Friday, 19 March 2010

“Questao Politica” ou “Questao de Genero”?









Ou Ambas?*





Neste mes consagrado as mulheres, nao pode deixar de me merecer algum reparo a “bronca” que culminou na recente “mini-reestruturacao” de um governo ainda mal acomodado aos seus “novos aposentos”...

Trata-se, obviamente, do reportado “bilo” entre Idalina Valente e Pedro Mutindi a volta da cadeira de Ministro do Comercio, Hotelaria e Turismo, o qual acabou por ser resolvido, pelo PR, com a “abortagem” da pretendida fusao de dois ministerios e a volta a “estaca zero”, ou seja, de Valente para o Ministerio do Comercio e de Mutindi para o da Hotelaria e Turismo.

Mas ter-se-a’, efectivamente, tratado de um “bilo” entre duas partes iguais, ou de um “bullying” (“trungunguismo” sera’ talvez a traducao mais adequada...) de uma das partes, em que imperou a “lei do mais forte”?

Antes de mais, impoem-se-me aqui duas notas previas: i) nao posso ser considerada “suspeita” nesta materia, uma vez que sempre tornei claras as minhas reservas quanto a questao das “quotas” com base no “genero” (o que, alias, me tem custado alguns "desafectos"...), como pode ser constatado num dos meus comentarios a este post; ii) nao conheco pessoalmente nenhuma das partes, nem as suas trajectorias politica ou tecnico-profissional.

Assim, a pergunta com que titulo este apontamento e’-me suscitada principalmente pelo que ate’ agora me foi dado ler na imprensa local, em particular no SA, onde (edicao # 356) se pode ler algo como isto: “Fontes familiares ao caso disseram ao Semanário Angolense que além de não ter «engolido» a despromoção a que foi sujeito, pois passou de ministro a secretário de Estado colocado debaixo da alçada de um ministro, Pedro Mutindi não aceita a ideia de se subordinar a uma mulher. Educado à moda das famílias tradicionais do Cunene, onde, à semelhança de muitos outros pontos de Angola, o homem é a primeira figura, Pedro Mutindi mantém-se irredutível neste ponto.” Antes (edicao # 353), o mesmo SA havia feito o seguinte comentario a inicial constituicao deste executivo: “Nota-se também que o novo executivo se verga à ditadura do género. Em nome do equilíbrio entre homens e mulheres no Governo sacrificou-se a lógica da competência que deve prevalecer na escolha dos titulares de cargos governativos. Sem necessitar de apontar nomes, vê-se a olho nu que há uma insistência em determinadas ministras só para «encher a fotografia» e chegar, forçosamente, à mágica fasquia dos 30% de mulheres no executivo.”

Ora, se admitirmos que, a ser uma “questao cultural”, ela nao sera’ exclusiva das “famílias tradicionais do Cunene” e nem sequer dos Angolanos, ou dos Africanos – de facto, o papel do patriarcado na estruturacao das sociedades ja’ vem, pelo menos em termos teoricos, de “A Origem da Familia, da Propriedade Privada e do Estado”, de Engels (… primeiro “livro serio” que li, tinha eu os meus 15/16 anos, entre “O Amante de Lady Chatterley” e um qualquer livro de, ou sobre, Freud, de que ja’ nao me lembro o titulo e que me valeu uma tremenda reprimenda da minha mae porque esses “eram so’ livros sobre sexo”… esta perdoada, Mae! - e, ja' agora, outro livro inolvidavel que li naqueles tempos foi "A Mae" de Gorki) – resta-nos abrir o leque de hipoteses explicativas as questoes de ordem politica e do "genero", sendo que ambas acabam por se confundir neste caso.

Senao vejamos: na vertente estritamente politica, teriamos que se tratou apenas de um ex-ministro que, justificadamente, nao se teria conformado com a sua subalternizacao a posicao de secretario de estado no “seu proprio ministerio”. Portanto, nada que pudesse, ou devesse, levantar suspeicoes, infimas que fossem, de uns quaisquer “monstro racial e tara tribal” como estando na base do suposto “bilo”… Mas isso leva-nos, inevitavelmente, a questionar a “racionalidade” do apontamento de Idalina Valente para aquela posicao, o que – descartando a hipotese de se ter tratado apenas de parte da (nao propriamente bem-sucedida…) “receita de emagrecimento” do governo, uma vez que para esse efeito havia muito mais e menos “potencialmente explosivas” areas por onde se escolher… (e devo tambem notar aqui, en passant, que, do meu ponto de vista, a haver fusao do Ministerio do Comercio com algum outro, ela deveria ser com o da Industria...) – nos leva a logica das “quotas” com base no “genero”.

E uma vez que aquelas correspondem a uma politica do Estado Angolano (muito embora se tenha que admitir, em abono da verdade, que essa particular politica lhe tera’ sido em grande medida “imposta” pela SADC…), temos tambem que nos questionar ate’ que ponto esse mesmo estado esta’ “cometido” as suas proprias politicas, nao permitindo que elas sejam “varridas para debaixo do tapete” ao primeiro contratempo… E e’ aqui que a “questao politica” e a “questao do genero” se confundem.

Mas, tendo ambas sido resolvidas, aparentemente, a contento de todas as partes, resta-nos a esperanca de que efectivamente nao tenhamos estado perante um mau precedente que venha aumentar a “propensao marginal” de todo e qualquer “misogino embarrado e machista empedernido” (… e isto lembra-me, de repente, um professor de econometria que tive, que se achava muito “funny” e que, no quadro, trocava propositadamente ‘mpc’ por ‘mcp’, virando-se depois para os alunos e, olhando particularmente para os do sexo feminino, dizia: "Voces acham que isto significa ‘male chauvinist pig’, nao e'? No, it’s the ‘marginal propensity to consume’!...") para justificar os seus mais obtusos actos de “bullying” contra a ascencao de mulheres a certas posicoes, dentro ou fora do governo…


*[Sendo que ambas aqui sao consideradas "questoes de poder"]


ADENDA: Acabo de tomar nota desta outra hipotese explicativa na corrente edicao do SA, #359, (talvez por falta de expressao equivalente e/ou mais apropriada em Portugues, eles chamam-lhe ≪out-look≫: sem duvida, "muito bom" Ingles venho eu aprendendo com esse jornal!...).
No entanto, ela nao me parece colher completamente, porque essa seria precisamente a razao que levaria JES, em primeiro lugar, a nem sequer contemplar a possibilidade de "afrontar" Mutindi como o fez com a nomeacao de Valente para aquela posicao... E o mesmo raciocinio se aplica a "democao" de Kundi Paihama do Ministerio da Defesa para o dos Antigos Combatentes - alias, nesta senda, nao estarao a ser encaminhados para esse estatuto os "antigos bravos defensores de JES", que vao sendo progressivamente substituidos por nuestros hermanos?





Ou Ambas?*





Neste mes consagrado as mulheres, nao pode deixar de me merecer algum reparo a “bronca” que culminou na recente “mini-reestruturacao” de um governo ainda mal acomodado aos seus “novos aposentos”...

Trata-se, obviamente, do reportado “bilo” entre Idalina Valente e Pedro Mutindi a volta da cadeira de Ministro do Comercio, Hotelaria e Turismo, o qual acabou por ser resolvido, pelo PR, com a “abortagem” da pretendida fusao de dois ministerios e a volta a “estaca zero”, ou seja, de Valente para o Ministerio do Comercio e de Mutindi para o da Hotelaria e Turismo.

Mas ter-se-a’, efectivamente, tratado de um “bilo” entre duas partes iguais, ou de um “bullying” (“trungunguismo” sera’ talvez a traducao mais adequada...) de uma das partes, em que imperou a “lei do mais forte”?

Antes de mais, impoem-se-me aqui duas notas previas: i) nao posso ser considerada “suspeita” nesta materia, uma vez que sempre tornei claras as minhas reservas quanto a questao das “quotas” com base no “genero” (o que, alias, me tem custado alguns "desafectos"...), como pode ser constatado num dos meus comentarios a este post; ii) nao conheco pessoalmente nenhuma das partes, nem as suas trajectorias politica ou tecnico-profissional.

Assim, a pergunta com que titulo este apontamento e’-me suscitada principalmente pelo que ate’ agora me foi dado ler na imprensa local, em particular no SA, onde (edicao # 356) se pode ler algo como isto: “Fontes familiares ao caso disseram ao Semanário Angolense que além de não ter «engolido» a despromoção a que foi sujeito, pois passou de ministro a secretário de Estado colocado debaixo da alçada de um ministro, Pedro Mutindi não aceita a ideia de se subordinar a uma mulher. Educado à moda das famílias tradicionais do Cunene, onde, à semelhança de muitos outros pontos de Angola, o homem é a primeira figura, Pedro Mutindi mantém-se irredutível neste ponto.” Antes (edicao # 353), o mesmo SA havia feito o seguinte comentario a inicial constituicao deste executivo: “Nota-se também que o novo executivo se verga à ditadura do género. Em nome do equilíbrio entre homens e mulheres no Governo sacrificou-se a lógica da competência que deve prevalecer na escolha dos titulares de cargos governativos. Sem necessitar de apontar nomes, vê-se a olho nu que há uma insistência em determinadas ministras só para «encher a fotografia» e chegar, forçosamente, à mágica fasquia dos 30% de mulheres no executivo.”

Ora, se admitirmos que, a ser uma “questao cultural”, ela nao sera’ exclusiva das “famílias tradicionais do Cunene” e nem sequer dos Angolanos, ou dos Africanos – de facto, o papel do patriarcado na estruturacao das sociedades ja’ vem, pelo menos em termos teoricos, de “A Origem da Familia, da Propriedade Privada e do Estado”, de Engels (… primeiro “livro serio” que li, tinha eu os meus 15/16 anos, entre “O Amante de Lady Chatterley” e um qualquer livro de, ou sobre, Freud, de que ja’ nao me lembro o titulo e que me valeu uma tremenda reprimenda da minha mae porque esses “eram so’ livros sobre sexo”… esta perdoada, Mae! - e, ja' agora, outro livro inolvidavel que li naqueles tempos foi "A Mae" de Gorki) – resta-nos abrir o leque de hipoteses explicativas as questoes de ordem politica e do "genero", sendo que ambas acabam por se confundir neste caso.

Senao vejamos: na vertente estritamente politica, teriamos que se tratou apenas de um ex-ministro que, justificadamente, nao se teria conformado com a sua subalternizacao a posicao de secretario de estado no “seu proprio ministerio”. Portanto, nada que pudesse, ou devesse, levantar suspeicoes, infimas que fossem, de uns quaisquer “monstro racial e tara tribal” como estando na base do suposto “bilo”… Mas isso leva-nos, inevitavelmente, a questionar a “racionalidade” do apontamento de Idalina Valente para aquela posicao, o que – descartando a hipotese de se ter tratado apenas de parte da (nao propriamente bem-sucedida…) “receita de emagrecimento” do governo, uma vez que para esse efeito havia muito mais e menos “potencialmente explosivas” areas por onde se escolher… (e devo tambem notar aqui, en passant, que, do meu ponto de vista, a haver fusao do Ministerio do Comercio com algum outro, ela deveria ser com o da Industria...) – nos leva a logica das “quotas” com base no “genero”.

E uma vez que aquelas correspondem a uma politica do Estado Angolano (muito embora se tenha que admitir, em abono da verdade, que essa particular politica lhe tera’ sido em grande medida “imposta” pela SADC…), temos tambem que nos questionar ate’ que ponto esse mesmo estado esta’ “cometido” as suas proprias politicas, nao permitindo que elas sejam “varridas para debaixo do tapete” ao primeiro contratempo… E e’ aqui que a “questao politica” e a “questao do genero” se confundem.

Mas, tendo ambas sido resolvidas, aparentemente, a contento de todas as partes, resta-nos a esperanca de que efectivamente nao tenhamos estado perante um mau precedente que venha aumentar a “propensao marginal” de todo e qualquer “misogino embarrado e machista empedernido” (… e isto lembra-me, de repente, um professor de econometria que tive, que se achava muito “funny” e que, no quadro, trocava propositadamente ‘mpc’ por ‘mcp’, virando-se depois para os alunos e, olhando particularmente para os do sexo feminino, dizia: "Voces acham que isto significa ‘male chauvinist pig’, nao e'? No, it’s the ‘marginal propensity to consume’!...") para justificar os seus mais obtusos actos de “bullying” contra a ascencao de mulheres a certas posicoes, dentro ou fora do governo…


*[Sendo que ambas aqui sao consideradas "questoes de poder"]


ADENDA: Acabo de tomar nota desta outra hipotese explicativa na corrente edicao do SA, #359, (talvez por falta de expressao equivalente e/ou mais apropriada em Portugues, eles chamam-lhe ≪out-look≫: sem duvida, "muito bom" Ingles venho eu aprendendo com esse jornal!...).
No entanto, ela nao me parece colher completamente, porque essa seria precisamente a razao que levaria JES, em primeiro lugar, a nem sequer contemplar a possibilidade de "afrontar" Mutindi como o fez com a nomeacao de Valente para aquela posicao... E o mesmo raciocinio se aplica a "democao" de Kundi Paihama do Ministerio da Defesa para o dos Antigos Combatentes - alias, nesta senda, nao estarao a ser encaminhados para esse estatuto os "antigos bravos defensores de JES", que vao sendo progressivamente substituidos por nuestros hermanos?

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