Wednesday, 14 January 2009

IN SEARCH OF A BRAZILIAN OBAMA


The current issue of Jungle Drums, a Brazilian magazine published in London, in Portuguese and English, features an interesting piece about the feasibility in the foreseeable future of a Black candidate being elected President of Brazil, as Barack Obama just was in the US.

*****

A corrente edicao do magazine brasileiro Jungle Drums, publicado em Londres, em Portugues e Ingles, contem uma interessante materia sobre a fisibilidade da eleicao, num futuro mais ou menos previsivel, de um presidente negro no Brasil, a semelhanca da recente eleicao de Barack Obama nos EUA. Eis alguns destaques:

(...)
No Brasil, surgiu também um sentimento paradoxal de inveja boa: ao mesmo tempo em que aplaudiram a vitória histórica de Obama, negros brasileiros também sonham ver o tabu racial quebrado num país em que negros e pardos formam quase metade da população - 49,7% de acordo com as estatísticas oficiais.

Mas será que a eleição de um presidente negro no Brasil nos próximos anos é algo mais do que um sonho? Embora os Estados Unidos tenham uma história marcada por intensos conflitos raciais e ainda abriguem organizações declaradamente racistas, em especial no Sul do país, intelectuais negros brasileiros não acreditam, a princípio, que o Brasil, apesar de sua tão decantada democracia racial e de sua miscigenação, possa ter a sua versão de Obama.

Para a historiadora Wania Santanna, tal hipótese é impossível a curto prazo. Em médio prazo, uma possibilidade, e em longo prazo só vai ocorrer caso o racismo seja discutido seriamente, sobretudo pela adoção de ações afirmativas a favor dos negros, além de políticas governamentais específicas, como as cotas em universidades públicas.

Nei Lopes, compositor e autor de 23 livros sobre temas afro-brasileiros, afirma que o Brasil está pelo menos 40 anos atrasado em relação aos Estados Unidos no que diz respeito aos direitos civis: “Lá a questão (do racismo) foi sempre colocada abertamente, sem hipocrisia. A segregação fez com que os negros se conscientizassem e procurassem seu caminho. Aqui, nós fomos sempre iludidos com essa mentira de “país mestiço” e de harmonia racial e cultural. E aí nada se resolveu até hoje”.

A segregação nos Estados Unidos fez com que os negros americanos criassem suas próprias universidades, suas próprias empresas. Dessa forma, os negros americanos conquistaram seu espaço e criaram seu próprio mercado. Lopes afirma que no Brasil, “a ‘boa convivência’ reservou para nós apenas o samba e o futebol”. Uma solução poderia estar na educação. Com o mesmo nível de escolaridade, as chances seriam tecnicamente iguais para todos no mercado de trabalho e, futuramente, na política. Entretanto, Santanna afirma que nem mesmo os negros mais escolarizados têm igualdade de oportunidades e às vezes vêem brancos notadamente menos preparados ocuparem cargos mais altos.

David Raimundo dos Santos, diretor da Educafro, entidade que mantém cursos pré-vestibulares gratuitos para negros e carentes, concorda quando se diz que o mito da democracia racial prejudica a ascensão da comunidade negra brasileira.

De acordo com o educador, “o povo dos EUA assume o seu racismo. O povo brasileiro tem um racismo hipócrita. É um racismo mais cruel, pois engana a vítima, criando a falsa imagem de que está tudo bem. No entanto, faz um estrago muito mais avassalador”. Para ele, a hipocrisia racial brasileira multiplica o efeito do racismo, neutralizando as iniciativas das lideranças anti-racistas, pois passa para o povo negro e branco a imagem de que os racistas são os militantes afro que denunciam esta realidade.

Santos considera um contra-senso que se aceite a globalização das multinacionais, mas não a de idéias que deram certo como a das cotas em universidades. Entretanto, acredita que o Brasil possa ter um presidente negro: “Já temos várias lideranças capazes. O problema é que a classe dominante eurodescendente não dá espaço. Mas nem as mulheres, apesar de terem leis, têm espaços. É muito sério o domínio de um grupo humano sobre os outros”.

A questão principal, entretanto, não é política, mas social. Lopes afirma que “no Brasil, até hoje ainda tem gente que acredita em democracia racial; nós mesmos somos culpados pelo nosso atraso. Para se acabar com o racismo, é preciso primeiro admitir que, embora o conceito de ‘raça’ seja furado, o racismo existe”. Mais do que eleger um presidente negro, o Brasil precisa entender a comunidade negra como parte da sociedade.
(...)


N.B.: Alguns dos meus pontos de vista, bem como os de alguns amigos deste blog, sobre a questao do racismo no Brasil, podem ser encontrados, entre outros, nos comentarios a este post.

The current issue of Jungle Drums, a Brazilian magazine published in London, in Portuguese and English, features an interesting piece about the feasibility in the foreseeable future of a Black candidate being elected President of Brazil, as Barack Obama just was in the US.

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A corrente edicao do magazine brasileiro Jungle Drums, publicado em Londres, em Portugues e Ingles, contem uma interessante materia sobre a fisibilidade da eleicao, num futuro mais ou menos previsivel, de um presidente negro no Brasil, a semelhanca da recente eleicao de Barack Obama nos EUA. Eis alguns destaques:

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No Brasil, surgiu também um sentimento paradoxal de inveja boa: ao mesmo tempo em que aplaudiram a vitória histórica de Obama, negros brasileiros também sonham ver o tabu racial quebrado num país em que negros e pardos formam quase metade da população - 49,7% de acordo com as estatísticas oficiais.

Mas será que a eleição de um presidente negro no Brasil nos próximos anos é algo mais do que um sonho? Embora os Estados Unidos tenham uma história marcada por intensos conflitos raciais e ainda abriguem organizações declaradamente racistas, em especial no Sul do país, intelectuais negros brasileiros não acreditam, a princípio, que o Brasil, apesar de sua tão decantada democracia racial e de sua miscigenação, possa ter a sua versão de Obama.

Para a historiadora Wania Santanna, tal hipótese é impossível a curto prazo. Em médio prazo, uma possibilidade, e em longo prazo só vai ocorrer caso o racismo seja discutido seriamente, sobretudo pela adoção de ações afirmativas a favor dos negros, além de políticas governamentais específicas, como as cotas em universidades públicas.

Nei Lopes, compositor e autor de 23 livros sobre temas afro-brasileiros, afirma que o Brasil está pelo menos 40 anos atrasado em relação aos Estados Unidos no que diz respeito aos direitos civis: “Lá a questão (do racismo) foi sempre colocada abertamente, sem hipocrisia. A segregação fez com que os negros se conscientizassem e procurassem seu caminho. Aqui, nós fomos sempre iludidos com essa mentira de “país mestiço” e de harmonia racial e cultural. E aí nada se resolveu até hoje”.

A segregação nos Estados Unidos fez com que os negros americanos criassem suas próprias universidades, suas próprias empresas. Dessa forma, os negros americanos conquistaram seu espaço e criaram seu próprio mercado. Lopes afirma que no Brasil, “a ‘boa convivência’ reservou para nós apenas o samba e o futebol”. Uma solução poderia estar na educação. Com o mesmo nível de escolaridade, as chances seriam tecnicamente iguais para todos no mercado de trabalho e, futuramente, na política. Entretanto, Santanna afirma que nem mesmo os negros mais escolarizados têm igualdade de oportunidades e às vezes vêem brancos notadamente menos preparados ocuparem cargos mais altos.

David Raimundo dos Santos, diretor da Educafro, entidade que mantém cursos pré-vestibulares gratuitos para negros e carentes, concorda quando se diz que o mito da democracia racial prejudica a ascensão da comunidade negra brasileira.

De acordo com o educador, “o povo dos EUA assume o seu racismo. O povo brasileiro tem um racismo hipócrita. É um racismo mais cruel, pois engana a vítima, criando a falsa imagem de que está tudo bem. No entanto, faz um estrago muito mais avassalador”. Para ele, a hipocrisia racial brasileira multiplica o efeito do racismo, neutralizando as iniciativas das lideranças anti-racistas, pois passa para o povo negro e branco a imagem de que os racistas são os militantes afro que denunciam esta realidade.

Santos considera um contra-senso que se aceite a globalização das multinacionais, mas não a de idéias que deram certo como a das cotas em universidades. Entretanto, acredita que o Brasil possa ter um presidente negro: “Já temos várias lideranças capazes. O problema é que a classe dominante eurodescendente não dá espaço. Mas nem as mulheres, apesar de terem leis, têm espaços. É muito sério o domínio de um grupo humano sobre os outros”.

A questão principal, entretanto, não é política, mas social. Lopes afirma que “no Brasil, até hoje ainda tem gente que acredita em democracia racial; nós mesmos somos culpados pelo nosso atraso. Para se acabar com o racismo, é preciso primeiro admitir que, embora o conceito de ‘raça’ seja furado, o racismo existe”. Mais do que eleger um presidente negro, o Brasil precisa entender a comunidade negra como parte da sociedade.
(...)


N.B.: Alguns dos meus pontos de vista, bem como os de alguns amigos deste blog, sobre a questao do racismo no Brasil, podem ser encontrados, entre outros, nos comentarios a este post.

2 comments:

LMLisbon said...

Epá! Esta análise do Brasil faz-me lembrar um outro país....As coisas que eu aprendo a ler o teu blogue...

Koluki said...

Que outro pais, pa'?

;-)