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Saturday, 26 July 2008

BE MY GUEST! (III - AUGUSTO NASCIMENTO)

Desta vez o meu convidado nao e’ um blogger, pelo menos por enquanto, mas um frequentador da blogosfera. O seu nome nao sera’ completamente estranho a alguns dos visitantes deste blog, uma vez que ja’ aqui publiquei um texto seu.

Trata-se de um autor, Augusto Nascimento, que graciosamente se prestou a fazer uma apresentacao do seu ultimo livro especialmente para este blog.

E’, portanto, uma honra inclui-lo nesta serie como meu convidado especial!

Vidas de S. Tomé segundo vozes de Soncente

Por Augusto Nascimento

1. Este livro reconstitui uma história de cabo-verdianos no arquipélago de São Tomé e Príncipe nos derradeiros decénios do colonialismo, uma das questões mais politizadas no processo de consciencialização de uma identidade cabo-verdiana.
Vidas de S. Tomé segundo vozes de Soncente baseia-se numa recolha de testemunhos daqueles que, mais ou menos forçados a passar pela experiência da pior migração, não se escusaram a partilhar as suas memórias sobre a sua parte na aventura do povo cabo-verdiano.

2. No capítulo I, tece-se uma visão da vida na cidade do Mindelo e das circunstâncias económicas, sociais e administrativas que empurraram muitos cabo-verdianos para a pior migração. Referem-se, concretamente, as memórias da partida dos primeiros grupos, o seu impacto na vida da cidade e, ainda, o processo de lenta consciencialização política favorecida por essa migração.
No capítulo II, focam-se as circunstâncias vividas pelos cabo-verdianos enquanto contratados – condição pela qual muitos pretextaram terem optado livremente ainda que para safar a vida – a começar pelos constrangimentos da viagem. Foca-se, em especial, a memória do impacto da chegada a São Tomé e à dura rotina das roças. A pior migração revelar-se-ia aviltante para a auto-imagem dos cabo-verdianos.
No capítulo III, aprofundam-se as condições de vida nas roças. De igual modo, presta-se atenção aos processos de inserção social de cabo-verdianos, alguns dos quais foram oscilando entre o ir ficando e o regresso. Alguns lograram sair da tutela das roças e procurar uma vida mais independente no exíguo mundo urbano de São Tomé. Uns chegaram a ensaiar a criação de núcleos de associativismo cabo-verdiano.
No capítulo IV, seguimos um percurso individual significativo da procura de pequenos ganhos e de saídas possíveis no mundo fechado das roças onde, supostamente, não havia espaço para escolhas pessoais. Este percurso é explicado em função quer de uma arrogada idiossincrasia cabo-verdiana, quer de um contexto político propício a alguma distensão social nas roças, logicamente mais favorável aos serviçais.
A migração para o arquipélago foi usada enquanto motivo de agravo contra o colonialismo. Sem embargo da politização deste trecho da história dos cabo-verdianos, essa pior migração tende a ser esquecida por quantos se viram nela envolvidos, tal o processo explanado no capítulo V.
O cotejo desta obra com outros estudos, designadamente os fundados nas memórias de cabo-verdianos que permaneceram por São Tomé e Príncipe, permitirá perceber o conteúdo situacional e relacional, não apenas das memórias, quanto também das avaliações políticas e históricas da trajectória de Cabo Verde e de São Tomé e Príncipe.

3. Nos anos recentes, a situação dos cabo-verdianos que se quedaram por São Tomé e Príncipe tem despertado atenção em Cabo Verde. A partir da noção de Cabo Verde como uma nação diaspórica, as autoridades cabo-verdianas vêm tentando envolver toda a comunidade cabo-verdiana num movimento de solidariedade para com os concidadãos – designadamente os mais idosos, com décadas de permanência em São Tomé e Príncipe – que vivem em circunstâncias difíceis neste arquipélago.
Neste livro, recuperam-se memórias que poderão ajudar ao estabelecimento de elos entre cabo-verdianos de diferentes partes do mundo, assim como entre cabo-verdianos, são-tomenses e, ainda, portugueses.






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Nha Cancera Ka Tem Medida - Cesaria Evora

Trata-se de um autor, Augusto Nascimento, que graciosamente se prestou a fazer uma apresentacao do seu ultimo livro especialmente para este blog.

E’, portanto, uma honra inclui-lo nesta serie como meu convidado especial!

Vidas de S. Tomé segundo vozes de Soncente

Por Augusto Nascimento

1. Este livro reconstitui uma história de cabo-verdianos no arquipélago de São Tomé e Príncipe nos derradeiros decénios do colonialismo, uma das questões mais politizadas no processo de consciencialização de uma identidade cabo-verdiana.
Vidas de S. Tomé segundo vozes de Soncente baseia-se numa recolha de testemunhos daqueles que, mais ou menos forçados a passar pela experiência da pior migração, não se escusaram a partilhar as suas memórias sobre a sua parte na aventura do povo cabo-verdiano.

2. No capítulo I, tece-se uma visão da vida na cidade do Mindelo e das circunstâncias económicas, sociais e administrativas que empurraram muitos cabo-verdianos para a pior migração. Referem-se, concretamente, as memórias da partida dos primeiros grupos, o seu impacto na vida da cidade e, ainda, o processo de lenta consciencialização política favorecida por essa migração.
No capítulo II, focam-se as circunstâncias vividas pelos cabo-verdianos enquanto contratados – condição pela qual muitos pretextaram terem optado livremente ainda que para safar a vida – a começar pelos constrangimentos da viagem. Foca-se, em especial, a memória do impacto da chegada a São Tomé e à dura rotina das roças. A pior migração revelar-se-ia aviltante para a auto-imagem dos cabo-verdianos.
No capítulo III, aprofundam-se as condições de vida nas roças. De igual modo, presta-se atenção aos processos de inserção social de cabo-verdianos, alguns dos quais foram oscilando entre o ir ficando e o regresso. Alguns lograram sair da tutela das roças e procurar uma vida mais independente no exíguo mundo urbano de São Tomé. Uns chegaram a ensaiar a criação de núcleos de associativismo cabo-verdiano.
No capítulo IV, seguimos um percurso individual significativo da procura de pequenos ganhos e de saídas possíveis no mundo fechado das roças onde, supostamente, não havia espaço para escolhas pessoais. Este percurso é explicado em função quer de uma arrogada idiossincrasia cabo-verdiana, quer de um contexto político propício a alguma distensão social nas roças, logicamente mais favorável aos serviçais.
A migração para o arquipélago foi usada enquanto motivo de agravo contra o colonialismo. Sem embargo da politização deste trecho da história dos cabo-verdianos, essa pior migração tende a ser esquecida por quantos se viram nela envolvidos, tal o processo explanado no capítulo V.
O cotejo desta obra com outros estudos, designadamente os fundados nas memórias de cabo-verdianos que permaneceram por São Tomé e Príncipe, permitirá perceber o conteúdo situacional e relacional, não apenas das memórias, quanto também das avaliações políticas e históricas da trajectória de Cabo Verde e de São Tomé e Príncipe.

3. Nos anos recentes, a situação dos cabo-verdianos que se quedaram por São Tomé e Príncipe tem despertado atenção em Cabo Verde. A partir da noção de Cabo Verde como uma nação diaspórica, as autoridades cabo-verdianas vêm tentando envolver toda a comunidade cabo-verdiana num movimento de solidariedade para com os concidadãos – designadamente os mais idosos, com décadas de permanência em São Tomé e Príncipe – que vivem em circunstâncias difíceis neste arquipélago.
Neste livro, recuperam-se memórias que poderão ajudar ao estabelecimento de elos entre cabo-verdianos de diferentes partes do mundo, assim como entre cabo-verdianos, são-tomenses e, ainda, portugueses.






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Nha Cancera Ka Tem Medida - Cesaria Evora

Tuesday, 15 January 2008

SOBRE 'A SUAVE PATRIA' DE INOCENCIA MATA

CRÍTICAS DE LONGE…

Por Augusto Nascimento

Este livro é uma colectânea de crónicas e artigos de opinião sobre o presente em São Tomé e Príncipe, difundidas pela RDP (Rádio Difusão Portuguesa) África, estação emissora escutada no arquipélago. Alguns dos textos são especialmente sugestivos. Uns abordam temas políticos, outros versam questões culturais, matéria à qual a autora dedica muita atenção. Noutros, ainda, valoriza-se a diáspora.

Dos vários tópicos referentes à política, destaquem-se a cultura e as práticas políticas num país insular com o petróleo no horizonte, o papel das elites e, ainda, a abertura do espaço político à participação cívica das populações. A autora põe em evidência os atropelos do Estado às liberdades dos cidadãos, distinguindo, como outros académicos, multipartidarismo de democracia, a qual requer um exercício pleno de uma "cidadania civil" (p. 28). Inocência Mata atribui esses atropelos à cultura política prevalecente que, insinua, não pode deixar de estar enviesada pelo facto de os protagonistas de hoje serem os mesmos de um passado autoritário recente. Ou a outras circunstâncias, como, por exemplo, a prevalência em S. Tomé e Príncipe da "ditadura da familiocracia" (p. 50). Mais relevante, a autora foca as causas do desânimo dos são-tomenses, a saber, o rumo da democracia (ou do multipartidarismo) e a prevalência da corrupção.

(…)

A cultura--ou os traços culturais--é a alavanca a partir da qual Mata pensa
o curso da política no seu país. Mas não se detém na vertente política.
Aborda também as outras facetas culturais, entre elas, as línguas, algumas
das quais destinadas a perecer. Como sucede frequentemente nos autores
situados nos espaços diaspóricos, a autora tende a transmitir uma visão da
cultura da terra de origem como uma plataforma de remissão e um repositório
de autenticidade necessária para a regeneração das práticas políticas.

Assim, algumas ideias romantizadas alternam com cruas constatações. Outras
ideias correm apressadas, dir-se-ia, atrás do propósito da denúncia, umas
vezes, desassombrada, outras, contida. Dessa motivação terão resultado
algumas imprecisões: por exemplo, não foi só depois da inflexão neo-liberal
que o Estado se demitiu da promoção da educação, da cultura e da língua.
Trata-se de uma constatação alinhavada a partir da observação da degradação
das políticas culturais comummente associada à mudança política de inícios
dos anos 90. Porém, em bom rigor, essa degradação já era visível no regime
monopartidário.

Na verdade, dado o apriorismo de que as receitas neo-liberais são
necessariamente adversas aos africanos--qual extensão da dominação de
outrora!, pensa-se--parece fácil censurar essa demissão do Estado e
imputá-la ao rumo neo-liberal dos anos 90. Talvez também (por motivação
afectiva, alvitrar-se-ia, e) por razões ideológicas, a autora não vislumbra
a instrumentalização, primeiro, e a demissão, depois, do papel do Estado
monopartidário na dinamização cultural. De resto, em S. Tomé e Príncipe,
como em toda a parte, o âmbito e as modalidades de intervenção dos Estados
nesse domínio são sempre muito discutíveis.

(…)

Em suma, este livro tem que ser lido como parte do movimento de recriação
cultural próprio das diásporas, neste caso, com acentuado pendor crítico
dada a recente história do país e a forte politização dos projectos sociais
associados à independência. O livro contém análises lúcidas. Contudo,
também por espelharem estados de alma, os textos mostram cedências.
Alvitram-se possibilidades e vias futuras, que a análise fria e
afectivamente desapegada não autoriza a inferir como prováveis, antes pelo
contrário. Fala-se de participação cívica, de criação de um debate, de pacificação
social e política, de mobilização da diáspora. A ver vamos.

[Texto integral aqui]

Copyright (c) 2007 by H-Net, all rights reserved.
CRÍTICAS DE LONGE…

Por Augusto Nascimento

Este livro é uma colectânea de crónicas e artigos de opinião sobre o presente em São Tomé e Príncipe, difundidas pela RDP (Rádio Difusão Portuguesa) África, estação emissora escutada no arquipélago. Alguns dos textos são especialmente sugestivos. Uns abordam temas políticos, outros versam questões culturais, matéria à qual a autora dedica muita atenção. Noutros, ainda, valoriza-se a diáspora.

Dos vários tópicos referentes à política, destaquem-se a cultura e as práticas políticas num país insular com o petróleo no horizonte, o papel das elites e, ainda, a abertura do espaço político à participação cívica das populações. A autora põe em evidência os atropelos do Estado às liberdades dos cidadãos, distinguindo, como outros académicos, multipartidarismo de democracia, a qual requer um exercício pleno de uma "cidadania civil" (p. 28). Inocência Mata atribui esses atropelos à cultura política prevalecente que, insinua, não pode deixar de estar enviesada pelo facto de os protagonistas de hoje serem os mesmos de um passado autoritário recente. Ou a outras circunstâncias, como, por exemplo, a prevalência em S. Tomé e Príncipe da "ditadura da familiocracia" (p. 50). Mais relevante, a autora foca as causas do desânimo dos são-tomenses, a saber, o rumo da democracia (ou do multipartidarismo) e a prevalência da corrupção.

(…)

A cultura--ou os traços culturais--é a alavanca a partir da qual Mata pensa
o curso da política no seu país. Mas não se detém na vertente política.
Aborda também as outras facetas culturais, entre elas, as línguas, algumas
das quais destinadas a perecer. Como sucede frequentemente nos autores
situados nos espaços diaspóricos, a autora tende a transmitir uma visão da
cultura da terra de origem como uma plataforma de remissão e um repositório
de autenticidade necessária para a regeneração das práticas políticas.

Assim, algumas ideias romantizadas alternam com cruas constatações. Outras
ideias correm apressadas, dir-se-ia, atrás do propósito da denúncia, umas
vezes, desassombrada, outras, contida. Dessa motivação terão resultado
algumas imprecisões: por exemplo, não foi só depois da inflexão neo-liberal
que o Estado se demitiu da promoção da educação, da cultura e da língua.
Trata-se de uma constatação alinhavada a partir da observação da degradação
das políticas culturais comummente associada à mudança política de inícios
dos anos 90. Porém, em bom rigor, essa degradação já era visível no regime
monopartidário.

Na verdade, dado o apriorismo de que as receitas neo-liberais são
necessariamente adversas aos africanos--qual extensão da dominação de
outrora!, pensa-se--parece fácil censurar essa demissão do Estado e
imputá-la ao rumo neo-liberal dos anos 90. Talvez também (por motivação
afectiva, alvitrar-se-ia, e) por razões ideológicas, a autora não vislumbra
a instrumentalização, primeiro, e a demissão, depois, do papel do Estado
monopartidário na dinamização cultural. De resto, em S. Tomé e Príncipe,
como em toda a parte, o âmbito e as modalidades de intervenção dos Estados
nesse domínio são sempre muito discutíveis.

(…)

Em suma, este livro tem que ser lido como parte do movimento de recriação
cultural próprio das diásporas, neste caso, com acentuado pendor crítico
dada a recente história do país e a forte politização dos projectos sociais
associados à independência. O livro contém análises lúcidas. Contudo,
também por espelharem estados de alma, os textos mostram cedências.
Alvitram-se possibilidades e vias futuras, que a análise fria e
afectivamente desapegada não autoriza a inferir como prováveis, antes pelo
contrário. Fala-se de participação cívica, de criação de um debate, de pacificação
social e política, de mobilização da diáspora. A ver vamos.

[Texto integral aqui]

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