Thursday 4 October 2007

SOBRE O 27 DE MAIO: V. JOSE' CARRASQUINHA, "O COMISSARIO DO RISO”

Extractos de uma entrevista concedida, em Agosto de 2006, pelo legendario radialista angolano Jose’ Carrasquinha (J.C.) a revista “Figuras & Negocios” (F&N).
Entrevista de Carlos Miranda e Jose’ Lousada (Fotos)

(click na imagem para uma 'versao alargada' do texto)


F&N – Quando e’ que comecou a trabalhar e onde estudou?

J.C. – Como grande referencia em termos academicos, lembro-lhe o S. Domingos, mas andei tambem na Escola Comercial. Alias, foi a partir desta escola que eu fui para o Jornal Noticias (em 1973/74), onde tive como professor o Moutinho Pereira. Creio que ele esta’ em Portugal num movimento religioso. Mas nao e’ desses vigaristas, pois tenho-o como um elemento bom, nao so’ pelo facto de me ter ensinado. Dali fui para o jornal “O Comercio” em que fiquei uns meses por la’. Uma vez fui fazer um trabalho nas Obras Publicas e topei o Francisco Simons. Presumo que ele tenha gostado da minha actuacao durante a entrevista e como naquela ocasiao eles estavam a precisar de pretos para colorirem a Emissora Oficial de Angola e porque os outros que la’ funcionavam ja’ estavam desacreditados, entao o Simons convidou-me. Fui e fiquei ate’ que a DISA prendeu-me em 1977 e… ponto final.

F&N – Porque que lhe prenderam?

J.C. – Eles prenderam-me na sequencia dos acontecimentos do 27 de Maio. Eu creio que o senhor jornalista sabe que aquilo era prender de acordo com os rumores. Um agentezinho se ouvia… era so’ prender. Olhe, inclusive houve um individuo que foi preso so’ porque estava a rir. E como na altura alguem se lembrou de dizer que nao haveria perdao, entao esta-se a ver que aquilo era tipico de quem era humanista…

F&N – Sente-se ainda injusticado pela forma como foi preso na altura? Ate’ porque havia um programa – o “Kudibanguela” – que estaria supostamente ligado ao movimento fraccionista…

J.C. – O “Kudibanguela” nao tem nada a ver. Eu nao era do “Kudibanguela”!! Isto e’ para acalmar aqueles que nao sabem disso, mas, independentemente de ter ou nao ter nada a ver, a questao que se coloca aqui e’ a seguinte: voce perguntou se me sentia ainda injusticado. Ora, qualquer individuo ha-de sentir-se injusticado quando, pura e simplesmente, vai preso sem culpa formada e, depois, mandam-no embora sem guia de soltura!! Ate’ agora, posso ser considerado como um preso. Eu tenho que dizer isso porque nao tenho guia de soltura depois de ter estado preso durante quase dois anos.

(…)

F&N – Naquela conjuntura politica, teria alguma filiacao politico-partidaria?

J.C. – Alguns do meu estilo tinham uma coisa: eramos aquilo que se podia chamar de operacionais. Eu hoje dou-me ao luxo de dizer que faco parte daquele numero de individuos que ajudou o MPLA a ficar no poder…

F&N – Mesmo nao sendo parte integrante do MPLA? Nunca teve nenhuma filiacao partidaria?

J.C. – E’ verdade que eramos todos pros. Recordo-me que quando fomos la’ “desmontar” o Geronimo Wanga e certos comunicados da FNLA demonstravamos a tal simpatia que quer referir. Na radio, o MPLA tinha mais simpatizantes naquela altura. Alias, os pensantes naquela altura eram quase todos do MPLA. Eu nao estou aqui armado agora em intelectual revolucionario. Isso nao e’ segredo para ninguem, a influencia da radio era muito grande e acho que ninguem deve chorar por isso. A UNITA e a FNLA perderam porque justamente nao tinham esta mais-valia. A balanca estava muito desiquilibrada em termos de informacao. Entao, lembro-me que um gajo estava a vir e perguntava-te logo se falavas Lingala!! Esse tipo, a partida, ja’ estava a perder 1-0 (risos). Houve dessas coisas. Depois trouxeram os mercenarios. Olhe, o que me da’ graca e’ o seguinte: acusaram o MPLA de tambem trazer mercenarios, que foram os cubanos, mas voce viu um monte de cubanos pretos. Ninguem sabia quem era quem (risos). O Callan, O Mackenzie, o Grillo de que cor eram? Isso pesava. O MPLA e’ que jogou bem na parte que lhe tocou. Os outros perderam, paciencia…

F&N – Voce tambem perdeu? Noto que nesta parte esta’ a dar sinais de querer chorar…

J.C. – Nao, um dirigente de base a nivel nacional chora? (risos).

F&N – Volto a uma das questoes iniciais e que merece um esclarecimento definitivo, e nao e’ so’ por curiosidade que insisto. Teve ou nao teve nada a ver com o movimento “27 de Maio”?

J.C. – Houve uma refrega de horas entre quem e quem? Entre a gente do MPLA. Uns desse lado outros daquele. E porque? E’ justamente ai onde esta’ a questao. E’ bom que as pessoas saibam. A independencia foi em 1975. A ala do Dr Agostinho Neto estava a consolidar o poder, e para consolidar o poder ha’ muitas maneiras. Aquela foi uma delas…

(…)

F&N – O passado e’ o passado, mas preserva sempre alguma coisa para que tiremos varias licoes de vida. Em si, ha’ razoes suficientes para perdoar os seus detractores?

J.C. – Nao, e explico-lhe porque. Se um individuo perdoa e nao esquece, nao vale a pena estar aqui com “coros”. Depois eu vou perdoar a quem se ainda nao me deram a minha guia de soltura? A grande divergencia nesse momento e’ que o “Partido do Trabalho” nao paga o meu dinheiro. Eu agora quando falo do MPLA ja’ nao digo MPLA, digo so’ “Work Party”.

F&N - Se tivesse que pedir contas, faria directamente a quem?

J.C. - Todos os erros que o Work Party comete reflectem-se na imagem do lider. Eu, inclusive, ja' mandei uma carta ao Presidente a dizer: paguem so' a minha financa e mais nada!

F&N - O que e' que pediu na carta concretamente?

J.C. - Estou a pedir o dinheiro que me devem. Eu nao quero ser nunca outro aprendiz de gatuno como existem muitos gajos que andam por ai. Qual reforma? Se eu for para os Trapalhoes, estou reformado ou e' para ir ficar grosso? Eu explico-me melhor: O que eu quero e' o meu dinheiro correspondente aos meus salarios que nao me foram pagos durante o tempo em que estive preso e depois de ter estado na cadeia. Eu neste momento estou em liberdade condicional, porque nao tenho guia de soltura.

(…)

F&N – Voce sabe que existem varias pessoas que estiveram em semelhantes condicoes e que exercem agora importantes cargos publicos, inclusive no Governo? Como e’ que ve isso?

J.C. – Eu tenho amigos que estiveram presos comigo e que estao no Governo. E eu quando tenho que falar mal deles tem sido cara-a-cara. Eu acho que cada um entorta a sua vida como e quando quiser. E’ esta a minha filosofia…

(…)

F&N – Quer comentar a gestao governativa do seu bairro, em primeiro lugar, e depois do proprio pais nos tempos que correm?

J.C. – Em relacao ao municipio do Sambizanga, so’ tenho a dizer que enquanto o Reis (administrador municipal) nao tiver dinheiro, nao conseguira’ fazer as coisas. Aqui, o administrador nao tem autonomia financeira, e isso desiquilibra. E ele tem muita vontade de fazer e bem as coisas. E nao e’ por ter nascido aqui neste bairro. Voce pensa que eu nao posso governar o Kuando Kubango. Vou la’ e a vontade, porque o importante e’ saber o que se vai fazer e com que meios. Agora se voce vai la’ so’ para roubar, as coisas nao funcionam.
A nivel mais alto, eu acho que fizeram bem pedir emprestado o dinheiro dos chineses, mas eu penso que ha’ uma questao que desconfio que nao discutiram devidamente. Nao gosto nada desta historia de assinarem contratos com chineses que venham para aqui cavar buracos, quando nos temos um monte de “bacangus” aqui sem emprego. Este e’ um dos aspectos. Agora, ha’ outros aspectos que dizem respeito a distribuicao das riquezas. O governo nao pode dar mais essa empreitada de fornecer alimentos aos chineses ao Antonio que ja’ tem uma base que fornece a empresas x e y. E sempre ao Antonio. Nao pode.

(…)

F&N – O que e’ que acha da actuacao de Jose’ Eduardo dos Santos, que, curiosamente, nasceu no municipio do Sambizanga?

J.C. – E’ o Presidente do pais. Uma vez estava a falar mal dele por causa da sua guarda. Ha’ ai alguem no sistema de seguranca do nosso Presidente que por vezes tambem abusa da santa paciencia. Eu tenho a certeza que se o Man Ze’ lhe apetecer vir a Lusaka (Sambizanga) pode vir ele proprio a conduzir, ele e a sua oira. Ele vem e ninguem lhe toca. Voces que gostam de escrever bonito, as vezes dizem que e’ excesso de zelo. Nao e’ nada disso, e’ excesso de graxa. Voce parece que nem pode se mexer e o kota ainda esta’ la’ na EDEL. Ainda nao chegou aqui no Sarrabulho Corporation e ja’ estas aqui de sentido. Aqui, o Man Ze’ pode vir a vontade. Se quiser dormir numa das casas aqui ao lado, que nao tem ar condicionado, pode vir e ninguem vai lhe ligar. A unica guerra que ele vai ter aqui e’ so’ com os mosquitos. Se existe alguma coisa que pode lhe deixar um pouco embaracado e’ a camisa e sabe porque? Dantes, quando iamos assistir aos jogos de futebol, aos nossos idolos a gente ia atras deles para puxar a camisola. Ora, e’ o que vai acontecer com ele. Quando vier aqui, quem vai lhe puxar a camisola nao sou eu, o Zusi Diangana ou outro gajo adulto, sao os miudos.

F&N – Do microfone para a culinaria tambem e’ necessario muita lata, boas maos e gostos…

J.C. – Um individuo desmoralizado e’ um homem morto. E’ por isso que os brancos estao a nos ganhar 1-0. Eles fazem os planos a longo prazo. Eu tambem procuro seguir essa tendencia. Perante o quadro geral de hostilidades que existia, em 1979, quando sai da cadeia, era necessario direccionar-me e escolher o meu caminho. Nao era so’ por mim, era tambem pelos miudos. Eu tive que me adaptar e o negocio que estava na moda eram os bares. Da’ para dizer que ganhei na lotaria este bar, porque um “lacerda” disse que o pais “estava esdruxulo” e que iria fugir; comprei o bar dele a preco de banana.
Quando o bar ja’ nao der, vou mudar. O camaleao e’ um gajo que se da’ bem comigo (risos).

Extractos de uma entrevista concedida, em Agosto de 2006, pelo legendario radialista angolano Jose’ Carrasquinha (J.C.) a revista “Figuras & Negocios” (F&N).
Entrevista de Carlos Miranda e Jose’ Lousada (Fotos)

(click na imagem para uma 'versao alargada' do texto)


F&N – Quando e’ que comecou a trabalhar e onde estudou?

J.C. – Como grande referencia em termos academicos, lembro-lhe o S. Domingos, mas andei tambem na Escola Comercial. Alias, foi a partir desta escola que eu fui para o Jornal Noticias (em 1973/74), onde tive como professor o Moutinho Pereira. Creio que ele esta’ em Portugal num movimento religioso. Mas nao e’ desses vigaristas, pois tenho-o como um elemento bom, nao so’ pelo facto de me ter ensinado. Dali fui para o jornal “O Comercio” em que fiquei uns meses por la’. Uma vez fui fazer um trabalho nas Obras Publicas e topei o Francisco Simons. Presumo que ele tenha gostado da minha actuacao durante a entrevista e como naquela ocasiao eles estavam a precisar de pretos para colorirem a Emissora Oficial de Angola e porque os outros que la’ funcionavam ja’ estavam desacreditados, entao o Simons convidou-me. Fui e fiquei ate’ que a DISA prendeu-me em 1977 e… ponto final.

F&N – Porque que lhe prenderam?

J.C. – Eles prenderam-me na sequencia dos acontecimentos do 27 de Maio. Eu creio que o senhor jornalista sabe que aquilo era prender de acordo com os rumores. Um agentezinho se ouvia… era so’ prender. Olhe, inclusive houve um individuo que foi preso so’ porque estava a rir. E como na altura alguem se lembrou de dizer que nao haveria perdao, entao esta-se a ver que aquilo era tipico de quem era humanista…

F&N – Sente-se ainda injusticado pela forma como foi preso na altura? Ate’ porque havia um programa – o “Kudibanguela” – que estaria supostamente ligado ao movimento fraccionista…

J.C. – O “Kudibanguela” nao tem nada a ver. Eu nao era do “Kudibanguela”!! Isto e’ para acalmar aqueles que nao sabem disso, mas, independentemente de ter ou nao ter nada a ver, a questao que se coloca aqui e’ a seguinte: voce perguntou se me sentia ainda injusticado. Ora, qualquer individuo ha-de sentir-se injusticado quando, pura e simplesmente, vai preso sem culpa formada e, depois, mandam-no embora sem guia de soltura!! Ate’ agora, posso ser considerado como um preso. Eu tenho que dizer isso porque nao tenho guia de soltura depois de ter estado preso durante quase dois anos.

(…)

F&N – Naquela conjuntura politica, teria alguma filiacao politico-partidaria?

J.C. – Alguns do meu estilo tinham uma coisa: eramos aquilo que se podia chamar de operacionais. Eu hoje dou-me ao luxo de dizer que faco parte daquele numero de individuos que ajudou o MPLA a ficar no poder…

F&N – Mesmo nao sendo parte integrante do MPLA? Nunca teve nenhuma filiacao partidaria?

J.C. – E’ verdade que eramos todos pros. Recordo-me que quando fomos la’ “desmontar” o Geronimo Wanga e certos comunicados da FNLA demonstravamos a tal simpatia que quer referir. Na radio, o MPLA tinha mais simpatizantes naquela altura. Alias, os pensantes naquela altura eram quase todos do MPLA. Eu nao estou aqui armado agora em intelectual revolucionario. Isso nao e’ segredo para ninguem, a influencia da radio era muito grande e acho que ninguem deve chorar por isso. A UNITA e a FNLA perderam porque justamente nao tinham esta mais-valia. A balanca estava muito desiquilibrada em termos de informacao. Entao, lembro-me que um gajo estava a vir e perguntava-te logo se falavas Lingala!! Esse tipo, a partida, ja’ estava a perder 1-0 (risos). Houve dessas coisas. Depois trouxeram os mercenarios. Olhe, o que me da’ graca e’ o seguinte: acusaram o MPLA de tambem trazer mercenarios, que foram os cubanos, mas voce viu um monte de cubanos pretos. Ninguem sabia quem era quem (risos). O Callan, O Mackenzie, o Grillo de que cor eram? Isso pesava. O MPLA e’ que jogou bem na parte que lhe tocou. Os outros perderam, paciencia…

F&N – Voce tambem perdeu? Noto que nesta parte esta’ a dar sinais de querer chorar…

J.C. – Nao, um dirigente de base a nivel nacional chora? (risos).

F&N – Volto a uma das questoes iniciais e que merece um esclarecimento definitivo, e nao e’ so’ por curiosidade que insisto. Teve ou nao teve nada a ver com o movimento “27 de Maio”?

J.C. – Houve uma refrega de horas entre quem e quem? Entre a gente do MPLA. Uns desse lado outros daquele. E porque? E’ justamente ai onde esta’ a questao. E’ bom que as pessoas saibam. A independencia foi em 1975. A ala do Dr Agostinho Neto estava a consolidar o poder, e para consolidar o poder ha’ muitas maneiras. Aquela foi uma delas…

(…)

F&N – O passado e’ o passado, mas preserva sempre alguma coisa para que tiremos varias licoes de vida. Em si, ha’ razoes suficientes para perdoar os seus detractores?

J.C. – Nao, e explico-lhe porque. Se um individuo perdoa e nao esquece, nao vale a pena estar aqui com “coros”. Depois eu vou perdoar a quem se ainda nao me deram a minha guia de soltura? A grande divergencia nesse momento e’ que o “Partido do Trabalho” nao paga o meu dinheiro. Eu agora quando falo do MPLA ja’ nao digo MPLA, digo so’ “Work Party”.

F&N - Se tivesse que pedir contas, faria directamente a quem?

J.C. - Todos os erros que o Work Party comete reflectem-se na imagem do lider. Eu, inclusive, ja' mandei uma carta ao Presidente a dizer: paguem so' a minha financa e mais nada!

F&N - O que e' que pediu na carta concretamente?

J.C. - Estou a pedir o dinheiro que me devem. Eu nao quero ser nunca outro aprendiz de gatuno como existem muitos gajos que andam por ai. Qual reforma? Se eu for para os Trapalhoes, estou reformado ou e' para ir ficar grosso? Eu explico-me melhor: O que eu quero e' o meu dinheiro correspondente aos meus salarios que nao me foram pagos durante o tempo em que estive preso e depois de ter estado na cadeia. Eu neste momento estou em liberdade condicional, porque nao tenho guia de soltura.

(…)

F&N – Voce sabe que existem varias pessoas que estiveram em semelhantes condicoes e que exercem agora importantes cargos publicos, inclusive no Governo? Como e’ que ve isso?

J.C. – Eu tenho amigos que estiveram presos comigo e que estao no Governo. E eu quando tenho que falar mal deles tem sido cara-a-cara. Eu acho que cada um entorta a sua vida como e quando quiser. E’ esta a minha filosofia…

(…)

F&N – Quer comentar a gestao governativa do seu bairro, em primeiro lugar, e depois do proprio pais nos tempos que correm?

J.C. – Em relacao ao municipio do Sambizanga, so’ tenho a dizer que enquanto o Reis (administrador municipal) nao tiver dinheiro, nao conseguira’ fazer as coisas. Aqui, o administrador nao tem autonomia financeira, e isso desiquilibra. E ele tem muita vontade de fazer e bem as coisas. E nao e’ por ter nascido aqui neste bairro. Voce pensa que eu nao posso governar o Kuando Kubango. Vou la’ e a vontade, porque o importante e’ saber o que se vai fazer e com que meios. Agora se voce vai la’ so’ para roubar, as coisas nao funcionam.
A nivel mais alto, eu acho que fizeram bem pedir emprestado o dinheiro dos chineses, mas eu penso que ha’ uma questao que desconfio que nao discutiram devidamente. Nao gosto nada desta historia de assinarem contratos com chineses que venham para aqui cavar buracos, quando nos temos um monte de “bacangus” aqui sem emprego. Este e’ um dos aspectos. Agora, ha’ outros aspectos que dizem respeito a distribuicao das riquezas. O governo nao pode dar mais essa empreitada de fornecer alimentos aos chineses ao Antonio que ja’ tem uma base que fornece a empresas x e y. E sempre ao Antonio. Nao pode.

(…)

F&N – O que e’ que acha da actuacao de Jose’ Eduardo dos Santos, que, curiosamente, nasceu no municipio do Sambizanga?

J.C. – E’ o Presidente do pais. Uma vez estava a falar mal dele por causa da sua guarda. Ha’ ai alguem no sistema de seguranca do nosso Presidente que por vezes tambem abusa da santa paciencia. Eu tenho a certeza que se o Man Ze’ lhe apetecer vir a Lusaka (Sambizanga) pode vir ele proprio a conduzir, ele e a sua oira. Ele vem e ninguem lhe toca. Voces que gostam de escrever bonito, as vezes dizem que e’ excesso de zelo. Nao e’ nada disso, e’ excesso de graxa. Voce parece que nem pode se mexer e o kota ainda esta’ la’ na EDEL. Ainda nao chegou aqui no Sarrabulho Corporation e ja’ estas aqui de sentido. Aqui, o Man Ze’ pode vir a vontade. Se quiser dormir numa das casas aqui ao lado, que nao tem ar condicionado, pode vir e ninguem vai lhe ligar. A unica guerra que ele vai ter aqui e’ so’ com os mosquitos. Se existe alguma coisa que pode lhe deixar um pouco embaracado e’ a camisa e sabe porque? Dantes, quando iamos assistir aos jogos de futebol, aos nossos idolos a gente ia atras deles para puxar a camisola. Ora, e’ o que vai acontecer com ele. Quando vier aqui, quem vai lhe puxar a camisola nao sou eu, o Zusi Diangana ou outro gajo adulto, sao os miudos.

F&N – Do microfone para a culinaria tambem e’ necessario muita lata, boas maos e gostos…

J.C. – Um individuo desmoralizado e’ um homem morto. E’ por isso que os brancos estao a nos ganhar 1-0. Eles fazem os planos a longo prazo. Eu tambem procuro seguir essa tendencia. Perante o quadro geral de hostilidades que existia, em 1979, quando sai da cadeia, era necessario direccionar-me e escolher o meu caminho. Nao era so’ por mim, era tambem pelos miudos. Eu tive que me adaptar e o negocio que estava na moda eram os bares. Da’ para dizer que ganhei na lotaria este bar, porque um “lacerda” disse que o pais “estava esdruxulo” e que iria fugir; comprei o bar dele a preco de banana.
Quando o bar ja’ nao der, vou mudar. O camaleao e’ um gajo que se da’ bem comigo (risos).

3 comments:

Anonymous said...

Granda Carrasquinha!
Epá um gajo até fica emocionado ao lembrar aqueles tempos…
Só uma coisa - parece que realmente essa estória do Kudibanguela deve andar mal contada porque já ouvi inimigos jurados dos ditos fraccionistas a dizerem que eles é que faziam aquele programa, será?

Koluki said...

Bom, Diasporo, mal contada ou simplesmente NAO contada... Eu ca' julgo saber de pelo menos dois "fazedores" do Kudibanguela que "desapareceram" no 27...
Agora, o Kudibanguela (Weya, weya! Construcao! A luta em busca de uma nova Nacao...) foi simplesmente o programa mais popular da radio angolana e nao sei se sem ele o M teria tido tanta facilidade em "ganhar" como "ganhou"... Por isso, muitos querem agora, ou apenas quando lhes convem, assumir a sua "paternidade"...

Koluki said...

P.S.: O "Weya, weya!" e' de uma musica do Manu Dibango que sei que tenho e queria passar aqui com este post, mas infelizmente nao consegui encontrar o CD...