Friday 11 January 2008

NO PRIMEIRO ANIVERSARIO DA SUA MORTE: UMA HOMENAGEM A JOSEPH KI-ZERBO (Recidivus)*

A minha decisao de ‘re-postar’ este tributo a Joseph Ki-zerbo decorre de algumas afirmacoes feitas por um ou dois participantes nesta conversa de café
Aconselharia a esses senhores uma pequena tentativa de se informarem um pouco melhor sobre a Cultura Bantu e a tradicao oral em Africa. A este proposito devo dizer-lhes, por exemplo, que as primeiras licoes que tive sobre a Historia do Reino do Kongo recebi-as da minha avo materna, que dele descendia. Algumas das estorias que ela me contou, fui-as encontrar mais tarde, com poucas ou nenhumas variacoes, por exmplo nos livros de Pelissier e na Monumenta Missionaria Africana do Padre Antonio Brazio…

Do mesmo modo, algumas das narrativas – algumas delas ainda por escrever – sobre o nacionalismo urbano angolano foram-me contadas pelo meu pai: aquele que espirrava sangue nas masmorras da PIDE quando eu nasci; o mesmo sangue que corria nas veias do homem que icou pela primeira vez a bandeira da RPA…
Nao sei quantos dos participantes daquela conversa poderao dizer que conhecem pelo menos 12 provincias do seu pais… ou pelo menos 14 paises Africanos… Eu posso-o.

Nao sei quantos dos mesmos participantes poderao dizer que viveram, desde que nasceram, imersos na cultura Africana – nao apenas que viveram ou vivem em Africa – isto e’, que foram nados e criados no seio de uma familia Africana, rindo seus risos, chorando suas lagrimas, comendo suas comidas, bebendo suas bebidas, ouvindo, cantando e dancando suas musicas durante toda a sua vida, mesmo quando temporariamente ausentes dos seus paises de origem… Eu vivo-o.

Nao me proponho, portanto, matricular-me em nenhuma ‘academia’ de um qualquer ‘parque jurassico’ para receber licoes de farmaceuticos radicados em Paris e de seus ajudantes de laboratorio radicados onde quer que seja, sobre os elementos mais rudimentares da Cultura e Historia de Africa. Nao precisaria sequer de invocar para tal o meu titulo de Mestre de Ciencia em Historia Economica e Economia do Desenvolvimento, com o grau de Merito, pelo departamento universitario mais credenciado em todo o mundo nessa area…

E porque, apesar de tudo isso, nao me proponho “re-escrever” a Historia de Africa, recomendo-lhes vivamente a leitura da obra de Joseph Ki-zerbo publicada sob a chancela da UNESCO, ficando-me apenas por esta referencia para nao os sobrecarregar com uma completa bibliografia obrigatoria.

Votos de boa leitura!

*****


COLÓQUIO HISTÓRIA E HISTORIADORES DA ÁFRICA

"Estranhamentos e intolerâncias têm sido a tônica nos encontros/confrontos do Velho com o Novo Mundo. Nesse processo, têm ficado à margem memórias, saberes, falares, viveres, códigos de escrita e de comunicação de povos de tradições ancestrais de oralidade – entre os quais contam-se ameríndios, africanos, filhos da diáspora e outros povos e culturas escravizados nas diversas fases da expansão das relações de mercado na modernidade européia.

A partir de resistências culturais limítrofes , visões de mundo, cosmogonias, relações entre cultura e natureza, expressões artísticas, concepções de corpo, estéticas, sensibilidades e religiosidades vêm rompendo barreiras, ainda que tenham sido historicamente ignoradas ou desconsideradas nos índices hierarquizadores de “raças” que pautam os cânones letrados e científicos ocidentais, que se pretenderam iluministas, racionais e progressistas. Vozes, sons, gestos e performances, inicialmente locais e fragmentários como expressões que são de “entre-lugares deslizantes” , não só renovaram e oxigenaram o estoque cultural dominante, como produziram identidades múltiplas, adensando suas reivindicações por autonomia, liberdades e reconhecimento de suas raízes e matrizes culturais, em lutas que reverberam no direito à memória e à história.

Pioneiro no empreendimento vital pelo direito à história dos povos e culturas subjugadas e silenciadas no universo do conhecimento eurocêntrico, Joseph Ki-Zerbo empenhou-se em invocar, demonstrar e lançar bases para a produção continuada e constantemente atualizada de uma História da África Negra."

(Continue a ler aqui)

*(Publicado inicialmente a 12/10/07)

A minha decisao de ‘re-postar’ este tributo a Joseph Ki-zerbo decorre de algumas afirmacoes feitas por um ou dois participantes nesta conversa de café
Aconselharia a esses senhores uma pequena tentativa de se informarem um pouco melhor sobre a Cultura Bantu e a tradicao oral em Africa. A este proposito devo dizer-lhes, por exemplo, que as primeiras licoes que tive sobre a Historia do Reino do Kongo recebi-as da minha avo materna, que dele descendia. Algumas das estorias que ela me contou, fui-as encontrar mais tarde, com poucas ou nenhumas variacoes, por exmplo nos livros de Pelissier e na Monumenta Missionaria Africana do Padre Antonio Brazio…

Do mesmo modo, algumas das narrativas – algumas delas ainda por escrever – sobre o nacionalismo urbano angolano foram-me contadas pelo meu pai: aquele que espirrava sangue nas masmorras da PIDE quando eu nasci; o mesmo sangue que corria nas veias do homem que icou pela primeira vez a bandeira da RPA…
Nao sei quantos dos participantes daquela conversa poderao dizer que conhecem pelo menos 12 provincias do seu pais… ou pelo menos 14 paises Africanos… Eu posso-o.

Nao sei quantos dos mesmos participantes poderao dizer que viveram, desde que nasceram, imersos na cultura Africana – nao apenas que viveram ou vivem em Africa – isto e’, que foram nados e criados no seio de uma familia Africana, rindo seus risos, chorando suas lagrimas, comendo suas comidas, bebendo suas bebidas, ouvindo, cantando e dancando suas musicas durante toda a sua vida, mesmo quando temporariamente ausentes dos seus paises de origem… Eu vivo-o.

Nao me proponho, portanto, matricular-me em nenhuma ‘academia’ de um qualquer ‘parque jurassico’ para receber licoes de farmaceuticos radicados em Paris e de seus ajudantes de laboratorio radicados onde quer que seja, sobre os elementos mais rudimentares da Cultura e Historia de Africa. Nao precisaria sequer de invocar para tal o meu titulo de Mestre de Ciencia em Historia Economica e Economia do Desenvolvimento, com o grau de Merito, pelo departamento universitario mais credenciado em todo o mundo nessa area…

E porque, apesar de tudo isso, nao me proponho “re-escrever” a Historia de Africa, recomendo-lhes vivamente a leitura da obra de Joseph Ki-zerbo publicada sob a chancela da UNESCO, ficando-me apenas por esta referencia para nao os sobrecarregar com uma completa bibliografia obrigatoria.

Votos de boa leitura!

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COLÓQUIO HISTÓRIA E HISTORIADORES DA ÁFRICA

"Estranhamentos e intolerâncias têm sido a tônica nos encontros/confrontos do Velho com o Novo Mundo. Nesse processo, têm ficado à margem memórias, saberes, falares, viveres, códigos de escrita e de comunicação de povos de tradições ancestrais de oralidade – entre os quais contam-se ameríndios, africanos, filhos da diáspora e outros povos e culturas escravizados nas diversas fases da expansão das relações de mercado na modernidade européia.

A partir de resistências culturais limítrofes , visões de mundo, cosmogonias, relações entre cultura e natureza, expressões artísticas, concepções de corpo, estéticas, sensibilidades e religiosidades vêm rompendo barreiras, ainda que tenham sido historicamente ignoradas ou desconsideradas nos índices hierarquizadores de “raças” que pautam os cânones letrados e científicos ocidentais, que se pretenderam iluministas, racionais e progressistas. Vozes, sons, gestos e performances, inicialmente locais e fragmentários como expressões que são de “entre-lugares deslizantes” , não só renovaram e oxigenaram o estoque cultural dominante, como produziram identidades múltiplas, adensando suas reivindicações por autonomia, liberdades e reconhecimento de suas raízes e matrizes culturais, em lutas que reverberam no direito à memória e à história.

Pioneiro no empreendimento vital pelo direito à história dos povos e culturas subjugadas e silenciadas no universo do conhecimento eurocêntrico, Joseph Ki-Zerbo empenhou-se em invocar, demonstrar e lançar bases para a produção continuada e constantemente atualizada de uma História da África Negra."

(Continue a ler aqui)

*(Publicado inicialmente a 12/10/07)

7 comments:

AGRY said...

Li com um misto de interesse e de tristeza a sua postagem mais recente.
Vou evitar, a todo o custo, incorrer na espécie de revanchismo que transportou e transpôs, do Diário de um Sociólogo, para o seu blog.
Permite-se aconselhar “um ou dois senhores” a uma pequena tentativa de se informarem um pouco melhor sobre a Cultura Bantu e a tradição oral em África.
Depois, puxa pelos galões académicos, evoca a passagem do seu pai pelas masmorras da PIDE e da sua imersão eterna pela cultura africana.
No que respeita ao farmacêutico, que não conheço e com quem nunca “troquei” comentários, não posso ( nem devo) pronunciar-me. É uma questão de boa educação
Posso apenas responder por mim.
Em primeiro lugar, referir-lhe que estou perfeitamente à vontade no que respeita às geografias. Concretamente, sobre o meu conhecimento de África, em geral, e de Moçambique em particular.
O meu envolvimento com este país foi (e é) muito grande. Não gosto de ser juiz em causa própria.
Em relação à PIDE, também não entrarei em detalhes. Dir-lhe-ei, apenas, que conheci bem os seus métodos e que fui, desde jovem, perseguido por esses facínoras.
Termino quase como comecei. Esforcei-me por ser elegante e, julgo ter feito o que devia para evitar equívocos.
Na resposta à bióloga Sónia Ribeiro fez questão de separar as águas e não mencionou o meu nome. No tom mais amistoso do mundo respondi-lhe por três vezes.
Ao falar no plural, regressou tudo à estaca zero!
Mesmo para finalizar: preferia que esta minha interpretação fosse completamente desajustada e apresento-lhe, desde já, as minhas desculpas.
Se, pelo contrário, com esta sua postagem pretendeu atingir-me, então desculpe mas estamos conversados.

Koluki said...

"Em determinadas latitudes, de quando em vez, surgem vozes que exaltam o regresso ao passado. Sim, ao passado précolonial.

São os reconstituidores da história da humanidade e de África em particular.

São os investigadores da última geração, de topo de gama. São os iluminados do século XXI!

Esta breve introdução, surge a propósito das posições de alguns cidadãos que se refugiam num passado que mal conhecem...

Compreendo , mas não concordo, que nunca tenham erguido a voz ante a presença do opressor.
"


Afirmacoes transcritas do blog "Espirito do deixa falar" (nao do "Diario de um Sociologo"...) onde prefiro nao voltar a intervir para nao voltar a ser acusada, aberta ou veladamente, de intromissao em debates dos seus "residentes" (mesmo que apenas por outros 'intrusos'), ou de responder a questoes que nao me sao dirigidas...

Nao pretendi atingi-lo (julgo ter deixado isso suficientemente claro na minha resposta a Sonia Ribeiro...) pelo que suponho que sim: estamos conversados!

PS: Boa leitura da obra do Ki-Zerbo.

Aguiar said...

... não deixa de debater Kouluki...
Africa precisa de todas nós...

sei, que por vezes é duro ser-se incompreendida(o)...

talvez nossas formas de analise, sejam, até, antagonicas, mas é disso mesmo que precisamos, admitir a diferença, através da confrontaçao de outras formas de pensar... o dialogo, nessa confrontaçao é importante, é um meio de fazer (re)nascer a esperança para essa lady, cansada de sofrer, e, que afinal todos nos amamos - Africa...

Não desista Kouluki.

saudaçoes cordiais.

PS: gosto mto do seu blog. visito-o com mto interesse.

Koluki said...

Ola' Aguiar,

Obrigada pela visita e pela compreensao.
Nao tenciono deixar de debater - espero apenas nao ter que continuar eternamente a confrontar-me com situacoes nao so de incompreensao, mas de pura ma' fe' (qdo. nao com atitudes piores...) numa certa blogosfera.

Saudacoes cordiais para si tambem e vou certamente visitar tambem o seu blog com bastante interesse.

Anonymous said...

Desculpe la Koluki, mas ha coisas aqui que tem que ser ditas -- ALTO E BOM SOM…
Em primeiro lugar, esse individuo foi insultar a Koluki num blog de terceiros onde a Koluki por sinal foi correctissima como sempre tem sido.
Nao so insultou a sua integridade pessoal, patriotismo e inteligencia, como tambem nao respondeu nenhuma das perguntas que voce fez la no seu segundo comentario.
Nao satisfeito com aquilo, veio aqui fazer outros comentarios em tom altamente agressivo e, para somar insulto a injuria atreve-se a voltar a aparecer aqui com todo este descaramento e armdo em vitima?!!
Desculpe-me, mas esse individuo nao tem ideia do que quer dizer educacao, elegancia ou cavalheirismo e muito menos humanismo!!
Quem ele se julga para usar expressoes como “permite-se”, quando a Koluki esta a escrever no seu proprio blog? Quem ele se julga para se arvorar em dono do blog onde a tal conversa de café teve lugar? Ou sera ele mesmo o dono? Sim, porque identidade propria eh coisa que ele nao tem mostrado em sitio nenhum…
E porque que a Koluki nao pode falar dos seus creditos academicos num contexto bem justificado quando ele eh o maior idolatra do blog de um Sr. Professor que ate usa o nome de uma instituicao universitaria na identificacao do seu blog pessoal???
Desculpe-me, que eu bem tentei conter tudo isto nos ultimos dias mas nao consegui….
Um forte abraco para si!

Koluki said...

Obrigada pela solidariedade, Anonimo.
Coloca questoes pertinentes. Mais... que sais je?!

AGRY said...

Desloco para este espaço um comentário inserido numa postagem mais recente. A ideia foi a de "facilitar" a sua visibilidade.Ei-lo:
"Decorridas umas semanas, decidi-me por revisitar o seu blog.
Reli o comentário por mim produzido e, junto dele, deparei com outros que não conhecia!
Não é minha intenção escavar, no pior sentido, o passado.
Pretendo apenas , em primeiro lugar, apresentar-lhe as minhas desculpas por atitudes, eventualmente, menos elegantes e por mim praticadas.
Termino, reafirmando que o calor do debate não nos confere o direito de sermos menos cortezes para os nossos interlocutores. Tenho procurado pautar a minha conduta à luz desse principio.
Se desta feita não o consegui isso ficar-se-à a dever, penso eu, a um momento de comunicação menos conseguido"
Com todo o respeito
Agry