"Ao longo de 1975,
grupos de professores prepararam teses sobre o Ensino em
Angola que foram debatidas
no I Grande Encontro Nacional de Educação, entre 23 de Outubro e 5 de Novembro
de 1975. O encontro decorria numa altura em que o estado do Ensino estava “calamitoso”,
carente de uma descolonização que “libertasse as mentes para a criação de um
homem novo” e
permitisse o acesso dos mais desfavorecidos, com o desmantelamento das
estruturas coloniais.
Responsáveis pelo MPLA discursaram na sessão de abertura.
Lopo do Nascimento falou na necessidade de “formar uma nova mentalidade”,
porque a história da educação em Angola juntava a história da
sociedade tradicional e a história da sociedade colonial fascista, e a última
não lhes interessava. O novo Director Geral do MEC, engenheiro Guerra Marques,
falou no “entorpecimento” do ensino colonial decorrente da “máquina colonial‐fascista”.
Além dos conteúdos
programáticos o Encontro da Educação discutiu a definição
politico‐ideológica da
escola, a sua relação com a produção, a organização das
estruturas escolares
na fase da Resistência Popular Generalizada e o escalonamento
dos graus de ensino. “(…)
Foram apresentadas centenas de teses. Creio que teve
forte impacto nos professores
angolanos apesar do seu escasso número e limitada
preparação (…)”.
Os
objectivos para a Educação ficaram assentes: “elevar o nível de vida” do povo e
criar “um Homem Novo Angolano”. Este novo angolano não podia ter os “vícios” da
“(…) mistificação colonial, neo‐colonial e imperialista; do dogmatismo e idealismo;
da exploração do homem pelo homem, da ignorância e obscurantismo (…)”.
A metodologia devia
seguir a linha política do MPLA, obedecendo a dois princípios:
criação de um sistema
de aprendizagem, no qual a força principal era o trabalho do
povo, e a promoção de
um ensino ligado à produção colectiva."
Lúcio Lara encerrou o
encontro com um discurso marcado pelo confronto com
a UNITA e a FNLA. “(…)
Na etapa actual (…) a vitória militar torna‐se condição das
conquistas noutras
frentes. Eis porque a tarefa fundamental da escola será tornar‐se
uma arma de
resistência popular contra a agressão imperialista. As escolas (…) não
poderão perder de
vista a ideia de que se devem preparar para a guerra. Todos os seus componentes
devem aprender a enfrentar situações de confronto, aprender a
defender‐se e a atacar
o inimigo (…)”. O responsável do MPLA preconizou o ensino
gratuito e
obrigatório, a adaptação dos conteúdos às realidades angolanas e a eliminação
das matérias sem aplicação prática. Defendeu a abertura do ensino médio e
universitário aos trabalhadores com prática na produção e aos que se viram
impossibilitados de o
frequentarem. Recordou os valores políticos fundamentais do
MPLA: reforma agrária,
reconstrução nacional, poder popular, resistência popular
generalizada,
solidariedade. “(…) Nós queremos um ensino verdadeiramente popular, (…) este
ensino deve beneficiar as camadas mais exploradas do nosso povo, aquelas que
até agora têm sido mantidas, meu grado seu, no obscurantismo (…)”.
[Extracto daqui]
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