[Em memoria da Batalha do Kuito Kwanavale]
A segunda parte desta serie foi exibida ontem, como previsto, e concentrou-se exclusivamente no periodo imediatamente anterior ao 11 de Novembro e ao pos-independencia de Angola.
Um dos primeiros intervenientes foi Jorge Valentim, que relatou o ambiente de desconfianca existente durante as negociacoes de Penina em que, citando-o, “no hotel de quatro andares em que as partes foram hospedadas, o r/c era destinado as reunioes plenarias, o primeiro andar a UNITA, o segundo a FNLA, o terceiro ao MPLA e o quarto aos Portugueses”… o que, para alem da ideia de hierarquia, tera’ criado nos hospedados nos primeiro e segundo andares um clima de suspeicao em relacao aos hospedados nos andares de cima ou, para usar a sua expressao, uma constante sensacao de “plotting going on up there”…
Outro interveniente pela UNITA foi Tony da Costa Fernandes, que relatou o encontro entre Savimbi e Reagan alguns anos mais tarde, ao fim do qual Reagan tera’ ordenado aos seus assistentes militares: “o homem quer os Stingers… nos nao os demos nem sequer aos nossos amigos Sul-Koreanos... but, if he wants the Stingers, give him the Stingers”! Outros intervenientes de destaque foram Ngola Kabango pela FNLA, Paulo Jorge, Ndalu e Onambwe pelo MPLA, Chester Crocker pelos Americanos, Jorge Risquet pelos Cubanos e Pik Botha pelos Sul-Africanos.
O episodio foi marcado por uma remarcavel boa disposicao, sobretudo por parte de Onambwe e Ndalu (“o sorriso dos vencedores”?), com anedotas a volta do relato de alguns dos episodios mais criticos do periodo em analise. Por qualquer razao, as anedotas foram quase todas a volta de charutos cubanos… Onambwe conta como Neto, que nunca tinha fumado na vida, uma vez acende um charuto cubano durante uma reuniao e quando da’ conta de que esta’ toda a gente a olhar para ele, levanta o charuto e diz: foi o Fidel que me mandou! ... Ndalu recorda a poluicao provocada nas salas de reunioes das negociacoes a volta da batalha do Kuito Kwanavale pelos charutos de Jorge Risquet, enquanto este explica que o fazia so’ para irritar Americanos e Sul-Africanos…
Uma das poucas anedotas que nao teve a ver com charutos cubanos foi contada por Crocker que recorda como era facil monitorar os movimentos dos cubanos: segundo ele, sempre que aparecia um campo de baseball algures, era sinal de que os cubanos tinham chegado, ou estavam para chegar, aquela localidade; sempre que desaparecia um campo de baseball, era porque os cubanos tinham abandonado a localidade... O que me fez lembrar de um "ditado", tipo nota "precaucionaria" para automobilistas, que se usava (sera' que ainda se usa?) la' na banda: "tal como atras de uma bola vem sempre uma crianca, atras de um porco vem sempre um cubano"!
Os momentos mais serios sao trazidos por Pik Botha que acusa Risquet de, para alem de poluir o ambiente com os seus charutos, ter sido “vicious” logo no inicio das tais reunioes, acusando os Sul-Africanos de serem “racistas, fascistas e de so’ provocarem dissabores onde quer que se envolvessem” (… como se isso fosse alguma mentira!). Entretanto, Ndalu recorda das mesmas reunioes, sempre com o seu sorriso, ter perguntado a Botha, depois de este ter acusado os Cubanos de “adoptarem falsa nacionalidade Angolana e de se casarem com Angolan(a)os para permanecerem em Angola”, “quantos negros estavam encarcerados na Africa do Sul”… ao que Botha tera’ arregacado as mangas e dito: “se eu fosse mais jovem, respondia a essa pergunta com socos! Eu nao tenho medo de ti!... Vamos la' para fora!...”
Mas no fim de tudo, Botha afirma que num dos bares do Cairo, onde teve lugar uma das ultimas sessoes das negociacoes despoletadas pela batalha do Kuito Kwanavale, ele tera’ dito a Risquet: “Ja’ imaginou que poderemos os dois sair vencedores desta disputa? Cuba retira-se e podera’ reclamar ter permitido a independencia da Namibia e eu posso voltar e dizer ao eleitorado branco Sul-Africano que nos livramos dos Cubanos. Isso fara’ de nos ambos vencedores!”… Ao que Risquet se tera’ engasgado na sua bebida e decidido ponderar sobre o assunto, dando lugar ao acordo que finalmente consagrou a total retirada das tropas Cubanas de Angola, a independencia da Namibia e a libertacao de Mandela...
O episodio termina com esta afirmacao de Risquet: “… de 24 de Abril de 1965, quando Che atravessou o Lago Tanganyka e chegou ao Congo, ate’ 25 de Maio de 1991, quando foi assinado o acordo de retirada das tropas Cubanas de Angola, transcorreu a grande epopeia de Cuba em Africa… exactamente um quarto de seculo, um ano, um mes e um dia!”
Entretanto, no computo final, pelo menos 10 mil Cubanos sao contabilizados como mortos em Angola...
E eu tive a oportunidade de ouvir algo de que quase me tinha esquecido: Fidel referir-se a nosotros como “los Angoleños”…
(Ler sobre a primeira parte aqui)
*[First posted 03/05/07]
Post relacionado: Jacob Zuma in Angola
2 comments:
See ya, Koluki!! I will meet you at the River!!! ;-)
See ya, Maruja! Hopefully I'll be able to tell you about/from the river in a couple of days!!!
;-)
Post a Comment