Tuesday 20 October 2009

OLHARES DIVERSOS (XIV)

CELSO MALAVOLONEKE vs JOSE’ RIBEIRO


Ao Caríssimo José Ribeiro, Director do Jornal de Angola

(…)

Porém, em jeito de senão sem bela, caro Director, aproveito o ensejo de ir-me confessando gradualmente surpreendido – e não é exactamente uma agradável surpresa – com assumido pendor unilateralista das matérias por vós tratadas. Percebo isso, seja no volume das matérias ligadas ao partido maioritário, em relação aos da oposição, seja na relação entre as organizações da sociedade civil mais pró-governamental em relação à mais “independente” (as aspas são propositadas).
Ocorre-me então que esse fenómeno seja fruto de uma acentuada auto-censura de jornalistas que não queiram ser percebidos como simpatizantes com factos, eventos, instituições ou indivíduos “fora do sistema”, por um lado, ou então por aqueles outros, às vezes investidos de funções de direcção ou chefia que acham – e da sua sinceridade ninguém tem certamente sequer o direito de duvidar – que pelo facto de o vosso e nosso Jornal ser sustentado com fundos públicos, assim deve proceder. Ou ainda que dirigentes do Governo assim também pensem e exerçam o seu poder para vetar as informações ligadas à oposição ou a correntes divergentes das oficiais. Ou um bocado destas e doutras coisas semelhantes. Seja o que for que esteja por trás disso, representa uma mancha ao excelente trabalho que fazeis todos os dias e essa será talvez a maior razão que me leva a escrever-vos estas linhas.
Sei que o caro José Ribeiro, com a verticalidade e coerência que o caracteriza e com a experiência que tem demonstrado concordará comigo que exactamente pelo facto de o JA ser um órgão público deve fazer o seu melhor para levar a Informação a todos os cidadãos, incluindo aqueles que não votaram no partido actualmente no Governo. Porque apesar deste facto, eles também contribuem para o seu sucesso com os seus impostos e isso dá-lhes o direito de sentirem-se incluídos no processo de “gatekeeping”. E parece-me que o argumento da falta de matérias noticiosas é constantemente desmentida pelos líderes da oposição e da chamada sociedade civil “independente”, pelo que talvez um esforço no alcance destas fontes redundasse na melhoria do vosso já excelente trabalho.

A situação como está cria suspeições, vicia o jogo democrático porque dá a impressão de querer-se manipular a Informação – um sacrilégio em todas as escolas modernas de jornalismo, a não ser que justificadas pelo interesse público, o que nesse caso peca pelo inverso. As recentes declarações do líder da UNITA, acrescidas às de outros líderes da oposição – as conferências de imprensa desse partido poderiam por exemplo ser melhor cobertas para que as suas mensagens fossem melhor percebidas – assim como as queixas de variados sectores da nossa sociedade, por recorrentes acabam por manchar o nosso jornalismo.

(…)

Termino expressando a minha esperança que não se melindrem comigo e publiquem estas linhas. Claro, como todos os motes para reflexão só valem por isso mesmo. Motes de reflexão e pouco mais...


Direcção do Jornal de Angola Responde a Celso Malavoloneke

(...)

A sua carta foi recebida no nosso correio electrónico com a classificação “indesejada”. Vá-se lá saber porquê, o sistema, neste caso o tecnológico, prega-nos também destas partidas. Recusamo-nos, no entanto, a ceder aos ditames da tecnologia e publicamos a carta que cordialmente nos escreveu, em tom muito diferente dos “mimos”, muitos dos quais injustos e até ofensivos, com que nos tem brindado no Semanário Angolense. A reflexão serena e madura é incompatível com o insulto.
No fundo o que está em causa na sua carta é saber se devemos dar crédito a mais uma posição manipuladora da UNITA contra o Jornal de Angola. Essa posição foi manifestada, uma vez mais, nos últimos dias. Se antes Samakuva se queixava do Jornal de Angola não cobrir as suas actividades, hoje exige do jornal uma “melhor cobertura” das suas conferências de imprensa. Muita coisa mudou em Angola e na imprensa angolana, a única que parece não mudar é a UNITA.

(…)

Quanto à qualidade e referências técnicas a que se refere, deve saber, com certeza, que alguns dos 50 (cinquenta!) Licenciados que a UPRA acaba de “lançar no mercado” vieram ao Jornal de Angola oferecer a sua colaboração. Deve saber também que o Jornal de Angola teve de recorrer a um profissional de jornalismo de longa data, apenas para ensinar a esses jovens licenciados o que há de mais básico no jornalismo, tão fraca é a sua formação. É uma tarefa que nos dá muito prazer, formar licenciados que saem das Universidades, mas creia que ajudaria imenso à qualidade do Jornal se os licenciados nos chegassem melhor preparados. Como vê, o problema está, fundamentalmente, no “newsmaking”.
Finalmente, a ideia de que os órgãos do Estado devem fazer jornalismo equilibrado e os órgãos privados mau jornalismo é uma ideia perigosa. Não é segredo para ninguém que muitos órgãos privados também recebem fundos públicos. A UNITA, por exemplo, recebe fundos públicos e nem por isso se esforça por oferecer um serviço de qualidade. Antes pelo contrário.
CELSO MALAVOLONEKE vs JOSE’ RIBEIRO


Ao Caríssimo José Ribeiro, Director do Jornal de Angola

(…)

Porém, em jeito de senão sem bela, caro Director, aproveito o ensejo de ir-me confessando gradualmente surpreendido – e não é exactamente uma agradável surpresa – com assumido pendor unilateralista das matérias por vós tratadas. Percebo isso, seja no volume das matérias ligadas ao partido maioritário, em relação aos da oposição, seja na relação entre as organizações da sociedade civil mais pró-governamental em relação à mais “independente” (as aspas são propositadas).
Ocorre-me então que esse fenómeno seja fruto de uma acentuada auto-censura de jornalistas que não queiram ser percebidos como simpatizantes com factos, eventos, instituições ou indivíduos “fora do sistema”, por um lado, ou então por aqueles outros, às vezes investidos de funções de direcção ou chefia que acham – e da sua sinceridade ninguém tem certamente sequer o direito de duvidar – que pelo facto de o vosso e nosso Jornal ser sustentado com fundos públicos, assim deve proceder. Ou ainda que dirigentes do Governo assim também pensem e exerçam o seu poder para vetar as informações ligadas à oposição ou a correntes divergentes das oficiais. Ou um bocado destas e doutras coisas semelhantes. Seja o que for que esteja por trás disso, representa uma mancha ao excelente trabalho que fazeis todos os dias e essa será talvez a maior razão que me leva a escrever-vos estas linhas.
Sei que o caro José Ribeiro, com a verticalidade e coerência que o caracteriza e com a experiência que tem demonstrado concordará comigo que exactamente pelo facto de o JA ser um órgão público deve fazer o seu melhor para levar a Informação a todos os cidadãos, incluindo aqueles que não votaram no partido actualmente no Governo. Porque apesar deste facto, eles também contribuem para o seu sucesso com os seus impostos e isso dá-lhes o direito de sentirem-se incluídos no processo de “gatekeeping”. E parece-me que o argumento da falta de matérias noticiosas é constantemente desmentida pelos líderes da oposição e da chamada sociedade civil “independente”, pelo que talvez um esforço no alcance destas fontes redundasse na melhoria do vosso já excelente trabalho.

A situação como está cria suspeições, vicia o jogo democrático porque dá a impressão de querer-se manipular a Informação – um sacrilégio em todas as escolas modernas de jornalismo, a não ser que justificadas pelo interesse público, o que nesse caso peca pelo inverso. As recentes declarações do líder da UNITA, acrescidas às de outros líderes da oposição – as conferências de imprensa desse partido poderiam por exemplo ser melhor cobertas para que as suas mensagens fossem melhor percebidas – assim como as queixas de variados sectores da nossa sociedade, por recorrentes acabam por manchar o nosso jornalismo.

(…)

Termino expressando a minha esperança que não se melindrem comigo e publiquem estas linhas. Claro, como todos os motes para reflexão só valem por isso mesmo. Motes de reflexão e pouco mais...


Direcção do Jornal de Angola Responde a Celso Malavoloneke

(...)

A sua carta foi recebida no nosso correio electrónico com a classificação “indesejada”. Vá-se lá saber porquê, o sistema, neste caso o tecnológico, prega-nos também destas partidas. Recusamo-nos, no entanto, a ceder aos ditames da tecnologia e publicamos a carta que cordialmente nos escreveu, em tom muito diferente dos “mimos”, muitos dos quais injustos e até ofensivos, com que nos tem brindado no Semanário Angolense. A reflexão serena e madura é incompatível com o insulto.
No fundo o que está em causa na sua carta é saber se devemos dar crédito a mais uma posição manipuladora da UNITA contra o Jornal de Angola. Essa posição foi manifestada, uma vez mais, nos últimos dias. Se antes Samakuva se queixava do Jornal de Angola não cobrir as suas actividades, hoje exige do jornal uma “melhor cobertura” das suas conferências de imprensa. Muita coisa mudou em Angola e na imprensa angolana, a única que parece não mudar é a UNITA.

(…)

Quanto à qualidade e referências técnicas a que se refere, deve saber, com certeza, que alguns dos 50 (cinquenta!) Licenciados que a UPRA acaba de “lançar no mercado” vieram ao Jornal de Angola oferecer a sua colaboração. Deve saber também que o Jornal de Angola teve de recorrer a um profissional de jornalismo de longa data, apenas para ensinar a esses jovens licenciados o que há de mais básico no jornalismo, tão fraca é a sua formação. É uma tarefa que nos dá muito prazer, formar licenciados que saem das Universidades, mas creia que ajudaria imenso à qualidade do Jornal se os licenciados nos chegassem melhor preparados. Como vê, o problema está, fundamentalmente, no “newsmaking”.
Finalmente, a ideia de que os órgãos do Estado devem fazer jornalismo equilibrado e os órgãos privados mau jornalismo é uma ideia perigosa. Não é segredo para ninguém que muitos órgãos privados também recebem fundos públicos. A UNITA, por exemplo, recebe fundos públicos e nem por isso se esforça por oferecer um serviço de qualidade. Antes pelo contrário.

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