Friday, 16 May 2008

ECOS DA IMPRENSA ANGOLANA (10)

Bom, parece que finalmente foram declaradas treguas na “Maka de 1 Jose’ contra 3 Antonios mais os Mukuaxis”…
Assim sendo, eh-me dada a oportunidade de trazer aqui alguns artigos publicados nas ultimas semanas, que ficaram na gaveta a espera do fim do ‘kibeto’, como por exemplo este, de Bonavena, no Agora:


Não faz muito tempo, o Centro de Estudos e Investigação Cientifica (CEIC) da Universidade Católica de Angola (UCAN) realizou uma conferência sobre a pobreza. O poder como sempre esteve ausente. Alguns intelectuais evitaram aparecer para não serem conotados com um acto que lhes cheirava à subversão. Nessa altura, fomos criticados, por alguns deles, por estar a promover uma conferência sobre a pobreza que era uma evocação negativa, numa altura em que o país estava a crescer a bom ritmo e o discurso oficial triunfalista exacerbava os ganhos do crescimento económico (que diziam que seria de 34%, o maior do mundo, depois tiveram que o rever pela metade) e afirmava que este crescimento, por si só, resolveria o problema da pobreza.
(...)
Agora, que há em vista as eleições 2008 e é preciso dar atenção as formas mais eficazes para caçar votos, a pobreza está na moda do discurso eleitoralista, a pobreza aparece à cabeça da tematização dos discursos políticos. Até mesmo o homem mais rico do país (e chefe de fila da burguesia predadora) não fala mais das muitas "oportunidades de negócios" mas da pobreza, apresentando-a como uma prioridade de governo. Os "negócios" serão feitos na calada da noite enquanto de dia se irá falando da necessidade de "combater e vencer a fome, o subdesenvolvimento" e de "criar condições para o bem-estar dos cidadãos".

[Aqui]

Como muitos, incluindo o proprio, esperavam, Ernesto Bartolomeu foi punido pelas suas declaracoes sobre a TPA, aqui mencionadas na semana passada:

Não se sabe já que consequências haverão para Ernesto Bartolomeu, um dos pivots do telejornal da Tpa, na sequência do processo disciplinar que a direcção da estação lhe moveu por, na sua óptica, ter «quebrado» o sigilo profissional a que estaria obrigado pelas funções que desempenha. Ernesto Bartolomeu disse publicamente mais ou menos que, entre outras coisas, em relação aos partidos políticos, os noticiários daTpa não são feitos com base no que é recolhido pelos jornalistas, mas sim em função do que decidem os editores a partir de «orientações superiores», dirigidas em regra para favorecer o partido «maioritário». Numa palavra: há censura. E isto, para começar, valeu-lhe o inquérito. Não se sabe também o que terá motivado o «Bartolas» a lavar a «roupa suja» da empresa fora de portas, mas que é preciso tê-los no lugar para o que fez, lá isto é. Agora, é só aguentar o resto.

A questao e' tambem analisada no Angolense.

[Aqui]

Finalmente, Sousa Jamba fala (muito mal) do “melhor escritor vivo na lingua inglesa”:

'Naipaul é um sacana'

Como escritor VS Naipaul é uma unanimidade. É inigualável. Já como homem, porém, é visto como um ser desprezível. O escritor, que ganhou o Prémio Nobel de Literatura, já foi descrito como um racista (contra os negros), snobe, cruel e um egoísta da primeira classe. O homem é também tido como um grande mulherengo que, além de ter tido uma amante latino-americana (enquanto a sua esposa inglesa sustentava a casa), nunca parou de visitar prostitutas de todo o género. Os ingleses gostam de biografias – sobretudo de escritores. Em muitos casos, as pessoas preferem ler as biografias dos escritores do que as suas próprias obras. Como alguém já notou, há vezes em que uma abordagem da vida de um escritor é o melhor retrato dos tempos. Neste momento, o mundo das letras anglófono anda obcecado com o primeiro volume da biografia de Naipaul escrita pelo escritor Phillip French, que se tornou famoso por ter recusado uma condecoração da Rainha. Curiosamente, figuro numa das páginas dessa biografia: certa vez Naipaul pôs-me a correr da sua casa quando, a meio de uma entrevista, eu fiz perguntas que o irritaram.
(…)
Entre os anos 50 e 60, VS Naipaul escreveu romances que retratavam a vida nas Caraíbas, para onde os seus avôs indianos tinham sido enviados como trabalhadores contratados. Depois virou as suas atenções para o continente africano sobre o qual escreveu vários livros de viagem assim como romances – todos descrevendo as ilusões, fraquezas e os caos da África pós-colonial. Para Naipaul, que nos anos 60 foi conferente na Universidade de Makerere, no Uganda, o continente africano não tinha nenhum futuro. Esta afirmação enfureceu vários escritores africanos da sua geração. Escritores como o nigeriano Chinua Achebe e o queniano Ngugi Wa Thiogo, embora fossem críticos assumidos das elites políticas que predominavam em vários países africanos nos anos após a independência, tinham fé no futuro do continente africano e, por isso, viam Naipaul como um verdadeiro reaccionário.
(…)
Para Naipaul, os negros têm pouco valor. Derek Walcott, poeta e dramaturgo nascido na Ilha de Santa Lúcia, nas Caraíbas, vencedor do Prémio Nobel de Literatura em 1992, diz que uma das falhas principais de Naipaul é o seu ódio contra os negros. Além de abominar os negros, Naipaul também não «passava carta» à Índia e aos indianos. Para o grande escritor o que conta é a Inglaterra – isto é, a aristocracia inglesa. Segundo a biografia que está a fazer ondas, um dos grandes sonhos de Naipaul não era só casar com uma mulher branca – mas alguém oriundo da grande aristocracia. Só que a mulher que «preenchia as medidas» e que ele tentou conquistar não lhe deu bola. Essa foi uma das maiores dores de cotovelo na vida Naipaul. Depois que se tornou milionário instalou-se numa grande casa de campo no sul da Inglaterra, onde se fez rodear de mordomias compatíveis com um verdadeiro lorde. O problema é que os ingleses não gostam muito de estrangeiros extravagantes ou que fazem tudo – incluindo vender a alma - para tornar-se num deles. Os ingleses, mesmo a classe alta, aceitam sempre estrangeiros. Porém, para serem respeitados os estrangeiros devem ter amor-próprio.

[Aqui]

Bom, parece que finalmente foram declaradas treguas na “Maka de 1 Jose’ contra 3 Antonios mais os Mukuaxis”…
Assim sendo, eh-me dada a oportunidade de trazer aqui alguns artigos publicados nas ultimas semanas, que ficaram na gaveta a espera do fim do ‘kibeto’, como por exemplo este, de Bonavena, no Agora:


Não faz muito tempo, o Centro de Estudos e Investigação Cientifica (CEIC) da Universidade Católica de Angola (UCAN) realizou uma conferência sobre a pobreza. O poder como sempre esteve ausente. Alguns intelectuais evitaram aparecer para não serem conotados com um acto que lhes cheirava à subversão. Nessa altura, fomos criticados, por alguns deles, por estar a promover uma conferência sobre a pobreza que era uma evocação negativa, numa altura em que o país estava a crescer a bom ritmo e o discurso oficial triunfalista exacerbava os ganhos do crescimento económico (que diziam que seria de 34%, o maior do mundo, depois tiveram que o rever pela metade) e afirmava que este crescimento, por si só, resolveria o problema da pobreza.
(...)
Agora, que há em vista as eleições 2008 e é preciso dar atenção as formas mais eficazes para caçar votos, a pobreza está na moda do discurso eleitoralista, a pobreza aparece à cabeça da tematização dos discursos políticos. Até mesmo o homem mais rico do país (e chefe de fila da burguesia predadora) não fala mais das muitas "oportunidades de negócios" mas da pobreza, apresentando-a como uma prioridade de governo. Os "negócios" serão feitos na calada da noite enquanto de dia se irá falando da necessidade de "combater e vencer a fome, o subdesenvolvimento" e de "criar condições para o bem-estar dos cidadãos".

[Aqui]

Como muitos, incluindo o proprio, esperavam, Ernesto Bartolomeu foi punido pelas suas declaracoes sobre a TPA, aqui mencionadas na semana passada:

Não se sabe já que consequências haverão para Ernesto Bartolomeu, um dos pivots do telejornal da Tpa, na sequência do processo disciplinar que a direcção da estação lhe moveu por, na sua óptica, ter «quebrado» o sigilo profissional a que estaria obrigado pelas funções que desempenha. Ernesto Bartolomeu disse publicamente mais ou menos que, entre outras coisas, em relação aos partidos políticos, os noticiários daTpa não são feitos com base no que é recolhido pelos jornalistas, mas sim em função do que decidem os editores a partir de «orientações superiores», dirigidas em regra para favorecer o partido «maioritário». Numa palavra: há censura. E isto, para começar, valeu-lhe o inquérito. Não se sabe também o que terá motivado o «Bartolas» a lavar a «roupa suja» da empresa fora de portas, mas que é preciso tê-los no lugar para o que fez, lá isto é. Agora, é só aguentar o resto.

A questao e' tambem analisada no Angolense.

[Aqui]

Finalmente, Sousa Jamba fala (muito mal) do “melhor escritor vivo na lingua inglesa”:

'Naipaul é um sacana'

Como escritor VS Naipaul é uma unanimidade. É inigualável. Já como homem, porém, é visto como um ser desprezível. O escritor, que ganhou o Prémio Nobel de Literatura, já foi descrito como um racista (contra os negros), snobe, cruel e um egoísta da primeira classe. O homem é também tido como um grande mulherengo que, além de ter tido uma amante latino-americana (enquanto a sua esposa inglesa sustentava a casa), nunca parou de visitar prostitutas de todo o género. Os ingleses gostam de biografias – sobretudo de escritores. Em muitos casos, as pessoas preferem ler as biografias dos escritores do que as suas próprias obras. Como alguém já notou, há vezes em que uma abordagem da vida de um escritor é o melhor retrato dos tempos. Neste momento, o mundo das letras anglófono anda obcecado com o primeiro volume da biografia de Naipaul escrita pelo escritor Phillip French, que se tornou famoso por ter recusado uma condecoração da Rainha. Curiosamente, figuro numa das páginas dessa biografia: certa vez Naipaul pôs-me a correr da sua casa quando, a meio de uma entrevista, eu fiz perguntas que o irritaram.
(…)
Entre os anos 50 e 60, VS Naipaul escreveu romances que retratavam a vida nas Caraíbas, para onde os seus avôs indianos tinham sido enviados como trabalhadores contratados. Depois virou as suas atenções para o continente africano sobre o qual escreveu vários livros de viagem assim como romances – todos descrevendo as ilusões, fraquezas e os caos da África pós-colonial. Para Naipaul, que nos anos 60 foi conferente na Universidade de Makerere, no Uganda, o continente africano não tinha nenhum futuro. Esta afirmação enfureceu vários escritores africanos da sua geração. Escritores como o nigeriano Chinua Achebe e o queniano Ngugi Wa Thiogo, embora fossem críticos assumidos das elites políticas que predominavam em vários países africanos nos anos após a independência, tinham fé no futuro do continente africano e, por isso, viam Naipaul como um verdadeiro reaccionário.
(…)
Para Naipaul, os negros têm pouco valor. Derek Walcott, poeta e dramaturgo nascido na Ilha de Santa Lúcia, nas Caraíbas, vencedor do Prémio Nobel de Literatura em 1992, diz que uma das falhas principais de Naipaul é o seu ódio contra os negros. Além de abominar os negros, Naipaul também não «passava carta» à Índia e aos indianos. Para o grande escritor o que conta é a Inglaterra – isto é, a aristocracia inglesa. Segundo a biografia que está a fazer ondas, um dos grandes sonhos de Naipaul não era só casar com uma mulher branca – mas alguém oriundo da grande aristocracia. Só que a mulher que «preenchia as medidas» e que ele tentou conquistar não lhe deu bola. Essa foi uma das maiores dores de cotovelo na vida Naipaul. Depois que se tornou milionário instalou-se numa grande casa de campo no sul da Inglaterra, onde se fez rodear de mordomias compatíveis com um verdadeiro lorde. O problema é que os ingleses não gostam muito de estrangeiros extravagantes ou que fazem tudo – incluindo vender a alma - para tornar-se num deles. Os ingleses, mesmo a classe alta, aceitam sempre estrangeiros. Porém, para serem respeitados os estrangeiros devem ter amor-próprio.

[Aqui]

8 comments:

umBhalane said...

Isto anda mau para o lado dos escritores.

Mas sempre vou aprendendo algumas coisas - maka, kibeto, etc.

E assinalando presença.

Koluki said...

Quem e' vivo sempre da' sinais de vida, nao e' assim?
...O que faz supor que os cerca de uma centena de visitantes diarios deste blog talvez nao estejam tao vivos quanto o 'counter' faz supor... :-))))
Quanto a aprendizagem: aprender ate' morrer e' o que a vida nos oferece.
Um abraco.

Koluki said...
This comment has been removed by the author.
umBhalane said...

Após esta provocação gastronómica - fiquei com água na boca - lembrei-me do Sousa Jamba.

Vou lê-lo - Confissão Tropical, Dom Quixote, 1995.

No Reino Unido - A Lonely Devil.

Um abraço a ambos.

Koluki said...

O Sousa Jamba que nao me ouca, mas o unico livro dele que li foi o "Patriotas"... nenhuma outra razao que nao falta de oportunidade.

Quanto a agua na boca umBhalane, infelizmente nada posso fazer...

Um abraco.

Koluki said...
This comment has been removed by the author.
umBhalane said...

Bom, já que estamos numa de desinibidos, que tal esta:
“Excerto de uma entrevista dada ao semanário Expresso.
Ainda é portuguesa?
Sou, não quis mudar de nacionalidade.
Tem dupla nacionalidade?
Sim, ofereceram-me a nacionalidade (angolana).
Tem passaporte português?
Tenho.
A senhora é militante do MPLA?
Sou mais que militante.
Mas nunca se inscreveu!
Sou uma militante acérrima, mas sem estar inscrita.
(Fonte KOLUKI, um dos melhores Blogs que conheço – Ana Santana)”
In 03-05-2008 in Nacionalidade-Cidadania - Direitos Humanos | Permalink

Nacionalidade da PM: CP da Frelimo dissipa dúvidas

Publicado no Moçambique para Todos, nome apenas de blogue, como bem sabe, porque na realidade…

Se é que lhe serve de algo, é mera questão de justiça.

De verdade.

Um abraço

umBhalane

Koluki said...

Quanta gentileza umBhalane!
Muito obrigada.
Tenho que revisitar o 'Mocambique para Todos' que, 'desinibidamente', devo dizer apenas visitei uma ou duas vezes.

De verdade...

Um grande abraco!