Saturday 8 September 2007

SALA SENTLÊ! - UM TRIBUTO AO BOTSWANA*

É verdade amigos, tenho que me despedir. Escrevo-vos de Gaborone, onde as tarefas que me esperam nos próximos tempos não me permitem continuar estas conversas quinzenais. Não posso deixar de agradecer ao Graça Campos por me ter convidado a participar e ao colectivo do Semanário Angolense por me ter deixado partilhar um pouco desta excitante empresa de construção de um espaço alternativo, forte e independente na imprensa nacional. Tenho também que agradecer profundamente a todos os amigos (conhecidos e desconhecidos) que me enviaram mensagens de felicitações e encorajamento. Estou certa de que este valioso espaço no SA será bem aproveitado e continuará a dar oportunidade a outros para expressarem as suas idéias sobre o que vai pela terra e pelo mundo.




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Mama Boregwe - Skizo (Afroblue/Native Tongues)

Deixei Londres, há cerca de três semanas, entregue à sua onda de greves e ao seu Tony Blair a tentar emular o machismo da Lady Thatcher e, ao mesmo tempo, articular uma boa razão para dispender na projectada guerra ao Iraque os fundos necessários à melhoria dos seus serviços públicos; aos seus muitos, quase diários, “celebrity and royal scandals”; à sua chuva miudinha e tempo cinzento e àquela sensação de estarmos parados no espaço, escrutinando o mundo a girar à nossa volta e o tempo a fugir de nós a toda a hora.


Neste meu regresso a Gabs, alguns meses depois de cá ter estado a trabalhar durante pouco mais de um ano, noto que ela continua a impressionar quem chega pela sua limpeza, cosmopolitismo e espírito empreendedor. Perdi a explosão púrpura dos jacarandás (diz-nos Alice Walker que Deus fica muito irritado – pior, fica “pissed off” – se a humanidade não repara na cor púrpura) que todos os Setembros prenuncia o início da época das chuvas, mas o vermelho das acácias e a profusão de cores das buganvílias continuam o seu perene, despudorado, romance com o dourado do sol. O imenso calor tende a fazer recolher os habitantes a espaços interiores durante a maior parte do tempo, deixando o exterior entregue quase exclusivamente a uma imensa variedade de répteis e insectos (que não perdem uma oportunidade para nos entrar pela casa adentro) e ao som do silêncio ou dos pássaros.




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Sombele - Skizo (Afroblue/Native Tongues)

Os Batswana continuam demasiado ocupados a dar à Àfrica algumas das suas poucas razões de orgulho para se permitirem desenvolver quaisquer complexos (muito menos o de “colonizado”, o que quer que seja que isso signifique). Embora esteja convencida de que ao Motswana médio escapará a relevância, ou mesmo o significado, que este tipo de questões assume em Angola, acredito que qualquer deles subscreverá a idéia de que muito mal está um país quando a mera sugestão da importância de uma clara definição de uma identidade cultural nacional, não necessáriamente tributária da situação política colonial, atrai sobre quem se atreva a fazê-lo a rasteira acusação de ser “complexado(a)”.

Aliás, suspeito que se Freud estivesse vivo, dedicaria o resto da sua vida à reinvenção total da Psicanálise, por forma a nela acomodar a vacuidade que a palavra “complexos” (sem qualquer indicação de em relação a quê, ou sobre se de inferioridade, de superioridade, de Édipo, ou de Electra…) parece ter assumido no léxico de alguns sectores da nossa sociedade.

Numa conjuntura histórica em que práticamente todos os sectores acadêmicos, técnicos e intelectuais internacionais começam a dar cada vez mais peso a factores culturais endógenos como variáveis explicativas de experiências de desenvolvimento sustentado em todo o mundo, o Botswana emerge como um “caso especial”: estamos perante um povo que construiu a sua cidade capital práticamente a partir do zero (Gaborone, que significa “nossa casa”, só começou a ser construída um ano antes da independência, obtida em 1966, quando o país já se encontrava sob um regime de auto-determinação); um povo que, a par do Inglês e de outras línguas locais, fala e escreve o seu principal idioma nacional, Setswana, em todas as instâncias da sua vida privada, social e profissional - desde os aviões da companhia aérea nacional, aos aeroportos, aos sinais de trânsito, aos painéis de publicidade, aos meios de comunicação social, às escolas e faculdades, ao parlamento, aos tribunais, às empresas, ou aos bancos.




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Fire - Wizards of the Desert (Khoisan Aristocracy)

Estamos perante um país cujo modo de governo é baseado no tradicional sistema de “Kgotla”, em que a autoridade suprema é investida numa legislatura que, compreendendo a Assembléia Nacional e o Presidente, age em mandatória consultação com a “Câmara dos Chefes Tradicionais”, a qual supervisiona e decide sobre todos os aspectos da acção governativa que afectem os valores, costumes e tradições nacionais. O próprio conceito de desenvolvimento inclusivo e harmonia social, “Kagisano”, que norteia a sua estratégia económica é derivado da cultura nacional - dele emanam os princípios de democracia, auto-suficiência e unidade que servem de contexto geral para a definição dos objectivos da nação.


Estamos perante um país que pôs no centro do seu programa de diversificação económica e desenvolvimento industrial o “empowerment” dos seus cidadãos, através de programas concretos, fundos específicos e mecanismos institucionais que promovem a sua efectiva implementação e o desenvolvimento de uma classe empresarial nacional em todos os sectores da economia, tendo-se o governo compromotido a estender as suas preferências a consultores nacionais e a comprar acções em empresas de proprietários locais que estejam a enfrentar dificuldades financeiras; um país cujo código de investimento estrangeiro estipula, por exemplo, que as empresas estrangeiras que envolvam accionistas locais podem beneficiar de uma diminuição do mínimo investimento que lhes é exigido para metade, ou um terço, dependendo do sector em que queiram investir, sendo que em alguns sectores as empresas estrangeiras são obrigadas a sub-contratar empresas locais, enquanto o governo se dispõe a reembolsar 50% dos custos de formação dos empregados locais e a pagar um montante entre 40 e 85%, dependendo da localização da empresa numa área urbana ou rural, dos custos de cada posto de trabalho criado na indústria manufactureira.




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Mama - Wizards of the Desert (Khoisan Aristocracy)


Perante tudo isso, não será certamente de espantar, especialmente aos olhos dos países ocidentais, que basearam as suas estratégias de crescimento económico nos direitos dos seus cidadãos e nas suas culturas e valores tradicionais (e que talvez partilhem com certos segmentos das elites urbanas angolanas um perfeito entendimento da importância fulcral da língua e da cultura como instrumentos de poder e dominação, bem como um indisfarçável nervosismo à simples menção do conceito de “identidade africana”), que o Botswana seja: o país com as taxas de crescimento mais impressivas e consistentes em África (cerca de 9% p.a. ao longo das últimas três décadas) e comparáveis às de “tigres asiáticos” como a Tailândia e a Coreia do Sul; o país com uma das políticas de combate ao SIDA mais coerentes e agressivas na região (a taxa de incidência sobre o seu comparativamente diminuto agregado populacional tem afectado negativamente o seu índice de desenvolvimento humano e constitui a maior ameaça ao futuro do país); o segundo país mais competitivo da SADC, depois das Maurícias; o país com as taxas de corrupção mais baixas em África e com uma melhor reputação nessa área do que países como França, Itália, Grécia ou Portugal; o país com taxas de juro reais comparáveis às dos principais mercados mundiais de capitais e até superiores, durante vários períodos, às do UK, EUA e África do Sul; ou o país com as melhores posições em África em termos de robustez económica e solvabilidade, acima da África do Sul ou de países como a Coreia do Sul e a Malásia.




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Ba Ntatola Ke Tshela - Franco (Ba Ntatola)

Complexo de colonizado? Definitivamente, esse é um conceito que não existe em nenhuma das línguas nacionais deste povo, mestre da estética da alma: pacato e de uma tocante cortezia e humildade, mas confiante, orgulhoso, soberano e internacionalmente respeitado. Despeço-me em Setswana: Sala Sentlê! (Fiquem Bem, na língua de Camões; Stay Well, na língua de Shakespeare).

P.S.: E que viva para sempre a memória da rainha NZinga – um dos expoentes maiores da nacionalidade Angolana!




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Issa - Franco (Ba Ntatola)


{*Cronica por mim publicada no SA ha' 5 anos (a ultima da serie “Factos e Ficcoes"). Foi parcialmente em resposta a um outro colunista do mesmo semanario que, embora nao citando o meu nome, mas de forma suficientemente directa e inequivoca, me acusava de ter "complexos de colonizado", ao mesmo tempo que invectivava contra a estatua da Rainha Nzinga…}




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Ma Africa - Franco (Ba Ntatola)



***
About the songs: these are some of the songs on Botswana airwaves’ top-10 in the last few years, with Franco invariably at number 1, lately closely followed by the Wizards. Except for ‘Mama Boregwe’, which conveys the sounds and voices of the Kalahari, with these choices I wanted to highlight a very interesting phenomenon in the country’s music trends, which can also be observed in almost all Sub-Saharan African countries these days: the adoption of Congolese sounds (soukous, rumba and that wild mix generally known as kwassa-kwassa), be it through remixes/covers – as in ‘Sombele’ or ‘Mama’ (remember Congolese Franco’s ‘Mario’?) or ‘legitimate appropriation’ – as in almost all Motswana Franco’s (Frank Lesokwane) music and his adopted name. The contagion is of such order that when I left the country about 2 years ago there was a public discussion going on whether the genre should be adopted as Botswana’s “national music”.


É verdade amigos, tenho que me despedir. Escrevo-vos de Gaborone, onde as tarefas que me esperam nos próximos tempos não me permitem continuar estas conversas quinzenais. Não posso deixar de agradecer ao Graça Campos por me ter convidado a participar e ao colectivo do Semanário Angolense por me ter deixado partilhar um pouco desta excitante empresa de construção de um espaço alternativo, forte e independente na imprensa nacional. Tenho também que agradecer profundamente a todos os amigos (conhecidos e desconhecidos) que me enviaram mensagens de felicitações e encorajamento. Estou certa de que este valioso espaço no SA será bem aproveitado e continuará a dar oportunidade a outros para expressarem as suas idéias sobre o que vai pela terra e pelo mundo.




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Mama Boregwe - Skizo (Afroblue/Native Tongues)

Deixei Londres, há cerca de três semanas, entregue à sua onda de greves e ao seu Tony Blair a tentar emular o machismo da Lady Thatcher e, ao mesmo tempo, articular uma boa razão para dispender na projectada guerra ao Iraque os fundos necessários à melhoria dos seus serviços públicos; aos seus muitos, quase diários, “celebrity and royal scandals”; à sua chuva miudinha e tempo cinzento e àquela sensação de estarmos parados no espaço, escrutinando o mundo a girar à nossa volta e o tempo a fugir de nós a toda a hora.


Neste meu regresso a Gabs, alguns meses depois de cá ter estado a trabalhar durante pouco mais de um ano, noto que ela continua a impressionar quem chega pela sua limpeza, cosmopolitismo e espírito empreendedor. Perdi a explosão púrpura dos jacarandás (diz-nos Alice Walker que Deus fica muito irritado – pior, fica “pissed off” – se a humanidade não repara na cor púrpura) que todos os Setembros prenuncia o início da época das chuvas, mas o vermelho das acácias e a profusão de cores das buganvílias continuam o seu perene, despudorado, romance com o dourado do sol. O imenso calor tende a fazer recolher os habitantes a espaços interiores durante a maior parte do tempo, deixando o exterior entregue quase exclusivamente a uma imensa variedade de répteis e insectos (que não perdem uma oportunidade para nos entrar pela casa adentro) e ao som do silêncio ou dos pássaros.




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Os Batswana continuam demasiado ocupados a dar à Àfrica algumas das suas poucas razões de orgulho para se permitirem desenvolver quaisquer complexos (muito menos o de “colonizado”, o que quer que seja que isso signifique). Embora esteja convencida de que ao Motswana médio escapará a relevância, ou mesmo o significado, que este tipo de questões assume em Angola, acredito que qualquer deles subscreverá a idéia de que muito mal está um país quando a mera sugestão da importância de uma clara definição de uma identidade cultural nacional, não necessáriamente tributária da situação política colonial, atrai sobre quem se atreva a fazê-lo a rasteira acusação de ser “complexado(a)”.

Aliás, suspeito que se Freud estivesse vivo, dedicaria o resto da sua vida à reinvenção total da Psicanálise, por forma a nela acomodar a vacuidade que a palavra “complexos” (sem qualquer indicação de em relação a quê, ou sobre se de inferioridade, de superioridade, de Édipo, ou de Electra…) parece ter assumido no léxico de alguns sectores da nossa sociedade.

Numa conjuntura histórica em que práticamente todos os sectores acadêmicos, técnicos e intelectuais internacionais começam a dar cada vez mais peso a factores culturais endógenos como variáveis explicativas de experiências de desenvolvimento sustentado em todo o mundo, o Botswana emerge como um “caso especial”: estamos perante um povo que construiu a sua cidade capital práticamente a partir do zero (Gaborone, que significa “nossa casa”, só começou a ser construída um ano antes da independência, obtida em 1966, quando o país já se encontrava sob um regime de auto-determinação); um povo que, a par do Inglês e de outras línguas locais, fala e escreve o seu principal idioma nacional, Setswana, em todas as instâncias da sua vida privada, social e profissional - desde os aviões da companhia aérea nacional, aos aeroportos, aos sinais de trânsito, aos painéis de publicidade, aos meios de comunicação social, às escolas e faculdades, ao parlamento, aos tribunais, às empresas, ou aos bancos.




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Estamos perante um país que pôs no centro do seu programa de diversificação económica e desenvolvimento industrial o “empowerment” dos seus cidadãos, através de programas concretos, fundos específicos e mecanismos institucionais que promovem a sua efectiva implementação e o desenvolvimento de uma classe empresarial nacional em todos os sectores da economia, tendo-se o governo compromotido a estender as suas preferências a consultores nacionais e a comprar acções em empresas de proprietários locais que estejam a enfrentar dificuldades financeiras; um país cujo código de investimento estrangeiro estipula, por exemplo, que as empresas estrangeiras que envolvam accionistas locais podem beneficiar de uma diminuição do mínimo investimento que lhes é exigido para metade, ou um terço, dependendo do sector em que queiram investir, sendo que em alguns sectores as empresas estrangeiras são obrigadas a sub-contratar empresas locais, enquanto o governo se dispõe a reembolsar 50% dos custos de formação dos empregados locais e a pagar um montante entre 40 e 85%, dependendo da localização da empresa numa área urbana ou rural, dos custos de cada posto de trabalho criado na indústria manufactureira.




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Perante tudo isso, não será certamente de espantar, especialmente aos olhos dos países ocidentais, que basearam as suas estratégias de crescimento económico nos direitos dos seus cidadãos e nas suas culturas e valores tradicionais (e que talvez partilhem com certos segmentos das elites urbanas angolanas um perfeito entendimento da importância fulcral da língua e da cultura como instrumentos de poder e dominação, bem como um indisfarçável nervosismo à simples menção do conceito de “identidade africana”), que o Botswana seja: o país com as taxas de crescimento mais impressivas e consistentes em África (cerca de 9% p.a. ao longo das últimas três décadas) e comparáveis às de “tigres asiáticos” como a Tailândia e a Coreia do Sul; o país com uma das políticas de combate ao SIDA mais coerentes e agressivas na região (a taxa de incidência sobre o seu comparativamente diminuto agregado populacional tem afectado negativamente o seu índice de desenvolvimento humano e constitui a maior ameaça ao futuro do país); o segundo país mais competitivo da SADC, depois das Maurícias; o país com as taxas de corrupção mais baixas em África e com uma melhor reputação nessa área do que países como França, Itália, Grécia ou Portugal; o país com taxas de juro reais comparáveis às dos principais mercados mundiais de capitais e até superiores, durante vários períodos, às do UK, EUA e África do Sul; ou o país com as melhores posições em África em termos de robustez económica e solvabilidade, acima da África do Sul ou de países como a Coreia do Sul e a Malásia.




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Ba Ntatola Ke Tshela - Franco (Ba Ntatola)

Complexo de colonizado? Definitivamente, esse é um conceito que não existe em nenhuma das línguas nacionais deste povo, mestre da estética da alma: pacato e de uma tocante cortezia e humildade, mas confiante, orgulhoso, soberano e internacionalmente respeitado. Despeço-me em Setswana: Sala Sentlê! (Fiquem Bem, na língua de Camões; Stay Well, na língua de Shakespeare).

P.S.: E que viva para sempre a memória da rainha NZinga – um dos expoentes maiores da nacionalidade Angolana!




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Issa - Franco (Ba Ntatola)


{*Cronica por mim publicada no SA ha' 5 anos (a ultima da serie “Factos e Ficcoes"). Foi parcialmente em resposta a um outro colunista do mesmo semanario que, embora nao citando o meu nome, mas de forma suficientemente directa e inequivoca, me acusava de ter "complexos de colonizado", ao mesmo tempo que invectivava contra a estatua da Rainha Nzinga…}




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Ma Africa - Franco (Ba Ntatola)



***
About the songs: these are some of the songs on Botswana airwaves’ top-10 in the last few years, with Franco invariably at number 1, lately closely followed by the Wizards. Except for ‘Mama Boregwe’, which conveys the sounds and voices of the Kalahari, with these choices I wanted to highlight a very interesting phenomenon in the country’s music trends, which can also be observed in almost all Sub-Saharan African countries these days: the adoption of Congolese sounds (soukous, rumba and that wild mix generally known as kwassa-kwassa), be it through remixes/covers – as in ‘Sombele’ or ‘Mama’ (remember Congolese Franco’s ‘Mario’?) or ‘legitimate appropriation’ – as in almost all Motswana Franco’s (Frank Lesokwane) music and his adopted name. The contagion is of such order that when I left the country about 2 years ago there was a public discussion going on whether the genre should be adopted as Botswana’s “national music”.


10 comments:

Anonymous said...

Muito obrigado por este testemunho. É de exemplos assim que a Africa precisa para se levantar e que nós Africanos na diáspora precisamos conhecer para mantermos a esperança e acreditarmos num futuro melhor para os nossos filhos.

Anonymous said...

Subscrevo as palavras do Canadiano e gostava de ressaltar a belíssima descrição que a Koluki faz da estética da alma – uma verdadeira pérola. Se ao menos na nossa Angola houvesse tanta preocupação com a estética da alma como há com a estética do corpo!
Bjs.

Muadiê Maria said...

Koluki, estou encantada...
Faz pouco tempo assisti a uma bela peça de teatro sobre a história da rainha NZinga.
Viva a rainha!
beijos

Koluki said...

Obrigada Martha.
Viva a Rainha!!!
Bjs.

Koluki said...

Diasporense: muito obrigada!

Canadiano: absolutamente de acordo!

Kandandos!

Anonymous said...

Em primeiro lugar os meus parabéns pelas suas crónicas no SA. Li quase todas quando foram publicadas na altura; esta em particular foi bastante discutida entre os meus colegas da faculdade de economia da UAN, onde na altura estava a terminar o meu curso, porque nos dava um exemplo concreto de conceitos que ali eram ensinados de uma forma muito teórica, como o desenvolvimento endógeno por exemplo. Foi um prazer reler 5 anos depois, porque assim se avalia uma verdadeira crónica, como registo no tempo dos factos correntes. Vemos que as questões que abordava ainda são prementes, especialmente a preocupação que registou quanto a guerra no Iraque que na altura ainda estava para vir e hoje em dia práticamente todo mundo pensa assim. Aprecio também a sua linguagem simples e directa, que facilita o leitor compreender problemas complexos. Ficamos desapontados por esta ter sido de despedida, mas felizmente o espaço que deixou no SA foi logo a seguir preenchido pelo Professor Justino Pinto de Andrade.
Mas aproveito esta oportunidade para lhe pedir um esclarecimento sobre duas questões que gostava de saber melhor sobre o Botswana, nomeadamente como é que são as relações raciais lá e se os Khoisan também estão bem integrados na sociedade; isto porque tenho ouvido que eles são um tanto ou quanto marginalizados.
Muito obrigado e votos de felicidades e sucessos na sua vida pessoal e profissional.

Koluki said...

Kaluanda, bem vinda/o a este espaco e obrigada pelas suas amaveis palavras e o interesse manifestado pelas minhas cronicas.
Sobre as duas questoes que coloca: as relacoes raciais no Botswana sao harmoniosas, principalmente porque, em comparacao com Angola, a miscigenacao, especialmente entre brancos e negros e’ diminuta e nos casos em que existe, porque existe, ela existe geralmente em agregados familiares perfeitamente integrados e estaveis. Ha’ dois exemplos proeminentes: a ‘Attorney General’, que sera’ mais ou menos o equivalente ao ‘Procurador Geral da Republica’ no mundo lusofono, que e’ a primeira mulher a exercer tais funcoes no pais e talvez em toda a Africa, e’ negra casada com um branco e com varios filhos, mesticos obviamente; o segundo homem forte do pais, Ian Khama, bem como os seus irmaos, filhos do primeiro presidente do pais, Seretse Khama, com uma branca Inglesa, sao mesticos. Mas todos eles se identificam como negros, falam perfeita e correntemente o Setswana e teem os mesmos habitos culturais que o resto dos seus concidadaos.
De resto, a maioria dos nao negros sao Indianos ou estrangeiros de outras nacionalidades (ha’ um pequeno nucleo de fazendeiros brancos de origem Boer numa localidade do nordeste do pais, Ganze se estou bem lembrada, que la’ vivem ha’ muitas decadas como uma comunidade um tanto separada – mas essa e’ uma excepcao a regra), mas tambem estes falam Setswana – alias o Botswana e’ o unico pais onde pude observar estrangeiros, incluindo Chineses e Japoneses, a falarem correntemente uma lingua Africana, ou Ingleses a comerem com as maos como o fazem normalmente os nacionais…
Quanto a situacao social dos Khoisan, essa e’ uma questao que ja’ aqui foi bastante discutida, mas diria apenas o seguinte nesta ocasiao: eles constituem de facto uma minoria etnica e cultural no pais, com alguns dos seus nucleos enfrentando dificuldades de integracao dai derivados – estes incluem particularmente os que se encontram localizados no Kalahari Central Game Reserve, ou KCGR, onde alegadamente terao sido colocados pelos Ingleses no tempo colonial para servirem como “atraccao turistica”, que nos ultimos anos estiveram no centro de uma disputa legal com o governo que de la’ os pretendia remover, alegadamente por pretender explorar jazidas de diamantes supostamente la’ existentes.
Digamos que no fim da disputa houve um empate entre as duas partes: os Khoisan que tinham sido removidos ganharam (note-se que com um advogado Motswana) o direito a regressarem ao KCGR e nao ficou incontestavelmente demonstrado que as motivacoes do governo tenham realmente sido as supostas jazidas de diamantes. Uma das leituras da atitude do governo e’ no sentido de que, sob a filosofia nacional do ‘Kagisano’, este foi longe demais nas suas pretensoes de promover a integracao social daquelas comunidades, relocalizando-as em comunidades especialmente construidas para elas, com casas novas e todas as amenidades incluindo agua canalizada, escolas e centros de saude, as quais a maioria dos Khoisan nao se conseguiu adaptar.
Por outro lado, ha um facto indesmentivel (e que se deve a ‘arrogancia ignorante’ de alguns sectores da elite dominante Batswana): os Khoisan, que eles apelidam, com um certo sentido pejorativo, Basarwa, sempre foram tratados por esses sectores como ‘inferiores’ e so’ em tempos recentes comeca a haver uma maior consciencia e mudanca de atitudes geral em relacao a esse problema.
Mas, no limite, a maioria dos Khoisan, tidos por alguns sectores de opiniao como “extintos” ou “arrasados” pelos Bantu, foram ao longo dos seculos “assimilados” nao so’ entre os Tswana, mas tambem entre outras etnias que se tornaram dominantes na regiao (particularmente a Xhosa – notem-se, por exemplo, os tracos fisionomicos de Mandela, e a propria estrutura, pronunciacao e entonacao da lingua Xhosa, uma das principais da Africa do Sul), quer por normal integracao social, ainda que pontualmente em posicoes de subalternidade, quer por miscigenacao racial.
Espero que isto ajude a esclarecer as suas questoes.
Um abraco e iguais votos de felicidades e sucessos profissionais.
E volte sempre!

Anonymous said...

Muito grato pelos esclarecimentos e prometo voltar sempre que poder.
Kandandos!

Anonymous said...

Dumela Mma! Lekai?
Just found your wonderful site and I have to say thanks for this tribute to Bots. Thanks a lot!
I don't understand the words but I don't thing you're saying anything bad about my country, are you?
Well, with the photos and the music you displayed here you couldn't, or could you?
By the way, we love kwassa-kwassa but it ain't our national music. Some talked about it but it didn't go further than that.
Sala Sentlê Mma and keep up the good work!

Koluki said...

Reteng Rra/Mma!
Thanks a lot for taking the time to drop a comment.
Of course I'm not saying anything bad about Bots, how could I?
Thanks also for letting me know the outcome of the debate. In fact I was in Maun earlier this year and didn't hear anything about it.
Sala sentle!