Tuesday, 3 February 2009

KENYA YETU: HAKUNA MATATA? (I)

Ha’ uma cancao Swahili que e’ uma especie de hino do visitante do Kenya.
Ela comeca com #Jambo, jambo bwana, habari gani? Mzuri sana# (Ola’, ola’ senhor/a, como esta’? Seja bemvindo/a ao nosso Kenya) e termina com #Kenya yetu hakuna matata# (No nosso Kenya, nenhum problema) – note-se que nXi Yetu (nossa terra) tem exactamente o mesmo significado em kiMbundo e em kiSwahili.
E ja’ agora: repararam na imagem do Che a encimar a vela daquela canoa? A imagem dele e’ talvez a mais popular por aqui, depois da de Obama…


Mwana Yetu! Hongera Barack Obama!!

Aconchego Kenya Style

Indian Ocean Seafood Platter from the Jahazi Grill…

…Absolutely Food for Pleasure!

My Journey Through African Heritage, de Alan Donovan: eis um daqueles livros que sou (fui) capaz de comprar apenas pela capa. Ja’ o tinha visto publicitado algures aqui ha’ uns tempos, de modo que entre encontra-lo a venda na gift shop do hotel e compra-lo, embora tenha envolvido alguma ponderacao e discussao, nao foi um passo muito largo. O livro e’ totalmente feito a mao, pelo que e’ de edicao limitada. A capa e’ feita de pele verdadeira e os materias usados na sua ilustracao sao igualmente reais. Folheando pelo seu interior encontra-se uma rica coleccao de fotos eminentemente apelativas e estorias pessoais que deixam antever um relato unico da historia cultural, politica e social do Kenya ao longo de varias decadas. Mas, tendo embora sido capaz de o comprar apenas pela capa, nao sou capaz de o julgar apenas por essa razao, pelo que espero por uma oportunidade para o poder ler de facto e descobrir do que efectivamente trata essa jornada e, sobretudo, qual o conceito que o autor tem de ‘African Heritage’: pelo pouco que pude apreender do que dele folheei, nao me parece muito pacifico…

Eu e os meus ‘herois do mar’: Amani (Paz) – o puro homem da costa, nascido ali na vila da praia – e Patrick Lemachokoti – um ‘Masai’ com email address e mobile phone!
Estava eu entretida a a deixar-me levar saborosamente pelas ondas calidas da Praia Serena, quando o Amani se lancou ao mar na minha direccao, deu umas bracadas, mergulhou ao lado de mim e passado um bocado emergiu com essa concha ai, que me ofereceu dizendo que tinha acabado de a apanhar – bom, ele tambem podia te-la trazido de proposito num dos bolsos do calcao, mas o facto e’ que com aquilo acabou por obter algo de mim que nenhum dos outros vendedores de bens turisticos (passeios de barco, souvenirs de toda a especie, passeios de camelo, etc.) que por ali pululam tinha ainda conseguido: a minha atencao. Entretanto o Patrick aproximou-se e imediatamente nos embrulhamos numa animada conversa…

O Amani, tentando a todo o custo afastar o Patrick, tanto insistiu que acabou por me convencer a deixar-me levar por ele a um ‘aquario natural’ ali perto, onde, prometeu-me, poderia ver octopus, cavalos marinhos, caranguejos zebra e outros raros seres marinhos no seu habitat… e eu tinha que, absolutamente, ir naquele momento porque a mare’ estava propicia e sendo meia lua era o dia ideal, porque no dia seguinte seria lua cheia e a mare’ inchada cobriria completamente o aquario! Bom, la’ fui (ate’ porque estava a poucas horas da minha viagem de regresso e para mim nao haveria mais dia seguinte ali), mas acabei por ver apenas ovos e bebes de algumas das especies que ele tinha mencionado, o que nao tendo sido de todo decepcionante, era capaz de ser mais interessante a um/a estudioso/a de Biologia Marinha, ou de qualquer outra ciencia parecida. Para me consolar, ele ofereceu-me a concha mais pequena (essa vi-o apanhar…) que, disse-me, se chama ‘spoon shell’, porque era usada tradicionalmente como colher, antes de os europeus chegarem com os seus talheres.

Entretanto, foi-me dizendo que o Patrick nao era Masai coisa nenhuma, que apenas posava como tal para atrair os turistas: os verdadeiros Masai dizia-me ele, nao se encontram na costa, mas sim no hinterland, nomeadamente no chamado Masai Mara, situado a mais de 500 km dali. Este era talvez um Samburu (tribo de uma regiao mais proxima), que come peixe e eu nunca vi um verdadeiro Masai a comer peixe, acrescentou desdenhosamente…
Ja’ agora, esse e’ o recipiente, feito a partir de uma cabaca oblonga e finamente adornado com missangas e tiras de pele animal, onde os Masai misturam o leite de vaca e sangue de boi que – a semelhanca de algumas tribos pastorais do sul de Angola – constitui a sua base alimentar.

Mas o Amani falou-me tambem detalhada e sentidamente da crise que (tambem) assola o seu pais e particularmente os segmentos populacionais mais pobres, a que ele pertence – em troca das conchas e da visita guiada ao aquario natural que me tinha oferecido, pedia apenas que lhe trouxesse do hotel (onde a entrada aos desenrascas da praia como ele e o Patrick nao e’ permitida, excepto quando especialmente ‘convocados’ para improvisarem um mercado de artesanato para os turistas na relva do hotel, como aconteceu aos que se ve na foto que se segue) uns pacotes de cha preto, porque com a fome que passava, o cha preto pelo menos dava-lhe alguma forca para continuar o seu negocio de ensinar os segredos da sua costa natal aos visitantes... Trouxe-lhe todo o cha’ preto, mais todos os pacotinhos de acucar, de café, etc. que tinha no quarto e mais algum dinheiro.

Da crise (desemprego galopante, agravado pela seca que assola boa parte das regioes agricolas e pela retraccao do sector turistico, uma das principais fontes de rendimentos publicos e privados do pais, ainda nao completamente recuperado dos confrontos post-eleitorais do ano passado) ouvi falar por todos os Kenyanos com quem conversei, desde motoristas, taxistas, vendedores ambulantes, empregados de hotel, comerciantes mais ou menos estabelecidos, funcionarios publicos, etc. Uma afirmacao comum a todos eles e’ que ninguem parece acreditar que a parelha dirigente que forma o GURN resultante daquele conflito, o presidente e o seu premier, sejam capazes, ou estejam minimamente determinados a tomar as medidas necessarias para pelo menos mitigarem os seus efeitos nos grupos mais carenciados da populacao.

Portanto, no Kenya Yetu tem bwe’ de matata sim senhor/a!
Como em todo lado nos dias que correm…
Ha’ uma cancao Swahili que e’ uma especie de hino do visitante do Kenya.
Ela comeca com #Jambo, jambo bwana, habari gani? Mzuri sana# (Ola’, ola’ senhor/a, como esta’? Seja bemvindo/a ao nosso Kenya) e termina com #Kenya yetu hakuna matata# (No nosso Kenya, nenhum problema) – note-se que nXi Yetu (nossa terra) tem exactamente o mesmo significado em kiMbundo e em kiSwahili.
E ja’ agora: repararam na imagem do Che a encimar a vela daquela canoa? A imagem dele e’ talvez a mais popular por aqui, depois da de Obama…


Mwana Yetu! Hongera Barack Obama!!

Aconchego Kenya Style

Indian Ocean Seafood Platter from the Jahazi Grill…

…Absolutely Food for Pleasure!

My Journey Through African Heritage, de Alan Donovan: eis um daqueles livros que sou (fui) capaz de comprar apenas pela capa. Ja’ o tinha visto publicitado algures aqui ha’ uns tempos, de modo que entre encontra-lo a venda na gift shop do hotel e compra-lo, embora tenha envolvido alguma ponderacao e discussao, nao foi um passo muito largo. O livro e’ totalmente feito a mao, pelo que e’ de edicao limitada. A capa e’ feita de pele verdadeira e os materias usados na sua ilustracao sao igualmente reais. Folheando pelo seu interior encontra-se uma rica coleccao de fotos eminentemente apelativas e estorias pessoais que deixam antever um relato unico da historia cultural, politica e social do Kenya ao longo de varias decadas. Mas, tendo embora sido capaz de o comprar apenas pela capa, nao sou capaz de o julgar apenas por essa razao, pelo que espero por uma oportunidade para o poder ler de facto e descobrir do que efectivamente trata essa jornada e, sobretudo, qual o conceito que o autor tem de ‘African Heritage’: pelo pouco que pude apreender do que dele folheei, nao me parece muito pacifico…

Eu e os meus ‘herois do mar’: Amani (Paz) – o puro homem da costa, nascido ali na vila da praia – e Patrick Lemachokoti – um ‘Masai’ com email address e mobile phone!
Estava eu entretida a a deixar-me levar saborosamente pelas ondas calidas da Praia Serena, quando o Amani se lancou ao mar na minha direccao, deu umas bracadas, mergulhou ao lado de mim e passado um bocado emergiu com essa concha ai, que me ofereceu dizendo que tinha acabado de a apanhar – bom, ele tambem podia te-la trazido de proposito num dos bolsos do calcao, mas o facto e’ que com aquilo acabou por obter algo de mim que nenhum dos outros vendedores de bens turisticos (passeios de barco, souvenirs de toda a especie, passeios de camelo, etc.) que por ali pululam tinha ainda conseguido: a minha atencao. Entretanto o Patrick aproximou-se e imediatamente nos embrulhamos numa animada conversa…

O Amani, tentando a todo o custo afastar o Patrick, tanto insistiu que acabou por me convencer a deixar-me levar por ele a um ‘aquario natural’ ali perto, onde, prometeu-me, poderia ver octopus, cavalos marinhos, caranguejos zebra e outros raros seres marinhos no seu habitat… e eu tinha que, absolutamente, ir naquele momento porque a mare’ estava propicia e sendo meia lua era o dia ideal, porque no dia seguinte seria lua cheia e a mare’ inchada cobriria completamente o aquario! Bom, la’ fui (ate’ porque estava a poucas horas da minha viagem de regresso e para mim nao haveria mais dia seguinte ali), mas acabei por ver apenas ovos e bebes de algumas das especies que ele tinha mencionado, o que nao tendo sido de todo decepcionante, era capaz de ser mais interessante a um/a estudioso/a de Biologia Marinha, ou de qualquer outra ciencia parecida. Para me consolar, ele ofereceu-me a concha mais pequena (essa vi-o apanhar…) que, disse-me, se chama ‘spoon shell’, porque era usada tradicionalmente como colher, antes de os europeus chegarem com os seus talheres.

Entretanto, foi-me dizendo que o Patrick nao era Masai coisa nenhuma, que apenas posava como tal para atrair os turistas: os verdadeiros Masai dizia-me ele, nao se encontram na costa, mas sim no hinterland, nomeadamente no chamado Masai Mara, situado a mais de 500 km dali. Este era talvez um Samburu (tribo de uma regiao mais proxima), que come peixe e eu nunca vi um verdadeiro Masai a comer peixe, acrescentou desdenhosamente…
Ja’ agora, esse e’ o recipiente, feito a partir de uma cabaca oblonga e finamente adornado com missangas e tiras de pele animal, onde os Masai misturam o leite de vaca e sangue de boi que – a semelhanca de algumas tribos pastorais do sul de Angola – constitui a sua base alimentar.

Mas o Amani falou-me tambem detalhada e sentidamente da crise que (tambem) assola o seu pais e particularmente os segmentos populacionais mais pobres, a que ele pertence – em troca das conchas e da visita guiada ao aquario natural que me tinha oferecido, pedia apenas que lhe trouxesse do hotel (onde a entrada aos desenrascas da praia como ele e o Patrick nao e’ permitida, excepto quando especialmente ‘convocados’ para improvisarem um mercado de artesanato para os turistas na relva do hotel, como aconteceu aos que se ve na foto que se segue) uns pacotes de cha preto, porque com a fome que passava, o cha preto pelo menos dava-lhe alguma forca para continuar o seu negocio de ensinar os segredos da sua costa natal aos visitantes... Trouxe-lhe todo o cha’ preto, mais todos os pacotinhos de acucar, de café, etc. que tinha no quarto e mais algum dinheiro.

Da crise (desemprego galopante, agravado pela seca que assola boa parte das regioes agricolas e pela retraccao do sector turistico, uma das principais fontes de rendimentos publicos e privados do pais, ainda nao completamente recuperado dos confrontos post-eleitorais do ano passado) ouvi falar por todos os Kenyanos com quem conversei, desde motoristas, taxistas, vendedores ambulantes, empregados de hotel, comerciantes mais ou menos estabelecidos, funcionarios publicos, etc. Uma afirmacao comum a todos eles e’ que ninguem parece acreditar que a parelha dirigente que forma o GURN resultante daquele conflito, o presidente e o seu premier, sejam capazes, ou estejam minimamente determinados a tomar as medidas necessarias para pelo menos mitigarem os seus efeitos nos grupos mais carenciados da populacao.

Portanto, no Kenya Yetu tem bwe’ de matata sim senhor/a!
Como em todo lado nos dias que correm…

4 comments:

V Benesi said...

MAna!
Maravilhosos, seus relatos de viagem ao Kenya! Aprendi muita coisa.
É um lugar lindo, mesmo com tantos problemas... É muito duro ouvir alguém dizer que passa fome... O pior disso tudo é saber que com um pouquinho de 'vontade política' boa parte da fome (não só de comida!) desse povo poderia ser amenizada.
Enfim... Parabéns e obrigada por mais esse post de puro entretenimento e cultura.
Um Kandando bem forte pra você.

Raquel Sabino Pereira said...

Já tive a música «Hakuna Matata» no Atlântico Azul, mas era a versão do filme «The Lion King»!!!
Quer que ponha no Luanda Azul????

KANDANDOS!!!!!

Koluki said...

Obrigada pela atencao minhas queridas e perdoem-me pela aparente desatencao, mas tem-me sido realmente praticamente impossivel atender ao blog com mais tempo e regularidade.

Mas, como sempre, ESTAMOS JUNTAS!!!

Anonymous said...

Que aventura interessante, bonita. Vale a pena viver!