Friday 9 November 2007

ATE' VOCE JA' NAO ES NADA!...

E’ lancado hoje em Luanda o livro entitulado “Até você já não és nada!...”, do Sociologo Angolano Paulo de Carvalho, pela Editorial Kilombelombe (Luanda, 2007). Aqui fica a sua apresentacao pelo autor:

Neste livro, apresento o conteúdo das entrevistas feitas junto de pessoas portadoras de deficiência motora e sensorial na cidade de Luanda, no âmbito da preparação da minha tese de doutoramento em Sociologia.Tal como o leitor poderá constatar, as entrevistas contêm elementos ligados aos problemas sociais que boa parte da população angolana contemporânea enfrenta. Inserem também elementos sobre a forma como a história recente de Angola interferiu na forma de existência de um bom número de cidadãos angolanos.

Apresentam a habitual “face oculta” dos problemas de carácter psicológico e sociológico que o cidadão comum enfrenta no dia-a-dia, para garante da subsistência própria e dos seus dependentes. Apresentam ainda a forma mais ou menos subtil como um grupo seriamente marginalizado engendra estratégias de sobrevivência, normalmente abaixo do mínimo socialmente aceitável. Por outro lado, referem também a forma como, de um dia para o outro, se pode operar uma mudança radical na forma de encarar a vida, por razões alheias à vontade própria.



Ao ler as entrevistas, o leitor penetrará no submundo da marginalidade, numa cidade onde a marginalização social é endémica. O leitor tomará consciência da forma como se opera a discriminação dos marginalizados sociais e da forma como estes interagem com os demais, para garantia da sobrevivência. Verificará ainda de que forma as instituições do Estado são avaliadas, fundamentalmente devido ao esquecimento a que são votados os portadores de deficiência física – muitos deles, com deficiência adquirida devido a terem tomado parte de confrontos armados pela salvaguarda da integridade territorial, em nome desse mesmo Estado.


Com este livro, o leitor da cidade de Luanda (e de outras cidades de média dimensão de Angola) passa a ter elementos acerca de um mundo normalmente desconhecido, onde se chega ao extremo de alguns antigos oficiais das Forças Armadas se verem forçados a pôr de lado o “orgulho de oficial”, para se vergarem à mendicidade e aos riscos que daí advêm par a sua integridade psicológica. A decisão de publicação das entrevistas deve-se ao facto de elas conterem elementos que podem ter utilidade para investigadores e estudantes de vários domínios do saber, com particular destaque para a antropologia, linguística, psicologia (não apenas social) e sociologia.

Espero que este livro venha a contribuir para a sensibilização da sociedade angolana para o drama vivido pelos portadores de deficiência física – que, tal como descrevo em Exclusão Social em Angola. O caso dos deficientes físicos de Luanda [Edições Kilombelombe, Luanda, 2007] – são dos grupos mais atingidos pela situação de exclusão social em Luanda (e em Angola).


O autor

E’ lancado hoje em Luanda o livro entitulado “Até você já não és nada!...”, do Sociologo Angolano Paulo de Carvalho, pela Editorial Kilombelombe (Luanda, 2007). Aqui fica a sua apresentacao pelo autor:

Neste livro, apresento o conteúdo das entrevistas feitas junto de pessoas portadoras de deficiência motora e sensorial na cidade de Luanda, no âmbito da preparação da minha tese de doutoramento em Sociologia.Tal como o leitor poderá constatar, as entrevistas contêm elementos ligados aos problemas sociais que boa parte da população angolana contemporânea enfrenta. Inserem também elementos sobre a forma como a história recente de Angola interferiu na forma de existência de um bom número de cidadãos angolanos.

Apresentam a habitual “face oculta” dos problemas de carácter psicológico e sociológico que o cidadão comum enfrenta no dia-a-dia, para garante da subsistência própria e dos seus dependentes. Apresentam ainda a forma mais ou menos subtil como um grupo seriamente marginalizado engendra estratégias de sobrevivência, normalmente abaixo do mínimo socialmente aceitável. Por outro lado, referem também a forma como, de um dia para o outro, se pode operar uma mudança radical na forma de encarar a vida, por razões alheias à vontade própria.



Ao ler as entrevistas, o leitor penetrará no submundo da marginalidade, numa cidade onde a marginalização social é endémica. O leitor tomará consciência da forma como se opera a discriminação dos marginalizados sociais e da forma como estes interagem com os demais, para garantia da sobrevivência. Verificará ainda de que forma as instituições do Estado são avaliadas, fundamentalmente devido ao esquecimento a que são votados os portadores de deficiência física – muitos deles, com deficiência adquirida devido a terem tomado parte de confrontos armados pela salvaguarda da integridade territorial, em nome desse mesmo Estado.


Com este livro, o leitor da cidade de Luanda (e de outras cidades de média dimensão de Angola) passa a ter elementos acerca de um mundo normalmente desconhecido, onde se chega ao extremo de alguns antigos oficiais das Forças Armadas se verem forçados a pôr de lado o “orgulho de oficial”, para se vergarem à mendicidade e aos riscos que daí advêm par a sua integridade psicológica. A decisão de publicação das entrevistas deve-se ao facto de elas conterem elementos que podem ter utilidade para investigadores e estudantes de vários domínios do saber, com particular destaque para a antropologia, linguística, psicologia (não apenas social) e sociologia.

Espero que este livro venha a contribuir para a sensibilização da sociedade angolana para o drama vivido pelos portadores de deficiência física – que, tal como descrevo em Exclusão Social em Angola. O caso dos deficientes físicos de Luanda [Edições Kilombelombe, Luanda, 2007] – são dos grupos mais atingidos pela situação de exclusão social em Luanda (e em Angola).


O autor

3 comments:

Anonymous said...

Infelizmente essas são as tristes imagens do dia a dia da nossa Lua. Antigamente o “dia a dia na cidade” era o prato de arroz com peixe frito, lembra-se? Hoje já nem a isso esses pobres têm acesso. Mas o que fazer quando o cidadão comum já se tornou tão indiferente a elas, como se fossem uma "atracção turística" da nossa capital e não há um mínimo de solidariedade social?
A luta continua…

Anonymous said...

Já comecei a ler o livro, mas tive que parar porque não ia continuar a poder festejar a dipanda com tanta tristeza…
AR

Koluki said...

Kaluanda: Sim, lembro-me bem dos tempos do 'dia-a-dia na cidade'. Quanto a solidariedade social, ela nao ocupa exactamente os lugares mais altos no sistema de valores da actual sociedade luandense. Mas e' tempo de se comecar a exigir ao estado que cumpra as suas obrigacoes... Um estado, lembre-mo-nos, para cujos cofres julgamos saber que entram todos os dias (o 'dia-a-dia' do estado Angolano...) os proventos de milhoes de barris de petroleo!

AR Coragem minha irma!