E a mulher africana, entre a cultura e o novo mundo?
Ela
agora tem vida nocturna, bebe, namora… Há evolução. Mas o que me
inquieta é o desmembramento da família. Há as que querem ter filhos e
manter a sua independência, mas isso depois tem consequências nos
filhos. Qual será a socialização desses filhos? E que tipo de sociedade
estamos a construir? Há a evolução da mulher, que é positivo. Estão no
mundo académico, etc. o que me inquieta é a obsessão pelo frívolo, pelo
material… temos de olhar para as mães que sofreram. Vejamos a história
dos nacionalistas angolanos que passaram muito tempo nas prisões, quem
sustentou e educou as famílias foram as mulheres, mas eram mulheres com
outras preocupações, não a busca pelo cabelo brasileiro … a imagem.
Somos muito o produto da educação e relação com as nossas mães, mas se
ela não está contente com o que é, tem que ter um determinado aspecto,
tem de ir ao Brasil arranjar o nariz e a barriga … naqueles tempos o
importante era a solidez da mulher.
[...]
Nós perdemos a
dignidade, não sabemos do nosso potencial, da nossa cultura, da nossa
força perante o mundo. A diáspora vai ajudar a recuperar essa
autoconfiança e a identificar quais são os nossos interesses. A Dambiza
Moyo é uma intelectual que trabalhou para o Goldman Sach, trabalhou
para vários bancos e vai comentando, em circuitos mais elevados, sobre
África.
[Sousa Jamba,
aqui]
Margarida
Paredes: Parabéns Sousa Jamba! Gosto da maneira como questiona o mundo
que o rodeia, a entrevista está cheia de interrogações e gosto das
ligações que faz entre "nós" e os "outros". Apenas tropeça quando fala
da mulher angolana, as masculinidades dos homens angolanos são muito
complicadas e Sousa Jamba é um conservador... que fala da socialização
dos filhos de uma mulher independente como um problema e como se a
socialização dependesse apenas da mulher, o pai esse pode ser
idendendente, pode seguir em frente, não é SJ? :) O interessante é que
na maior parte das famílias angolanas são as mães que cuidam, educam e
sustentam os filhos sem nunca deixarem de trabalhar! Sousa Jamba devia
ter apontado o dedo aos homens, e não às mulheres! Quanto à frivolidade
ou ao investimento que as mulheres fazem na imagem talvez elas estejam a
dizer: - o que a mulher ocidental pode, nós podemos! a modernidade não é
só para as mulheres brancas da classe média! Pois é a mulher angolana
está no centro dos discursos da modernidade, muitas pertencem a
associações de mulheres, reivindicam-se como feministas, estão em
profissões tradicionalmente masculinas, lutam pela igualdade e Sousa
Jamba não vê as lógicas sociais inovadoras das mulheres angolanas por
trás das extensões brasileiras!
(...)
PONTO PREVIO
O
meu artigo “A Proposito de Patriotas: Reflexoes sobre como Reconstruir
Angoleme”, publicado em 1990/91 na revista portuguesa “Vertice”,
constituiu uma analise critica do livro “Patriotas” de Sousa Jamba e uma
reflexao sobre questoes ‘a volta da historia, democracia, cidadania,
identidade e, sobretudo, do genero, em Angola. Sobre este ultimo, o
artigo ficou particularmente marcado por uma critica algo ‘mordaz’ ‘a
forma como as mulheres angolanas eram retratadas naquele livro – o que,
devo nota-lo, nao tera’ sido “totalmente alheio” ao facto de Sousa Jamba
na altura namorar com uma mulher branca inglesa, a celebre Julie que
"lhe lia Shakespeare para o adormecer", que ele tornou “famosa” atraves
das suas cronicas de entao para o semanario portugues “O Independente”.
Antes
de o publicar – e porque nele levantava questoes sobre as quais me
sentia um pouco em “terreno movedico”, por ter claramente a nocao de
nunca terem sido antes levantadas (certamente nao nos termos em que o
fiz naquele artigo) na literatura, ou na imprensa, angolana ou
portuguesa –, enviei o seu ‘draft’ a varias pessoas conhecidas, entre
angolanos e portugueses, nos meios culturais e literarios em Lisboa,
incluindo a uma certa “mae da negritude branca pos-colonial”,
pedindo-lhes as suas opinioes, criticas e sugestoes.
De
todos eles, as unicas pessoas que se dignaram pegar no telefone para
partilhar comigo os seus pontos de vista foram a Ana Mafalda Leite e… o
Sousa Jamba, a quem eu tambem enviara o ‘draft’ e que me telefonou
expressamente de Londres (se a minha memoria daquele periodo nao me
atraicoa) para Lisboa, para me dizer basicamente algo como: “It’s ok, if
that’s your opinion – by the way, an inteligent opinion – I’m fine with
it”…
O artigo acabou por ser publicado sem grandes
alteracoes ao ‘draft’ e, anos depois, vi-me transportada “aos
trambolhoes” para Londres. Dentre os angolanos, fora da minha familia,
aqui residentes na altura, que me tentaram contactar pouco depois da
minha chegada, registo, com o devido agradecimento, os nomes de Joao
Vandunem e de… Sousa Jamba. Infelizmente, com o Joao Vandunem o contacto
nunca se chegou a efectivar (… embora nao me tenha esquecido daquele
dia em que, alguns anos depois, quando eu estava a fazer o mestrado na
LSE, ele, que trabalhava na BBC Africa mesmo ali ‘a frente, ter passado
pelo ‘post office’ ao lado da LSE em que eu me encontrava ‘minding my
own business’, ter voltado para tras, espreitado e… seguido o seu
caminho. Um pouco como quando nos encontramos ha’ 3 anos no aeroporto 4
de Fevereiro, eu vinda da Africa do Sul e ele creio que de Lisboa e…
seguimos cada um o seu destino…).
Mas, com o SJ o encontro
efectivou-se: ele esteve em minha casa e convidou-me para sair uma vez
(algo que mencionei num comentario no meu blog aqui ha’ uns anos e que
depois achei por bem retirar) em que me levou a conhecer um pouco da
“Afrika in London”. Conversamos e encontramo-nos uma ou duas outras
vezes depois disso, uma das quais numa 'panel discussion' sobre Angola
no Africa Centre em Covent Garden (e aqui devo mencionar um outro
angolano com quem me cruzei em Londres e que, com o SJ, foi um dos
panelistas naquele debate, o Manuel dos Santos Junior, meu antigo colega
na UAN e na altura a fazer o doutoramento na Universidade de York e que
tambem me telefonou algumas vezes e me enviou um belo postal de Natal
no final daquele ano), mas acabamos tambem por seguir cada um o seu
caminho… Ate’ que nos voltamos a “cruzar” atraves do Semanario Angolense
(SA) – by the way: nos anos mais recentes, o Graca Campos quis publicar
o “A Proposito de Patriotas” e tentou “orquestrar” um “fogo cruzado” no
SA entre mim e o SJ ‘a volta daquele artigo, mas eu declinei –, e, nos
ultimos meses, aqui no FB.
Pelo meio, ficaram as varias
tentativas por parte de gente “metida” nessa tristemente celebre
“campanha” de nos colocar “em rota de colisao”. E o proprio SJ tambem
nao deixou de me dar razoes para voltar a “colidir” com ele… Mas o facto
e’ que eu nao tenho muito geito, nem tempo, para “discutir razoes que
certos egos desconhecem” e fiz-lhe um convite de “amizade” aqui no FB,
que ele aceitou, ate’ que… acabei por “unfriend him”, tal como o fiz com
alguns outros “personagens” que por aqui pululavam aparentemente apenas
por eu os ter convidado...
Posto isto, voltemos ao
“discurso” (leia-se “lip service”, a.k.a. "self-serving demagogic
opportunism" - tornado mais do que obvio pelo facto de apenas ter
comecado a ser "produzido" depois da minha recente serie sobre "sexismo,
misoginia e racismo!" …) em epigrafe e ao titulo que dei a este post:
“Porque que essa gente nunca mais aprende?!”
Quem me
conheca minimamente, tera’ reparado que, de ha’ uns tempos a esta parte,
e sobretudo desde que essa tal de “tristemente celebre campanha” se
comecou a manifestar na imprensa e se foi propagando a varios circulos
da sociedade angolana, entre os quais alguns que tinha, pelo menos ate’
cerca de tres anos atras, como “proximos”, deixei de ter muitos ‘qualms’
em abordar frontalmente certas questoes (e com elas certas pessoas que a
elas se “empoleiram”) que noutros tempos, quando eu era a “miuda
bonitinha, simpatica, cordata e compreensiva” para com ‘todo o mundo’,
normalmente deixaria, ‘at my own peril’, no ‘backburner’… But... no more
"nice girl" here!...
No entanto, porque o “ponto previo” ja’ levou demasiado do meu tempo e espaco para esta “cronica”, direi apenas o seguinte:
1.
Quem se pretende “etnologa e/ou antropologa” devera’ saber que a etica e
a deontologia da sua profissao o/a impedem de “falar pela/o outra/o” –
a “senhora” nao e’ angolana, nao nasceu, nao cresceu e pouco viveu em
Angola: com que “direito” se sente de falar em "nos e os outros" e “em
nome das mulheres angolanas”, sendo que nao e' a primeira vez que o
faz?! Especialmente quando, no espaco em que debitou tal “discurso
verborreico”, ha’ mulheres angolanas a participar e que poderao faze-lo
por si proprias. Nao o fazem? Provavelmente. Mas isso nao lhe concede
qualquer direito de se arvorar em sua “porta-voz”... Certamente nao
minha!
2. Quem se pretende “Mulher” com maiuscula, e ainda
por cima “feminista”, nao se permite indulgir, nem “a brincar” (...hi
hi hi hi...) , no tipo de comportamentos (viz. "querido, intocavel,
macho dinamico de barba dura"...) por si protagonizados nesse mesmo
espaco e “observados”, apenas para citar estes, nestes posts:
http://koluki.blogspot.co.uk/2012/05/kwizz.html
http://koluki.blogspot.co.uk/2012/06/do-bbbb.html
http://koluki.blogspot.co.uk/2012/06/in-civilidades.html
http://koluki.blogspot.co.uk/2012/03/reality-bites.html
http://koluki.blogspot.co.uk/2012/05/o-meu-27-de-maio.html
http://koluki.blogspot.co.uk/2012/07/malcolm-x-e-os-white-liberals.html
http://koluki.blogspot.co.uk/2012/07/sobre-o-massacre-da-vila-alice.html
http://koluki.blogspot.co.uk/2012/07/who-is-this-guy.html
http://koluki.blogspot.co.uk/p/falando-de-misoginia-i.html
http://koluki.blogspot.co.uk/p/falando-de-misoginia-ii.html
http://koluki.blogspot.co.uk/p/falando-de-misoginia-iii.html
http://koluki.blogspot.co.uk/2012/08/falando-de-misoginia.html
E,
ja' agora, meta na sua cabecinha de uma vez por todas o seguinte: eu
nao estou, nunca estive, "em competicao em nenhum mercado sentimental ou
sexual" - certamente nao consigo!
3. Nao," minha
senhora", as “mulheres angolanas” nao andam, nunca andaram, meramente a
“tentar emular” a “modernidade” das “mulheres ocidentais” – certamente
nao a sua!...E, seguramente, nao na mesma medida em que as "mulheres
brancas ocidentais" de que voce e' um triste exemplar, tentam a qualquer
preco imitar (nao verdade deturpar!) a feminilidade, sensualidade e
sexualidade das "mulheres negras angolanas/africanas"!... Talvez as suas
amigas "coconuts - maes da negritude branca pos-colonial" a tenham
deixado com essa impressao, mas... enganam-se todas redondamente!
As
("basicas"?) “mulheres angolanas” que, como eu, “cuidam, educam e
sustentam os filhos sem nunca deixarem de trabalhar, que estão em
profissões tradicionalmente masculinas e lutam pela igualdade”,
estariam “muito bem tramadas” (!) se tentassem “imitar” a sua
“modernidade” e suposto “vanguardismo de esquerda” de “mulher(zinha)
branca (ocidental) da classe média” ou, melhor dito de uma "sorry excuse
for a woman"!
Tenho dito.
P.S. 1: A Dambisa Moyo tambem usa “extensoes brasileiras”…
P.S.
2: Sugiro ao SJ que tente ponderar nesta "hipotese explicativa" para a
mulher angolana/africana poder "não está(r) contente com o que é, tem
que ter um determinado aspecto, tem de ir ao Brasil arranjar o nariz e a
barriga": ao ver tanto homem angolano/africano a "preferir", real ou
idealmente, mulheres brancas (... como umas certas Julies, Elkes,
Margaridas, etc. etc. etc.), ela talvez tenha "metido na cabeca" que se
nao tiver o mesmo "aspecto" que elas, nunca sera' "amada" por nenhum
dos seus "brothers"!... E, ja' agora, sera' que os tais "brothers"
pensam realmente na "solidez da mulher" quando "escolhem" tais mulheres
brancas?... Se sim, porque sera' que muitos deles, como o proprio SJ,
acabam por, senao casar-se, adoptar como "segunda mulher" uma Mulher
Negra?!
Isso por um lado, e especificamente no que toca aos "cabelos" e, nos casos mais extremos, ao "clareamento" da pele.
Por
outro lado, ha' mulheres de uma certa idade (especialmente num pais
onde ha', pelo menos ate' prova em contrario, mais mulheres do que
homens e "riqueza pornografica"), cujos maridos preferem as chamadas
"catorzinhas" (... nao, nao sao estas que sao "predadoras" e que "se
vendem" por "meia duzia de patacos furados" ou um "credito de
telemovel", nao: eles e' que preferem "carne fresca"!...) especialmente
quando as suas "mulheres de casa" ja' tiveram varios filhos e comecam a
ficar "flacidas" e "desmazeladas" (ou, para usar as palavras do BBBB, no seu blog ha' uns tempos atras, "perdem a qualidade")... Sao estas mulheres que, com medo de perderem os seus "queridos, intocaveis, machos dinamicos de barba dura", quando
podem, nao pensam duas vezes para, mesmo incorrendo em risco de vida,
irem "recauchutar" os seus "bits and pieces" ao Brasil ou, ja' agora, 'a
Africa do Sul e outros paises especializados nesse tipo de "efeitos
especiais"!...
P.S. 3: Quanto ‘a “socializacao” dos filhos
de “maes solteiras”, por opcao ou por qualquer outra razao, remeto-os
especialmente para tres posts:
i) este: http://koluki.blogspot.co.uk/2011/10/de-volta-muxima.html – que dispensa comentarios a esse respeito
ii)
este:
http://koluki.blogspot.co.uk/2008/07/ecos-da-imprensa-angolana-16.html –
em que faco um comentario relacionado com estas questoes, motivado por
um artigo de SJ
iii) este:
http://koluki2.blogspot.co.uk/2011/09/re-reflectindo.html – sobre a
imagem do Yinka Shonibare que o ilustra, “Dysfunctional Family”, que
nesta pagina postei ha’ umas semanas, escrevi isto em resposta a um meu
amigo aqui:
My own understanding of Yinka's idea of his series on
"dysfunctionalities", which includes this one, is that what we normally
take for granted as "normal" (e.g. the average 2-kids family) may
actually be "dysfunctional", whereas what is generally thought of as
such (e.g. the many one-parent families) can in reality be "normal" and
"functional"...
E a mulher africana, entre a cultura e o novo mundo?
Ela
agora tem vida nocturna, bebe, namora… Há evolução. Mas o que me
inquieta é o desmembramento da família. Há as que querem ter filhos e
manter a sua independência, mas isso depois tem consequências nos
filhos. Qual será a socialização desses filhos? E que tipo de sociedade
estamos a construir? Há a evolução da mulher, que é positivo. Estão no
mundo académico, etc. o que me inquieta é a obsessão pelo frívolo, pelo
material… temos de olhar para as mães que sofreram. Vejamos a história
dos nacionalistas angolanos que passaram muito tempo nas prisões, quem
sustentou e educou as famílias foram as mulheres, mas eram mulheres com
outras preocupações, não a busca pelo cabelo brasileiro … a imagem.
Somos muito o produto da educação e relação com as nossas mães, mas se
ela não está contente com o que é, tem que ter um determinado aspecto,
tem de ir ao Brasil arranjar o nariz e a barriga … naqueles tempos o
importante era a solidez da mulher.
[...]
Nós perdemos a
dignidade, não sabemos do nosso potencial, da nossa cultura, da nossa
força perante o mundo. A diáspora vai ajudar a recuperar essa
autoconfiança e a identificar quais são os nossos interesses. A Dambiza
Moyo é uma intelectual que trabalhou para o Goldman Sach, trabalhou
para vários bancos e vai comentando, em circuitos mais elevados, sobre
África.
[Sousa Jamba, aqui]
Margarida
Paredes: Parabéns Sousa Jamba! Gosto da maneira como questiona o mundo
que o rodeia, a entrevista está cheia de interrogações e gosto das
ligações que faz entre "nós" e os "outros". Apenas tropeça quando fala
da mulher angolana, as masculinidades dos homens angolanos são muito
complicadas e Sousa Jamba é um conservador... que fala da socialização
dos filhos de uma mulher independente como um problema e como se a
socialização dependesse apenas da mulher, o pai esse pode ser
idendendente, pode seguir em frente, não é SJ? :) O interessante é que
na maior parte das famílias angolanas são as mães que cuidam, educam e
sustentam os filhos sem nunca deixarem de trabalhar! Sousa Jamba devia
ter apontado o dedo aos homens, e não às mulheres! Quanto à frivolidade
ou ao investimento que as mulheres fazem na imagem talvez elas estejam a
dizer: - o que a mulher ocidental pode, nós podemos! a modernidade não é
só para as mulheres brancas da classe média! Pois é a mulher angolana
está no centro dos discursos da modernidade, muitas pertencem a
associações de mulheres, reivindicam-se como feministas, estão em
profissões tradicionalmente masculinas, lutam pela igualdade e Sousa
Jamba não vê as lógicas sociais inovadoras das mulheres angolanas por
trás das extensões brasileiras!
(...)
PONTO PREVIO
O
meu artigo “A Proposito de Patriotas: Reflexoes sobre como Reconstruir
Angoleme”, publicado em 1990/91 na revista portuguesa “Vertice”,
constituiu uma analise critica do livro “Patriotas” de Sousa Jamba e uma
reflexao sobre questoes ‘a volta da historia, democracia, cidadania,
identidade e, sobretudo, do genero, em Angola. Sobre este ultimo, o
artigo ficou particularmente marcado por uma critica algo ‘mordaz’ ‘a
forma como as mulheres angolanas eram retratadas naquele livro – o que,
devo nota-lo, nao tera’ sido “totalmente alheio” ao facto de Sousa Jamba
na altura namorar com uma mulher branca inglesa, a celebre Julie que
"lhe lia Shakespeare para o adormecer", que ele tornou “famosa” atraves
das suas cronicas de entao para o semanario portugues “O Independente”.
Antes
de o publicar – e porque nele levantava questoes sobre as quais me
sentia um pouco em “terreno movedico”, por ter claramente a nocao de
nunca terem sido antes levantadas (certamente nao nos termos em que o
fiz naquele artigo) na literatura, ou na imprensa, angolana ou
portuguesa –, enviei o seu ‘draft’ a varias pessoas conhecidas, entre
angolanos e portugueses, nos meios culturais e literarios em Lisboa,
incluindo a uma certa “mae da negritude branca pos-colonial”,
pedindo-lhes as suas opinioes, criticas e sugestoes.
De
todos eles, as unicas pessoas que se dignaram pegar no telefone para
partilhar comigo os seus pontos de vista foram a Ana Mafalda Leite e… o
Sousa Jamba, a quem eu tambem enviara o ‘draft’ e que me telefonou
expressamente de Londres (se a minha memoria daquele periodo nao me
atraicoa) para Lisboa, para me dizer basicamente algo como: “It’s ok, if
that’s your opinion – by the way, an inteligent opinion – I’m fine with
it”…
O artigo acabou por ser publicado sem grandes
alteracoes ao ‘draft’ e, anos depois, vi-me transportada “aos
trambolhoes” para Londres. Dentre os angolanos, fora da minha familia,
aqui residentes na altura, que me tentaram contactar pouco depois da
minha chegada, registo, com o devido agradecimento, os nomes de Joao
Vandunem e de… Sousa Jamba. Infelizmente, com o Joao Vandunem o contacto
nunca se chegou a efectivar (… embora nao me tenha esquecido daquele
dia em que, alguns anos depois, quando eu estava a fazer o mestrado na
LSE, ele, que trabalhava na BBC Africa mesmo ali ‘a frente, ter passado
pelo ‘post office’ ao lado da LSE em que eu me encontrava ‘minding my
own business’, ter voltado para tras, espreitado e… seguido o seu
caminho. Um pouco como quando nos encontramos ha’ 3 anos no aeroporto 4
de Fevereiro, eu vinda da Africa do Sul e ele creio que de Lisboa e…
seguimos cada um o seu destino…).
Mas, com o SJ o encontro
efectivou-se: ele esteve em minha casa e convidou-me para sair uma vez
(algo que mencionei num comentario no meu blog aqui ha’ uns anos e que
depois achei por bem retirar) em que me levou a conhecer um pouco da
“Afrika in London”. Conversamos e encontramo-nos uma ou duas outras
vezes depois disso, uma das quais numa 'panel discussion' sobre Angola
no Africa Centre em Covent Garden (e aqui devo mencionar um outro
angolano com quem me cruzei em Londres e que, com o SJ, foi um dos
panelistas naquele debate, o Manuel dos Santos Junior, meu antigo colega
na UAN e na altura a fazer o doutoramento na Universidade de York e que
tambem me telefonou algumas vezes e me enviou um belo postal de Natal
no final daquele ano), mas acabamos tambem por seguir cada um o seu
caminho… Ate’ que nos voltamos a “cruzar” atraves do Semanario Angolense
(SA) – by the way: nos anos mais recentes, o Graca Campos quis publicar
o “A Proposito de Patriotas” e tentou “orquestrar” um “fogo cruzado” no
SA entre mim e o SJ ‘a volta daquele artigo, mas eu declinei –, e, nos
ultimos meses, aqui no FB.
Pelo meio, ficaram as varias
tentativas por parte de gente “metida” nessa tristemente celebre
“campanha” de nos colocar “em rota de colisao”. E o proprio SJ tambem
nao deixou de me dar razoes para voltar a “colidir” com ele… Mas o facto
e’ que eu nao tenho muito geito, nem tempo, para “discutir razoes que
certos egos desconhecem” e fiz-lhe um convite de “amizade” aqui no FB,
que ele aceitou, ate’ que… acabei por “unfriend him”, tal como o fiz com
alguns outros “personagens” que por aqui pululavam aparentemente apenas
por eu os ter convidado...
Posto isto, voltemos ao
“discurso” (leia-se “lip service”, a.k.a. "self-serving demagogic
opportunism" - tornado mais do que obvio pelo facto de apenas ter
comecado a ser "produzido" depois da minha recente serie sobre "sexismo,
misoginia e racismo!" …) em epigrafe e ao titulo que dei a este post:
“Porque que essa gente nunca mais aprende?!”
Quem me
conheca minimamente, tera’ reparado que, de ha’ uns tempos a esta parte,
e sobretudo desde que essa tal de “tristemente celebre campanha” se
comecou a manifestar na imprensa e se foi propagando a varios circulos
da sociedade angolana, entre os quais alguns que tinha, pelo menos ate’
cerca de tres anos atras, como “proximos”, deixei de ter muitos ‘qualms’
em abordar frontalmente certas questoes (e com elas certas pessoas que a
elas se “empoleiram”) que noutros tempos, quando eu era a “miuda
bonitinha, simpatica, cordata e compreensiva” para com ‘todo o mundo’,
normalmente deixaria, ‘at my own peril’, no ‘backburner’… But... no more
"nice girl" here!...
No entanto, porque o “ponto previo” ja’ levou demasiado do meu tempo e espaco para esta “cronica”, direi apenas o seguinte:
1.
Quem se pretende “etnologa e/ou antropologa” devera’ saber que a etica e
a deontologia da sua profissao o/a impedem de “falar pela/o outra/o” –
a “senhora” nao e’ angolana, nao nasceu, nao cresceu e pouco viveu em
Angola: com que “direito” se sente de falar em "nos e os outros" e “em
nome das mulheres angolanas”, sendo que nao e' a primeira vez que o
faz?! Especialmente quando, no espaco em que debitou tal “discurso
verborreico”, ha’ mulheres angolanas a participar e que poderao faze-lo
por si proprias. Nao o fazem? Provavelmente. Mas isso nao lhe concede
qualquer direito de se arvorar em sua “porta-voz”... Certamente nao
minha!
2. Quem se pretende “Mulher” com maiuscula, e ainda
por cima “feminista”, nao se permite indulgir, nem “a brincar” (...hi
hi hi hi...) , no tipo de comportamentos (viz. "querido, intocavel,
macho dinamico de barba dura"...) por si protagonizados nesse mesmo
espaco e “observados”, apenas para citar estes, nestes posts:
http://koluki.blogspot.co.uk/2012/05/kwizz.html
http://koluki.blogspot.co.uk/2012/06/do-bbbb.html
http://koluki.blogspot.co.uk/2012/06/in-civilidades.html
http://koluki.blogspot.co.uk/2012/03/reality-bites.html
http://koluki.blogspot.co.uk/2012/05/o-meu-27-de-maio.html
http://koluki.blogspot.co.uk/2012/07/malcolm-x-e-os-white-liberals.html
http://koluki.blogspot.co.uk/2012/07/sobre-o-massacre-da-vila-alice.html
http://koluki.blogspot.co.uk/2012/07/who-is-this-guy.html
http://koluki.blogspot.co.uk/p/falando-de-misoginia-i.html
http://koluki.blogspot.co.uk/p/falando-de-misoginia-ii.html
http://koluki.blogspot.co.uk/p/falando-de-misoginia-iii.html
http://koluki.blogspot.co.uk/2012/08/falando-de-misoginia.html
E,
ja' agora, meta na sua cabecinha de uma vez por todas o seguinte: eu
nao estou, nunca estive, "em competicao em nenhum mercado sentimental ou
sexual" - certamente nao consigo!
3. Nao," minha
senhora", as “mulheres angolanas” nao andam, nunca andaram, meramente a
“tentar emular” a “modernidade” das “mulheres ocidentais” – certamente
nao a sua!...E, seguramente, nao na mesma medida em que as "mulheres
brancas ocidentais" de que voce e' um triste exemplar, tentam a qualquer
preco imitar (nao verdade deturpar!) a feminilidade, sensualidade e
sexualidade das "mulheres negras angolanas/africanas"!... Talvez as suas
amigas "coconuts - maes da negritude branca pos-colonial" a tenham
deixado com essa impressao, mas... enganam-se todas redondamente!
As
("basicas"?) “mulheres angolanas” que, como eu, “cuidam, educam e
sustentam os filhos sem nunca deixarem de trabalhar, que estão em
profissões tradicionalmente masculinas e lutam pela igualdade”,
estariam “muito bem tramadas” (!) se tentassem “imitar” a sua
“modernidade” e suposto “vanguardismo de esquerda” de “mulher(zinha)
branca (ocidental) da classe média” ou, melhor dito de uma "sorry excuse
for a woman"!
Tenho dito.
P.S. 1: A Dambisa Moyo tambem usa “extensoes brasileiras”…
P.S.
2: Sugiro ao SJ que tente ponderar nesta "hipotese explicativa" para a
mulher angolana/africana poder "não está(r) contente com o que é, tem
que ter um determinado aspecto, tem de ir ao Brasil arranjar o nariz e a
barriga": ao ver tanto homem angolano/africano a "preferir", real ou
idealmente, mulheres brancas (... como umas certas Julies, Elkes,
Margaridas, etc. etc. etc.), ela talvez tenha "metido na cabeca" que se
nao tiver o mesmo "aspecto" que elas, nunca sera' "amada" por nenhum
dos seus "brothers"!... E, ja' agora, sera' que os tais "brothers"
pensam realmente na "solidez da mulher" quando "escolhem" tais mulheres
brancas?... Se sim, porque sera' que muitos deles, como o proprio SJ,
acabam por, senao casar-se, adoptar como "segunda mulher" uma Mulher
Negra?!
Isso por um lado, e especificamente no que toca aos "cabelos" e, nos casos mais extremos, ao "clareamento" da pele.
Por
outro lado, ha' mulheres de uma certa idade (especialmente num pais
onde ha', pelo menos ate' prova em contrario, mais mulheres do que
homens e "riqueza pornografica"), cujos maridos preferem as chamadas
"catorzinhas" (... nao, nao sao estas que sao "predadoras" e que "se
vendem" por "meia duzia de patacos furados" ou um "credito de
telemovel", nao: eles e' que preferem "carne fresca"!...) especialmente
quando as suas "mulheres de casa" ja' tiveram varios filhos e comecam a
ficar "flacidas" e "desmazeladas" (ou, para usar as palavras do BBBB, no seu blog ha' uns tempos atras, "perdem a qualidade")... Sao estas mulheres que, com medo de perderem os seus "queridos, intocaveis, machos dinamicos de barba dura", quando
podem, nao pensam duas vezes para, mesmo incorrendo em risco de vida,
irem "recauchutar" os seus "bits and pieces" ao Brasil ou, ja' agora, 'a
Africa do Sul e outros paises especializados nesse tipo de "efeitos
especiais"!...
P.S. 3: Quanto ‘a “socializacao” dos filhos
de “maes solteiras”, por opcao ou por qualquer outra razao, remeto-os
especialmente para tres posts:
i) este: http://koluki.blogspot.co.uk/2011/10/de-volta-muxima.html – que dispensa comentarios a esse respeito
ii)
este:
http://koluki.blogspot.co.uk/2008/07/ecos-da-imprensa-angolana-16.html –
em que faco um comentario relacionado com estas questoes, motivado por
um artigo de SJ
iii) este:
http://koluki2.blogspot.co.uk/2011/09/re-reflectindo.html – sobre a
imagem do Yinka Shonibare que o ilustra, “Dysfunctional Family”, que
nesta pagina postei ha’ umas semanas, escrevi isto em resposta a um meu
amigo aqui: My own understanding of Yinka's idea of his series on
"dysfunctionalities", which includes this one, is that what we normally
take for granted as "normal" (e.g. the average 2-kids family) may
actually be "dysfunctional", whereas what is generally thought of as
such (e.g. the many one-parent families) can in reality be "normal" and
"functional"...