobre outras coisas que na altura se estavam a passar na minha vida, ao regressar a Luanda com o meu filho de Lisboa, depois de ter passado pelo Carnaval do Rio com o falecido pai dele em 1983. Mas essas sao outras historias.
Legitimo herdeiro, natural e musical, de seu lendario pai, Liceu Vieira Dias, e' de Carlitos Vieira Dias que trago As Vozes de Um Canto para este Morro do Semba.
Carlitos Vieira Dias é um nome estreitamente ligado à renovação estética da guitarra angolana, e personalizou um estilo que facilmente o identifica. Colado às harmonias e ao fraseado dissonante característico do jazz, introduziu novas sonoridades à estrutura tradicional de execução do semba que, até então, nunca se emancipara dos acordes naturais. É um longo processo que vem das experiências rítmicas da guitarra do Ngola Ritmos, com Liceu Vieira Dias, Nino Ndongo e José Maria.
[Birin Birin]
Reconhece-se na sonoridade do guitarrista a alma de um povo e o som cadenciado de uma música que pretende dialogar com o mundo. Ele é a soma artística de vários indivíduos musicais, um perfil que o coloca, de forma inequívoca, na vanguarda da Música Popular Angolana.
[Palame']
[Serao igualmente de notar as suas ligacoes ao 'Jazz do Norte', atraves da sua colaboracao, entre outros, com Teta Lando, a que talvez nao seja totalmente alheio o facto de seu falecido pai, Liceu Vieira Dias, ter nascido no Kongo Kinshasa.]
[Marçalina]
[Colonial]
Carlitos Vieira Dias pertence a uma época em que eclodiam, em Luanda, e um pouco por todo o país, as formações de rock. Era o tempo dos “Electrónicos” do Zezinho de Andrade e Vun-Vun, “Os Rock’s” do Eduardo do Nascimento, Os Manos Saraiva e “Os Jovens” do Mário Bento e Tino Catela. A esse movimento, designado de “música moderna”, Carlitos Vieira Dias teve sempre uma distância prudente, porque tinha a consciência e a percepção da força dos ritmos angolanos. Era a adopção de uma filosofia estética, assente na valorização e estilização dos padrões da rítmica angolana. No quadro da integração de Carlitos Vieira Dias no “África Show”, de 1969 a 1971, surge o encontro com Alberto Teta Lando – um dos períodos mais criativos do guitarrista. Deste encontro, uma das fases mais belas e prolíferas de Alberto Teta Lando, resultou a gravação de “Kimbemba”, “Luvuamu”, entre outros temas, e do álbum “Independência” (1974), com o agrupamento “Os Merengues”.
[Passo do Sangazuza]
[Tabernáculo]
“As vozes de um canto” é, inequivocamente, uma referência na carreira musical de Carlitos Vieira Dias e na história da música angolana, um CD onde se alinham os temas: Birin-birin, Palamé, Marçalina, Lemba, Colonial, Clube Marítimo Africano, Passo do Sangazuza, Nzala, Mukajame e Eme ngui mona ngola, consagrando o guitarrista num importante intérprete, num álbum em que o autor revisita clássicos da Música Popular Angolana.
Carlitos Vieira Dias é um nome estreitamente ligado à renovação estética da guitarra angolana, e personalizou um estilo que facilmente o identifica. Colado às harmonias e ao fraseado dissonante característico do jazz, introduziu novas sonoridades à estrutura tradicional de execução do semba que, até então, nunca se emancipara dos acordes naturais. É um longo processo que vem das experiências rítmicas da guitarra do Ngola Ritmos, com Liceu Vieira Dias, Nino Ndongo e José Maria.
[Birin Birin]
Reconhece-se na sonoridade do guitarrista a alma de um povo e o som cadenciado de uma música que pretende dialogar com o mundo. Ele é a soma artística de vários indivíduos musicais, um perfil que o coloca, de forma inequívoca, na vanguarda da Música Popular Angolana.
[Palame']
[Serao igualmente de notar as suas ligacoes ao 'Jazz do Norte', atraves da sua colaboracao, entre outros, com Teta Lando, a que talvez nao seja totalmente alheio o facto de seu falecido pai, Liceu Vieira Dias, ter nascido no Kongo Kinshasa.]
[Marçalina]
[Colonial]
Carlitos Vieira Dias pertence a uma época em que eclodiam, em Luanda, e um pouco por todo o país, as formações de rock. Era o tempo dos “Electrónicos” do Zezinho de Andrade e Vun-Vun, “Os Rock’s” do Eduardo do Nascimento, Os Manos Saraiva e “Os Jovens” do Mário Bento e Tino Catela. A esse movimento, designado de “música moderna”, Carlitos Vieira Dias teve sempre uma distância prudente, porque tinha a consciência e a percepção da força dos ritmos angolanos. Era a adopção de uma filosofia estética, assente na valorização e estilização dos padrões da rítmica angolana. No quadro da integração de Carlitos Vieira Dias no “África Show”, de 1969 a 1971, surge o encontro com Alberto Teta Lando – um dos períodos mais criativos do guitarrista. Deste encontro, uma das fases mais belas e prolíferas de Alberto Teta Lando, resultou a gravação de “Kimbemba”, “Luvuamu”, entre outros temas, e do álbum “Independência” (1974), com o agrupamento “Os Merengues”.
[Passo do Sangazuza]
[Tabernáculo]
“As vozes de um canto” é, inequivocamente, uma referência na carreira musical de Carlitos Vieira Dias e na história da música angolana, um CD onde se alinham os temas: Birin-birin, Palamé, Marçalina, Lemba, Colonial, Clube Marítimo Africano, Passo do Sangazuza, Nzala, Mukajame e Eme ngui mona ngola, consagrando o guitarrista num importante intérprete, num álbum em que o autor revisita clássicos da Música Popular Angolana.
Subo neste palco, minha alma cheira a talco Como bumbum de bebê, de bebê Minha aura clara só quem é clarividente pode ver, pode ver. Trago a minha banda, só quem sabe onde é Luanda saberá lhe dar valor, dar valor Vale quanto pesa pra quem preza o louco bumbum do tambor, do tambor Fogo eterno pra afugentar O inferno pra outro lugar Fogo eterno pra constituir O inferno Fora daqui, fora daqui Fora daqui, fora daqui Venho para a festa, sei que muitos têm na testa O deus-sol como sinal, o sinal Eu como devoto trago um cesto de alegrias de quintal, de quintal Há também um cântaro, quem manda é deusa-música pedindo pra deixar, pra deixar Derramar o bálsamo, fazer o canto cantar, o cantar, o cantar Fogo eterno pra afugentar O inferno pra outro lugar Fogo eterno pra constituir O inferno Fora daqui, fora daqui Fora daqui, fora daqui Subo neste palco, minha alma cheira a talco Como bumbum de bebê, de bebê Trago a minha banda, só quem sabe onde é Luanda saberá lhe dar valor, dar valor
*[Retomo hoje este post - first published 11/01/07 - por duas razoes: i) me parecer apropriado numa altura em que a musica, nas suas mais diversas vertentes, parece estar na ordem do dia em alguns circulos blogosfericos e jornalisticos (em particular depois da mais recente edicao do Luanda International Jazz Festival); ii) ja' me ser possivel colocar aqui as faixas do album originalmente mencionadas.]
“I started as a classical musician, and this album is something I’ve wanted to make for years. In many ways, I feel I’ve now come full circle in my music.” - Grover Washington, Jr. -
Este e’ um daqueles albums que, para mim, tem a caracteristica particular de apelar tanto pelo seu conteudo, como pelas circunstancias da sua publicacao em 2000, pouco depois do falecimento subito e precoce de Grover Washington, Jr. em Dezembro de 1999, aos 56 anos de idade. Por isso trago-o aqui ao Spirited Sounds.
Grover, que recebeu a sua primeira licao de saxofone do seu pai, definia a sua musica como “pequenas estorias sem palavras”. Mas, para mim, nunca antes deste Aria tinha tal definicao sido tao bem expressa na sua carreira musical (que contou entre os seus pontos altos com uma celebre ‘jam session’ com o ex-Presidente Bill Clinton e alguns dos maiores nomes do Jazz como Herbie Hancock e Wynton Marsalis).
O album e’ composto totalmente de arias de algumas das mais conhecidas obras do reportorio operatico, mas sem a sua oratoria: precisamente, pequenas estorias sem palavras… Confesso que nunca fui uma particular apreciadora do genero operatico (talvez pelas mesmas razoes porque nunca fui uma particular apreciadora dos consagrados musicais londrinos...) e que foram sempre as arias que funcionaram como o “canto da sereia” para me atrair a qualquer opera – a este proposito, lembro-me de em 1991 ter ido, no que foi a minha primeira e unica ida a opera, ao New York Metropolitan Opera (onde, como se nao bastasse ser praticamente a unica negra, tive o "descaramento" de ir de jeans…) assistir a “La Traviatta”, tendo saido de la' menos entusiasmada do que era suposto …
Pois este album (do qual infelizmente nao posso colocar aqui nenhuma das peças... o que tambem tem o seu lado positivo porque podemos ouvir, em sua substituicao, algumas das arias incluidas no album nas suas versoes cantadas) tem a particularidade de funcionar perfeitamente para mim: abre precisamente com o perfeito canto da sereia, uma das minhas arias preferidas, ‘Je Crois Entendre Encore’, do “Les Pecheurs de Perles” de Bizet. Aprendi a cantar de cor essa aria (uma das duas que sei cantar de cor; a outra e’ a popular ‘Nesum Dorma’ de Puccini) ha varios anos, ouvindo e acompanhando a versao, em Italiano, do Ney Matogrosso no seu album “Pescador de Perolas” (1986) …
[Je Crois Entendre Encore - from Bizet's The Pearlfishers]
Depois, ha' uma em particular que, em qualquer circunstancia, nao posso contornar, just for the sheer pleasure of listening to it, esta:
[E Lucevan Le Stelle - from Puccini's Tosca]
Mas ha outra razao que me faz trazer Aria a este espaco: a relacao, algo polemica, entre o dito “Jazz” e a dita “Musica Classica”. A questao e’ sempre: onde, quando e como se separam as aguas entre os dois, para alem dos evidentes “marcadores” da improvisacao no primeiro e da rigorosa codificacao no segundo? Nao sei se alguem ja conseguiu dar uma resposta convincente a essa questao (vide, por exemplo, o que disse Nina Simone sobre o assunto…), mas, como dizem os Ingleses, “the proof is in the pudding”!
[My Man's Gone Now - from Gershwin's Porgy & Bess]
E o 'pudding' podem ser varias das obras do Miles ou, mais obviamente ainda, muitas das dos manos Wynton e Branford Marsalis… Anyway, oucamos como soam duas das arias da opera 'Porgy and Bess' nas suas versoes "jazzisticas" (a comecar por uma interpretacao do Grover nao incluida em Aria - a que vem incluida e' o My Man's Gone Now. A versao cantada do I Loves You Porgy pela Nina tambem pode ser ouvida atraves do link acima) e depois vejamos o que teem a dizer os experts:
“As Grover Washington, Jr. sees it, the lines between jazz soloist and opera singer are not as clear-cut as one might imagine. Opera is a musical genre that depends on narration, and Grover views his role as soloist -- be it here, or on one of his many celebrated jazz recordings -- as an impassioned narrator. In both cases, Grover says, "You're just trying to tell a story."
[Pourquoi Me Reveiller? - from Massenet's Werther]
Consider the case of Werther, an opera by Massenet, based on a novel by Goethe. Werther is the quintessential Romantic hero, and nowhere in the opera does Massenet come closer to Goethe's Romantic ideal than in "Pourquoi me reveiller?" ("Why do you wake me?"), an aria full of foreboding and sorrow. In Grover's hands, and supported by Robert Freedman's fine and spacious arrangement, the blues within the aria are revealed.
[O Mio Babbino Caro - from Puccini's Gianni Schicchi]
Grover is the ideal narrator for the stories on Aria. Performing here on soprano, alto, tenor and baritone saxophones, Grover draws upon his artistry as a melodist to capture the emotion and spirit of a dozen of opera's most beautiful arias, from Puccini's "O mio babbino caro" (Gianni Schicchi) to Delibes' "Flower Duet" (Lakme), all with a sensibility that is very much of our day.
[Flower Duet - from Delibes' Lakme']
And yet Aria is not simply a crossing over, any more than Miles Davis' and Gil Evans' exploration of Gershwin's Porgy and Bess was simply a cooled-up version of the opera. In Aria, Grover Washington, Jr. takes the rich breadth of feeling inherent in twelve extraordinary tunes, not so much translating them into the jazz idiom as revealing them for what they are -- gorgeous, transcendent melodies that speak as clearly through the bell of a saxophone as through the human voice.” (Jackson Braider)
“Grover's brilliant career had its foundation in the fusion of genres. Along with his inimitable sound and style, his music was most celebrated for its signature synthesis of jazz and rhythm & blues. Aria marked a fusion of another kind for Grover, one both new and natural to him, and one he was eager to share. Sadly, it was the last album he was to make, completed just four months to the day before his untimely death.
[Vissi d'Arte - from Puccini's Tosca]
While the album may strike many listeners as an unexpected departure, it in fact completes a circle which began when Grover first studied music -- classical music -- at Buffalo's Wurlitzer School of Music. Classical music remained his first love. (…) Genres aside, Grover's music was always essentially about one thing -- heart. It was the (un)common denominator that defined his life's work. Puccini's magnificent soprano aria from his opera Tosca begins, "Vissi d'arte, vissi d'amore" ("I lived for art, I lived for love"). Grover Washington, Jr. did just that.” (Laraine Perri)
“I started as a classical musician, and this album is something I’ve wanted to make for years. In many ways, I feel I’ve now come full circle in my music.” - Grover Washington, Jr. -
Este e’ um daqueles albums que, para mim, tem a caracteristica particular de apelar tanto pelo seu conteudo, como pelas circunstancias da sua publicacao em 2000, pouco depois do falecimento subito e precoce de Grover Washington, Jr. em Dezembro de 1999, aos 56 anos de idade. Por isso trago-o aqui ao Spirited Sounds.
Grover, que recebeu a sua primeira licao de saxofone do seu pai, definia a sua musica como “pequenas estorias sem palavras”. Mas, para mim, nunca antes deste Aria tinha tal definicao sido tao bem expressa na sua carreira musical (que contou entre os seus pontos altos com uma celebre ‘jam session’ com o ex-Presidente Bill Clinton e alguns dos maiores nomes do Jazz como Herbie Hancock e Wynton Marsalis).
O album e’ composto totalmente de arias de algumas das mais conhecidas obras do reportorio operatico, mas sem a sua oratoria: precisamente, pequenas estorias sem palavras… Confesso que nunca fui uma particular apreciadora do genero operatico (talvez pelas mesmas razoes porque nunca fui uma particular apreciadora dos consagrados musicais londrinos...) e que foram sempre as arias que funcionaram como o “canto da sereia” para me atrair a qualquer opera – a este proposito, lembro-me de em 1991 ter ido, no que foi a minha primeira e unica ida a opera, ao New York Metropolitan Opera (onde, como se nao bastasse ser praticamente a unica negra, tive o "descaramento" de ir de jeans…) assistir a “La Traviatta”, tendo saido de la' menos entusiasmada do que era suposto …
Pois este album (do qual infelizmente nao posso colocar aqui nenhuma das peças... o que tambem tem o seu lado positivo porque podemos ouvir, em sua substituicao, algumas das arias incluidas no album nas suas versoes cantadas) tem a particularidade de funcionar perfeitamente para mim: abre precisamente com o perfeito canto da sereia, uma das minhas arias preferidas, ‘Je Crois Entendre Encore’, do “Les Pecheurs de Perles” de Bizet. Aprendi a cantar de cor essa aria (uma das duas que sei cantar de cor; a outra e’ a popular ‘Nesum Dorma’ de Puccini) ha varios anos, ouvindo e acompanhando a versao, em Italiano, do Ney Matogrosso no seu album “Pescador de Perolas” (1986) …
[Je Crois Entendre Encore - from Bizet's The Pearlfishers]
Depois, ha' uma em particular que, em qualquer circunstancia, nao posso contornar, just for the sheer pleasure of listening to it, esta:
[E Lucevan Le Stelle - from Puccini's Tosca]
Mas ha outra razao que me faz trazer Aria a este espaco: a relacao, algo polemica, entre o dito “Jazz” e a dita “Musica Classica”. A questao e’ sempre: onde, quando e como se separam as aguas entre os dois, para alem dos evidentes “marcadores” da improvisacao no primeiro e da rigorosa codificacao no segundo? Nao sei se alguem ja conseguiu dar uma resposta convincente a essa questao (vide, por exemplo, o que disse Nina Simone sobre o assunto…), mas, como dizem os Ingleses, “the proof is in the pudding”!
[My Man's Gone Now - from Gershwin's Porgy & Bess]
E o 'pudding' podem ser varias das obras do Miles ou, mais obviamente ainda, muitas das dos manos Wynton e Branford Marsalis… Anyway, oucamos como soam duas das arias da opera 'Porgy and Bess' nas suas versoes "jazzisticas" (a comecar por uma interpretacao do Grover nao incluida em Aria - a que vem incluida e' o My Man's Gone Now. A versao cantada do I Loves You Porgy pela Nina tambem pode ser ouvida atraves do link acima) e depois vejamos o que teem a dizer os experts:
“As Grover Washington, Jr. sees it, the lines between jazz soloist and opera singer are not as clear-cut as one might imagine. Opera is a musical genre that depends on narration, and Grover views his role as soloist -- be it here, or on one of his many celebrated jazz recordings -- as an impassioned narrator. In both cases, Grover says, "You're just trying to tell a story."
[Pourquoi Me Reveiller? - from Massenet's Werther]
Consider the case of Werther, an opera by Massenet, based on a novel by Goethe. Werther is the quintessential Romantic hero, and nowhere in the opera does Massenet come closer to Goethe's Romantic ideal than in "Pourquoi me reveiller?" ("Why do you wake me?"), an aria full of foreboding and sorrow. In Grover's hands, and supported by Robert Freedman's fine and spacious arrangement, the blues within the aria are revealed.
[O Mio Babbino Caro - from Puccini's Gianni Schicchi]
Grover is the ideal narrator for the stories on Aria. Performing here on soprano, alto, tenor and baritone saxophones, Grover draws upon his artistry as a melodist to capture the emotion and spirit of a dozen of opera's most beautiful arias, from Puccini's "O mio babbino caro" (Gianni Schicchi) to Delibes' "Flower Duet" (Lakme), all with a sensibility that is very much of our day.
[Flower Duet - from Delibes' Lakme']
And yet Aria is not simply a crossing over, any more than Miles Davis' and Gil Evans' exploration of Gershwin's Porgy and Bess was simply a cooled-up version of the opera. In Aria, Grover Washington, Jr. takes the rich breadth of feeling inherent in twelve extraordinary tunes, not so much translating them into the jazz idiom as revealing them for what they are -- gorgeous, transcendent melodies that speak as clearly through the bell of a saxophone as through the human voice.” (Jackson Braider)
“Grover's brilliant career had its foundation in the fusion of genres. Along with his inimitable sound and style, his music was most celebrated for its signature synthesis of jazz and rhythm & blues. Aria marked a fusion of another kind for Grover, one both new and natural to him, and one he was eager to share. Sadly, it was the last album he was to make, completed just four months to the day before his untimely death.
[Vissi d'Arte - from Puccini's Tosca]
While the album may strike many listeners as an unexpected departure, it in fact completes a circle which began when Grover first studied music -- classical music -- at Buffalo's Wurlitzer School of Music. Classical music remained his first love. (…) Genres aside, Grover's music was always essentially about one thing -- heart. It was the (un)common denominator that defined his life's work. Puccini's magnificent soprano aria from his opera Tosca begins, "Vissi d'arte, vissi d'amore" ("I lived for art, I lived for love"). Grover Washington, Jr. did just that.” (Laraine Perri)
... Ou quando os mais ignorantes e incultos sao os mais atrevidos
(..."e logo mudam de discurso em nome do actualismo"...) :
Quando é que vamos perceber que quando se domina a voz se pode cantar do blues ao jazz, do semba ao kuduru, da ópera à performance vocal contemporânea? Sem afectar as cordas vocais, sem correr o risco de perder a voz em plena actuação ou de desafinar (não vale falar da Callas, vá lá! Sabem ao que me refiro, não?)
Quando?! Talvez quando virmos a Callas, ou mesmo o Pavarotti, a ressuscitar como uma certa "CDC" (sabem ao que me refiro, nao?) para rebentar as cordas vocais a cantar o Kuduru!... Isto so' pode vir mesmo de gente arrogante ignorante que de musica nao percebe absolutamente nada e muito menos de (bel) canto e suas tecnicas!!!
Quantas vezes falo de música erudita africana e todos me olham com aquela estranheza própria da (santa) ignorância (!) que tem a música erudita como sinónimo de clássica europeia. Há 'doentes' em todos os continentes, pois... By the waaaaaay... Quando teremos em Angola um Ali Farka Touré, um Oumu Sangaré, um Salif Keita... ou um Toumani Diabaté? tarde (ou nunca) será!... Pois... e o Mali é 'pobre' entre os mais pobres do mundo e não toma banho em petróleo. Nada mais tenho a dizer. Só a partilhar... Um homem simples e grande. Um dos maiores representantes da música erudita africana. Sublime!...
(Olhem que... realmente e' preciso ter simplesmente uma granda sublime lata classica europeia!!!)
Quando?! Talvez quando virmos a Callas, ou mesmo o Pavarotti, a ressuscitar como uma certa "CDC" (sabem ao que me refiro, nao?) para rebentar as cordas vocais a cantar o Kuduru!... Isto so' pode vir mesmo de gente arrogante ignorante que de musica nao percebe absolutamente nada e muito menos de (bel) canto e suas tecnicas!!!
Quantas vezes falo de música erudita africana e todos me olham com aquela estranheza própria da (santa) ignorância (!) que tem a música erudita como sinónimo de clássica europeia. Há 'doentes' em todos os continentes, pois... By the waaaaaay... Quando teremos em Angola um Ali Farka Touré, um Oumu Sangaré, um Salif Keita... ou um Toumani Diabaté? tarde (ou nunca) será!... Pois... e o Mali é 'pobre' entre os mais pobres do mundo e não toma banho em petróleo. Nada mais tenho a dizer. Só a partilhar... Um homem simples e grande. Um dos maiores representantes da música erudita africana. Sublime!...
(Olhem que... realmente e' preciso ter simplesmente uma granda sublime lata classica europeia!!!)
Depois de termos aqui, muito recentemente, manifestado a nossa "intolerância" em relação ao kuduro, num apontamento dedicado ao sublime projecto Kapossoka, Ismael Mateus juntou-se a nós com o seu Voto na Matéria para colocar a necessária ordem no nosso circo musical. Fê-lo esta semana no SA de forma magistral. "Somos muito mais do que uns gritos ao microfone, uns acordes de sintetizador e uns coros desafinados. Valemos muito mais do que isso e temos mais riqueza cultural do que isso"- assim escreveu IM. Plenamente de acordo nesta discordância com a promoção do tal de kuduro como sendo a nossa nova bandeira. Não é nada disso, camaradas!
Temos assistido a manifestações particulares de apoio ao kuduro feitas por figuras do Estado e de grande representação politica nacional. Não há, obviamente, nada contra isso. Cada um gosta e ouve o que quiser. Temos, porém, já mais reservas quando começamos a ouvir tantas palavras oficiais de incentivo a esse género musical. A comissária de Angola na Expo Shangai, Albina Assis, fez um rasgado elogio ao kuduro como música angolana do momento, justificando a opção de o levado àquele palco de amostra da cultura angolana. O adido cultural de Angola no Brasil idem aspas ,falando do que realmente mais ‹‹se vende›› de música angolana naquele país. Temos também assistido a uma certa cumplicidade ‹‹oficial›› do ministério da Cultura, de críticos e sobretudo dos canais de televisão do Estado. (…) Mais do que os receios da entronizaçao do semba como símbolo único da música angolana, estamos hoje perante algo maior que é a vulgarização consumista da música angolana. Sentimos nas estaçoes públicas de rádio e de televisao e nos meios de decisao oficial uma tendência para o descompromisso com a cultura angolana, o que nos deixa verdadeiramente preocupados.
Depois de termos aqui, muito recentemente, manifestado a nossa "intolerância" em relação ao kuduro, num apontamento dedicado ao sublime projecto Kapossoka, Ismael Mateus juntou-se a nós com o seu Voto na Matéria para colocar a necessária ordem no nosso circo musical. Fê-lo esta semana no SA de forma magistral. "Somos muito mais do que uns gritos ao microfone, uns acordes de sintetizador e uns coros desafinados. Valemos muito mais do que isso e temos mais riqueza cultural do que isso"- assim escreveu IM. Plenamente de acordo nesta discordância com a promoção do tal de kuduro como sendo a nossa nova bandeira. Não é nada disso, camaradas!
Temos assistido a manifestações particulares de apoio ao kuduro feitas por figuras do Estado e de grande representação politica nacional. Não há, obviamente, nada contra isso. Cada um gosta e ouve o que quiser. Temos, porém, já mais reservas quando começamos a ouvir tantas palavras oficiais de incentivo a esse género musical. A comissária de Angola na Expo Shangai, Albina Assis, fez um rasgado elogio ao kuduro como música angolana do momento, justificando a opção de o levado àquele palco de amostra da cultura angolana. O adido cultural de Angola no Brasil idem aspas ,falando do que realmente mais ‹‹se vende›› de música angolana naquele país. Temos também assistido a uma certa cumplicidade ‹‹oficial›› do ministério da Cultura, de críticos e sobretudo dos canais de televisão do Estado. (…) Mais do que os receios da entronizaçao do semba como símbolo único da música angolana, estamos hoje perante algo maior que é a vulgarização consumista da música angolana. Sentimos nas estaçoes públicas de rádio e de televisao e nos meios de decisao oficial uma tendência para o descompromisso com a cultura angolana, o que nos deixa verdadeiramente preocupados.
Repostado a proposito de "(...) precisamos de ir para além do semba, do kizomba e do kú-duro, pois só assim progrediremos...", "bundas obsceno-populares vs. klassico-kulturais", "vulgares contraccoes pelvicas" e outras intelectualisses deste genero... ou, mais ainda, deste:
"A onda em si mesma não me parece grave; grave afigura-se-me o apoio de sectores que deveriam ter algum cuidado e o paternalismo com que a onda tem sido acarinhada e promovida a patamares preocupantes. As pessoas sem memória são como navegadores sem bússola. Trata-se das piores maldições que existem. Em 1974, 1975 e 1976, para silenciar um grupo de intelectuais descontentes, um esforçado mas modesto professor primário foi promovido a Teórico do Marxismo, mas deixar-nos-ia em 1977."
DE RIR... DE CHORAR... OU SIMPLESMENTE DE BRADAR AOS CEUS?! (Ignorar e' dificil...)
Encontrei hoje no interessante blog "Jazz no Pais do Improviso" este "achado pre-historico", para cuja reproducao aqui agradeco desde ja a compreensao do JNPDI, porque acho que estas coisas devem ser divulgadas o mais possivel para que, efectivamente, "a Historia nao se repita":
"PARA QUE A HISTÓRIA NÃO SE REPITA... ...aqui ficam algumas das condições que o Ministério da Educação Popular definiu, durante o Governo de Hitler, para a atribuição de licenças para espectáculos de música de dança.
DEPARTMENT OF POPULAR EDUCATION AND ART Conditions Governing the Grant of Licenses for Dance Music
NEGROID: Belonging to a Negro race. This includes the African Negroes (and also those living outside of Africa), also Pygmies, Bushmen and Hottentots. NEGRITO: In the wider sense of the term, the short-statured, curly or frizzy-haired, dark-skinned inhabitants of Southeastern Asia, Melanesia and Central Africa.
1. Music: The Embargo on Negroid and Negrito Factors in dance Music and Music for Entertainments.
2. Introduction: The following regulations are intended to indicate the revival of the European spirit in the music played in this country for dances and amusements, by freeing the latter from the elements of that primitive Negroid and/or Negrito music, which may be justly regarded as being in flagrant conflict with the Europeon conception of music. These regulations constitute a transitory measure born of practical considerations and which must of necessity precede a general revival.
3. Prohibition: It is forbidden to play in public music which possesses to a marked degree characteristic features of the method of improvisation, execution, composition and arrangement adopted by Negroes and colored people. It is forbidden in publications, reports, programs, printed or verbal announcements, etc.: (a) to describe music played or to be played with the words "jazz" or "jazz music." (b) to use the technical jargon described below, except in reference to or as a description of the instrumental and vocal dance music of the North American Negroes. Exceptions may Be permitted where such music is intended for a strictly scientific or strictly educational purpose and where such music is interpreted by persons having two or more Negroid or Negritic grandparents.
4. Descripton of The Main Characteristic Features of the Above-Mentioned Music which Differ from the European Conception of Music: The use of tonally undefined mordents, Ostentatious trills, double-stopping or ascendant glissandi, obtained in the Negro style by excessive vibrato, lip technique and/or shaking of the musical instrument. In jazz terminology, the effects known as "dinge," "smear" and "whip." Also the use of intentional vocalization of an instrumental tone by imitating a throaty sound. In jazz terminology, the adoption of the "growl" on brass wind instruments, and also the "scratchy" clarinet tone. Also the use of any intentional instrumentalization of the singing voice by substituting senseless syllables for the words in the text by "metalizing" the voice. In jazz terminology, so-called "scat" singing and the vocal imitation of brass wind instruments. Also the use in Negro fashion of harshly timbered and harshly dynamic intonations unless already described. In jazz terminology, the use of "hot" intonations. Also the use in Negro fashion of dampers on brass and woodwind instruments in which the formation of the tone is achieved in solo items with more than the normal pressure. This does not apply to saxophones or trombones. Likewise forbidden, in the melody, is any melody formed in the manner characteristic of Negro players, and which can be unmistakably recognized.
5. Expressly Forbidden: The adoption in Negro fashion of short motifs of exaggerated pitch and rhythm, repeated more than three times without interruption by a solo instrument (or soloist), or more than sixteen times in succession without interruption by a group of instruments played by a band. In jazz terminology, any adoption of "licks" and "riffs" repeated more than three times in succession by a soloist or more than sixteen times for one section or for two or more sections. Also the exaggeration of Negroid bass forms, based on the broken tritone. In jazz terminology, the "boogie-woogie," "honky tonk" or "barrelhouse" style.
6. Instruments Banned: Use of very primitive instruments such as the Cuban Negro "quijada" (jaw of a donkey) and the North American Negro "washboard." Also the use of rubber mutes (plungers) for wind brass instruments, the imitation of a throaty tone in the use of mutes which, whether accompanied by any special movement of the hand or not, effect an imitation of a nasal sound. In jazz terminology, use of "plungers" and "Wah Wah" dampers. The so-called "tone color" mutes may, however, be used. Also the playing in Negro fashion of long, drawn-out percussion solos or an imitation thereof for more than two or four three-time beats, more frequently than three times or twice in the course of 32 successive beats in a complete interpretation. In jazz terminology, "stop choruses" by percussion instruments, except brass cymbals. There is no objection to providing a chorus with percussion solos in places where a break could also come, but at not more than three such places. Also the use of a constant, long drawn-out exaggerated tonal emphasis on the second and fourth beats in 4/4 time. In jazz terminology, the use of the long drawn-out "off beat" effect."
Ilustracao: Dancing in a Shebeen (Zantsi, AVA Collection - SA)
"A onda em si mesma não me parece grave; grave afigura-se-me o apoio de sectores que deveriam ter algum cuidado e o paternalismo com que a onda tem sido acarinhada e promovida a patamares preocupantes. As pessoas sem memória são como navegadores sem bússola. Trata-se das piores maldições que existem. Em 1974, 1975 e 1976, para silenciar um grupo de intelectuais descontentes, um esforçado mas modesto professor primário foi promovido a Teórico do Marxismo, mas deixar-nos-ia em 1977."
DE RIR... DE CHORAR... OU SIMPLESMENTE DE BRADAR AOS CEUS?! (Ignorar e' dificil...)
Encontrei hoje no interessante blog "Jazz no Pais do Improviso" este "achado pre-historico", para cuja reproducao aqui agradeco desde ja a compreensao do JNPDI, porque acho que estas coisas devem ser divulgadas o mais possivel para que, efectivamente, "a Historia nao se repita":
"PARA QUE A HISTÓRIA NÃO SE REPITA... ...aqui ficam algumas das condições que o Ministério da Educação Popular definiu, durante o Governo de Hitler, para a atribuição de licenças para espectáculos de música de dança.
DEPARTMENT OF POPULAR EDUCATION AND ART Conditions Governing the Grant of Licenses for Dance Music
NEGROID: Belonging to a Negro race. This includes the African Negroes (and also those living outside of Africa), also Pygmies, Bushmen and Hottentots. NEGRITO: In the wider sense of the term, the short-statured, curly or frizzy-haired, dark-skinned inhabitants of Southeastern Asia, Melanesia and Central Africa.
1. Music: The Embargo on Negroid and Negrito Factors in dance Music and Music for Entertainments.
2. Introduction: The following regulations are intended to indicate the revival of the European spirit in the music played in this country for dances and amusements, by freeing the latter from the elements of that primitive Negroid and/or Negrito music, which may be justly regarded as being in flagrant conflict with the Europeon conception of music. These regulations constitute a transitory measure born of practical considerations and which must of necessity precede a general revival.
3. Prohibition: It is forbidden to play in public music which possesses to a marked degree characteristic features of the method of improvisation, execution, composition and arrangement adopted by Negroes and colored people. It is forbidden in publications, reports, programs, printed or verbal announcements, etc.: (a) to describe music played or to be played with the words "jazz" or "jazz music." (b) to use the technical jargon described below, except in reference to or as a description of the instrumental and vocal dance music of the North American Negroes. Exceptions may Be permitted where such music is intended for a strictly scientific or strictly educational purpose and where such music is interpreted by persons having two or more Negroid or Negritic grandparents.
4. Descripton of The Main Characteristic Features of the Above-Mentioned Music which Differ from the European Conception of Music: The use of tonally undefined mordents, Ostentatious trills, double-stopping or ascendant glissandi, obtained in the Negro style by excessive vibrato, lip technique and/or shaking of the musical instrument. In jazz terminology, the effects known as "dinge," "smear" and "whip." Also the use of intentional vocalization of an instrumental tone by imitating a throaty sound. In jazz terminology, the adoption of the "growl" on brass wind instruments, and also the "scratchy" clarinet tone. Also the use of any intentional instrumentalization of the singing voice by substituting senseless syllables for the words in the text by "metalizing" the voice. In jazz terminology, so-called "scat" singing and the vocal imitation of brass wind instruments. Also the use in Negro fashion of harshly timbered and harshly dynamic intonations unless already described. In jazz terminology, the use of "hot" intonations. Also the use in Negro fashion of dampers on brass and woodwind instruments in which the formation of the tone is achieved in solo items with more than the normal pressure. This does not apply to saxophones or trombones. Likewise forbidden, in the melody, is any melody formed in the manner characteristic of Negro players, and which can be unmistakably recognized.
5. Expressly Forbidden: The adoption in Negro fashion of short motifs of exaggerated pitch and rhythm, repeated more than three times without interruption by a solo instrument (or soloist), or more than sixteen times in succession without interruption by a group of instruments played by a band. In jazz terminology, any adoption of "licks" and "riffs" repeated more than three times in succession by a soloist or more than sixteen times for one section or for two or more sections. Also the exaggeration of Negroid bass forms, based on the broken tritone. In jazz terminology, the "boogie-woogie," "honky tonk" or "barrelhouse" style.
6. Instruments Banned: Use of very primitive instruments such as the Cuban Negro "quijada" (jaw of a donkey) and the North American Negro "washboard." Also the use of rubber mutes (plungers) for wind brass instruments, the imitation of a throaty tone in the use of mutes which, whether accompanied by any special movement of the hand or not, effect an imitation of a nasal sound. In jazz terminology, use of "plungers" and "Wah Wah" dampers. The so-called "tone color" mutes may, however, be used. Also the playing in Negro fashion of long, drawn-out percussion solos or an imitation thereof for more than two or four three-time beats, more frequently than three times or twice in the course of 32 successive beats in a complete interpretation. In jazz terminology, "stop choruses" by percussion instruments, except brass cymbals. There is no objection to providing a chorus with percussion solos in places where a break could also come, but at not more than three such places. Also the use of a constant, long drawn-out exaggerated tonal emphasis on the second and fourth beats in 4/4 time. In jazz terminology, the use of the long drawn-out "off beat" effect."
Ilustracao: Dancing in a Shebeen (Zantsi, AVA Collection - SA)
recebi-as ha’ dias da Lua, de presente,
essas vozes da Bethania e da Omara
e’ assim mesmo, sem titulo,
so’ ‘edicao especial’
(em CD e DVD)
Poema LXIV - Palabras/Palavras
da Bethania fez-me lembrar do quanto tempo ha’ que nao a ouvia, desde quando comprava todos e cada um dos seus albuns e assistia a todo e cada um dos seus espectaculos no Coliseu dos Recreios, em Lisboa
da Omara lembrou-me do quanto pouco conheco a sua musica, para alem de a ter ouvido naquela famosa colectanea do Buena Vista Social Club, se nao me engano
Voce
juntaram maos e vozes para cumplicemente cantar e falar de voce, de amores e de palabras, suspiros, marambaias, paixoes, arrependimentos e mil congojas
e assim as dedico, neste ‘dia especial’, especialmente a quem mas mandou e a quem mas trouxe
Talvez
e mais a toda(o)s a(o)s outra(o)s amorada(o)s da vida
e’ assim mesmo, sem titulo,
so’ ‘edicao especial’
(em CD e DVD)
Poema LXIV - Palabras/Palavras
da Bethania fez-me lembrar do quanto tempo ha’ que nao a ouvia, desde quando comprava todos e cada um dos seus albuns e assistia a todo e cada um dos seus espectaculos no Coliseu dos Recreios, em Lisboa
da Omara lembrou-me do quanto pouco conheco a sua musica, para alem de a ter ouvido naquela famosa colectanea do Buena Vista Social Club, se nao me engano
Voce
juntaram maos e vozes para cumplicemente cantar e falar de voce, de amores e de palabras, suspiros, marambaias, paixoes, arrependimentos e mil congojas
e assim as dedico, neste ‘dia especial’, especialmente a quem mas mandou e a quem mas trouxe
Talvez
e mais a toda(o)s a(o)s outra(o)s amorada(o)s da vida
A primeira vez que ouvi falar de Seu Jorge e da sua musica foi num documentario da BBC filmado no Brasil, ja’ aqui ha’ uns tempos. Dele fiquei com a imagem de um musico revolucionario, interventor e activista social completamente fora da mainstream brasileira. Mas nao voltei desde entao a ver ou ouvir nada dele. Foi, portanto, com aquela imagem em mente e uma enorme curiosidade de conhecer melhor a sua musica que ontem fui a Roundhousepara o ver e ouvir.
Infelizmente, sai de la’ decepcionada. Na verdade, creio que foi a primeira vez que, tendo eu entrado para um espectaculo cheia de expectativas, a dada altura me aconteceu sentir-me alheada e momentaneamente assaltada por uma vontade de sair antes de ele ter terminado. Mas se me perguntarem se foi mau, ou “assim tao mau”, eu direi que nao, nao foi. De facto nao foi nada mau. Foi apenas aquem das minhas expectativas – de facto, estava mais do que expectante, estava convencida de que sairia de la’ satisfeita, a tal ponto que ate’ dispensei o ‘introito’ de Gilles Peterson que, quem sabe, talvez pudesse ter sido mais satisfatorio.
Como nao conhecia bem a musica dele, nao consegui reconhecer as cancoes, nem perceber muito bem as letras – pareceu-me que o som era “grande demais” para o espaco e para uma assistencia particularmente barulhenta.
Refiro-me as cancoes que fazem parte do seu reportorio, porque reconheci, e de que maneira(!), as cancoes de uma mais que conhecida suite de musica carnavalesca (incluindo o "Mas Que Nada", "Mama Eu Quero", "Me Da’ Um Dinheiro Ai" e outras afins) com que ocupou o longo segmento final do show e que acabou por ser, pela participacao da audiencia, o seu momento mais alto. Ora, isso nao era exactamente o que eu esperava de um artista original e fora da mainstream, particularmente quando a audiencia, mesmo se largamente constituida por brasileiros residentes em Londres (que se reconheciam pela forma como dancavam, cantavam e gritavam durante todo o show), era em principio composta maioritariamente por pessoas que, como eu, mal o conheciam ou a sua musica. Enfim, em vespera de noite de Halloween foi como se tivesse sido presenteada com um misto de treat and trick, quando tudo o que esperava era o treat... Mas, adiante.
Entretanto comprei o CD dele que la’ tinham a venda - "America, Brasil, O Disco" - e fui para casa esperando ressarcir-me de algum modo ouvindo-o. Gostei, achei-o musicalmente inovador e politicamente provocador, embora nao tenha encontrado nele algumas das cancoes que me lembro de ter ouvido durante o show, particularmente uma das poucas de que pude entender pelo menos uma frase que dizia “a carne mais barata do mercado e’ a carne negra”. Mas encontrei outras que ele tambem cantou e que achei interessantes, como “Trabalhador”, “Burguesinha” e “Mina do Condominio”.
Nao me lembro de ele ter cantado esta “So’ No Chat”, mas deixo-a aqui pelo muito que nos diz sobre as vidas virtuais que, mesmo sem disso muitas vezes nos apercebermos, cada vez mais vamos vivendo e, em muitos casos, com consequencias, se nem sempre desastrosas, pelo menos frequentemente pouco agradaveis e sempre caricatas ou, como tambem gosto de lhes chamar, irracionais…
A primeira vez que ouvi falar de Seu Jorge e da sua musica foi num documentario da BBC filmado no Brasil, ja’ aqui ha’ uns tempos. Dele fiquei com a imagem de um musico revolucionario, interventor e activista social completamente fora da mainstream brasileira. Mas nao voltei desde entao a ver ou ouvir nada dele. Foi, portanto, com aquela imagem em mente e uma enorme curiosidade de conhecer melhor a sua musica que ontem fui a Roundhousepara o ver e ouvir.
Infelizmente, sai de la’ decepcionada. Na verdade, creio que foi a primeira vez que, tendo eu entrado para um espectaculo cheia de expectativas, a dada altura me aconteceu sentir-me alheada e momentaneamente assaltada por uma vontade de sair antes de ele ter terminado. Mas se me perguntarem se foi mau, ou “assim tao mau”, eu direi que nao, nao foi. De facto nao foi nada mau. Foi apenas aquem das minhas expectativas – de facto, estava mais do que expectante, estava convencida de que sairia de la’ satisfeita, a tal ponto que ate’ dispensei o ‘introito’ de Gilles Peterson que, quem sabe, talvez pudesse ter sido mais satisfatorio.
Como nao conhecia bem a musica dele, nao consegui reconhecer as cancoes, nem perceber muito bem as letras – pareceu-me que o som era “grande demais” para o espaco e para uma assistencia particularmente barulhenta.
Refiro-me as cancoes que fazem parte do seu reportorio, porque reconheci, e de que maneira(!), as cancoes de uma mais que conhecida suite de musica carnavalesca (incluindo o "Mas Que Nada", "Mama Eu Quero", "Me Da’ Um Dinheiro Ai" e outras afins) com que ocupou o longo segmento final do show e que acabou por ser, pela participacao da audiencia, o seu momento mais alto. Ora, isso nao era exactamente o que eu esperava de um artista original e fora da mainstream, particularmente quando a audiencia, mesmo se largamente constituida por brasileiros residentes em Londres (que se reconheciam pela forma como dancavam, cantavam e gritavam durante todo o show), era em principio composta maioritariamente por pessoas que, como eu, mal o conheciam ou a sua musica. Enfim, em vespera de noite de Halloween foi como se tivesse sido presenteada com um misto de treat and trick, quando tudo o que esperava era o treat... Mas, adiante.
Entretanto comprei o CD dele que la’ tinham a venda - "America, Brasil, O Disco" - e fui para casa esperando ressarcir-me de algum modo ouvindo-o. Gostei, achei-o musicalmente inovador e politicamente provocador, embora nao tenha encontrado nele algumas das cancoes que me lembro de ter ouvido durante o show, particularmente uma das poucas de que pude entender pelo menos uma frase que dizia “a carne mais barata do mercado e’ a carne negra”. Mas encontrei outras que ele tambem cantou e que achei interessantes, como “Trabalhador”, “Burguesinha” e “Mina do Condominio”.
Nao me lembro de ele ter cantado esta “So’ No Chat”, mas deixo-a aqui pelo muito que nos diz sobre as vidas virtuais que, mesmo sem disso muitas vezes nos apercebermos, cada vez mais vamos vivendo e, em muitos casos, com consequencias, se nem sempre desastrosas, pelo menos frequentemente pouco agradaveis e sempre caricatas ou, como tambem gosto de lhes chamar, irracionais…
Confesso que nao sou exactamente uma fa incondicional da musica de Paulo Flores. Nao deixo, no entanto, de lhe reconhecer o talento e a tenacidade que lhe permitiram evoluir artisticamente, diria que de forma dramatica, desde o inicio da sua carreira ate’ a posicao que o colocou este ano como um meritorio galardoado com o Premio Nacional de Cultura na categoria de musica. Mais meritorio que outros possiveis? Nao sei. Sei apenas, honestamente, o que a musica de Paulo Flores me sugere: que talvez ainda lhe falte alcancar um maior equilibrio entre o que e’ genuinamente sua criacao, aquilo que ‘toma de emprestimo’ a outros e as muitas influencias a que se mostra particularmente permeavel, nomeadamente a brasileira. Dito isso, a ocasiao serve-me de pretexto para dedicar um post a alguma da sua musica, com destaque para alguns duetos que acho particularmente bem conseguidos, tendo os tres ultimos ja' por aqui passado noutras ocasioes.
E’ so Ma Bo (c/ Lura)
N’Zambi N’Zambi (c/ Sara Tavares)
Poema do Semba (c/ Carlos Burity)
E’ Doce Morrer no Mar (c/ Wyza)
Falso Testemunho (c/ Tito Paris)
Clarice (c/ Tito Paris)
Xe’ Povo (c/ Dog Murras)
Confesso que nao sou exactamente uma fa incondicional da musica de Paulo Flores. Nao deixo, no entanto, de lhe reconhecer o talento e a tenacidade que lhe permitiram evoluir artisticamente, diria que de forma dramatica, desde o inicio da sua carreira ate’ a posicao que o colocou este ano como um meritorio galardoado com o Premio Nacional de Cultura na categoria de musica. Mais meritorio que outros possiveis? Nao sei. Sei apenas, honestamente, o que a musica de Paulo Flores me sugere: que talvez ainda lhe falte alcancar um maior equilibrio entre o que e’ genuinamente sua criacao, aquilo que ‘toma de emprestimo’ a outros e as muitas influencias a que se mostra particularmente permeavel, nomeadamente a brasileira. Dito isso, a ocasiao serve-me de pretexto para dedicar um post a alguma da sua musica, com destaque para alguns duetos que acho particularmente bem conseguidos, tendo os tres ultimos ja' por aqui passado noutras ocasioes.
Esta semana, no SA, uma interessante entrevista com o Embaixador de Franca em Angola:
"A visita do presidente francês provavelmente seja o reconhecimento de que, depois de há dez anos, o presidente (Jacques) Chirac efectuou uma visita de Estado a Angola, a paz finalmente reina entre os angolanos, que prevalece a reconciliação e que está em curso um processo de abertura do país (não só do lado económico, da abertura dos capitais ou financeira), uma abertura subjacente ao facto de Angola ter projectado o reembolso da divida externa (para com os países do Clube do Paris), com o que tomou uma decisão tão importante, que abriu Angola à obtenção de novo créditos financeiros, mas, sobretudo, a um novo crédito moral, pois trata-se do regresso de Angola à comunidade financeira internacional. Foi uma decisão implementada em Janeiro deste ano que se torna importante na medida em que representa o regresso de Angola à comunidade financeira internacional, o que quer dizer que Angola vai poder obter novos créditos. Pedimos que seja consignado dinheiro à Agência Francesa de Desenvolvimento a decisão de Angola (claro que o Clube de Paris ajudou Angola a tomar essa decisão que, no entanto, foi inteiramente angolana) foi uma decisão de grande elevação, porquanto trata-se de, por fim, retomar os laços com a comunidade internacional. Quer dizer que a «ilha» que se pensava que era Angola, aproximou-se um pouco mais do continente africano." [Aqui]
Ainda no SA, um dossier sobre um workshop que a Open Society organizou em Luanda sobre o Orcamento Geral do Estado:
"Conclusões e Recomendações do Workshop"
• A nossa economia tem tido um crescimento global bastante acentuado. Todavia, quando são analisados os principais indicadores que integram o índice de Desenvolvimento Humano, notamos uma evolução positiva apenas no que respeita ao valor do Pib per capita. Muitos dos restantes indicadores continuam a degradar-se. É isso que justifica o mantermo-nos ainda muito perto da cauda do ranking internacional. • O anteriormente descrito induz-nos a recomendar que, no processo de elaboração do OGE, haja um crescente cuidado com o sector social e com os recursos humanos, como forma de se garantir não só a sustentabilidade do crescimento económico, mas, também, um maior respeito pelos direitos humanos. [Aqui]
Sobre a questao, dois Economistas expoem os seus pontos de vista:
Alves da Rocha em "A Preparacao do Orcamento e os seus Principios"
"O Governo angolano tem vindo, sistematicamente, a ser questionado sobre a transparência do processo orçamental e as razões duma ausência de participação da sociedade civil na elaboração do Orçamento Geral do Estado. Os questionamentos e as pressões advêm de algumas organizações angolanas e, também, de muitas ONG estrangeiras, as quais, de certa maneira, têm procurado influenciar as suas congeners angolanas sobre a necessidade de a metodologia de elaboração do documento financeiro do Governo ser mais aberta e dialogante. Sobre esta matéria eu tenho uma opinião muito própria e estou, na verdade, bastante curioso em conhecer as experiências que irão ser apresentadas nesta conferência, para tentar perceber o que elas têm de demagógico e de efectivo, em termos de reforço dos sistemas democráticos nacionais." [Aqui]
Fernando Heitor em "A Fiscalizacao do OGE pela AN"
"O Orçamento é uma previsão anual das despesas a realizar pelo Estado e dos processos de as cobrir, incluindo a autorização concedida ao Governo para realizar despesas públicas e cobrar receitas, limitando os poderes financeiros do Governo em cada ano. Exprime, a forma como o Estado vai obter e gastar os seus rendimentos durante o ano; Condensa a política financeira a executar durante esse ano; Orçamento, é portanto, a instituição jurídica fundamental e o quadro básico que orienta a actividade financeira dos Estados modernos, sejam eles, mais ou menos democráticos!" [Aqui]
No Cruzeiro do Sul uma detalhada analise do surgimento do primeiro canal de televisao privado em Angola:
"Foi noticiado, em Portugal, o lançamento, ainda este ano, em Angola, da primeira televisão privada. O futuro canal, Segundo o jornal de notícias, vai chamar-se Zimbo TV e é propriedade da Medianova SA. De acordo com a mesma fonte, o projecto da primeira televisão privada conta com o apoio da TVI, o segundo canal privado português. Medianova que é uma Sociedade Anónima, mas, nos termos da lei de imprensa, as suas acções têm de ser nominativas e, para efeitos de respeito pela concorrência, a sua composição deve ser dada a conhecer ao conselho nacional de comunicação social. Tudo indica que a Medianova seja uma emanação dos serviços de apoio à Presidência da República. No entanto, ao Jornal Público, de Portugal, Artur Queirós havia afirmado que o objective do grupo é o de assegurar "informação rigorosa, independente e profissional", sem interferência do poder político". Ainda em 2006, o Jornal público havia anunciado o lançamento de um projecto multifacetado na midia angolana. Já nessa altura, se dizia que o nome do grupo de comunicação seria Medianova e que o director de publicações seria Artur Queirós, um jornalista português próximo dos serviços de imprensa da presidência da república e também um dos seus mais radicais defensores em comentários no Jornal de Angola." [Aqui]
O Novo Jornal da-nos conta de uma dissertacao de JMM Tali na Sorbonne:
"O Historiador Jean Michel Mabeko Tali irá dissertar uma palestra subordinada ao tema «0 problema de Cabinda e o processo de paz em Angola», na próxima segunda, 26 de Maio, na Universidade Sorbonne, em Paris. Esta conferência está inserida no âmbito dos seminários sobre «História de África Negra do Século XIX aos nossos dias» e «Fronteiras Dinâmicas de Transterritorialização», numa organização do historiador congolês Elikia Mbokolo, director da Escola de Altos Estudos Sociais daquela universidade."
[Aqui]
Ainda no NJ, uma entrevista com Paulo Flores:
"0 músico angolano Paulo Flores assinala 20 anos de carreira, após o lançamento do seu primeiro disco, Kapuete Kamundanda, em 1988. Neste sentido, para reavivar os seus fãs, Paulo Flores promete realizar no próximo mês de Julho um grande espectáculo ao vivo, na Cidadela Desportiva, em Luanda, que servirá igualmente para gravação de um CD e DVD ao vivo. Esta trilogia é um trabalho que irá sair na primeira semana de Dezembro, mas em Junho vamos fazer um volume com três músicas de cada CD e mais um «bónus track». Então, no fundo, será a primeira apresentação das músicas que no total serão 27. (...) Às vezes fica um pouco difícil sintetizar as 27 músicas, mas irei recuperar quatro músicas, às quais irei dar novos arranjos e acabamentos, o resto é tudo inédito. É um pouco difícil resumir, mas falase de esperança, de amor, do dia-adia. E faço uma releitura de alguns temas entre os quais uma música do David Zé, uma dos Ngola Ritmos, um tema antigo do Bana, faço uma versão em português do «Recontré», canto uma música com a Mayra Andrade, com letra do Vinicius de Moraes, gravei, no Rio de Janeiro, uma música com o Daniel Jobin, neto do Tom, no piano do Tom, chama-se «Interlúdio» e acredito que venha a ser um dos momentos altos da trilogia. Portanto, acredito que as pessoas irão gostar."
"A visita do presidente francês provavelmente seja o reconhecimento de que, depois de há dez anos, o presidente (Jacques) Chirac efectuou uma visita de Estado a Angola, a paz finalmente reina entre os angolanos, que prevalece a reconciliação e que está em curso um processo de abertura do país (não só do lado económico, da abertura dos capitais ou financeira), uma abertura subjacente ao facto de Angola ter projectado o reembolso da divida externa (para com os países do Clube do Paris), com o que tomou uma decisão tão importante, que abriu Angola à obtenção de novo créditos financeiros, mas, sobretudo, a um novo crédito moral, pois trata-se do regresso de Angola à comunidade financeira internacional. Foi uma decisão implementada em Janeiro deste ano que se torna importante na medida em que representa o regresso de Angola à comunidade financeira internacional, o que quer dizer que Angola vai poder obter novos créditos. Pedimos que seja consignado dinheiro à Agência Francesa de Desenvolvimento a decisão de Angola (claro que o Clube de Paris ajudou Angola a tomar essa decisão que, no entanto, foi inteiramente angolana) foi uma decisão de grande elevação, porquanto trata-se de, por fim, retomar os laços com a comunidade internacional. Quer dizer que a «ilha» que se pensava que era Angola, aproximou-se um pouco mais do continente africano." [Aqui]
Ainda no SA, um dossier sobre um workshop que a Open Society organizou em Luanda sobre o Orcamento Geral do Estado:
"Conclusões e Recomendações do Workshop"
• A nossa economia tem tido um crescimento global bastante acentuado. Todavia, quando são analisados os principais indicadores que integram o índice de Desenvolvimento Humano, notamos uma evolução positiva apenas no que respeita ao valor do Pib per capita. Muitos dos restantes indicadores continuam a degradar-se. É isso que justifica o mantermo-nos ainda muito perto da cauda do ranking internacional. • O anteriormente descrito induz-nos a recomendar que, no processo de elaboração do OGE, haja um crescente cuidado com o sector social e com os recursos humanos, como forma de se garantir não só a sustentabilidade do crescimento económico, mas, também, um maior respeito pelos direitos humanos. [Aqui]
Sobre a questao, dois Economistas expoem os seus pontos de vista:
Alves da Rocha em "A Preparacao do Orcamento e os seus Principios"
"O Governo angolano tem vindo, sistematicamente, a ser questionado sobre a transparência do processo orçamental e as razões duma ausência de participação da sociedade civil na elaboração do Orçamento Geral do Estado. Os questionamentos e as pressões advêm de algumas organizações angolanas e, também, de muitas ONG estrangeiras, as quais, de certa maneira, têm procurado influenciar as suas congeners angolanas sobre a necessidade de a metodologia de elaboração do documento financeiro do Governo ser mais aberta e dialogante. Sobre esta matéria eu tenho uma opinião muito própria e estou, na verdade, bastante curioso em conhecer as experiências que irão ser apresentadas nesta conferência, para tentar perceber o que elas têm de demagógico e de efectivo, em termos de reforço dos sistemas democráticos nacionais." [Aqui]
Fernando Heitor em "A Fiscalizacao do OGE pela AN"
"O Orçamento é uma previsão anual das despesas a realizar pelo Estado e dos processos de as cobrir, incluindo a autorização concedida ao Governo para realizar despesas públicas e cobrar receitas, limitando os poderes financeiros do Governo em cada ano. Exprime, a forma como o Estado vai obter e gastar os seus rendimentos durante o ano; Condensa a política financeira a executar durante esse ano; Orçamento, é portanto, a instituição jurídica fundamental e o quadro básico que orienta a actividade financeira dos Estados modernos, sejam eles, mais ou menos democráticos!" [Aqui]
No Cruzeiro do Sul uma detalhada analise do surgimento do primeiro canal de televisao privado em Angola:
"Foi noticiado, em Portugal, o lançamento, ainda este ano, em Angola, da primeira televisão privada. O futuro canal, Segundo o jornal de notícias, vai chamar-se Zimbo TV e é propriedade da Medianova SA. De acordo com a mesma fonte, o projecto da primeira televisão privada conta com o apoio da TVI, o segundo canal privado português. Medianova que é uma Sociedade Anónima, mas, nos termos da lei de imprensa, as suas acções têm de ser nominativas e, para efeitos de respeito pela concorrência, a sua composição deve ser dada a conhecer ao conselho nacional de comunicação social. Tudo indica que a Medianova seja uma emanação dos serviços de apoio à Presidência da República. No entanto, ao Jornal Público, de Portugal, Artur Queirós havia afirmado que o objective do grupo é o de assegurar "informação rigorosa, independente e profissional", sem interferência do poder político". Ainda em 2006, o Jornal público havia anunciado o lançamento de um projecto multifacetado na midia angolana. Já nessa altura, se dizia que o nome do grupo de comunicação seria Medianova e que o director de publicações seria Artur Queirós, um jornalista português próximo dos serviços de imprensa da presidência da república e também um dos seus mais radicais defensores em comentários no Jornal de Angola." [Aqui]
O Novo Jornal da-nos conta de uma dissertacao de JMM Tali na Sorbonne:
"O Historiador Jean Michel Mabeko Tali irá dissertar uma palestra subordinada ao tema «0 problema de Cabinda e o processo de paz em Angola», na próxima segunda, 26 de Maio, na Universidade Sorbonne, em Paris. Esta conferência está inserida no âmbito dos seminários sobre «História de África Negra do Século XIX aos nossos dias» e «Fronteiras Dinâmicas de Transterritorialização», numa organização do historiador congolês Elikia Mbokolo, director da Escola de Altos Estudos Sociais daquela universidade."
[Aqui]
Ainda no NJ, uma entrevista com Paulo Flores:
"0 músico angolano Paulo Flores assinala 20 anos de carreira, após o lançamento do seu primeiro disco, Kapuete Kamundanda, em 1988. Neste sentido, para reavivar os seus fãs, Paulo Flores promete realizar no próximo mês de Julho um grande espectáculo ao vivo, na Cidadela Desportiva, em Luanda, que servirá igualmente para gravação de um CD e DVD ao vivo. Esta trilogia é um trabalho que irá sair na primeira semana de Dezembro, mas em Junho vamos fazer um volume com três músicas de cada CD e mais um «bónus track». Então, no fundo, será a primeira apresentação das músicas que no total serão 27. (...) Às vezes fica um pouco difícil sintetizar as 27 músicas, mas irei recuperar quatro músicas, às quais irei dar novos arranjos e acabamentos, o resto é tudo inédito. É um pouco difícil resumir, mas falase de esperança, de amor, do dia-adia. E faço uma releitura de alguns temas entre os quais uma música do David Zé, uma dos Ngola Ritmos, um tema antigo do Bana, faço uma versão em português do «Recontré», canto uma música com a Mayra Andrade, com letra do Vinicius de Moraes, gravei, no Rio de Janeiro, uma música com o Daniel Jobin, neto do Tom, no piano do Tom, chama-se «Interlúdio» e acredito que venha a ser um dos momentos altos da trilogia. Portanto, acredito que as pessoas irão gostar."