Tuesday 8 April 2008

“ELOGIO DA MEDIOCRIDADE”



POEMAS DE ANTÓNIO JACINTO
(in “Sobreviver Em Tarrafal de Santiago”)

SENSAÇÕES

Inebriam-me as superfícies
Mas gosto mais dos
(Oh! volúpias sênsuas!)
Volumes dos sólidos de revolução.

Êxtase
a resolução gráfica de qualquer equação

O poema é uma resolução gráfica
Uma frémita resolução gráfica

O poeta circuncentro
da presença geométrica polidimensional
- HUMANIDADE!

C.T. Chão Bom, 13.2.68


AH! SE PUDÉSSEIS AQUI VER POESIA QUE NÃO HÁ!

Um rectângulo oco na parede caiada Mãe

Três barras de ferro horizontais Mãe
Na vertical oito varões Mãe
Ao todo
vinte e quatro quadrados Mãe
No aro exterior
Dois caixilhos Mãe
somam
doze rectângulos de vidro Mãe
As barras e os varões Mãe
projectam sombras nos vidros
feitos espelhos Mãe

Lá fora é noite Mãe
O campo
a povoação
a ilha
o arquipélago
O mundo que não se vê Mãe
Dum lado e doutro, a Morte, Mãe
A morte como a sombra que passa pela vidraça Mãe

A morte sem boca sem rosto sem gritos Mãe
E lá fora é o lá fora que se não vê Mãe

Cale-se o que não se vê Mãe
e veja-se o que se sente Mãe
que o poema está no que
e como se vê, Mãe
Ah! se pudésseis aqui ver poesia que não há!

Mãe
aqui não há poesia
É triste, Mãe
Já não haver poesia
Mãe, não há poesia, não há
Mãe

Num cavalo de nuvens brancas
o luar incendeia carícias
e vem, por sobre meu rosto magro
deixar teus beijos Mãe, teus beijos Mãe

Ah! se pudésseis aqui ver poesia que não há!

C.T. Chão Bom, 13.2.68


LOUCURA

“nem todos atingem a craveira de poderem ser doidos, risco inerente à verdade e ao ser”

“não é doido quem quer”
JACQUES LACAN

A loucura é uma confirmação
sangue
na coragem de ser louco
na natureza
e veios de oiro
e máscara

A loucura
é afirmação humana
crónica indiferença
da coragem-alienação
orelha de Vicente Van Gogh

Um passo em frente
iluminado o vegetal
(há clorofila no louco)
e tortura estimulante

sangue rítmico
em ondas insanas
amor-sexo-amor
mar-sal
e nada
ou noite
mitos e símbolos
loucos
e tu poesia
Tua beleza
vinho-rubi
lábios-sangue
sol lá fora
Poesia!

C.T. Chão Bom, 25.7.69


CENSURA

Deram-me o gabarit
Para edificar o poema
A área coberta e
Dos passeios a largura

Os cuidados de incêndio
Um pouco de sanidade urbana
Do compêndio
E abertos postigos às vigilâncias dos vizinhos

Tudo com reguladas vistorias
Ritos de aços e cadinhos
Irresponsabilidades frias

Mania impossível da comissão incrível
- Eia fantasmas de murquir estrelas
Poema não tem cota de nível!

C.T. Chão Bom, versão de 30.7.79

***

Caro Jacinto: Um abraço. São belíssimos os poemas. 6 vão já para Vida e Cultura. O conto e os dez serão para a Gazeta Lavra & Oficina, que sairá muito mais tarde, lá para o fim deste ano. Tens de publicar os teus inéditos: não é justo não os podermos conhecer e, até, como exemplo, na hora que passa, de qualidade e dignidade. Não são palavras só de amigo, ou de Secretário Geral (da União dos Escritores Angolanos - UEA), são de leitor de poesia…

ANTÓNIO CARDOSO
18.08.82
(Introdução a “Sobreviver Em Tarrafal de Santiago”)







Adeus a Hora da Largada (2006)- Ruy Mingas (Poema de Agostinho Neto)





Monangambe' (1974)- Ruy Mingas (Poema de Antonio Jacinto)



POEMAS DE ANTÓNIO JACINTO
(in “Sobreviver Em Tarrafal de Santiago”)

SENSAÇÕES

Inebriam-me as superfícies
Mas gosto mais dos
(Oh! volúpias sênsuas!)
Volumes dos sólidos de revolução.

Êxtase
a resolução gráfica de qualquer equação

O poema é uma resolução gráfica
Uma frémita resolução gráfica

O poeta circuncentro
da presença geométrica polidimensional
- HUMANIDADE!

C.T. Chão Bom, 13.2.68


AH! SE PUDÉSSEIS AQUI VER POESIA QUE NÃO HÁ!

Um rectângulo oco na parede caiada Mãe

Três barras de ferro horizontais Mãe
Na vertical oito varões Mãe
Ao todo
vinte e quatro quadrados Mãe
No aro exterior
Dois caixilhos Mãe
somam
doze rectângulos de vidro Mãe
As barras e os varões Mãe
projectam sombras nos vidros
feitos espelhos Mãe

Lá fora é noite Mãe
O campo
a povoação
a ilha
o arquipélago
O mundo que não se vê Mãe
Dum lado e doutro, a Morte, Mãe
A morte como a sombra que passa pela vidraça Mãe

A morte sem boca sem rosto sem gritos Mãe
E lá fora é o lá fora que se não vê Mãe

Cale-se o que não se vê Mãe
e veja-se o que se sente Mãe
que o poema está no que
e como se vê, Mãe
Ah! se pudésseis aqui ver poesia que não há!

Mãe
aqui não há poesia
É triste, Mãe
Já não haver poesia
Mãe, não há poesia, não há
Mãe

Num cavalo de nuvens brancas
o luar incendeia carícias
e vem, por sobre meu rosto magro
deixar teus beijos Mãe, teus beijos Mãe

Ah! se pudésseis aqui ver poesia que não há!

C.T. Chão Bom, 13.2.68


LOUCURA

“nem todos atingem a craveira de poderem ser doidos, risco inerente à verdade e ao ser”

“não é doido quem quer”
JACQUES LACAN

A loucura é uma confirmação
sangue
na coragem de ser louco
na natureza
e veios de oiro
e máscara

A loucura
é afirmação humana
crónica indiferença
da coragem-alienação
orelha de Vicente Van Gogh

Um passo em frente
iluminado o vegetal
(há clorofila no louco)
e tortura estimulante

sangue rítmico
em ondas insanas
amor-sexo-amor
mar-sal
e nada
ou noite
mitos e símbolos
loucos
e tu poesia
Tua beleza
vinho-rubi
lábios-sangue
sol lá fora
Poesia!

C.T. Chão Bom, 25.7.69


CENSURA

Deram-me o gabarit
Para edificar o poema
A área coberta e
Dos passeios a largura

Os cuidados de incêndio
Um pouco de sanidade urbana
Do compêndio
E abertos postigos às vigilâncias dos vizinhos

Tudo com reguladas vistorias
Ritos de aços e cadinhos
Irresponsabilidades frias

Mania impossível da comissão incrível
- Eia fantasmas de murquir estrelas
Poema não tem cota de nível!

C.T. Chão Bom, versão de 30.7.79

***

Caro Jacinto: Um abraço. São belíssimos os poemas. 6 vão já para Vida e Cultura. O conto e os dez serão para a Gazeta Lavra & Oficina, que sairá muito mais tarde, lá para o fim deste ano. Tens de publicar os teus inéditos: não é justo não os podermos conhecer e, até, como exemplo, na hora que passa, de qualidade e dignidade. Não são palavras só de amigo, ou de Secretário Geral (da União dos Escritores Angolanos - UEA), são de leitor de poesia…

ANTÓNIO CARDOSO
18.08.82
(Introdução a “Sobreviver Em Tarrafal de Santiago”)







Adeus a Hora da Largada (2006)- Ruy Mingas (Poema de Agostinho Neto)





Monangambe' (1974)- Ruy Mingas (Poema de Antonio Jacinto)

9 comments:

Koluki said...

Infelizmente, o Blogger nao me permitiu preservar alguns 'requintes estilisticos' dos poemas originais...

AGRY said...

Mais ou menos acidentalmente, descobri este endereço que referencia António Jacinto.
Poderá ter interesse, para si. Não estou seguro pois, a descoberta, é muito recente. Ei-lo:
http://sanzalita.multiply.com/reviews/item/163
Depois, faço questão de lhe dizer que gostei muito desta sua postagem.

Anonymous said...

Gostei dos poemas, acho que em vez de tanta polémica devia dar-se mais prioridade a divulgação da poesia desses escritores.
Beijos.

Koluki said...

Muito obrigada Agry.
Ja' agora, deixo aqui o link que encontrei naquele endereco a um poema de Antonio Cardoso:
http://sanzalita.multiply.com/reviews/item/162
Aproveito para dizer tb. que apenas nao inclui neste post poesia de A. Neto (embora me pareca que o Adeus a Hora da Largada cantado pelo Rui Mingas e' 'suficiente') e de A. Cardoso, porque os livros que deles tenho, ao contrario do "Sobreviver...", nao estao a vista neste momento...
Mas, certamente ocasioes nao faltarao.

Koluki said...

Bjs para ti tb. AR.
Possa a tua mensagem chegar a "quem de direito"...

Fernando Manuel de Almeida Pereira said...

http://recordacoescasamarela.blogspot.com/

http://santeiro.blogspot.com/

Tenho tomado algumas posições nalguns sítios, mas daí a receber um de "blog estalinista " de um tal Pedro Mexia, ou idiotices por parte de um colunista do Publico de iniciais AB (sem C) ´e francamente mau...
Vou colocar em breve no debate o que aconteceu ao LUANDA nos anos 60, do tipo Amandio César, volta que estás perdoado.
Gosto muito de vir aqui, e dou as minhas coordenadas
Fernando Pereira

Muadiê Maria said...

Lindos poemas...

Koluki said...

Ola' Karipande,

Seja bemvindo e volte sempre.
Dei uma breve espreitadela aos seus blogs e tambem gostei do que por la' encontrei.
Voltarei mais vezes.

Um abraco.

Koluki said...

MM, minha querida amiga, quanta ausencia!
Palavra de poeta...
Bjs.