Friday 8 April 2011

O Desespero e a Tragedia de uma Mae Solteira







No dia em que Fadua Larui, de 20 anos, foi até diante da Câmara Municipal da cidade onde morava, lançou gasolina sobre seu corpo e acendeu um isqueiro para se queimar, estava há muito tempo a lutar por uma habitação digna que lhe tinha sido negada pelo facto de ser mãe solteira.
“A minha filha não era uma suicida. Só fez isso para protestar e para defender o direito dos seus filhos”, disse à Agência Efe Fatna Ait Bontaib, mãe da jovem.
Entre quatro muros levantados com tijolos, Bontaib, rodeada pelos seus filhos e netos, afirma que Fadua, uma jovem séria, se via forçada a sair à rua para mendigar.
A sua vida reflecte o desespero que pode desencadear a pobreza, mas, sobretudo, o repúdio que ainda existe em Marrocos pelas mulheres solteiras e divorciadas.
Segundo uma pesquisa sobre prevalência da violência de género, apresentada no início do ano, uma em cada quatro marroquinas – ou seja, 2,1 milhões de mulheres – sofreram um acto de violência sexual em algum momento da sua vida. Em lugares públicos, 10,8 por cento de divorciadas e 9,2 por cento de solteiras foram violadas, relativamente a 2,2 por cento das mulheres casadas.

O destino trágico de Fadua começou a ser traçado quando, aos 15 anos, foi violada e ficou grávida do primeiro dos seus dois filhos. Consciente da vergonha que a gravidez nessas circunstâncias representaria para a sua família, optou por se mudar para a cidade de Agadir, no sudoeste do país, e tempo depois foi para Souk Sebt.
Em 2010, o Governo lançou nesta região uma campanha contra a “mussequização”, que obrigou as pessoas a saírem das casas nas quais viviam em troca de um pequeno terreno, mas não gratuito.
Os responsáveis da Associação Marroquina de Direitos Humanos (AMDH) em Souk Sebt asseguram que o terreno que Fadua pretendia comprar lhe foi negado por ela não ter marido.

“Existe um grande problema com as mulheres solteiras em Marrocos. O número é muito elevado e são marginalizadas”, disse à Efe Hassan Ismaili, membro da AMDH.
A jovem reivindicou durante seis meses o seu direito a um terreno, mas não obteve qualquer resposta das autoridades. No dia 21 de Fevereiro, dirigiu-se de manhã à Câmara Municipal de Souk Sebt para voltar a exigir os seus direitos. A AMDH afirma que foi ela humilhada e insultada. Depois disso, Fadua nunca mais voltou para casa.
Um vídeo que circula no YouTube mostra a jovem a gritar que era vítima de uma enorme injustiça. “Não tenho ninguém. Só tenho Deus”, dizia.

[Texto daqui]


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Relendo Samora...







No dia em que Fadua Larui, de 20 anos, foi até diante da Câmara Municipal da cidade onde morava, lançou gasolina sobre seu corpo e acendeu um isqueiro para se queimar, estava há muito tempo a lutar por uma habitação digna que lhe tinha sido negada pelo facto de ser mãe solteira.
“A minha filha não era uma suicida. Só fez isso para protestar e para defender o direito dos seus filhos”, disse à Agência Efe Fatna Ait Bontaib, mãe da jovem.
Entre quatro muros levantados com tijolos, Bontaib, rodeada pelos seus filhos e netos, afirma que Fadua, uma jovem séria, se via forçada a sair à rua para mendigar.
A sua vida reflecte o desespero que pode desencadear a pobreza, mas, sobretudo, o repúdio que ainda existe em Marrocos pelas mulheres solteiras e divorciadas.
Segundo uma pesquisa sobre prevalência da violência de género, apresentada no início do ano, uma em cada quatro marroquinas – ou seja, 2,1 milhões de mulheres – sofreram um acto de violência sexual em algum momento da sua vida. Em lugares públicos, 10,8 por cento de divorciadas e 9,2 por cento de solteiras foram violadas, relativamente a 2,2 por cento das mulheres casadas.

O destino trágico de Fadua começou a ser traçado quando, aos 15 anos, foi violada e ficou grávida do primeiro dos seus dois filhos. Consciente da vergonha que a gravidez nessas circunstâncias representaria para a sua família, optou por se mudar para a cidade de Agadir, no sudoeste do país, e tempo depois foi para Souk Sebt.
Em 2010, o Governo lançou nesta região uma campanha contra a “mussequização”, que obrigou as pessoas a saírem das casas nas quais viviam em troca de um pequeno terreno, mas não gratuito.
Os responsáveis da Associação Marroquina de Direitos Humanos (AMDH) em Souk Sebt asseguram que o terreno que Fadua pretendia comprar lhe foi negado por ela não ter marido.

“Existe um grande problema com as mulheres solteiras em Marrocos. O número é muito elevado e são marginalizadas”, disse à Efe Hassan Ismaili, membro da AMDH.
A jovem reivindicou durante seis meses o seu direito a um terreno, mas não obteve qualquer resposta das autoridades. No dia 21 de Fevereiro, dirigiu-se de manhã à Câmara Municipal de Souk Sebt para voltar a exigir os seus direitos. A AMDH afirma que foi ela humilhada e insultada. Depois disso, Fadua nunca mais voltou para casa.
Um vídeo que circula no YouTube mostra a jovem a gritar que era vítima de uma enorme injustiça. “Não tenho ninguém. Só tenho Deus”, dizia.

[Texto daqui]


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Relendo Samora...

2 comments:

Tchinó said...

Muito triste. Infortúnios como este servem para nos lembrar do longo caminho ainda a percorrer como "seres pensantes". PAz a sua Alma.
A fonte do texto foi uma agradável surpresa.

Koluki said...

E' verdade. E o problema parece ser que, como "seres pensantes", temos uma "attention span" muito limitada: pensamos em tragedias como essas apenas no momento em que nos chegam noticias delas, mas depois "mudamos logo de assunto" para outra "headline"...

Quanto a fonte do texto, de facto eu escolhi essa porque tambem me surpreendeu ve-la publicada no "nosso Pravda"! Mas a fonte original e' a agencia EFE que publicou a noticia e esse texto em varias linguas, tendo ele aparecido em varias publicacoes online.

Mas essa minha escolha foi deliberada para ilustrar o quanto estao errados aqueles (muitos!) que em Angola (e especialmente na imprensa!) pensam que se algumas mulheres se tornam e/ou permanecem maes solteiras e' por escolha (pior: culpa!) delas...