História e Sensibilidades Políticas
Cada vez gosto mais de falar no presente do
singular, ao mesmo tempo que não apenas admito mas defendo que a voz dos
analfabetos, mais a voz dos doutores, mais a voz dos que não são “nem carne nem
peixe “ social, económica e politicamente, devem ter voz em qualquer sociedade
. Clara, inequívoca e só de forma indirecta em Estados onde é claramente impossível
defender o voto secreto e universal entre maiorias que ainda andam pela “comunidade
primitiva”. A única coisa que, por conseguinte, acho ter conseguido transformar
ao longo dos anos, foi o deixar de falar pelos outros, em nome dos outros,
mesmo que em defesa de todos ( minha, dos meus a vários níveis, e dos outros em
geral). Por isso, talvez só por isso , faço uma destrinça muito grande entre as
pessoas e os grupos que, nos dias que correm, defendem a DEMOCRACIA
representativa como meio essencial para “ mudar o mundo“.
(…)
É aqui, entre estes últimos, que há
necessidade de não permitir que as ideias fiquem pela nebulosidade, pela
escuridão, pela destrinça entre quem se considera proprietário hegemónico de um
território e quem tem como património, porque sempre
teve “Angola
no coração“, esteja na Austrália nos EUA ou na Rússia, um espaço social
determinado. E qual é a destrinça a fazer-se ? Não tenho, neste caso, dúvidas.
É entre: a ) quem sendo equilibrado foi gerindo ou foi acompanhando a gestão
dos poderes , ao longo da História, com defeitos e com falhas, com erros ou não
, aceitando ou compreendendo as mudanças mas sinalizando o que foi mal feito; e
entre quem b) foi, e continua coerentemente a ser , equilibrista , malabarista
como diziam alguns angolenses, naturais da terra e colonos , já nos anos 30-40
do século XX. Isto é, aqueles que diziam ter razão nos anos 30-60 porque o
nacionalismo imperava, aqueles que defenderam um novo nacionalismo ou o
liberalismo quando a “guerra fria“ se tornou mais quente; aqueles que
defenderam o leninismo porque achavam que o mundo estava em transição para o socialismo.
E agora, que a integração capitalista
apareceu como um facto mundial evidente, ao mesmo tempo que os antigos poderes
imperiais “estremecem“, andam para aí a “mandar bocas “ defendendo agora ...e
não há 40 anos atrás ......a modernidade .
Nada disto é pessoal. Nada disto é crier
contradição onde devia haver confluência de pontos de vista em face de perigos e
adversários políticos mais importantes ou principais. Tudo isto é, apenas e tão
só, a manifestação da defesa de uma sensibilidade política que recusa - e
recusará sempre – o situacionismo. O situacionismo daqueles que dizem: “ como
sempre foi assim “, “nós vamos ser fascistas no fascismo”, “ vamos ser
leninistas quando o leninismo mandar “ e “ vamos ser liberais“ ou “democratas “,
quando a democracia representativa liderar. Que pena que o mundo dê mais voz ao
equilibrismo e ao malabarismo do que a quem, errado ou certo , pluralmente
defende as suas ideias , independentemente dos regimes, dos sistemas e das “
correlações de forcas“ com que se defrontam no dia a dia da sua história
particular.
Eugénio
Monteiro Ferreira
[Aqui]
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