Tinha ultrapassado a fasquia dos 55 anos, mas nao muito mais do que isso.
Faleceu vitima de doenca prolongada envolvendo diabetes e uma perna amputada –
condicao a que certamente nao tera’ sido estranho o consumo exagerado de
alcool. Essa vai sendo, lamentavelmente, uma tendencia que parece vir a
instalar-se cada vez mais entre um grupo de jornalistas dessa faixa etaria,
sendo alguns um pouco mais novos, com quem me cruzei, mais de perto ou mais de
longe, quando passei brevemente pela profissao. Deles lamento nao poder dizer
que tenho saudades – infelizmente.
Ou seja, e para ser perfeitamente honesta, excepto de um ou de outro: por
exemplo do Mario Campos, infelizmente tambem ja’ tragicamente falecido num
"alcohol-related car accident", ou de um outro Campos, o Graca,
tambem a debater-se com o mesmo tipo de diabetes que acabaram de vitimar o
Aguiar e por quem, “apesar dos pesares”, ainda reservo alguma simpatia. E que
me desculpe algum outro que porventura eu esteja, por qualquer lapso de
memoria, a excluir desta “amostra” de apenas dois “exemplares”, mas o facto e’
que, de momento, nao consigo juntar-lhes mais nenhum outro nome. Talvez o
Nazareth Vandunem – mas esse meu bom amigo, mais da Angop da Luciano Cordeiro
do que da do Kinaxixi, nao o incluo no grupo a quem dedico este “requiem”. Tal como nao incluo alguns outros, como o Americo Goncalves, ou o Joao Melo, por
exemplo.
O que explica o facto de, em cerca de 30 anos depois de ter saido da
Agencia, nunca mais os ter sequer visto, sendo que com alguns deles, como um
certo BBBB, nunca sequer me cheguei a cruzar no curto periodo em que fui
“jornalista” – nem depois. O que explica tambem o facto de quando, nos ultimos
anos, retomei o contacto, ‘a distancia, com alguns deles, o tenha feito, nao
sem “reticencias” mas, certamente, com a secreta esperanca de que o “mau tempo
no canal” ja’ tivesse passado…
Mas nao: toda a "karga pesada" das energias negativas que eles
foram acumulando ao longo das decadas desde aquele tempo acabou por desabar
sobre mim como
a pior “tempestade” que alguem pode esperar ter que confrontar na vida. Todo o
“tempo de sonho” que tentei guardar daquele periodo, desmoronou-se como o mais
negro pesadelo com que alguma vez imaginei me pudesse vir a debater numa altura
da minha vida em que tambem ja’ ultrapassei a fasquia dos 50 e tudo quanto
desejava para mim, e para todos os Angolanos, era apenas um pouco de paz,
tranquilidade e dignidade - em suma: O DIREITO 'A VIDA! Algo como
“cumprindo o tempo do poema, parido assim em desespero, quando de paz se quer
alado, se desfaz como
suspiro, na boca ao lado.”
Conheci o Aguiar na Angop, nos idos de 79-81, e dele so’ me lembro de ter
recebido “bad vibes”. Ele fazia parte de um grupo de jornalistas, quase todos
nos ultimos anos ligados ‘a imprensa privada, que exerceu a profissao com, mais
do que uma maior ou menor entrega, um determinado estilo de vida pouco
saudavel, tanto fisica, como
mental e espiritualmente - para dizer o minimo! Teem, no entanto, conseguido
viver alguns anos mais do que o seu “saudoso Svengali” ou, ja’ agora, do que um
certo “Coitado”, que nao conseguiram sequer dobrar o “cabo dos 50” - talvez por
estes terem acrescentado ao alcool outras "substancias inominaveis".
E, pelo menos nisso, podem considerar-se "felizes".
Digo adeus ao Aguiar desta forma, um tanto amarga, contrariando
conscientemente a tradicao de nestes momentos apenas se tecerem panegiricos a
quem nos deixa e cujo destino sabemos iremos todos seguir mais cedo ou mais
tarde, porque gostaria, muito sinceramente, que o grupo de jornalistas que ele
representou e as geracoes que os seguem e pretendem, naturalmente, adopta-los
como “role models”, aproveitassem este momento para reflectirem seriamente (e
isso seria o minimo exigivel de quem gasta tantos rios de tinta a exigir
responsabilizacao dos governantes e outras pessoas publicas, ja' para nao falar
nas palavras de condenacao que dirigem, hipocritamente, ao alcoolismo no seio
das camadas mais jovens e ao 'lip service' que prestam ao "resgate dos
valores e principios morais") sobre as suas opcoes de vida.
E, sobretudo, nas consequencias da “projeccao” de tais opcoes na vida de
outras pessoas, especialmente mulheres (e criancas) – e nisso eles teem-se
demonstrado “eximios mestres” do machismo, sexismo, misoginia, arrogancia,
laxismo e irresponsabilidade, quando nao do racismo mais ou menos disfarcado
(... no que sao histericamente incentivados por certas flausinas carentes,
predadoras e sado-masoquistas que os consideram "queridos, intocaveis e
machos dinamicos de barba dura"!...) –, que, como eu, nunca delas quizeram
partilhar e que, precisamente por isso, eles tendem a tomar como “alvos a
abater”, ou a arrastar a “golpes de (aka)martelo” para os seus “tugurios de
vida” ou “leitos de morte”. Por isso acabamos por ter para com eles uma atitude
que pode ser expressa por estas palavras: “vao morrer longe”!...
E tudo porque,
quem eles “elegem” suas vitimas preferidas, e’ quem tenha decidido seguir
outros caminhos, mesmo se dentro do jornalismo, que vieram, com maior ou menor
sucesso, a desembocar em realizacoes pessoais de maior merito, pelo esforco,
sacrificio, abnegacao, disciplina e, acima de tudo, responsabilidade, que
envolveram ao longo de toda uma vida... "da inveja e do odio" - ja'
ouviram falar?...
E, pior do que tentarem arrastar 'a viva forca as suas vitimas para os seus
fatidicos destinos, tentam ainda "by any means necessary", eles ou os
seus "amigos do copo" que os sobrevivem, cobardemente culpabiliza-las
pelas suas opcoes de vida, frustracoes e... mortes prematuras e inglorias! Em
resumo, aos que sobrevivem o Aguiar tenho apenas esta mensagem: meus caros, e'
tempo de se fazerem, e se demonstrarem, HOMENS!
Desculpem-me se isto soa a “demasiado amor proprio”, mas essa parece ser
efectivamente a triste realidade dos factos.
Nao deixo, no entanto, de expressar ‘a familia enlutada os meus mais
sinceros votos de pesar e de desejar Paz a Alma do Aguiar.
[Mais detalhes aqui]
No comments:
Post a Comment