Tuesday 18 August 2009

FALANDO DE GERACOES…

Ja’ houve uma altura na minha vida, curiosamente nao assim tao longinqua, em que me via vagamente como parte de uma geracao que alguem designou, em termos estritamente literarios, “a geracao das incertezas” e que eu, em termos mais amplamente vivenciais e filosoficos, sempre preferi designar “a geracao de todos os desenganos”. Em anos mais recentes, no entanto, ou talvez por isso mesmo, vejo-me indubitavel e desenganadamente como parte da “geracao R”, ou a “geracao dos rejeitados”.

Esta minha “geracao R”, porem, nao e’ estritamente Angolana: existe dispersa um pouco por todo o globo e parte dela, entre a qual me incluo, e’, declaradamente ou nao, stateless, porquanto, para a maior parte dos, quando nao para todos os, efeitos legais, nao temos estado – muito menos partido!

Esta condicao faz com que, por exemplo, nos seja negada a renovacao do nosso passaporte nacional pelo “nosso pais” de origem ou, como ainda muito recentemente aconteceu a me, myself and I (e nao pela primeira vez…), nos seja negado um visto de entrada nesse mesmo pais, ao mesmo tempo que aos nossos colegas de trabalho ‘estrangeiros’ tal visto e’ prontamente concedido – situacao que, neste caso concreto, so’ pode ser ultrapassada gracas a benemerita intervencao de um embaixador de um terceiro pais – o que imediatamente nos coloca sob suspeicao perante os nossos empregadores, actuais ou prospectivos (como, alias, ja’ nos aconteceu no passado..), de sermos persona non grata naquele que dizemos, sentimos e sempre soubemos ser “o nosso pais”, impedindo-nos assim, mais frequentemente do que nao, de trabalhar em qualquer funcao ou projecto, mesmo que apenas estritamente academico, que exija algum contacto com Angola…

Esta minha “geracao R”, em consequencia do seu estado de statelessness, nao se pode dar ao luxo de deixar-se adormecer, seja sobre louros ou espinhos, tendo que lutar incessante e incansavelmente para se sustentar a si propria condignamente e para manter em todas as circunstancias a sua mente lucida e a sua cabeca erguida, sob pena de acabar literalmente por "nao ter onde cair morta", sujeitando-se entretanto a ser "debicada" por vultos e abutres famintos de todas as latitudes enquanto ainda viva…

Condicao que, em principio, nos deveria aproximar uns dos outros, mas que a propria situacao de global statelessness nos impede de o fazer: sabemos apenas que existimos por ai algures e tendemos a identificar-nos individualmente como me, myself and I – sendo esta uma exigencia de sobrevivencia fisica e espiritual, porquanto a partir do momento em que perdemos o sentido de nos proprios e da nossa identidade (mesmo se ligeiramente e apenas para nos permitirmos coisas tais como priorizarmos a nossa "elegancia fisica" sobre a nossa "elegancia mental, psicologica e moral", ou darmo-nos a "indulgencias literarias e artisticas"…), podemos correr o risco de perder por completo “todos os sentidos”, senao a propria vida… Enfim, a minha geracao, a “geracao R”, e’, literalmente falando, a geracao dos “excluidos dos excluidos”, a geracao dos condenados da terra – num sentido em que nem Fanon tera’ suspeitado pudesse alguma vez existir em lugar algum!

Tomo agora nota da existencia no “nosso pais” de uma designada “geracao X” que, pela descricao (que pouco ou nada tem a ver com as definicoes convencionais dessa geracao), se parece assemelhar muito as geracoes yuppies que, desde os anos 80 do seculo passado (ou seja, desde os tempos da “geracao das incertezas” em Angola), vem aparecendo um pouco por todos os paises, em determinadas fases bem identificadas da sua historia economica.

Mas, alegadamente, esta “geracao X” de Angola tem uma particularidade exclusiva: “faz parte, ou tenta colar-se, ao partido da situacao”. Por sinal, um partido por onde me, myself and I entramos e saimos muito antes do florescimento da dita “geracao das incertezas”, ou seja, num tempo em que nao havia nada a ganhar por dele se fazer parte: em muitos casos, como no de me, myself and I, muito antes pelo contrario! E dele, me, myself and I saimos de livre e espontanea vontade e for good: para nao mais voltar! Para esse, ou para qualquer outro partido politico. Quanto muito, tentamos lutar agora, tanto quanto nos e’ possivel, pelo fim do nosso involuntario estado de statelessness, o qual apenas podemos supor nos esteja a ser forcado por umas quaisquer “forcas ocultas nao identificadas”, devido aos nossos varios “atrevimentos”, desconfortaveis para a “situacao” (e, tudo indica, tambem para alguma “oposicao”) do “nosso pais”, ao longo dos anos …

Mas sei que ha’ no “nosso pais”, para alem da dita “geracao X”, outras geracoes: nomeadamente a “geracao A” e a “geracao Y”. A “geracao A” e’ a que vem antes de tudo e de todos: e’ a “geracao dos possidentes” de tudo quanto e’ supostamente devido a 'parte' daqueles que podem reclamar-se de terem “estado em todas” e terem conseguido manter-se “ilesos” ate’ agora – alguns desde a(s) luta(s) de libertacao, dum ou doutro(s) lado(s), outros ha’ menos tempo, mas, em qualquer dos casos, todos politica, social e economicamente “intocaveis”, embora uns mais do que outros. Constituem, portanto, o establishment ou, se se preferir, a “situacao”.

Ja’ a “geracao Y” (que tambem pouco ou nada tem a ver com as definicoes convencionais dessa geracao) e’ um pouco mais “complexa(da?)”: apesar de, geralmente, social, profissional e economicamente “bem de vida”, no “nosso pais” ou fora dele, nao sera’ exactamente politicamente “intocavel”, mas o seu nucleo central cada vez mais comeca a dar mostras de pretender se-lo.

E, nao fazendo necessariamente parte funcional da “situacao” politica, faz certamente parte estrutural do establishment social e/ou cultural e parte dela fez durante muito tempo, ou ainda faz parte, ainda que marginalmente em alguns casos, do partido da “situacao” e sobrevive manifestamente gracas a “pactos de regime”, ou “de elites”, que lhes sao propiciados, tanto pela “situacao” do “nosso pais” (quanto mais nao seja porque fazem muita questao de se dizerem, ou fazerem, todos “primos” uns dos outros, ou membros dos mesmos “circulos restritos”, assim constituindo a famosa "grande familia"…), como, em alguns casos, pelos seus “parceiros estrangeiros”, o que lhes permite escapar ao estado de statelessness em que vive a minha “geracao R”, dentro ou fora do “nosso pais”.

Decididamente, esta “geracao Y” nao e’, nem nunca foi, “rejeitada” ou “excluida”, mesmo no caso de alguns dos seus membros que, tendo episodicamente sofrido a “mao pesada” do estado, a ela conseguiram sobreviver: e’ apenas aquela geracao que sempre teve e continua a ter tudo, excepto o poder politico (e parece nao olhar a meios para o obter...), ou seja, so’ lhe falta um escalao para atingir o status de “geracao Z”: o zenite a partir do qual destronara' triunfalmente a “geracao A” e co-optara', ou eclipsara', a actual “geracao X”, muito provavelmente substituindo-a pelos seus proprios filhos, nos casos em que estes ainda nao fazem parte dela…

Mas, enquanto la’ nao chegam, vao falando em nome dos “excluidos” e, enquanto de “barriga cheia” e "nariz empinado", muito self-righteously, vivem de punho erguido e dedo em riste contra tudo e todos que lhes parecam constituir uma ameaca aquele seu desiderato, ou que, simplesmente, nao lhes demonstrem “o devido respeito”... Atitude, alias, pela qual alguns deles sao sobejamente conhecidos desde os longinquos, famigerados e malfadados tempos de todos os “PRECs”, apenas evidenciando que indeed, old habits die hard and old dogs can’t learn new tricks! Mas, ainda assim, desejo-lhes a todos boa sorte nessa sua gloriosa escalada em direccao a “sua (exclusiva) situacao”...

No entanto, o que essas geracoes teem de comum entre si, e que as diferencia marcadamente da minha “geracao R”, e’ que todas elas vivem, ou viveram a maior parte das suas vidas, sob a sombra do estado (ou de um dos pelo menos dois "partidos-estado") do “nosso pais”, isto e’, nunca foram obrigados a ser stateless, nem fazem a minima ideia do que isso significa em termos vivenciais e filosoficos, salvo talvez alguns dos que, porventura, tenham vivido involuntariamente exilados no periodo colonial-fascista (ou, como num caso concreto que tenho em mente, o de MPA, infelizmente ja' nao entre nos, o viveu tanto naquele periodo como no pos-independencia).

Nao sao, portanto, capazes de perceber que haja gente por esse mundo fora, incluindo de origem Angolana que, no periodo pos-independencia, nunca contou, ou nao contou durante grande parte das suas vidas, com o estado (e, portanto, com o partido da "situacao") a que eles, salvo rarissimas excepcoes, devem praticamente tudo o que sao e teem em Angola e no mundo. E muito menos que gente da minha “geracao R”, como me, myself and I (que, apesar de “menor”, “insignificante” e “rejeitada”, se orgulha de nunca ter "lambido botas" de ninguem e muito menos de alguma vez ter “debicado” em pratos de quem quer que seja e de, quanto muito, ter visto “muito boa gente” debicar no seu prato e depois ingrata, descarada, arrogante e despudoradamete cuspir nele “de cima”…), possa “pensar pela sua propria cabeca” e ter a dignidade de expressar imparcialmente opinioes, ou posicionar-se politica e culturalmente, segundo logicas absolutamente nao partidarias ou estatais e que, quando fala em "democracia", “sociedade civil”, “direitos humanos” ou “cidadania”, e’ exactamente disso, e apenas disso, que esta’ a falar!

Pois enquanto tentam todos e, sobretudo, todas, se o quiserem e/ou puderem fazer, perceber isso, a minha “geracao R”, dentro ou fora do “nosso pais”, continuara’ a existir… excluida e rejeitada. Mas, pelo menos no que depender de me, myself and I, sem que nos constituamos necessariamente em “oposicao” politica formal, continuaremos a lutar pelo nosso direito a cidadania plena na terra que nos viu nascer, a nos e a todos os nossos ancestrais (!), e para a qual demos, dentro e fora dela, os nossos contributos, mais ou menos modestos, e nunca deixaremos de nos expressar livre e descomprometidamente sobre as praticas sociais e politicas de todas as “geracoes” e “elites” ou “nao elites”, “novas” ou “velhas”, por mais vetustas, fajutas, enfatuadas ou despidas e agressivas ou armadas que se nos apresentem, em particular quando se atrevam a por em causa, directa ou indirectamente, aberta ou veladamente, esse nosso direito inalienavel.

Portanto, de geracoes… creio estarmos falados!

[Echoed here]
Ja’ houve uma altura na minha vida, curiosamente nao assim tao longinqua, em que me via vagamente como parte de uma geracao que alguem designou, em termos estritamente literarios, “a geracao das incertezas” e que eu, em termos mais amplamente vivenciais e filosoficos, sempre preferi designar “a geracao de todos os desenganos”. Em anos mais recentes, no entanto, ou talvez por isso mesmo, vejo-me indubitavel e desenganadamente como parte da “geracao R”, ou a “geracao dos rejeitados”.

Esta minha “geracao R”, porem, nao e’ estritamente Angolana: existe dispersa um pouco por todo o globo e parte dela, entre a qual me incluo, e’, declaradamente ou nao,
stateless, porquanto, para a maior parte dos, quando nao para todos os, efeitos legais, nao temos estado – muito menos partido!

Esta condicao faz com que, por exemplo, nos seja negada a renovacao do nosso passaporte nacional pelo “nosso pais” de origem ou, como ainda muito recentemente aconteceu a me, myself and I (e nao pela primeira vez…), nos seja negado um visto de entrada nesse mesmo pais, ao mesmo tempo que aos nossos colegas de trabalho ‘estrangeiros’ tal visto e’ prontamente concedido – situacao que, neste caso concreto, so’ pode ser ultrapassada gracas a benemerita intervencao de um embaixador de um terceiro pais – o que imediatamente nos coloca sob suspeicao perante os nossos empregadores, actuais ou prospectivos (como, alias, ja’ nos aconteceu no passado..), de sermos persona non grata naquele que dizemos, sentimos e sempre soubemos ser “o nosso pais”, impedindo-nos assim, mais frequentemente do que nao, de trabalhar em qualquer funcao ou projecto, mesmo que apenas estritamente academico, que exija algum contacto com Angola…

Esta minha “geracao R”, em consequencia do seu estado de statelessness, nao se pode dar ao luxo de deixar-se adormecer, seja sobre louros ou espinhos, tendo que lutar incessante e incansavelmente para se sustentar a si propria condignamente e para manter em todas as circunstancias a sua mente lucida e a sua cabeca erguida, sob pena de acabar literalmente por "nao ter onde cair morta", sujeitando-se entretanto a ser "debicada" por vultos e abutres famintos de todas as latitudes enquanto ainda viva…

Condicao que, em principio, nos deveria aproximar uns dos outros, mas que a propria situacao de global statelessness nos impede de o fazer: sabemos apenas que existimos por ai algures e tendemos a identificar-nos individualmente como me, myself and I – sendo esta uma exigencia de sobrevivencia fisica e espiritual, porquanto a partir do momento em que perdemos o sentido de nos proprios e da nossa identidade (mesmo se ligeiramente e apenas para nos permitirmos coisas tais como priorizarmos a nossa "elegancia fisica" sobre a nossa "elegancia mental, psicologica e moral", ou darmo-nos a "indulgencias literarias e artisticas"…), podemos correr o risco de perder por completo “todos os sentidos”, senao a propria vida… Enfim, a minha geracao, a “geracao R”, e’, literalmente falando, a geracao dos “excluidos dos excluidos”, a geracao dos condenados da terra – num sentido em que nem Fanon tera’ suspeitado pudesse alguma vez existir em lugar algum!

Tomo agora nota da existencia no “nosso pais” de uma designada “geracao X” que, pela descricao (que pouco ou nada tem a ver com as definicoes convencionais dessa geracao), se parece assemelhar muito as geracoes yuppies que, desde os anos 80 do seculo passado (ou seja, desde os tempos da “geracao das incertezas” em Angola), vem aparecendo um pouco por todos os paises, em determinadas fases bem identificadas da sua historia economica.

Mas, alegadamente, esta “geracao X” de Angola tem uma particularidade exclusiva: “faz parte, ou tenta colar-se, ao partido da situacao”. Por sinal, um partido por onde me, myself and I entramos e saimos muito antes do florescimento da dita “geracao das incertezas”, ou seja, num tempo em que nao havia nada a ganhar por dele se fazer parte: em muitos casos, como no de me, myself and I, muito antes pelo contrario! E dele, me, myself and I saimos de livre e espontanea vontade e for good: para nao mais voltar! Para esse, ou para qualquer outro partido politico. Quanto muito, tentamos lutar agora, tanto quanto nos e’ possivel, pelo fim do nosso involuntario estado de statelessness, o qual apenas podemos supor nos esteja a ser forcado por umas quaisquer “forcas ocultas nao identificadas”, devido aos nossos varios “atrevimentos”, desconfortaveis para a “situacao” (e, tudo indica, tambem para alguma “oposicao”) do “nosso pais”, ao longo dos anos …

Mas sei que ha’ no “nosso pais”, para alem da dita “geracao X”, outras geracoes: nomeadamente a “geracao A” e a “geracao Y”. A “geracao A” e’ a que vem antes de tudo e de todos: e’ a “geracao dos possidentes” de tudo quanto e’ supostamente devido a 'parte' daqueles que podem reclamar-se de terem “estado em todas” e terem conseguido manter-se “ilesos” ate’ agora – alguns desde a(s) luta(s) de libertacao, dum ou doutro(s) lado(s), outros ha’ menos tempo, mas, em qualquer dos casos, todos politica, social e economicamente “intocaveis”, embora uns mais do que outros. Constituem, portanto, o establishment ou, se se preferir, a “situacao”.

Ja’ a “geracao Y” (que tambem pouco ou nada tem a ver com as definicoes convencionais dessa geracao) e’ um pouco mais “complexa(da?)”: apesar de, geralmente, social, profissional e economicamente “bem de vida”, no “nosso pais” ou fora dele, nao sera’ exactamente politicamente “intocavel”, mas o seu nucleo central cada vez mais comeca a dar mostras de pretender se-lo.

E, nao fazendo necessariamente parte funcional da “situacao” politica, faz certamente parte estrutural do establishment social e/ou cultural e parte dela fez durante muito tempo, ou ainda faz parte, ainda que marginalmente em alguns casos, do partido da “situacao” e sobrevive manifestamente gracas a “pactos de regime”, ou “de elites”, que lhes sao propiciados, tanto pela “situacao” do “nosso pais” (quanto mais nao seja porque fazem muita questao de se dizerem, ou fazerem, todos “primos” uns dos outros, ou membros dos mesmos “circulos restritos”, assim constituindo a famosa "grande familia"…), como, em alguns casos, pelos seus “parceiros estrangeiros”, o que lhes permite escapar ao estado de statelessness em que vive a minha “geracao R”, dentro ou fora do “nosso pais”.

Decididamente, esta “geracao Y” nao e’, nem nunca foi, “rejeitada” ou “excluida”, mesmo no caso de alguns dos seus membros que, tendo episodicamente sofrido a “mao pesada” do estado, a ela conseguiram sobreviver: e’ apenas aquela geracao que sempre teve e continua a ter tudo, excepto o poder politico (e parece nao olhar a meios para o obter...), ou seja, so’ lhe falta um escalao para atingir o status de “geracao Z”: o zenite a partir do qual destronara' triunfalmente a “geracao A” e co-optara', ou eclipsara', a actual “geracao X”, muito provavelmente substituindo-a pelos seus proprios filhos, nos casos em que estes ainda nao fazem parte dela…

Mas, enquanto la’ nao chegam, vao falando em nome dos “excluidos” e, enquanto de “barriga cheia” e "nariz empinado", muito self-righteously, vivem de punho erguido e dedo em riste contra tudo e todos que lhes parecam constituir uma ameaca aquele seu desiderato, ou que, simplesmente, nao lhes demonstrem “o devido respeito”... Atitude, alias, pela qual alguns deles sao sobejamente conhecidos desde os longinquos, famigerados e malfadados tempos de todos os “PRECs”, apenas evidenciando que indeed, old habits die hard and old dogs can’t learn new tricks! Mas, ainda assim, desejo-lhes a todos boa sorte nessa sua gloriosa escalada em direccao a “sua (exclusiva) situacao”...

No entanto, o que essas geracoes teem de comum entre si, e que as diferencia marcadamente da minha “geracao R”, e’ que todas elas vivem, ou viveram a maior parte das suas vidas, sob a sombra do estado (ou de um dos pelo menos dois "partidos-estado") do “nosso pais”, isto e’, nunca foram obrigados a ser stateless, nem fazem a minima ideia do que isso significa em termos vivenciais e filosoficos, salvo talvez alguns dos que, porventura, tenham vivido involuntariamente exilados no periodo colonial-fascista (ou, como num caso concreto que tenho em mente, o de MPA, infelizmente ja' nao entre nos, o viveu tanto naquele periodo como no pos-independencia).

Nao sao, portanto, capazes de perceber que haja gente por esse mundo fora, incluindo de origem Angolana que, no periodo pos-independencia, nunca contou, ou nao contou durante grande parte das suas vidas, com o estado (e, portanto, com o partido da "situacao") a que eles, salvo rarissimas excepcoes, devem praticamente tudo o que sao e teem em Angola e no mundo. E muito menos que gente da minha “geracao R”, como me, myself and I (que, apesar de “menor”, “insignificante” e “rejeitada”, se orgulha de nunca ter "lambido botas" de ninguem e muito menos de alguma vez ter “debicado” em pratos de quem quer que seja e de, quanto muito, ter visto “muito boa gente” debicar no seu prato e depois ingrata, descarada, arrogante e despudoradamete cuspir nele “de cima”…), possa “pensar pela sua propria cabeca” e ter a dignidade de expressar imparcialmente opinioes, ou posicionar-se politica e culturalmente, segundo logicas absolutamente nao partidarias ou estatais e que, quando fala em "democracia", “sociedade civil”, “direitos humanos” ou “cidadania”, e’ exactamente disso, e apenas disso, que esta’ a falar!

Pois enquanto tentam todos e, sobretudo, todas, se o quiserem e/ou puderem fazer, perceber isso, a minha “geracao R”, dentro ou fora do “nosso pais”, continuara’ a existir… excluida e rejeitada. Mas, pelo menos no que depender de me, myself and I, sem que nos constituamos necessariamente em “oposicao” politica formal, continuaremos a lutar pelo nosso direito a cidadania plena na terra que nos viu nascer, a nos e a todos os nossos ancestrais (!), e para a qual demos, dentro e fora dela, os nossos contributos, mais ou menos modestos, e nunca deixaremos de nos expressar livre e descomprometidamente sobre as praticas sociais e politicas de todas as “geracoes” e “elites” ou “nao elites”, “novas” ou “velhas”, por mais vetustas, fajutas, enfatuadas ou despidas e agressivas ou armadas que se nos apresentem, em particular quando se atrevam a por em causa, directa ou indirectamente, aberta ou veladamente, esse nosso direito inalienavel.

Portanto, de geracoes… creio estarmos falados!

[Echoed here]

3 comments:

Diasporense said...

Indeed, "Geracao R"....
Estamos Globalmente Juntos!

Koluki said...

Para que conste, aqui fica a descricao da "Geracao X" a que me refiro:

"AGeração X não olha a meios para atingir os seus fins. A Geração X venera a prosperidade e o consumo, glorifica as recompensas materiais e a sua fruição, despreza aqueles que são considerados por ela os `vencidos da vida`, ´os perdedores´. Os membros dessa Geração têm diferentes idades. Uns ainda são imberbes; outros, de barba rija e encanecida. O que os une são, fundamentalmente, as ambições individuais, o enriquecimento rápido e fácil, a realização pessoal. A Geração X é transversal a partidos, confissões religiosas, etnias e sexos. Mas o seu núcleo central, neste momento, encontra-se no MPLA, ou procura colar-se ao MPLA. É um grupo que desdenha as multidões, os pobres, os velhos, os desvalidos, os desprotegidos, legitimando, deste modo, a boa fortuna e fazendo dela o discurso oficial"- Vicente Pinto de Andrade no Angolense (15-8-09)

Koluki said...

Para que conste tambem, os comentarios abaixo a este post:

Koluki disse...
Os meus sinceros parabens ao VPA. Tanto pelo aniversario, como pela respeitavel trajectoria pessoal e politica.
Sobre a primeira, diria que, “malgre’ tout”, ele e’ das pessoas (e lamento ter que confessar que cada vez mais vao sendo menos) por quem ainda nutro algum respeito em Angola.
Sobre a segunda, diria que, se ele foi o primeiro a anunciar a sua candidatura independente a presidencia, eu talvez tenha sido das primeiras pessoas a manifestar publicamente o meu apoio a essa candidatura (entre outros lugares, no Angonoticias, sob pseudonimo).
Infelizmente, de la’ para ca’, aquela que tem sido a sua plataforma politica e social de apoio so’ me tem dado razoes para, senao retirar-lhe totalmente o meu apoio inicial, pelo menos tornar-me muito (!) mais reservada em relacao a conceder-lho…
Tal como escrevi algures sobre a chegada do MPLA a Luanda em 1974/75 e a forma como foram recebidos, “vieram aparentemente cheios de boas intencoes, mas de boas intencoes esta’ o inferno cheio…”, parece-me necessario dize-lo tambem sem rodeios a essa que tambem ja’ designei por geracao Y!...
Em suma, gostaria muito sinceramente de poder ver o VPA e a sua geracao a nao deixarem perder completamente os seus merecidos creditos por via de uma sistematica atitude de hostilizacao e de “taking for granted” das geracoes mais novas – tenho para mim que, em grande medida, esse tipo de atitude esteve na base do que levou muito boa gente a cadeia de S. Paulo e outras no imediato pos-independencia…
Diria tambem que, uma vez que sobre a sua condidatura e circundante meio politico-social tem sido frequente mencionar-se o exemplo de Obama, seria muito bom que VPA e seus pares aprendessem realmente algumas das licoes que Obama deu a todo o mundo, das quais a mais relevante para o “nosso caso” talvez tenha sido a nao hostilizacao de nenhum grupo, ou geracao, entre os seus concidadaos, em suma: saber fazer politica! (Se se quer ganhar alguma coisa…)
17 de Fevereiro de 2010 20:30

Koluki disse...
Apenas para acrescentar duas notas, menores mas que me parecem relevantes neste contexto, ao meu comentario anterior:

i) Curiosamente, Obama pertence a minha geracao, sendo ate' ligeiramente mais novo do que eu (talvez por isso "nos damos" tao bem...);

ii) A ultima frase devo acrescentar a toda importante palavra "democraticamente": "em suma: saber fazer politica! (Se se quer ganhar alguma coisa democraticamente...)."
17 de Fevereiro de 2010 21:47