Foto: Museu da Escravatura - Luanda
Há pouco um historiador jamaicano disse-me que acreditava que os portugueses queriam fazer crer que não tinham nada a ver com a escravatura e o tráfico de escravos. Esta opinião parece generalizada, contudo, é corroborada pelo concurso mediático "7 Maravilhas de Origem Portuguesa no Mundo" na Internet(www.7maravilhas.sapo.pt/). O concurso é realizado pela New 7 Wonders Portugal e tem como essência dar a conhecer monumentos que são pouco conhecidos. A lista das 27 Maravilhas, submetidas à votação do público até Junho, integra também monumentos e sítios em África que estão estreitamente ligados à história de tráfico de escravos durante os séculos XV a XIX (Cidade Velha de Santiago, Fortaleza de São Jorge de Mina, Luanda, Ilha de Moçambique).
(...)
Contudo, a apresentação destes sítios no site do concurso nega completamente esta parte da história, como se estes não tivessem tido nada a ver com o tráfico negreiro. De facto, o contrário é a verdade.
(...)
Perto de Luanda existe desde 1997 um Museu Nacional de Escravatura em memória do tráfico de escravos ocorrido em terras angolanas, dos séculos XV a XIX.
(...)
A importância destes sítios para o tráfico de escravos é bem conhecida. Todos aparecem também em "Lugares de Memória da Escravatura e do Tráfico Negreiro", uma publicação do Comité Português de «A Rota de Escravos», da UNESCO. Posto isto, pergunto-me se é possível separar a estética e arquitectura dos monumentos da sua função contemporânea e parte crucial da sua história elegendo-os como Maravilhas que "constituem expressão de forma ímpar como os Portugueses se inseriram em terras e comunidades muito diversificadas do ponto de vista étnico, cultural, linguístico e religioso" (Texto de António Vitorino (PS), o comissário do concurso, no site do concurso).
A omissão, negação e manipulação de episódios indesejáveis da história é uma prática frequente em regimes totalitários. Não se entende que 35 anos depois do 25 de Abril se recorra, em Portugal, a estes métodos de negacionismo apagando de propósito parte da história da expansão marítima portuguesa. O facto que o concurso tem o patrocínio da Presidência da República, o apoio do Ministério da Cultura, Ministério da Educação, Instituto Camões e da Universidade de Coimbra e, além disso, conta com media partners como os jornais Diário de Notícias e Jornal de Notícias, sugere que uma parte da elite intelectual e política portuguesa partilha uma tal percepção selectiva da história do seu país. O governo de José Sócrates quer estabelecer em Lisboa um centro cultural africano para reforçar a ideia que Portugal é uma ponte privilegiada entre Europa e África. Internacionalmente, sobretudo no continente africano, esta pretensão teria muito mais credibilidade, se Portugal assumisse toda a sua história em relação à África e aos africanos, sem apagar a sua participação no tráfico de escravos.
Por Gerhard Seibert - Investigador em Estudos Africanos
[Leia o texto integral aqui]
(...)
Contudo, a apresentação destes sítios no site do concurso nega completamente esta parte da história, como se estes não tivessem tido nada a ver com o tráfico negreiro. De facto, o contrário é a verdade.
(...)
Perto de Luanda existe desde 1997 um Museu Nacional de Escravatura em memória do tráfico de escravos ocorrido em terras angolanas, dos séculos XV a XIX.
(...)
A importância destes sítios para o tráfico de escravos é bem conhecida. Todos aparecem também em "Lugares de Memória da Escravatura e do Tráfico Negreiro", uma publicação do Comité Português de «A Rota de Escravos», da UNESCO. Posto isto, pergunto-me se é possível separar a estética e arquitectura dos monumentos da sua função contemporânea e parte crucial da sua história elegendo-os como Maravilhas que "constituem expressão de forma ímpar como os Portugueses se inseriram em terras e comunidades muito diversificadas do ponto de vista étnico, cultural, linguístico e religioso" (Texto de António Vitorino (PS), o comissário do concurso, no site do concurso).
A omissão, negação e manipulação de episódios indesejáveis da história é uma prática frequente em regimes totalitários. Não se entende que 35 anos depois do 25 de Abril se recorra, em Portugal, a estes métodos de negacionismo apagando de propósito parte da história da expansão marítima portuguesa. O facto que o concurso tem o patrocínio da Presidência da República, o apoio do Ministério da Cultura, Ministério da Educação, Instituto Camões e da Universidade de Coimbra e, além disso, conta com media partners como os jornais Diário de Notícias e Jornal de Notícias, sugere que uma parte da elite intelectual e política portuguesa partilha uma tal percepção selectiva da história do seu país. O governo de José Sócrates quer estabelecer em Lisboa um centro cultural africano para reforçar a ideia que Portugal é uma ponte privilegiada entre Europa e África. Internacionalmente, sobretudo no continente africano, esta pretensão teria muito mais credibilidade, se Portugal assumisse toda a sua história em relação à África e aos africanos, sem apagar a sua participação no tráfico de escravos.
Por Gerhard Seibert - Investigador em Estudos Africanos
[Leia o texto integral aqui]
3 comments:
Caro amigo.
Permita-me que o trate assim.
Na realidade, hoje, quando já me encontro com 62 anos, já me encontro Aposentado, da Função Pública Portuguesa, mas nos anos de 1969 a 1972 andei por Angola fazendo parte do exército Português e pense que nada me móve contra o vosso País ou o vosso Povo; Antes pelo contrário pois fiz muitas operações militares com os GE's e Flechas e em todos tive muitos e bons amigos.
Fala-se aqui da escravatura, mas não foram só os negros que a sentirão na pele, pois por cá, os póbres trabalhadores rurais também sentiram essa mesma descriminação quando tinham que trabalhar de sól a sól, ganhando miseravelmente e sem quaisquer direitos...!
Para melhor o informar cabe-me esclarecer que a pessoa que está a tratar destes monumentos é nascido e criado aí, exactamente em Angola.
Nasceu no Luso e depois transitou para Luanda e mais tarde para Benguela.
Aproveito para informar que a avó era negra até mais não, e o avô era mestiço e sempre me dei excepcionalmente bem com eles.
A família chama-se Segadães e eram do Luso, mais tarde vieram para Portugal e cá se inseriram na vida normal.
Para que fique registado e não se pense que todos somos racistas...
Olá Koluki,
Fico feliz por ter encontrado hoje o seu blog! Partilho com o Gerhard Seibert as mesmas ideias em relação ao concurso "7 Maravilhas". Entretanto convido-a a visitar o meu blog http://allbornfree.blogspot.com/ Criei este blog para contribuir para o esclarecimento dos portugueses em relação ao gigantesco papel que tiveram no holocausto africano. Nós portugueses não temos consciência da gravidade e da dimensão das nossas acções passadas simplesmente porque no ensino primário e secundário de história de Portugal, não se dá uma importância grande ao comércio negreiro. Mas cada vez mais há consciência e conhecimento dos factos. Gostaria de contar com a sua ajuda a divulgar o meu blog. Obrigado e saudações cordiais de Lisboa! Ricardo
Ola' Ricardo,
Seja bem vindo a esta casa!
E obrigada por se ter juntado aos "poucos mas bons" amigos deste blog.
Terei todo o prazer em contribuir para a divulgacao do seu blog e, para isso, destaquei o seu comentario como "comment of the moment" na primeira pagina.
Votos de muitos sucessos na blogosfera e saudacoes igualmente cordiais!
Post a Comment