Thursday 4 March 2010

1960-2010: “The Year of Africa” 50 Years On (III)


Depois da viagem no tempo entre "a razao da nossa luta" e "o estado da nossa nacao", regresso a esta serie para uma viagem no espaco que me e’ sugerida por este texto de Ismael Mateus.

Ele transportou-me, ainda que por caminhos um tanto invios, de volta a este apontamento sobre Basquiat – esse que tambem, por seus proprios caminhos invios, nos diz algo sobre o Haiti
Nao que o perfil e trajectoria dos personagens mencionados por Mateus (os “arlindos”, como lhes chama)* tenham alguma coisa a ver com a vida e obra de Basquiat – embora me ocorra um personagem Angolano, por sinal da minha geracao e, felizmente, ainda vivo, que se lhe assemelha bastante, apesar de se dedicar a outras artes… - e, nao obstante um dos "arlindos" mencionados ja' aqui ter sido apelidado "O Execravel Puto Pe' Descalco", os seus nada teem em comum com os artisticamente descalcos pes de Basquiat!

Tal como o que me levou a Basquiat naquele apontamento nao foi exactamente o proprio, tambem neste caso sao outras as linhas que a ele me transportam: nomeadamente, aquela percepcao de "misplaced identities" (identidades deslocadas, ou fora do seu "espaco de pertenca natural") e esses “seis graus de separacao” (que podem bem ser entre um cadeirao de chefe num novo arranha-ceus envidracado e um luando num velho quintal de terra batida, ou entre a cidade do asfalto e o musseke dos becos), mais a ideia, que se impoe como uma perene espada de Damocles sobre a precaridade de certas “conquistas”, de se estar sempre sujeito a ser-se, de subito, retornado ao lugar de onde se proveio ("go back to where you came from"), associada ao imperativo de, como convem a pobres e insignificantes criaturas, “saber-se sempre o que nos espera!”… Ao que alguns “intelectuais”, mui pomposa e vacuamente, chamariam “involucoes”, "declinacoes", ou "reconversoes" pos-coloniais de uma (ja’ longinqua?) “revolucao” anti-colonial…

Ah!... isso e o 'meu celebre' Basquiat “1960” que, tal como alguns postais ilustrativos da sua obra que comprei em New York no que parecem ser ja’ tempos longinquos, continua sumido num qualquer dos 'trunks' das minhas deambulacoes espaciais dos ultimos anos… mas do qual ontem finalmente (!) consegui encontrar uma imagem aqui – por estranha coincidencia (?) ilustrando (ad infinitum) precisamente um texto que na altura obtive de outras fontes e a que me referi naquele apontamento de ha’ 3 anos!

Et voila, c’est ca la vie au village, avec du bon fufu (funge) et du poisson grille' aromatise' que la grand-mere a prepare', como diria o nosso eterno Manu Dibango – esse que, entre muita outra boa musica criou e tocou Abidjan City, cidade que seria tambem a unica em Africa a ser visitada por Basquiat (embora a influencia do nosso continente na sua obra se revele muito mais vasta, chegando a incluir o Kongo e os seus Nkisi, como pode ser constatado aqui , o que nao sera' de todo uma ocorrencia "out of this world" se atendermos ao facto, aqui notado pelo academico Isaac Bigio, de a populacao do Haiti ser predominantemente descendente de escravos Africanos originarios da regiao Kongo-Niger...) – o que me leva a musica e a esse “You Were There”, ja’ antes bastante tocado neste blog e que aqui volta para nos (re)lembrar de "Marco Mulher" e de como “we're brought into this world” (…talvez em 1960, esse ano seminal para mim, para Basquiat e para a Africa pos-colonial…) e de como “we grow up and get taught the difference between right and wrong” e depois “we grow old and choose for ourselves what’s right and what’s wrong in our own lives”…


You Were There
(Nontuthuzelo Pouane with Marcus Wyatt)


*Entretanto, soube que Arlindo Isabel ja’ se encontra a frente de uma nova editora, a Mayamba...
Um "arlindo" sortudo?

Depois da viagem no tempo entre "a razao da nossa luta" e "o estado da nossa nacao", regresso a esta serie para uma viagem no espaco que me e’ sugerida por este texto de Ismael Mateus.

Ele transportou-me, ainda que por caminhos um tanto invios, de volta a este apontamento sobre Basquiat – esse que tambem, por seus proprios caminhos invios, nos diz algo sobre o Haiti
Nao que o perfil e trajectoria dos personagens mencionados por Mateus (os “arlindos”, como lhes chama)* tenham alguma coisa a ver com a vida e obra de Basquiat – embora me ocorra um personagem Angolano, por sinal da minha geracao e, felizmente, ainda vivo, que se lhe assemelha bastante, apesar de se dedicar a outras artes… - e, nao obstante um dos "arlindos" mencionados ja' aqui ter sido apelidado "O Execravel Puto Pe' Descalco", os seus nada teem em comum com os artisticamente descalcos pes de Basquiat!

Tal como o que me levou a Basquiat naquele apontamento nao foi exactamente o proprio, tambem neste caso sao outras as linhas que a ele me transportam: nomeadamente, aquela percepcao de "misplaced identities" (identidades deslocadas, ou fora do seu "espaco de pertenca natural") e esses “seis graus de separacao” (que podem bem ser entre um cadeirao de chefe num novo arranha-ceus envidracado e um luando num velho quintal de terra batida, ou entre a cidade do asfalto e o musseke dos becos), mais a ideia, que se impoe como uma perene espada de Damocles sobre a precaridade de certas “conquistas”, de se estar sempre sujeito a ser-se, de subito, retornado ao lugar de onde se proveio ("go back to where you came from"), associada ao imperativo de, como convem a pobres e insignificantes criaturas, “saber-se sempre o que nos espera!”… Ao que alguns “intelectuais”, mui pomposa e vacuamente, chamariam “involucoes”, "declinacoes", ou "reconversoes" pos-coloniais de uma (ja’ longinqua?) “revolucao” anti-colonial…

Ah!... isso e o 'meu celebre' Basquiat “1960” que, tal como alguns postais ilustrativos da sua obra que comprei em New York no que parecem ser ja’ tempos longinquos, continua sumido num qualquer dos 'trunks' das minhas deambulacoes espaciais dos ultimos anos… mas do qual ontem finalmente (!) consegui encontrar uma imagem aqui – por estranha coincidencia (?) ilustrando (ad infinitum) precisamente um texto que na altura obtive de outras fontes e a que me referi naquele apontamento de ha’ 3 anos!

Et voila, c’est ca la vie au village, avec du bon fufu (funge) et du poisson grille' aromatise' que la grand-mere a prepare', como diria o nosso eterno Manu Dibango – esse que, entre muita outra boa musica criou e tocou Abidjan City, cidade que seria tambem a unica em Africa a ser visitada por Basquiat (embora a influencia do nosso continente na sua obra se revele muito mais vasta, chegando a incluir o Kongo e os seus Nkisi, como pode ser constatado aqui , o que nao sera' de todo uma ocorrencia "out of this world" se atendermos ao facto, aqui notado pelo academico Isaac Bigio, de a populacao do Haiti ser predominantemente descendente de escravos Africanos originarios da regiao Kongo-Niger...) – o que me leva a musica e a esse “You Were There”, ja’ antes bastante tocado neste blog e que aqui volta para nos (re)lembrar de "Marco Mulher" e de como “we're brought into this world” (…talvez em 1960, esse ano seminal para mim, para Basquiat e para a Africa pos-colonial…) e de como “we grow up and get taught the difference between right and wrong” e depois “we grow old and choose for ourselves what’s right and what’s wrong in our own lives”…


You Were There
(Nontuthuzelo Pouane with Marcus Wyatt)


*Entretanto, soube que Arlindo Isabel ja’ se encontra a frente de uma nova editora, a Mayamba...
Um "arlindo" sortudo?

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