Thursday 27 August 2009

FALANDO DE "INTELECTUALISMO(S)" (II)

Depois do ‘aperitivo’, passemos a ‘entrada’...

Devo dizer que apenas li pela primeira vez o texto de Alceu Garcia, datado de 2002, no proprio dia em que aqui o postei – tinha inicialmente em mente e preparadas outras materias para esta serie. Mas ao le-lo, nao pude deixar de me lembrar de um debate informal, por email, que tive em 2005 e que decidi trazer para aqui (e nao, nao era a isto a que me estava a referir especificamente quando afirmei que “dir-se-ia que este texto poderia ter sido escrito por um/a angolano/a”...). Assim que, antes dos pratos principais que tinha inicialmente preparado, proponho uma 'refeicao' mais completa.

Obviamente, nao transcrevo aqui o debate na integra, embora nos extractos que dele seleccionei nao tenha alterado, retirado ou acrescentado uma unica palavra. E, para salvaguardar a identidade/privacidade do meu interlocutor, nao so’ nao o nomeio como tambem nao incluo os seus argumentos - excepto, para uma melhor contextualizacao das passagens com que se relacionam, em duas frases assinaladas a azul na versao integral em anexo.

Pois entao, bom apetite!

*****

(...)

Essa discussao vai directamente ao cerne da questao do "projecto de sociedade" e das diferentes formas como ele eh encarado. Deixa-me dizer-te a partida: embirro solenemente com essa expressao ("projecto de sociedade") nao porque ela nao faca sentido, mas fundamentalmente porque, numa perspectiva de analise historica que, por definicao, eh sempre uma perspectiva de muito longo prazo, so a posso entender num sentido: uma sociedade existe (ou nao existe a partida) e esta em permanente evolucao/mutacao ou retrocesso (como foi, infelizmente, o caso de Angola).

A ideia de "projecto de sociedade" para mim sugere a inexistencia, a partida, de uma sociedade e dai a necessidade de um "projecto" para a construir. Eh esta, essencialmente, a ideia subjacente a "revolucao socialista": o sistema "capitalista" eh caduco e decadente, logo ha que destrui-lo pela base, nao deixar pedra sobre pedra e comecar pela raiz o novo "projecto de sociedade", seguindo as suas diferentes fases de "desconstrucao/reconstituicao" do tecido e praxis social ate atingir-se a sociedade ideal: o socialismo, como antecamara do comunismo. Estas, em linhas gerais, as ideias-forca com que o MPLA apareceu em 75, independentemente do estado em que se encontrava.

(…)

Quais entao as implicacoes disto para o nosso debate? O MPLA chega a Luanda com a ideia de que nao existia uma sociedade angolana digna desse nome e que da sociedade colonial havia que nao deixar pedra sobre pedra: ha que "partir os dentes a pequena burguesia" dizia um, ha que instaurar a "ditadura do proletariado" diziam todos... e com isso acabaram deitando fora a agua do banho com o bebe, incluindo o sistema de ensino...

Para mim, uma politica de educacao racional naquela altura resumir-se-ia a nao deixar falir o sistema existente, manter as suas estruturas e modus operandi, tentar de todos os modos e tanto quanto possivel cobrir as lacunas que iam sendo deixadas pelos professores que se retiravam e, acima de tudo, nao permitir que a massa de quadros deixada pelo colono, ja consideravel por standards africanos, nao se perdesse. Mas o que aconteceu foi que, a que restou do emprisionamento dos CACs, Hendas, OCAs e Jose Stalines, foi praticamente toda dizimada no 27 de Maio... Este eh o problema que estamos cum ele ate hoje!

(…)

Toda aquela retorica me parece vir directamente de uma cartilha, sem qualquer fundamentacao na realidade empirica. E isto nao quer dizer que se essa realidade tivesse sido tida em conta, nao pudesse vir a fundamentar a tal retorica, pelo menos parcialmente. Mas o facto eh que ela nao passou disso mesmo: retorica de cartilha; um conjunto de estereotipos ideologicos formados a partir de arquetipos societais, mas nao adaptados a realidade concreta, especifica e peculiar de Angola.

Portanto continuo na minha: a ideia de “projecto de sociedade”, que como disse na minha mensagem anterior, nao me parece totalmente desprovida de sentido, traduz-se na pratica, particularmente no contexto em que a tens estado a utilisar neste debate, num projecto de "engenharia social" - e de todos os projectos de engenharia social historicamente conhecidos (em particular os dois mais proeminentes: o socialismo/comunismo e o nazismo) sabemos quais os resultados...

(…)

E porque que ele desconseguiu tao miseravelmente? Porque, como eu disse na minha mensagem anterior, o MPLA nunca se preocupou em analisar a sociedade sobre a qual estava a exercer o seu poder para poder correctamente adaptar o seu programa a sociedade real e nao virtual que tinha em maos! Vieram supostamente cheios de boas intencoes, mas de boas intencoes esta o inferno cheio, e a verdade eh que nao sabiam nada do que era relevante para assumirem as redeas do poder de estado naquele pais.

E foram/sao sempre extremamente arrogantes, ao ponto de menosprezarem (quando nao os eliminaram ou afastaram irremediavelmente) quem lhes podia ensinar alguma coisa e, por essa razao, deitaram fora a agua do banho com o bebe! Apenas para abrirem de novo as portas para a mais do que evidente recolonizacao a que agora assistimos!!! so much for a supposedely benign 'project of society'... Como dizem os ingleses: if it ain't broken, why fix it? Particularly when you haven't got a clue how to do it??!!!

(…)

Devo tambem dizer desde ja que nem sequer se pode dizer que se algumas das camadas relativamente favorecidas no tempo colonial foram "desapossadas" das conquistas que tinham feito, pelo menos as camadas "verdadeiramente populares" (as tais que iriam instaurar a "ditadura do proletariado" e cujos simbolos se encontram representados na bandeira do estado novo) ganharam alguma coisa e viram os seus niveis melhorar ao longo dos anos, ou vem agora algumas perspectivas com o fim da guerra... Mentira!

Sao eles que povoam os bairros da lata no meio do lixo das barrocas do Miramar, eh de entre eles que veem os meninos de rua, eh de entre eles que proveem os mutilados que foram usados como carne para canhao numa guerra absurda... Prefiro deixar as questoes culturais de parte nesta discussao, porque ai entao eh que vamos encontrar verdadeiramente as maiores falacias do tal "projecto de sociedade"...

(…)

Explico-me: eu nao questiono os movimentos de libertacao - questiono o MPLA; eu nao questiono a luta de libertacao contra o colonialismo - questiono a particular luta de libertacao que o MPLA protagonizou; eu nao questiono a ideia de "projecto de sociedade" em sentido abstracto ou em termos estrictamente teoricos - questiono-o na sua relacao directa, dialectica e pragmatica com a sociedade concreta (Angola) de onde tal projecto era suposto emanar e a qual ele era suposto "melhorar", e tudo isso num contexto muito especifico: o do sistema de ensino.

Estou a falar da condicao humana no seu sentido mais inadulterado e nao da logica da maquina politico-ideologica que condiciona essa mesma condicao humana.

(…)

Tive, a este respeito, ha varios anos atras, acesso a escritos detalhados do Viriato da Cruz (que quanto a mim era dos poucos que tinha realmente interiorizado a essencia da Angolanidade) e de varios outros Mplistas...

(...)

E, de resto, eu nao estou a falar estritamente da "arte de fazer politica" ou de retorica num sentido abstracto (de facto, talvez eu devesse ter usado o termo "verborreia" que eh bastante mais apropriado ao que me refiro).

Estou a falar da qualidade substantiva dessa retorica, qualidade essa que so pode advir de uma inquestionavel fundamentacao e ancoramento na realidade social, particularmente quando o seu objecto eh toda uma sociedade e os seres humanos que a constituem... de qualquer dos modos, qualquer retorica verdadeiramente respeitavel (como foi a de Platao ou Aristoteles) so se sustem se partir da verdade historica e se os seus pressupostos e postulados se confirmarem e reproduzirem positivamente na realidade social - so este tipo de retorica acaba por ser vindicada pela historia.

(…)

Alias, deixa-me dizer-te aqui uma coisa que eh essencial para a separacao das aguas nesta discussao: eu acho de muito mau gosto a expressao "dar uma vida melhor" e similares que reflectem o pecado capital da demagogia socialista e revelam a sua natureza essencialmente ditatorial, megalomana e paternalista. Ou seja, nessa ideologia "o povo", "o colonizado", o "subjugado" (sempre por outros, nao por eles proprios...), etc. eh visto como um "sujeito amorfo" ("as massas"), sem personalidade, vontade ou sonhos proprios, sem qualquer capacidade de accao sobre o seu proprio destino, sem qualquer capacidade de discernir sobre a sua propria realidade e fazer as suas proprias escolhas e definir o sentido da sua propria luta... nao!

Os "iluminados", esses sim eh que, apesar de nao terem a menor nocao do que e como fazer, viriam, com a maior das arrogancias ignorantes, "dar" uma vida melhor a quem, sem esperar dadivas de ninguem, nao esteve a fazer outra coisa na vida senao a lutar por uma vida melhor para si e para os seus descendentes e a construir uma patria pela qual os "libertadores" vieram demonstrar total desrespeito... e nao vale a pena o mesmo “sujeito amorfo" ousar levantar a voz sobre (nao necessariamente contra) o modus operandi do seu novo amo porque senao eh taxado de contra-revolucionario, reaccionario, inimigo jurado da revolucao, lacaio do colonialismo, fantoche do imperialismo e... cadeia ou campo de fuzilamento!


[Texto integral aqui]

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"O Povo e' Racional... e Soberano!"

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Devo dizer que apenas li pela primeira vez o
texto de Alceu Garcia, datado de 2002, no proprio dia em que aqui o postei – tinha inicialmente em mente e preparadas outras materias para esta serie. Mas ao le-lo, nao pude deixar de me lembrar de um debate informal, por email, que tive em 2005 e que decidi trazer para aqui (e nao, nao era a isto a que me estava a referir especificamente quando afirmei que “dir-se-ia que este texto poderia ter sido escrito por um/a angolano/a”...). Assim que, antes dos pratos principais que tinha inicialmente preparado, proponho uma 'refeicao' mais completa.

Obviamente, nao transcrevo aqui o debate na integra, embora nos extractos que dele seleccionei nao tenha alterado, retirado ou acrescentado uma unica palavra. E, para salvaguardar a identidade/privacidade do meu interlocutor, nao so’ nao o nomeio como tambem nao incluo os seus argumentos - excepto, para uma melhor contextualizacao das passagens com que se relacionam, em duas frases assinaladas a azul na versao integral em anexo.

Pois entao, bom apetite!

*****

(...)

Essa discussao vai directamente ao cerne da questao do "projecto de sociedade" e das diferentes formas como ele eh encarado. Deixa-me dizer-te a partida: embirro solenemente com essa expressao ("projecto de sociedade") nao porque ela nao faca sentido, mas fundamentalmente porque, numa perspectiva de analise historica que, por definicao, eh sempre uma perspectiva de muito longo prazo, so a posso entender num sentido: uma sociedade existe (ou nao existe a partida) e esta em permanente evolucao/mutacao ou retrocesso (como foi, infelizmente, o caso de Angola).

A ideia de "projecto de sociedade" para mim sugere a inexistencia, a partida, de uma sociedade e dai a necessidade de um "projecto" para a construir. Eh esta, essencialmente, a ideia subjacente a "revolucao socialista": o sistema "capitalista" eh caduco e decadente, logo ha que destrui-lo pela base, nao deixar pedra sobre pedra e comecar pela raiz o novo "projecto de sociedade", seguindo as suas diferentes fases de "desconstrucao/reconstituicao" do tecido e praxis social ate atingir-se a sociedade ideal: o socialismo, como antecamara do comunismo. Estas, em linhas gerais, as ideias-forca com que o MPLA apareceu em 75, independentemente do estado em que se encontrava.

(…)

Quais entao as implicacoes disto para o nosso debate? O MPLA chega a Luanda com a ideia de que nao existia uma sociedade angolana digna desse nome e que da sociedade colonial havia que nao deixar pedra sobre pedra: ha que "partir os dentes a pequena burguesia" dizia um, ha que instaurar a "ditadura do proletariado" diziam todos... e com isso acabaram deitando fora a agua do banho com o bebe, incluindo o sistema de ensino...

Para mim, uma politica de educacao racional naquela altura resumir-se-ia a nao deixar falir o sistema existente, manter as suas estruturas e modus operandi, tentar de todos os modos e tanto quanto possivel cobrir as lacunas que iam sendo deixadas pelos professores que se retiravam e, acima de tudo, nao permitir que a massa de quadros deixada pelo colono, ja consideravel por standards africanos, nao se perdesse. Mas o que aconteceu foi que, a que restou do emprisionamento dos CACs, Hendas, OCAs e Jose Stalines, foi praticamente toda dizimada no 27 de Maio... Este eh o problema que estamos cum ele ate hoje!

(…)

Toda aquela retorica me parece vir directamente de uma cartilha, sem qualquer fundamentacao na realidade empirica. E isto nao quer dizer que se essa realidade tivesse sido tida em conta, nao pudesse vir a fundamentar a tal retorica, pelo menos parcialmente. Mas o facto eh que ela nao passou disso mesmo: retorica de cartilha; um conjunto de estereotipos ideologicos formados a partir de arquetipos societais, mas nao adaptados a realidade concreta, especifica e peculiar de Angola.

Portanto continuo na minha: a ideia de “projecto de sociedade”, que como disse na minha mensagem anterior, nao me parece totalmente desprovida de sentido, traduz-se na pratica, particularmente no contexto em que a tens estado a utilisar neste debate, num projecto de "engenharia social" - e de todos os projectos de engenharia social historicamente conhecidos (em particular os dois mais proeminentes: o socialismo/comunismo e o nazismo) sabemos quais os resultados...

(…)

E porque que ele desconseguiu tao miseravelmente? Porque, como eu disse na minha mensagem anterior, o MPLA nunca se preocupou em analisar a sociedade sobre a qual estava a exercer o seu poder para poder correctamente adaptar o seu programa a sociedade real e nao virtual que tinha em maos! Vieram supostamente cheios de boas intencoes, mas de boas intencoes esta o inferno cheio, e a verdade eh que nao sabiam nada do que era relevante para assumirem as redeas do poder de estado naquele pais.

E foram/sao sempre extremamente arrogantes, ao ponto de menosprezarem (quando nao os eliminaram ou afastaram irremediavelmente) quem lhes podia ensinar alguma coisa e, por essa razao, deitaram fora a agua do banho com o bebe! Apenas para abrirem de novo as portas para a mais do que evidente recolonizacao a que agora assistimos!!! so much for a supposedely benign 'project of society'... Como dizem os ingleses: if it ain't broken, why fix it? Particularly when you haven't got a clue how to do it??!!!

(…)

Devo tambem dizer desde ja que nem sequer se pode dizer que se algumas das camadas relativamente favorecidas no tempo colonial foram "desapossadas" das conquistas que tinham feito, pelo menos as camadas "verdadeiramente populares" (as tais que iriam instaurar a "ditadura do proletariado" e cujos simbolos se encontram representados na bandeira do estado novo) ganharam alguma coisa e viram os seus niveis melhorar ao longo dos anos, ou vem agora algumas perspectivas com o fim da guerra... Mentira!

Sao eles que povoam os bairros da lata no meio do lixo das barrocas do Miramar, eh de entre eles que veem os meninos de rua, eh de entre eles que proveem os mutilados que foram usados como carne para canhao numa guerra absurda... Prefiro deixar as questoes culturais de parte nesta discussao, porque ai entao eh que vamos encontrar verdadeiramente as maiores falacias do tal "projecto de sociedade"...

(…)

Explico-me: eu nao questiono os movimentos de libertacao - questiono o MPLA; eu nao questiono a luta de libertacao contra o colonialismo - questiono a particular luta de libertacao que o MPLA protagonizou; eu nao questiono a ideia de "projecto de sociedade" em sentido abstracto ou em termos estrictamente teoricos - questiono-o na sua relacao directa, dialectica e pragmatica com a sociedade concreta (Angola) de onde tal projecto era suposto emanar e a qual ele era suposto "melhorar", e tudo isso num contexto muito especifico: o do sistema de ensino.

Estou a falar da condicao humana no seu sentido mais inadulterado e nao da logica da maquina politico-ideologica que condiciona essa mesma condicao humana.

(…)

Tive, a este respeito, ha varios anos atras, acesso a escritos detalhados do Viriato da Cruz (que quanto a mim era dos poucos que tinha realmente interiorizado a essencia da Angolanidade) e de varios outros Mplistas...

(...)

E, de resto, eu nao estou a falar estritamente da "arte de fazer politica" ou de retorica num sentido abstracto (de facto, talvez eu devesse ter usado o termo "verborreia" que eh bastante mais apropriado ao que me refiro).

Estou a falar da qualidade substantiva dessa retorica, qualidade essa que so pode advir de uma inquestionavel fundamentacao e ancoramento na realidade social, particularmente quando o seu objecto eh toda uma sociedade e os seres humanos que a constituem... de qualquer dos modos, qualquer retorica verdadeiramente respeitavel (como foi a de Platao ou Aristoteles) so se sustem se partir da verdade historica e se os seus pressupostos e postulados se confirmarem e reproduzirem positivamente na realidade social - so este tipo de retorica acaba por ser vindicada pela historia.

(…)

Alias, deixa-me dizer-te aqui uma coisa que eh essencial para a separacao das aguas nesta discussao: eu acho de muito mau gosto a expressao "dar uma vida melhor" e similares que reflectem o pecado capital da demagogia socialista e revelam a sua natureza essencialmente ditatorial, megalomana e paternalista. Ou seja, nessa ideologia "o povo", "o colonizado", o "subjugado" (sempre por outros, nao por eles proprios...), etc. eh visto como um "sujeito amorfo" ("as massas"), sem personalidade, vontade ou sonhos proprios, sem qualquer capacidade de accao sobre o seu proprio destino, sem qualquer capacidade de discernir sobre a sua propria realidade e fazer as suas proprias escolhas e definir o sentido da sua propria luta... nao!

Os "iluminados", esses sim eh que, apesar de nao terem a menor nocao do que e como fazer, viriam, com a maior das arrogancias ignorantes, "dar" uma vida melhor a quem, sem esperar dadivas de ninguem, nao esteve a fazer outra coisa na vida senao a lutar por uma vida melhor para si e para os seus descendentes e a construir uma patria pela qual os "libertadores" vieram demonstrar total desrespeito... e nao vale a pena o mesmo “sujeito amorfo" ousar levantar a voz sobre (nao necessariamente contra) o modus operandi do seu novo amo porque senao eh taxado de contra-revolucionario, reaccionario, inimigo jurado da revolucao, lacaio do colonialismo, fantoche do imperialismo e... cadeia ou campo de fuzilamento!


[Texto integral aqui]

Post Relacionado:

"O Povo e' Racional... e Soberano!"

3 comments:

Koluki said...

Para complementar as ideias expressas neste debate, resolvi trazer para aqui tambem um comentario que fiz no angonoticias (aqui: http://www.angonoticias.com/full_headlines.php?id=3056) em 2004, isto e', antes do debate que parcialmente reproduzi neste post. Aqui vai:


RAINHA GINGA MATAMBA
Abreu Kussuya, para a frente com esses estudos e a DESCONSTRUCAO DE TODOS OS MITOS! Um desses mitos, que ja foi aqui “destapado” pelo Angolano Indignado, eh o que reza que os mesticos, em bloco, sempre tiveram um melhor nivel de educacao/qualificacoes do que os negros e por essa razao as discriminacoes a que agora assistimos.... Sem pretender negar que eles eram obviamente e de varias formas previligiados pelos portugueses em detrimento dos negros, o facto eh que qualquer pessoa bem informada sobre a evolucao da sociedade angolana pre-independencia (particularmente nas duas decadas entre meados dos anos 50 e meados dos anos 70 e, em grande medida, devido as pressoes internacionais contra o estado colonial portugues) podera demonstrar que os mesticos so consolidaram a sua posicao de “classe” a parte, tal como a conhecemos hoje, durante as 3 decadas do pos-independencia. E isto, para alem das razoes politicas relacionadas com a genese e idiossincrasia do MPLA, que ja foram aqui exploradas por outros participantes, aconteceu por outras duas razoes principais:

(Continua a seguir...)

Koluki said...

(... Continuacao):

1 - O “homem novo que veio da mata”, do exilio, das prisoes, ou dos campos de concentracao e que tomou as redeas do poder de estado em 75, na sua maioria pouco ou nada sabia sobre a realidade da sociedade angolana e em particular das zonas urbanas (e os que dentre eles sabiam alguma coisa simplesmente acomodaram-se ao novo status quo) e, imbuido de uma ideologia importada, baseada em estereotipos que confundiam raca com classe, ipso facto assumiu que em Angola todo o mulato/mulata tinha um nivel educacional e/ou economico superior a qualquer negro/negra, dai certos comportamentos aqui mencionados pelo Kidi, comportamentos esses que foram continua e oportunisticamente explorados pelos beneficiarios/as e agora pelas petroliferas e os bancos citados no artigo;

2 - O 27 de Maio de 1977 e as suas devastadoras consequencias para a sociedade angolana que tambem ja aqui foram citados por varios participantes e... o resto eh historia!

Quem nao tenha vivido aquela realidade basta fazer algumas contas por alto: em meados dos anos 40, os mesticos eram estimados em menos de 1% e em 2004 em cerca de 2% da populacao total de Angola (Fonte: CIA World Factbook e UNDP Human Development Report). Ora, podera alguem demonstrar convincentemente que no periodo colonial todo o funcionalismo publico e quadro tecnico especializado (inspectores comerciais, contabilistas, enfermeiros, parteiras, tecnicos de laboratorio, professores primarios e rurais, etc.) que mantinha a maquina administrativa, os servicos publicos e actividades economicas privadas num pais tao grande como Angola era exclusivamente constituido por esses menos de 2% da populacao e pelos poucos portugueses que restavam das actividades a que maioritariamente se dedicavam (administradores, proprietarios, fazendeiros, comerciantes ou soldados)? Podera alguem argumentar com propriedade que, particularmente nos anos 60/70, nos liceus, institutos tecnologicos, escolas industriais e comerciais e escolas secundarias havia mais mesticos que negros? E quem se lembra dos “quadros de honra” dessa altura podera dizer com verdade que deles so constavam brancos ou mesticos? Quem nao sabe de negros formados em varias especialidades – medicos e medicas, advogados e advogadas, professores e professoras de varios niveis e mesmo bancarios – em posicoes de destaque antes da independencia? Quem nao sabe de avos negras que sabiam ler e escrever e maes negras que em alguns casos, sendo ja funcionarias publicas, foram estudar a noite, algumas tendo atingido o quinto ano dos liceus?! Portanto, meus senhores, deixem-se de insultos pateticamente ignorantes a todo um povo que apesar de todas as vicissitudes e opressao a que foi submetido ao longo de seculos, soube sem quaisquer complexos condignamente superar-se com enormes sacrificios e, com amor e abnegacao, construiu um pais que agora pertence a todos menos a si proprio!

(... Continua a seguir...)

Koluki said...

(... Continuacao)

Talvez depois dos seus estudos o Kussuya possa vir a dar o seu valioso contributo na compilacao e publicacao da Verdadeira Historia de Angola que o governo abertamente afirma “Desconseguir”... Apenas uma ressalva em relacao a nossa Rainha Ginga: quaisquer que sejam as “fraquezas” que lhe possam ser apontadas (e que antes de serem propagadas devem ser devidamente comprovadas – o mesmo reparo para o senhor que por ai falou da Kimpa Vita do Kongo) eh inegavel a sua valentia e papel historico enquanto resistente genuina contra a ocupacao colonial. Ela era, afinal de contas, um ser humano e nao nos esquecamos de que, tal como inumeras mulheres negras ao longo da Historia, ela teve que fazer politica e aliancas estrategicas como um homem, fundamentalmente para “cobrir” as fraquezas do seu proprio irmao – o que talvez tenha muitos paralelos com a realidade de muitas negras Angolanas nos dias de hoje... MULHERES E HOMENS ANGOLANOS DE VERDADE: Nao tenhamos medo que a verdade seja dita, nem nos deixemos intimidar por falsos profetas da desgraca ou comover com lagrimas de crocodilo! Se ha ressentimentos e recalcamentos de varia ordem, eles sao legitimos e exigir que reparacoes sejam feitas eh um dos nossos DIREITOS HUMANOS que nos sao assegurados por todas as INSTITUICOES INTERNACIONAIS!!!

A QUARTA LUTA DE LIBERTACAO NACIONAL NAO DEVERA COMECAR NUM NOVO 4/FEV NEM COM CATANAS, MAS TERA QUE SER PELA NOSSA EMANCIPACAO MENTAL, MORAL, CULTURAL, SOCIAL E ECONOMICA!