Voltando a vaca fria… Ou seja, a esta ‘refeicao’ que ja’ se vai tornando um tanto espaçada (mas, convenhamos que ha’ pratos, e.g. sopa tipo gazpacho, que se comem melhor frios)…
Passemos entao ao primeiro prato principal.
Aqui ha’ uns oito anos, em Luanda, numa casa a beira-mar, alguem, por ironia tambem ‘usador de oculos’, saiu-se com esta (e nao, nao foi durante nem depois de uma funjada...): “eles consideram-se intelectuais so’ porque usam oculos!” Quem o disse, a quem, porque e a quem se referia, ou em casa de quem o fez, sao condimentos que tornariam esta ‘refeicao’ imensamente mais saborosa, mas que prefiro deixar discretamente na cozinha… Direi apenas que quem o afirmou poderia perfeitamente estar a referir-se a umas quaisquer “elas”…
E isto leva-me ao acima anunciado prato principal: a(s) definicao(coes) de “intelectual”.
Tratando-se este de um veiculo de comunicacao interactiva online, nada mais apropriado do que usar como fonte preferencial de referencia aquela que ja se tornou uma especie de 'biblia' do internauta: a Wikipedia. Nao apenas pela sua ja’ razoavelmente estabelecida autoridade como uma fonte o mais expurgada possivel (mesmo devido a forma como e’ construida) de biases politico-ideologicos ou tendenciosismos e/ou facciosismos pessoais, particulares, ou de grupo (especialmente quando se trata de temas de particular acuidade do ponto de vista academico-cientifico), mas tambem, e sobretudo, porque todos os leitores a podem consultar de forma livre, directa e imediata – colocando-nos a todos, democraticamente, ao mesmo nivel de informacao, ou, se se preferir, at a level-playing field.
Decidi, neste caso, trazer para aqui as definicoes constantes, respectivamente, das versoes em Portugues e em Ingles da Wikipedia, por duas ordens de razoes:
i) salientar, a partida, as nuances existentes nas definicoes do termo, senao estritamente em termos epistemologicos (e convira' nao confundir aqui epistemologia com etimologia, pois que a tal confusao podemos ser facil e inadvertidamente levados por alguns, “doutorada/os em letras” incluida/os…), seguramente em termos da enfase dada a um determinado angulo do objecto definido;
ii) chamar a atencao para as diferencas – tanto em termos de conteudo analitico e perspectivas historico-geograficas e de genero, como de diversidade e abrangencia dos pontos de vista apresentados, extensao da bibliografia utilizada e cruzamento de referencias e fontes – existentes entre as duas versoes.
Em todo o caso, limitar-me-ei aqui e agora a apresentacao e um pouco da evolucao historica do conceito, deixando o seu aprofundamento e problematizacao, bem como outros conceitos relativos, para os pratos que se seguem.
Aqui ficam:
A. Em Portugues
Um intelectual é uma pessoa que usa o seu "intelecto" para estudar, reflectir ou especular acerca de idéias, de modo que este uso do seu intelecto possua uma relevância social e coletiva. A definição do intelectual é realizada, principalmente, por outros intelectuais e acadêmicos. Estes definem o termo segundo seus próprios posicionamentos intelectuais, fato este que complexifica a definição. Autores como Bobbio, Lévy e Demo, citados na Bibliografia, concordam com um aspecto em comum: o intelectual é definido pelo meio social no qual vive e/ou no qual estabelece sua trajetória social.
(...)
Um dos principais espaços de atuação do intelectual é a Universidade. A ciência seria parte da ideologia do intelectual, assim como a dedicação à prática científica e o desejo do exercício de um cargo no ensino superior enquanto modo de distinção social. No caso brasileiro, bem como em alguns outros países, o intelectual procura as instituições superiores de ensino para apoio e para organização; partindo da sociedade, a esta retorna com propostas embasadas no conhecimento técnico-científico adquirido através dos estudos. Esta prática é claramente perceptível, por exemplo:
• na ação de pensadores da educação no Brasil, como Anísio Teixeira, Francisco Capanema, Manuel Lourenço Filho;
• na inserção de pesquisadores na vida política, como Fernando Henrique Cardoso e Darcy Ribeiro;
• na elaboração do programa de energia nuclear, onde os aspectos técnico-científicos envolvidos no processo de beneficiamento e utilização do urânio não se restringiam a espectos energéticos, mas também políticos, morais, econômicos, antropológicos, etc.
(…)
Devido à ação reflexiva, o intelectual é portador de uma autoridade científica quando se expressa. Como apresentado acima em relação à Universidade, o intelectual estabelece relações com a sociedade através de seu status de intelectual.
B. Em Ingles
An intellectual (from the adjective meaning "involving thought and reason") is a person who uses his or her intelligence and analytical thinking, either in a professional capacity, or for personal reasons.
"Intellectual" can be used to mean, broadly, one of three classifications of human beings:
1. An individual who is deeply involved in abstract erudite ideas and theories.
2. An individual whose profession solely involves the dissemination and/or production of ideas, as opposed to producing products (e.g. a steel worker) or services (e.g. an electrician). For example, lawyers, management consultants, educators, politicians, and scientists.
3. An individual of notable expertise in culture and the arts, expertise which allows them some cultural authority, which they then use to speak in public on other matters.
The English term "intellectual" conveys the general notion of a literate thinker. In its earlier uses, such as John Middleton Murry's The Evolution of an Intellectual (1920), there was little in the way of connotation of public rather than literary activity.
(…)
The term "man of letters" implied a distinction between those who could read and write, and those who could not. The distinction had great weight when literacy was not widespread. "Men of letters" were also termed literati (from the Latin), as a group; this phrase may also refer to 'citizens' of the Republic of Letters. Literati survives as a term of abuse and is used in journalism.
(…)
By the late eighteenth century, literacy was becoming more widespread in countries such as the United Kingdom. The concept of a "man of letters" shifted to a more specialised meaning, as a man who made his living by writing about literature - usually not creative writers as such, but rather essayists, journalists and critics. This kind of activity was gradually replaced in the twentieth century by a more academic approach, and the term "man of letters" fell into disuse, to be replaced by the more generic and gender-neutral term "intellectual."
(…)
One can notice a sharpening of terms, in the latter part of the nineteenth century. Just as the coinage scientist would come to mean a professional, the man of letters would more often be assumed to be a professional writer, perhaps having the breadth of a journalist or essayist, but not necessarily with the engagement of the intellectual.
(…)
The public intellectual is assumed to be a communicator and participant in public debates, accessible in mass media. Such a person communicates information and perspectives on a variety of societal issues, not just a specialist area. The role visibly overlaps with that of a journalist, therefore, so that the question is, what makes a "public" intellectual distinctive? This matter is linked to media as well as to the intellectual life.
Public intellectuals are primarily concerned with ideas and knowledge. Their social role means that they respond and react to society's issues and problems. They can provide a voice for others who may not have the skills, time or opportunity. They should be prepared to listen to a multitude of differing opinions and beliefs, and to construct their own conclusions taking these into account.
Intellectuals also involve themselves with issues not specifically related to their area of expertise. Intellectuals may ‘rise above the partial preoccupation of one’s own profession [...] and engage with the global issues of truth, judgement and taste of the time’. The contemporary scene offers many different forms of media such as an Internet blog, a lecture or forum, television and radio, and print.
The role, effectiveness and behaviour of public intellectuals have been debated since the phenomenon acquired a name. The debate is framed differently in different countries, and the very possibility of their place has been questioned. Although some intellectuals may and attempt to gain acceptance and recognition in contemporary society, according to Edward Said this has been virtually impossible: the
...real or “true” intellectual is therefore always an outsider, living in self-imposed exile and on the margins of society.’
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