Wednesday, 2 April 2008

ECOS DA IMPRENSA ANGOLANA - 3

“Pergunto ao vento que passa
notícias do meu país
e o vento cala a desgraça
o vento nada me diz.

Mas há sempre uma candeia
dentro da própria desgraça
há sempre alguém que semeia
canções no vento que passa.”


Manuel Alegre

***


A polemica sobre os supostamente “poetas mediocres” continuou e dos varios artigos de opiniao que sobre ela recebi, destaco os que se seguem.


Wilson Dada, introdu-la assim na sua Kuluna semanal:

“O ambiente começa a ficar escaldante. O ambiente já é de facto de pré-campanha eleitoral. Cruzam-se as entrevistas. Chocam-se os colunistas. Trocam-se os galhardetes. Ninguém quer levar desaforos para casa, pois todos já temos problemas domésticos mais do que suficientes para acrescentarmos mais um. Estamos no território livre da opinião para todos os gostos e feitios em nome do direito à diferença que é fundamental, que é constitucional. A liberdade de expressão. A liberdade de crítica política, social, cultural, religiosa e desportiva, sem a qual a democracia não faz qualquer sentido. Todas estas liberdades manifestam-se, como sempre, no grande berço da humanidade que é a acolhedora liberdade de imprensa, sem a qual o debate público indispensável ao projecto democrático não seria possível.”

***

Laurindo Vieira expressa a sua opiniao no Jornal de Angola:

“Julgo que a comparação entre Agostinho Neto com outros poetas, feita por Agualusa e retomada por Sousa Jamba é patológica. Patológica porque toda a comparação que visa denegrir uns e valorizar outros não é comparação. A comparação deve resultar de uma perspectiva diferencial, ou seja, compreender o que cada um tem de diferente em relação ao outro e de que forma estas diferenças podem ser construtoras de sentidos epistemológicos ou de outra natureza. Gosto da poesia de Agostinho Neto, de Viriato da Cruz, tal como gosto da poesia de Manuel Alegre. São todas poesias lindas, mas diferentes, porque se os sonhos são diferentes, por que razão Agostinho Neto há-de ser igual a Philipp Larkin, Ted Hughes ou José Craveirinha?”

***

Luis Kandjimbo, no Semanario Angolense (SA), insere o debate num quadro analitico mais alargado:

“O debate sobre o cânone literário em Angola emerge pela primeira vez e ganha visibilidade pública a partir de 1997, por ocasião do Encontro Internacional sobre Literatura Angolana, realizado em Luanda, quando perante os argumentos de Pires Laranjeira, que identificava a coexistência em Angola de duas lutas por um novo cânone, rotulando-me como «fundamentalista negro» devido à minha leitura fundamentada do romance Yaka de Pepetela – no qual o autor esvazia o valor de determinada categoria de personagens referenciais – apresentei uma comunicação denunciando a existência de uma ideologia oculta na «escola de estudos literários africanos em Portugal» que faz a apologia da crioulidade e de um cânone literário de «escritores mestiços» de que dependeria o prestígio da Literatura Angolana.
(…)
No entanto, Angola não se assemelha em nada àquilo a que os luso-tropicalistas consideravam como sendo «o mundo que o português criou» de que resultariam as sobreditas «ilhas crioulas». De resto, estas não existem em Angola. As polémicas desencadeadas em torno da selecção de obras constitutivas de um conjunto a que se deu o nome de «Biblioteca da Literatura Angolana» e acerca da apreciação estética da obra poética de Agostinho Neto, António Jacinto e António Cardoso traduzem bem a existência de conflitualidade de teorias, estéticas e interpretações, revelando uma certa geopolítica do conhecimento, o lugar a partir do qual cada um produz o seu discurso.”


***

O Secretario Geral da UEA, Botelho de Vasconcelos, tambem disse de sua justica em entrevista ao SA:

"Quero deixar claro que não sou apologista de uma certa crítica publicada em certos órgãos que usaram expressões nada polidas e até sugeriam que por causa dessas declarações todos nós, principalmente o João Melo e o Mena Abrantes, o considerássemos como um «homem» sarnento. Mesmo nos actos mais graves da nossa vida social, os laços de amizade devem sempre fazer florir os gestos de solidariedade, porque é nos momentos «infelizes» que devemos contar com os ombros do próximo. Num dos textos deixaram passar respostas que utilizaram a maledicência para atingirem com pedras o confrade. Por essa via viciada, teríamos que usar mais pedras porque alguns confrades gostam desse exercício de escárnio e de falta de rigor e ética quando escrevem ou comentam os títulos dos seus confrades cujas obras sempre concorrerão para o enriquecimento da nossa literatura."

***

Para fechar com chave de ouro, tambem no SA, uma noticia ainda no dominio da cultura/literatura, um tanto agridoce pelo que evoca de saudades do Tio Aires, mas mais bonita que as anteriores, como ele certamente gostaria:

"A anciã Esperança Lima Coelho, a «Panchita», como é chamada por todos, que se diz ter sido a «musa» que, ao seu tempo, inspirou o poeta Aires de Almeida Santos a escrever o seu célebre poema «Meu Amor da Rua 11», faz 80 anos na próxima terça-feira, 25, sendo por isso alvo de uma homenagem da sociedade benguelense, onde é bem-querida, pela comemoração da data."
“Pergunto ao vento que passa
notícias do meu país
e o vento cala a desgraça
o vento nada me diz.

Mas há sempre uma candeia
dentro da própria desgraça
há sempre alguém que semeia
canções no vento que passa.”


Manuel Alegre

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A polemica sobre os supostamente “poetas mediocres” continuou e dos varios artigos de opiniao que sobre ela recebi, destaco os que se seguem.


Wilson Dada, introdu-la assim na sua Kuluna semanal:

“O ambiente começa a ficar escaldante. O ambiente já é de facto de pré-campanha eleitoral. Cruzam-se as entrevistas. Chocam-se os colunistas. Trocam-se os galhardetes. Ninguém quer levar desaforos para casa, pois todos já temos problemas domésticos mais do que suficientes para acrescentarmos mais um. Estamos no território livre da opinião para todos os gostos e feitios em nome do direito à diferença que é fundamental, que é constitucional. A liberdade de expressão. A liberdade de crítica política, social, cultural, religiosa e desportiva, sem a qual a democracia não faz qualquer sentido. Todas estas liberdades manifestam-se, como sempre, no grande berço da humanidade que é a acolhedora liberdade de imprensa, sem a qual o debate público indispensável ao projecto democrático não seria possível.”

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Laurindo Vieira expressa a sua opiniao no Jornal de Angola:

“Julgo que a comparação entre Agostinho Neto com outros poetas, feita por Agualusa e retomada por Sousa Jamba é patológica. Patológica porque toda a comparação que visa denegrir uns e valorizar outros não é comparação. A comparação deve resultar de uma perspectiva diferencial, ou seja, compreender o que cada um tem de diferente em relação ao outro e de que forma estas diferenças podem ser construtoras de sentidos epistemológicos ou de outra natureza. Gosto da poesia de Agostinho Neto, de Viriato da Cruz, tal como gosto da poesia de Manuel Alegre. São todas poesias lindas, mas diferentes, porque se os sonhos são diferentes, por que razão Agostinho Neto há-de ser igual a Philipp Larkin, Ted Hughes ou José Craveirinha?”

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Luis Kandjimbo, no Semanario Angolense (SA), insere o debate num quadro analitico mais alargado:

“O debate sobre o cânone literário em Angola emerge pela primeira vez e ganha visibilidade pública a partir de 1997, por ocasião do Encontro Internacional sobre Literatura Angolana, realizado em Luanda, quando perante os argumentos de Pires Laranjeira, que identificava a coexistência em Angola de duas lutas por um novo cânone, rotulando-me como «fundamentalista negro» devido à minha leitura fundamentada do romance Yaka de Pepetela – no qual o autor esvazia o valor de determinada categoria de personagens referenciais – apresentei uma comunicação denunciando a existência de uma ideologia oculta na «escola de estudos literários africanos em Portugal» que faz a apologia da crioulidade e de um cânone literário de «escritores mestiços» de que dependeria o prestígio da Literatura Angolana.
(…)
No entanto, Angola não se assemelha em nada àquilo a que os luso-tropicalistas consideravam como sendo «o mundo que o português criou» de que resultariam as sobreditas «ilhas crioulas». De resto, estas não existem em Angola. As polémicas desencadeadas em torno da selecção de obras constitutivas de um conjunto a que se deu o nome de «Biblioteca da Literatura Angolana» e acerca da apreciação estética da obra poética de Agostinho Neto, António Jacinto e António Cardoso traduzem bem a existência de conflitualidade de teorias, estéticas e interpretações, revelando uma certa geopolítica do conhecimento, o lugar a partir do qual cada um produz o seu discurso.”


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O Secretario Geral da UEA, Botelho de Vasconcelos, tambem disse de sua justica em entrevista ao SA:

"Quero deixar claro que não sou apologista de uma certa crítica publicada em certos órgãos que usaram expressões nada polidas e até sugeriam que por causa dessas declarações todos nós, principalmente o João Melo e o Mena Abrantes, o considerássemos como um «homem» sarnento. Mesmo nos actos mais graves da nossa vida social, os laços de amizade devem sempre fazer florir os gestos de solidariedade, porque é nos momentos «infelizes» que devemos contar com os ombros do próximo. Num dos textos deixaram passar respostas que utilizaram a maledicência para atingirem com pedras o confrade. Por essa via viciada, teríamos que usar mais pedras porque alguns confrades gostam desse exercício de escárnio e de falta de rigor e ética quando escrevem ou comentam os títulos dos seus confrades cujas obras sempre concorrerão para o enriquecimento da nossa literatura."

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Para fechar com chave de ouro, tambem no SA, uma noticia ainda no dominio da cultura/literatura, um tanto agridoce pelo que evoca de saudades do Tio Aires, mas mais bonita que as anteriores, como ele certamente gostaria:

"A anciã Esperança Lima Coelho, a «Panchita», como é chamada por todos, que se diz ter sido a «musa» que, ao seu tempo, inspirou o poeta Aires de Almeida Santos a escrever o seu célebre poema «Meu Amor da Rua 11», faz 80 anos na próxima terça-feira, 25, sendo por isso alvo de uma homenagem da sociedade benguelense, onde é bem-querida, pela comemoração da data."

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