... Ou...
Quando o Sexo (ou a falta dele) Comanda a Vida!
[Ana Paula Tavares, in "Ritos de Passagem" - Poema transcrito daqui]
N.B.: A maka e' quando "todos os rapazes" (e tambem algumas "raparigas"), especialmente quando julgam ja' ter passado "com sucesso" os "ritos de passagem" para "homens" e/ou "jornalistas", comecam a acreditar que "p(h)odem desaguar" em "todas as aboboras" (ou "meloes"?) seja como for, nem que seja atraves da violacao sexual, real ou simbolica! E, pior do que isso, quando o desconseguem por qualquer razao, "viram bicho" e vao queixar-se a casa das suas "mamas da OMA", que depois aparecem com eles em mesas redondas e nas paginas dos seus pasquins a "ralhar" com as suas vitimas, a insulta-las, a difama-las, a calunia-las e a injuria-las, e depois viram surdo(a)s-mudo(a)s e comecam a atacar as portadoras de tais "aboboras" (ou "meloes") com pornografia e outros "amores" como a calunia e difamacao, assassinio de caracter e ate' ameacas de morte, por entre o seu linchamento publico, em nome dos "valores e principios" (quais, de quem e para quem?) e em seguida fazem-nas desaparecer da vista juntamente com as suas obras e ideais, das quais se apropriam e passam a assinar como suas!... A velha estoria do "quem desdenha quer comprar"!...
Nao pretendendo entrar aqui em outro tipo de consideracoes (como estas, ou estas, ou ainda estas), parece-me ser relativamente consensual e pacifico que o lancamento simultaneo, em 1985, pela Uniao dos Escritores Angolanos (UEA), dos livros Ritos de Passagem de Ana Paula Tavares e Sabores, Odores & Sonho da humilde autora destas linhas, marcou tambem o lancamento de, na altura, novas linguagens na abordagem das questoes da feminilidade e da sexualidade da Mulher por autoras Angolanas (e, perante algumas outras versoes da historia, nunca sera' demais notar que nao nos conheciamos pessoalmente, nem 'as nossas respectivas poesias - certamente eu nao conhecia a da Paula Tavares - antes da publicacao desses livros). E isso, pelo menos "oficial ou oficiosamente" tera' sido reconhecido, mas... nos bastidores (como, alias, o surgimento deste blog acabou por trazer a tona), as coisas nunca foram assim tao consensuais nem pacificas!
De facto, se Ana Paula Tavares tera' sido "acusada de ter falta de homem, ressabiada, pornógrafa", etc., como ela propria aqui revelou, no meu caso, os ecos mais marcantes que me chegaram de Luanda pouco depois do lancamento do meu livro (eu na altura ja' me encontrava a estudar em Portugal - e a esse proposito, lembro-me de durante umas ferias minhas em Luanda naquele periodo ter dito a Luandino Vieira que estava arrependida de ter publicado o meu livro, ao que ele me respondeu, com um ar grave de mais-velho, pouco caracteristico dele nas nossas conversas: "nunca se arrependa de nada do que faca em literatura"!) e continuam ate' hoje a ressoar aos meus ouvidos foram: que um grupo de homens, entre escritores e outros "intelectuais", se andavam a vangloriar de "se terem masturbado ao le-lo" e, enquanto isso, um grupo de mulheres, supostamente tambem "intelectuais", tinha encenado uma peca de teatro cujo tema eram uns "sabores, odores e sonhos" que tinham a ver exclusivamente com "receitas de culinaria" e assuntos de "cama e mesa"!... E nao, elas nao tinham exactamente em mente a exortacao de Natalia Correia: "oh sub-alimentados do sonho, a poesia e' para se comer"!
[imagem daqui]
E, depois disso, que ninguem sequer me pergunte, quantas vezes e por quem, ao longo dos anos e ate' muito recentemente, fui chamada, aberta ou veladamente, de nada mais nada menos do que "prostituta", "promiscua", ou "poluta", por nenhuma outra razao do que a publicacao desse livro (... e talvez tambem - pasme-se, ria-se ou chore-se - apenas devido aos meus labios: ouvi uma vez de uma dessas 'cavalheiras', naquele jeito so' delas de atirarem insultos a cara como se estivessem a falar de outra pessoa, que eu tinha "labios de puta"!!!... - e "com a agravante" de nunca ter sido "casada de papel passado e alianca no dedo" e ser "mae solteira"!...
Tudo isso acrescido por ressaibos, raivas, invejas, ciumes, despeitos e odios descontrolados por supostamente eu "ter ido para a cama com todos os escritores que tinham poder de decisao na UEA", alegadamente "unica razao pela qual o meu livro tinha sido publicado em vez de outros" e eu ter sido "promovida" a membro da UEA "e nao outros"!... Embora o unico escritor com quem a visada dormira/vivera nao tivesse qualquer ligacao aos circulos da UEA e quando soube da publicacao do livro 4/5 anos depois de separados, tenha sido, apenas por despeito, o que mais fez para tentar sabotar a sua possivel futura carreira literaria, enquanto tudo fazia para "promover" precisamente os que hoje se dizem "preteridos a seu favor"...
E isso para nao mencionar que, aparentemente, para "todo o mundo" eu nao passava de uma "catorzinha", "miuda", ou "rapariga", que "nao tinha nascido mulher, nem me tinha ainda feito mulher" (viz. De Beauvoir, ou "A Senhora Professora"...), ou "a insustentavel diferenca de idades", supostamente "ao contrario delas proprias", que eram "mais velhas" e aparentemente por isso "preteridas em meu beneficio" pelos homens mais proximos da sua faixa etaria... E isto para falar apenas "na generalidade", porque na "especialidade", ha', por exemplo, o caso proeminente de uma certa "alta representante da negritude branca pos-colonial" que alega ter tido "uma relacao afectiva" com um certo politico, intelectual e critico literario de nomeada, ja' falecido, que nao me perdoa o facto de a dada altura ter visto o "objecto dos seus afectos" virar as suas "atencoes e intencoes afectivas" para "todo o mundo", ou seja... para mim!...
Embora, que se saiba, nao tenham apresentado a UEA, na altura ou em qualquer outra ocasiao, qualquer proposta de publicacao das suas "mui maturas, vetustas, academicas e intelectuais obras"! Mas nao e' curioso que elas continuem a pensar o mesmo e a agir em conformidade ainda hoje quando eu ja' tenho 50 anos de idade? E quando lhes deixei o ultimo quarto de seculo (!), com o meu silencio, o campo completamente livre e aberto para afirmarem, demonstrarem e consolidarem toda a sua "imensa mais-velhice"! ... E quando contaram sempre com o(s) apoio(s) de todos os p(h)oderes?!... E isto para falar apenas nas "velhotas", "velhacas" e "bruacas", porque agora tenho tambem que aturar as "novatas", "neofitas" e "sanguitas" que comecaram (finalmente!) a tentar "sair da casca" e entendem que para se afirmarem como "mulheres" dignas desse nome teem que passar pelo 'rito de passagem' de "medir forcas" comigo!... Porque... "eu tambem sou poeta (poetisa?) e se publicaste 25 poemas eu publico 25+1, tambem sou jornalista, tambem sou economista, tambem escrevo ingles, tambem sou intelectual, cientista e academica, tambem sou adviser/consultora, tambem sou bonita e tambem viajo em primeira classe" e "nao podem ser sempre os mesmos a beneficiar", "e tambem quero ter os teus amigos (mas so' os brancos e mulatos!...)", caso contrario... "convem sabermos sempre o que nos espera"! Ou, recorrendo, mais uma vez, a letra de uma das cancoes do Afroman: "todos querem aparecer, todos querem dar show!; mesmo que nao es, todos dizem: eu tambem sou!"
Mas desde ja' vos aviso a todas:
NAO ESTOU DISPONIVEL!
Portanto, se alguem quiser perceber mais claramente as razoes mais profundas (...como se elas nao fossem suficientemente auto-evidentes!...) do ultraje e repugnancia que manifesto perante a pornografia em geral e, em particular, a certas "interpretacoes", "apropriacoes", "vulturacoes" e outros "usos e abusos" dos meus poemas com que continuo a ser atormentada psicologicamente ate' hoje, 25 anos depois da sua publicacao (... por isso "fui arranjar esta maka" e fiz as afirmacoes que fiz aqui a proposito do "sucesso da Chimamanda"!...), por entre orgias como esta e kampanhas como esta e a falta de conhecimento/entendimento de, e sensibilidade para, questoes como as abordadas aqui, aqui e aqui , entre outros posts e comentarios neste blog (como aqui ), queira por favor tomar boa nota desses factos...
(*) Chegam-me noticias de que a peca "The Vagina Monologues" encontra-se neste momento a ser "angolanizada" e em vias de subir aos palcos luandenses... Gostava de la' estar so' para ver as reaccoes, mas, como e' bom de ver e a menos que as mentalidades locais tenham mudado significativamente desde os anos 80 - do que nao tenho qualquer evidencia, a nao ser para pior e... pior ainda! - o melhor teatro faz-se, e as reaccoes mais "genuinas" a ele expressam-se, sempre nos bastidores...
GOOD LUCK GIRLS!
ADENDA
"THEY ARE SO INCOMPETENT THAT EVERY TIME THEY FEEL THE HEAT BECAUSE WOMEN ARE CHALLENGING THEM THEY HAVE TO CHECK THEIR GENITALIA IF ONLY TO REASSURE THEMSELVES… I AM NOT INTERESTED IN THAT PART OF THE ANATOMY, THE ISSUES I AM DEALING WITH REQUIRE THE UTILISATION OF WHAT IS ABOVE THE NECK." - Wangari Maathai
Aos Homens da Noite
Queria dizer-vos
do melhor retrato que colhi
do vosso mais querido fantasma
Mas
eis que o escárnio irrompe
de dentro das vossas braguilhas
descaradas
Vale-me a sensatez da música
dizendo em ritmo de semba
da mulata côr muamba
e lábios pitanga
e solta-se a minha gargalhada
na noite.
[A.S. in S.O.S. - poema transcrito daqui]
[Jornalismo de Tesao]
Algumas sugestoes para uns possiveis (…e recomendaveis…)
“Monologos do Penis”:
- O ‘minion’ sexagenario que, de tao complexado pelo seu "tamanhinho", achava que tinha perdido a sua mulher para outro(s) home(ns)m apenas por aquele(s) “o ter(em) grande”… e por isso sentia tanta necessidade de se "elevar" a antigo combatente do quartier latin, ja' que os seus permanentes suspensorios nunca o conseguiram elevar a lugar algum...
- O 'tio-padrinho do coitado' que, apesar de o ter "velho e sobre-usado",
uma vez quiz abusar da confianca e inocencia de uma 'miuda' que o via como a um pai e tentou forcar-se sobre ela, tendo-o esta rejeitado pronta e decididamente naquele momento, "pondo-o no seu devido lugar", sendo que por isso ele nunca viria a aceitar de bom grado o posterior relacionamento da 'miuda' com o seu sobrinho, de quem ela viria a ter um filho...
- O ‘coitado’ que o tinha tao "diminuto" que a unica forma que encontrara para provar ‘a sociedade (e em particular aos seus “amigos do copo”) a sua "masculinidade" foi fazer-se rodear permanentemente de mulheres e fazer filhos aqui e ali ‘a saciedade sem qualquer sentido de responsabilidade…
- O ‘svengali’ que, apesar de o ter “bem abonado”, achava que tinha perdido a sua ‘gazela’ de volta para o seu ‘coitado’ por este “o ter maior que o dele”…
- O ‘escriba’ que o tinha “tao ilusionista” que a unica forma que encontrou para preencher “o vazio” deixado na sua ‘musa intermitente’ foi dedicar-lhe um livro de poemas 'a sua revelia…
- O ‘outro escriba’ que apesar de casado “com mais de uma mulher”, tinha-o "tao insatisfeito" que escrevia cartas a uma ‘miuda’, que por acaso havia sido uma das melhores amigas da “sua casada”, descrevendo-lhe as partes do seu corpo que mais o excitavam e que lhe apetecia “comer pela primeira vez” (…nunca o conseguiria, no entanto…), como se este fosse uma peca de carne exposta num qualquer talho do seu bairro…
- O ‘diplomata’ que tinha “tantos problemas” com o seu e vivia tao obcecado com a ideia de 'sexo' que ao ver a sua ‘paixao’ (...ou pelo menos uma delas...) escapar-se-lhe para um 'homem humilde' e mais jovem que manifestamente nao tinha tais problemas nem obcessoes, tratou de difama-la e desfeitea-la perante “todo o mundo”…
- O 'outro diplomata' e 'poeta' que tinha fama de "garanhao" e que tentou forcar a entrada no quarto de hotel de uma 'miuda' durante uma conferencia na "sua ilha", tendo a 'miuda' posto toda a sua forca contra dele e conseguido fechar-lhe a porta na cara... Para Sempre!
- O 'radialista' que se deixou envolver e incentivou uma "relacao afectiva estritamente profissional" com uma ouvinte-participante do seu programa e que, enquanto "se recusava" a conhece-la pessoalmente, lhe fazia telefonemas noturnos (..."pelo postigo"...) a dizer-lhe obscenidades e a masturbar-se, ao que ela imediatamente lhe desligava o telefone na cara... o que, interestingly enough, me faz lembrar um certo 'oficial de kampanha'...
- O 'estagiario' que ao sentir-se “diminuido e atacado” na sua masculinidade por uma mulher mais educada, mais qualificada, mais experiente e melhor remunerada do que ele, entendeu que a melhor forma de a “diminuir” tambem e "coloca-la ao seu nivel" era fazer-lhe um ataque pornografico no local de trabalho…
- O ‘oficial de kampanha’ que, em nome de um qualquer “amor ficticio, fantasioso, fantasista, fantasmagorico e falacioso” e da sua manifesta necessidade de demonstrar a sua masculinidade atraves da procriacao descontrolada, enquanto se travestia (masturbava?) em multiplas "inteligentes todas-poderosas identidades femininas" tentando "engrossar" a sua "cortina de fumo", entendeu transformar o (um dos?... “cada caso e’ um caso”, ou "cada paixao e' uma paixao" como tambem dizia o ‘outro escriba’…) objecto(s) dos seus “desejos insatisfeitos” (sobretudo sociais e academico-profissionais) em “homem em corpo de mulher” ou “mulher em corpo de homem”… porque, afinale, a "unica forma" de placar a ascensao (ou "pretensao/presuncao" como lhe chamava o 'minion'?) academico-profissional de uma mulher, especialmente quando se pretende "competir" na sua area de especialidade mesmo sem qualificacoes para tal, e' "objectifica-la sexualmente" e/ou "enche-la de filhos", real ou virtualmente, mesmo quando se e' casado com (muitos!) filhos e ela ja' tenha idade para ser avo!...
-Os ‘kabungados’, 'kafajestes', 'kanalhas', 'kamundongos', 'kissondes', 'kamafeus', 'kifumbis', 'karrapatos', 'kachorros', 'kaxikos', 'mabekos', 'makakos', 'meketrefes', 'malaikos', 'parasitas', 'tarados', ‘execraveis putos pes-descalcos’, 'atrasados mentais', ‘pachecos’, 'pompilhos' e outros ‘rapazes’ (ou 'boys'), que, com razao ou sem ela, se sentiam tao “castrados” pelo poder de estado e pelo seu "pai grande" (ou pelos seus patroes?!... ou pelos seus "ex-novos colonos"?!... ou pelas suas "mulheres"?!... ou pelas suas "mabundas"?!... ou pelas suas "baronas"?!... ou pelas suas "latonas"?!... ou pelas suas "loirinhas"?!... ou pelas suas "belles de jour"?!... ou pelas suas "professoras"?!... ou pelas suas "maes"?!...) - enquanto 'chupavam' abundantemente da sua mesa, sacos azuis, envelopes castanhos, cabazes e pactos de regime -, que a unica forma de tentarem recuperar e demonstrar a sua “imensa masculinidade” e prencherem os seus "super-deficitarios e hiper-inflacionados egos" era usarem totalitaria, criminosa e impunemente o seu ‘quarto p(h)oder’ (... qual bando ou matilha de ton-tons makutes feios, porcos e maus, selvagens sem lei, rei nem roque e muito menos escrupulos ou caracter, trapaceiros e arruaceiros, mercadores e sacristas, bufos, social e comunicacionalmente incompetentes, verbal e sexualmente incontinentes, debochados, embriagados, drogados e irresponsaveis, complexados e cobardemente escondidos por detras das suas cortinas de fumo e de ferro...) sobre uma mulher que sentiam "fazer-lhes sombra" profissionalmente, na qual projectavam as suas frustracoes, insatisfacoes, inadequacoes, incompetencias e insegurancas e sobre a qual fantasiavam que os havia “coisificado”, apesar de nem sequer a conhecerem pessoalmente de parte alguma, enquanto colocavam pelo meio, "para lhe fazer ciumes" (wankers and silly boys indeed!), entre outras "bonitonas" bem acomodadas nas poltronas do p(h)oder, "impolutas", "academicas" e "intelectuais a prova de bala, espinafre e kizaka", uma certa ninfa, ninfomaniaca, lesbica, pornografa, sado-masoquista, racista supremacista branca de extrema direita, vulta, psicopata e assassina blonde bombshell barbie doll e bailarina classica metida a genuina katchokwe'-cum-Jessica Rabbit (silly girl indeed!) …
[... e repare-se que nao mencionei 'racas', nem falei em 'melaninas'...]
“We have to respect every woman, even a woman who is one day old. Why? Because some day she will grow up to be somebody’s mother.”
Stokely Carmichael (aka Kwame Toure), cited by Miriam Makeba (aka Mama Afrika)
"(...) Age was respected among his people, but achievement was revered. As the elders said, if a child washed his hands he could eat with kings. Okonkwo had clearly washed his hands and so he ate with kings and elders."
Biyi Bandele [in Introduction to Chinua Achebe's Things Fall Apart - Penguim, 2001 edition]
N.B.: Chinua Achebe started writing Things Fall Apart, his magnum opus published three years later, in 1958, which has earned him the title of 'The Grandfather of African Literature', at the age of 25.
"We cannot trample upon the humanity of others without devaluing our own. The Igbo, always practical, put it concretely in their proverb Onye ji onye n'ani ji onwe ya: "He who will hold another down in the mud must stay in the mud to keep him down."
[Chinua Achebe]
Ou, alternativamente, em Portugues: Yanick Ngombo, a.k.a. Afroman, membro da etnia Bakongo (tal como os Igbo, igualmente com um sentido bastante pratico das coisas mundanas, para que lhes sobre tempo suficiente para as coisas do espirito, como a metafisica ou a filosofia), diz numa das suas cancoes algo como isto: "... e' como o porco que arrasta o javali para uma luta na lama: os dois vao se sujar, mas o porco gosta porque assim ganha fama!
1 comment:
Pedra Filosofal
Eles não sabem que o sonho
é uma constante da vida
tão concreta e definida
como outra coisa qualquer,
como esta pedra cinzenta
em que me sento e descanso,
como este ribeiro manso
em serenos sobressaltos,
como estes pinheiros altos
que em verde e oiro se agitam,
como estas aves que gritam
em bebedeiras de azul.
eles não sabem que o sonho
é vinho, é espuma, é fermento,
bichinho álacre e sedento,
de focinho pontiagudo,
que fossa através de tudo
num perpétuo movimento.
Eles não sabem que o sonho
é tela, é cor, é pincel,
base, fuste, capitel,
arco em ogiva, vitral,
pináculo de catedral,
contraponto, sinfonia,
máscara grega, magia,
que é retorta de alquimista,
mapa do mundo distante,
rosa-dos-ventos, Infante,
caravela quinhentista,
que é cabo da Boa Esperança,
ouro, canela, marfim,
florete de espadachim,
bastidor, passo de dança,
Colombina e Arlequim,
passarola voadora,
pára-raios, locomotiva,
barco de proa festiva,
alto-forno, geradora,
cisão do átomo, radar,
ultra-som, televisão,
desembarque em foguetão
na superfície lunar.
Eles não sabem, nem sonham,
que o sonho comanda a vida,
que sempre que um homem sonha
o mundo pula e avança
como bola colorida
entre as mãos de uma criança.
António Gedeão - In Movimento Perpétuo, 1956
Post a Comment